Em 12/02/2020 o Respeitável Irmão Olgmar Eudes de Matos, Loja União Fraterna de Campo Limpo de Goiás, REAA, GOB-GO, sem mencionar o Oriente, Estado de Goiás, apresenta a questão seguinte:
SILÊNCIO DOS APRENDIZES E COMPANHEIROS.
Muito embora eu tenha o CIM de numeração bem antiga, fato que decorre de
eu ter ficado em adormecimento por mais de 40 anos, tendo retornado em janeiro
deste ano ao meio maçônico, causou-me surpresa ao ler o Regimento Interno da
Loja, as condições de manifestações de Irmão Aprendiz e Companheiro, durante as
reuniões, ou seja "que podem se manifestar somente quando conclamado a
fazê-lo ou em decorrência de situação de relevância", o que me gerou
muitas dúvidas sobre a determinação contida no Regimento Interno.
Procurei na Constituição e no RGF e não encontrei óbices à fala de qualquer Irmão em
sessões regulares. Pode ser falha minha em não ter notado tal determinação nas Regulamentações superiores.
Mas, como sou e serei um eterno aprendiz e gosto de saber das coisas
maçônicas, consultei o nosso Valoroso Venerável e outro Irmão do Quadro e as
respostas não supriram ou satisfizeram meu desejo de saber, para um melhor
polimento da minha pedra bruta, dormente em minha pessoa.
Quando leio o Símbolo Maior da Ordem: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, encontro aí, um grande paradoxo com a realidade Regulamentar
Interna da Loja, que parece estar em confronto, com a bandeira maçônica, tão
venerada por todos nós.
Daí, informado pelo nosso zeloso Venerável, de sua Sabedoria e Didática
nos conhecimentos maçônicos, venho perguntar-lhe sobre tal dúvida, além do que,
acho eu, que é quando se é Aprendiz e Companheiro que mais precisamos de
esclarecimentos dos Irmãos Mestres e até mesmo podermos dar ideias em questões
em discussão nas sessões. Mais cabeças pensam melhor que menos cabeças, penso
aí adaptando um dito popular.
Se possível e sem causar transtornos ao Nobre e Poderoso Irmão,
agradeceria pelos ensinamentos quanto à matéria.
CONSIDERAÇÕES.
Em se tratando do REAA, o mencionado silêncio dos Aprendizes e
Companheiros é apenas simbólico, portanto, não deve ser tomado ao pé da letra como
se os portadores dos dois primeiros graus devessem literalmente permanecer mudos
em Loja.
Ora, compreenda-se que a alegoria do silêncio é relativa ao conhecimento
do iniciado. Desse modo o Aprendiz representando a infância, ou a etapa
inicial, requer ainda vencer uma ampla jordana de aprendizado. Usando também da
sua intuição e amparado pelos Mestres da sua Loja, observador, ele segue
paulatinamente a senda do aprimoramento.
Vários aspectos iniciáticos sugerem essa representação alegórica, pelo
que podemos citar, por exemplo, a Pal∴ Sagr∴ e a sua forma única de ser transmitida no 1º Grau, isto é sol∴. Aludindo ao princípio ou os primeiros
passos, o iniciado na etapa primitiva ainda não sabe ler, somente sol∴. Emblematicamente, sugere-se ao
iniciado a possibilidade de progresso pelo aprendizado, respeitando as regras e
a ordem natural.
O silêncio nesse caso é a reflexão sobre cada etapa a ser vencida na jornada. O silêncio aqui não é o de ficar com a boca fechada, mas é o silêncio da introspecção daquele
que caminha do Ocidente (ocaso) em direção ao Oriente (nascente).
Utilizando-se do silêncio para as coisas que ainda não lhe foram
reveladas, o Aprendiz pode, com critério, pedir a palavra para se manifestar em
assuntos que lhe são pertinentes. O Aprendiz, por exemplo, se submete a interrogatórios
para aumento de salário e apresentação de peças de arquitetura. Por aí se vê
que o silêncio não é absoluto, mas inerente àquilo que ainda não lhe é permitido
perscrutar.
Com o Companheiro é a mesma coisa, a despeito de que ele demonstra mais
conhecimento haurido do progresso das suas instruções. O emblema dessa evolução
é o número maior de luzes litúrgicas acesas na Loja de Companheiro.
A sua idade simbólica, por si só já demonstra essa evolução. Não à toa que
no REAA a Pal∴ Sagr∴ no 2º Grau é transmitida por ssíl∴. O progresso é demonstrado pela evolução da forma sol∴ para a sil∴.
Assim, o silêncio nesse grau denota responsabilidade. Primeiro a de não
perscrutar aquilo que só lhe será permitido quando ele alcançar a C∴ do M∴. Segundo é a de não revelar a um Aprendiz os segredos do Grau de Companheiro.
O silêncio iniciático se revela na sua construção interior, onde nenhum ruído
se ouve pela utilização das ferramentas.
Tal como o Aprendiz, o Companheiro se submete às verificações de costume
para o seu aumento de salário, portanto ele pode perfeitamente se manifestar em
Loja, desde que seja sobre assuntos que lhe são permitidos.
Concluindo, devo reiterar que essas são considerações pertinentes ao
REAA. Isso implica que não se trata de um comentário generalizado, a despeito
de que cada rito possui a sua característica, podendo assim existirem outros
procedimentos que não corroboram com os aqui apresentados. Isso inclusive
explica de o porquê dos regulamentos da Obediência não atuarem em assuntos que
constroem a forma litúrgica e ritualística de cada rito. Entendo que o
Regimento Interno de uma Loja, no mínimo de ser coadunar com o que preconiza o rito
por ela adotado.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
SET/2021
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