quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

LEITURA E ABERTURA DO LIVRO DA LEI


Em 15/11/2017 o Respeitável Irmão Marcelo Guazzelli, Loja Fraternidade VII, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, formula a seguinte questão:

LEITURA E ABERTURA DO LIVRO DA LEI


Prezado Irmão: tenho uma dúvida sobre a origem da leitura do Livro da Lei nos graus simbólicos. Nossa potência (GORGS) em seu ritual determina a leitura de trechos específicos para cada grau, mas questionados não tem embasamento histórico, apenas afirmam que o REAA é de origem católica. E aproveitando, alguns autores afirmam que
a prática da LEITURA só existe no Brasil e que o correto seria tão somente a abertura do livro (Bíblia). Isso procede?

CONSIDERAÇÕES.

No que diz respeito ao verdadeiro Rito Escocês Antigo e Aceito, a leitura de trechos pertinentes nos três graus simbólicos se sacramentaram com a evolução dos rituais franceses no século XIX.
Há que se observar que o primeiro ritual do simbolismo para o REAA\ somente apareceria na França no ano 1804 elaborado por maçons franceses de retorno dos Estados Unidos da América do Norte ao solo francês.
Em linhas gerais, nos primeiros anos de existência dos rituais simbólicos escoceses ainda não existia leitura específica de trechos do Livro da Lei, sendo que essa prática esporádica, copiada de outros poucos sistemas, foi paulatinamente sendo introduzida no Rito Escocês até que a mesma definitivamente se sacramentasse com a leitura universal no Rito de trechos em São João para o Grau de Aprendiz, em Amós para o Companheiro e em Eclesiastes para o Grau de Mestre.
O REAA\ é muito conhecido na Europa como Rito Antigo e Aceito e também Rito dos Maçons Antigos e Aceitos. O termo “escocês” foi adquirido na França como identificação dos maçons jacobitas exilados na França no período pós-revolução puritana de Cromwell que ocorrera na Inglaterra (vide a história verdadeira do escocesismo). Em síntese o Rito Escocês Antigo e Aceito não é um rito oriundo da Escócia, assim como a Grande Loja da Escócia também nada tem a ver com o Rito Escocês.
Embora uma das origens do escocesismo esteja ligada diretamente aos Stuarts, reis católicos jacobitas, a influência religiosa deixada pela Igreja Católica não é apanágio apenas do REAA\, mas de toda a Maçonaria, que nascera nas associações de construtores da Idade Média e eram protegidos pelo clero.
Sem dúvida alguma, foi dessa influência religiosa de origem que surgiu a obrigatoriedade de existir em quase toda a Moderna Maçonaria a presença da Bíblia nos trabalhos das Lojas Maçônicas, independente do rito.
Com o advento da Moderna Maçonaria (sistema obediencial em 1.717) instituiu-se também, além da presença da Bíblia, o do livro religioso pertinente à fé de Irmãos que necessariamente não fossem cristãos, pois para se pertencer à Maçonaria o imprescindível não é a religião, mas a crença em Deus.
Assim, cada rito maçônico possui, nesse sentido, a sua particularidade. No caso do REAA\ o Livro é aberto com a leitura de trechos específicos. Outros ritos, entretanto, apenas abrem o Livro sem nele efetuar qualquer leitura, enquanto que outros ainda, apenas o mantém a vista de todos, mas fechado.
Existe ainda o caso do Grande Oriente da França que não adota nenhum livro religioso, tratando essa questão como particularidade dos seus membros. Obviamente que isso não deve ser confundido como prática de ateísmo, pois o que não é adotado é um livro religioso, contudo a crença em Deus continua sendo um dos seus landmarks. No lugar de livros religiosos, inclusive da Bíblia, o Grande Oriente da França adota o Livro das Constituições.
No que diz respeito ainda ao Rito Escocês Antigo e Aceito e o seu simbolismo, ratifica-se que atualmente em todo o mundo a abertura do Livro da Lei deveria se dar no Evangelho de São João no Primeiro Grau, em Amós no Segundo e em Eclesiastes no Terceiro – diferenças que porventura existam não estão de acordo com as suas origens.
Antes de comentar especificadamente a leitura do Livro da Lei na abertura dos trabalhos do REAA\ aqui no Brasil, seguem alguns comentários alusivos às leituras do Livro da Lei na Maçonaria de modo geral.
Independente de Ritos ou Trabalhos, o costume da leitura nas Lojas durante a abertura do Livro das Sagradas Escrituras são mesmo dignas de apreciação. Por exemplo, em 1.762, época em que não havia ainda o REAA\, em um catecismo inglês do Craft aparece leitura do Livro da Lei mencionando o apóstolo Pedro (tu és pedra) no Grau de Aprendiz, Juízes 12 no de Companheiro e Reis 17 no Grau de Mestre. Ainda, conforme outro catecismo dessa mesma época e utilizado pela Grande Loja dos Modernos, a Bíblia era aberta no Evangelho de São João durante a obrigação prestada pelo Aprendiz. No final desse mesmo século (XVIII) encontram-se aberturas em Crônicas II, 2.
Na edição do Gilkes Ritual inglês no Trabalho de Emulação não era prevista nenhuma leitura em lugar específico, o que persiste na Maçonaria inglesa até o presente, embora tenham existido algumas tentativas, já no século XX, de se incluir a abertura em Crônicas II sob a alegação de que o modo seria mais apropriado para o sistema Inglês – isso não vingou.
No que diz respeito à leitura do Salmo 133 no primeiro Grau, de Amós 7 no Segundo e de Eclesiastes 12 no Terceiro, esse costume surgiria na mesma Inglaterra, no Yorkshire, entretanto seria logo abandonado em definitivo na Grã-Bretanha.
Já a Maçonaria Norte-americana por ser de raiz inglesa e conhecida por alguns Irmãos como Rito de York Americano, nele, mais precisamente nas suas Lojas Azuis (simbolismo), a exemplo do ritual da Grande Loja de Nova York baseado no Ducan’s Ritual, para admissão do Aprendiz consta a leitura do Salmo 133, não propriamente na abertura do Livro da Lei, mas em uma passagem ritualística durante a perambulação do candidato. Há que se destacar nesse sentido que as Lojas Azuis são de raiz inglesas e nada têm a ver com o REAA\ que é como já comentado, genuinamente de origem francesa.
Retomando a apreciação sobre o Livro da Lei e o escocesismo, com base nesses breves comentos, destacamos que aqui no Brasil algumas Obediências para a abertura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz do REAA\ equivocadamente e na contramão da história, fazem-na lendo o Salmo 133 ao contrário do tradicional Evangelho de São João que é o correto para o escocesismo.
Na realidade no Brasil a abertura do Livro da Lei no REAA\ até o ano de 1952 era feita por todas as Lojas no Evangelho de São João. Desafortunadamente nesse mesmo ano as Grandes Lojas Estaduais brasileiras introduziram o Salmo 133 no lugar do tradicional evangelho.
A decisão para esse anacronismo deu-se por ocasião da Primeira Mesa Redonda das Grandes Lojas que foi realizada no Estado do Rio de Janeiro no mês de junho de 1.952 sob o patrocínio da Grande Loja daquele Estado. Inexplicavelmente, à moda latina dos que “acham que é mais bonito”, ao longo dos anos de 1950 até 1960 o Salmo 133 também acabou sendo adotado nas Lojas do REAA\ praticado no Grande Oriente do Brasil - o que é lamentável e persiste até os dias atuais.
A explicação para a adoção desse Salmo pelas Grandes Lojas brasileiras teve o seu embrião já em 1927, ano de fundação das Grandes Lojas Estaduais brasileiras por Mário Marinho Béhring, quando posteriormente ele seguiu na busca de reconhecimento para a sua recém-criada Obediência nas Grandes Lojas Norte-americanas, cujas quais trabalhavam (e trabalham até hoje), não no REAA\, mas nas Lojas Azuis do por aqui conhecido Rito de York Americano e que é de origem inglesa.
Lembro que nos Estados Unidos da América do Norte, como aqui já foi comentado, durante a Iniciação é proferido o Salmo 133 por ocasião da perambulação do candidato a Aprendiz do Ofício nas Lojas Azuis.
A busca e a efetivação desse reconhecimento acabaram paulatinamente trazendo inúmeras práticas do Rito de York norte-americano para dentro do escocesismo no Brasil, dentre as quais, a partir de 1952, veio a da leitura do Salmo 133.
Infelizmente esse, e muitos outros enxertos acabariam ingressando na prática do REAA\ aqui no Brasil, inclusive no próprio Grande Oriente do Brasil que hoje adota equivocadamente o Salmo 133 para a abertura das suas Lojas no Primeiro Grau do escocesismo.
Atualmente, se não estou enganado, no Brasil adotam a leitura correta na abertura do Grau de Aprendiz no REAA\ apenas as Lojas pertencentes à COMAB.
Dadas essas explanações, destaco em resposta à sua questão que o REAA\ universalmente adota leitura de trechos do Livro da Lei (Bíblia) e de conformidade com o que fora aqui mencionado.
De fato, existem práticas litúrgicas diferentes entre os Ritos e Trabalhos maçônicos, portando não há como se universalizar determinados procedimentos ritualísticos. Os Ritos maçônicos seguem incontestavelmente a espinha dorsal única da Maçonaria, porém as práticas neles demonstradas nem sempre se assemelham e dependem muitas vezes do arcabouço doutrinário haurido da história e da cultura de cada Rito. Esse é um detalhe dos mais importantes e que deve ser sempre levado em conta nas apreciações acadêmicas relativas à Sublime Instituição – é mister nunca se generalizar os fatos.
São esses os meus comentários pertinentes.


T.F.A.

PEDRO JUK

FEV/2018

domingo, 25 de fevereiro de 2018

REAA - SUBSTITUIÇÃO DO SEGUNDO VIGILIANTE PELO SEGUNDO EXPERTO

Em 14/11/2017 o Respeitável Irmão Alberto Sobrinho, Loja Liberdade e União, REAA, GOB-GO, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás, se referindo a uma resposta dada no meu Blog no mês de novembro, referindo-se à substituição do Venerável Mestre pelo Primeiro Vigilante, formula a questão seguinte:

SUBSTITUIÇÃO DO VIGILANTE PELO EXPERTO


Considerando a publicação abaixo no Blog, pergunto:
Considerando a ausência do 2º Vigilante para o início dos trabalhos ou a necessidade do mesmo assumir o lugar o 1º Vigilante, na falta do Venerável Mestre, ao compor a Loja, antes do início dos trabalhos, devo solicitar ao 2º Experto que assuma o lugar do 2º Vigilante? É este o entendimento? Ou somente no caso de uma necessidade urgente em que o 2º Vigilante necessite cobrir o Templo após o início dos trabalhos? Nesta situação o 2º Vigilante cobre o Templo com o seu colar/joia e o 2º Experto ocupa seu lugar com o colar/joia do Experto?

CONSIDERAÇÕES.

Em se tratando do REAA\, na ausência do Segundo Vigilante, quem o substitui precariamente é o Segundo Experto. A propósito, isso é norma consuetudinária no Rito e não precisa estar escrito, pois se a questão fosse a de estar escrito, observa-se que também não está escrito em lugar nenhum que seja outro oficial, que não o Experto, o seu substituto precário.
O termo “precariamente” se atribui a uma situação emergencial, ou seja, apenas de uma sessão, já que a vacância definitiva desse cargo faz com que seja requerida a realização de eleição para a sua titularidade.
Quanto à situação de que o Segundo Vigilante precise se ausentar durante a Sessão de modo temporário, isto é, tendo o Templo coberto por tempo necessário e posterior retorno aos trabalhos, não há necessidade de se trocar a joia do Experto. A questão é só de momento. Para o bem dos trabalhos maçônicos, devemos evitar esses excessos de preciosismo.
A propósito, quem cobre o Templo é o Cobridor. Nesse caso não é o Segundo Vigilante que cobre o Templo, mas é ele que tem o Templo coberto para si.


T.F.A.

PEDRO JUK


FEV/2018

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

COMO PEDIR A PALAVRA EM LOJA NO REAA

Em 14/11/2017 o Respeitável Irmão Carlos Alberto C. Silva, Loja Lautaro, 2.642, REAA, GOSP-GOB, sem mencionar o Oriente, Estado de São Paulo, solicita esclarecimentos.

COMO PEDIR A PALAVRA EM LOJA.


Um Irmão de minha Loja me fez um questionamento interessante, sobre o qual nunca tinha pensado e não sei responder com embasamento e segurança já que não me lembro de ter passado por esses procedimentos em qualquer livro que eu tenha lido.
1.     Quando um Irmão em Loja levanta-se para falar, a quem ele dirige a palavra? É ao Venerável Mestre?
2.     Ele pode se dirigir a outros membros da Câmara e falar diretamente a estes?
Aproveito para "engatar" agora uma questão minha:
3.      Qual é, em seu entendimento, o correto procedimento para se pedir a palavra quando esta circula pelas colunas? Já vi de tudo: Ficar de pé e à Ordem, bater nas costas da mão esquerda, levantar o braço direito como o sinal de aprovação, bater palmas e até com "psiu's". Tenho um livro que ensina que se deve bater palma e em seguida levantar o braço direito a título de "chamar a atenção do Vigilante". Inclusive um Manual de Dinâmica Ritualística que tenho recomenda a mesma coisa.

CONSIDERAÇÕES

No caso do REAA\ quando um Irmão em pé faz o uso da palavra ele fica à Ordem, antes, porém, nesse caso ele cumpre o protocolo de mencionar por primeiro as Luzes da Loja, em seguida e genericamente (sem mencionar uma a uma) as autoridades maçônicas se for o caso e por fim os demais presentes também na forma genérica de “meus Irmãos”.
Esse protocolo é uma característica do Rito e não pode se confundir com “saudação maçônica”. O ato de se mencionar alguém em se estando à Ordem não significa que literalmente esse alguém está sendo saudado. Cada ato ritualístico deve ser interpretado no contexto da situação em que ele acontece. Nesse caso generalizar o significado é algo temerário.

Dados esses comentários, vamos às questões propriamente ditas.

1.     Salvo se respondendo a uma questão específica de alguém ou mesmo dirigindo uma pergunta para alguém, quem usa a Palavra geralmente se dirige à Loja como um todo, isto é, à assembleia de Irmãos. É daí a expressão final do protocolo quando o usuário da palavra se refere por final aos “meus Irmãos”. Um obreiro usando a palavra em Loja não necessita manter-se estático com a sua visão na direção de alguém. Com o olhar ele pode percorrer com discretos movimentos da sua cabeça orientando a sua fala nas diversas direções do recinto.
2.     Obviamente que sim. Essa resposta está implícita no que menciona a nº 1 acima.
3.     O modo clássico e tradicional é o de bater com a mão direita sobre o dorso da mão esquerda fechada, esticando em seguida à frente o braço direito para chamar a atenção. O resto é invenção e preciosismo.

T.F.A.

PEDRO JUK


FEV/2018

DISPENSA DE FORMALIDADE RITUALÍSTICA - REAA

Em 09/11/2017 o Respeitável Irmão Moisés Pinho da Silva, Loja Luiz Gonçalves Pereira, 13, REAA, GOPB (COMAB), Oriente de João Pessoa, Estado da Paraíba, apresenta a seguinte questão:

DISPENSA DE FORMALIDADE

Gostaria de tirar uma dúvida.
Na chegada de um Irmão retardatário o Venerável dispensa a entrada ritualística do Irmão.
Minha dúvida: este Irmão deverá saudar as Luzes mesmo não executando a Marcha? É errado solicitar que o retardatário faça a saudação por respeito às Luzes?
Ou ele deverá seguir direto para o lugar que lhe compete em Loja?


CONSIDERAÇÕES.

A regra é (ou pelo menos deveria ser) a de que todo ingresso na Loja deve ser formal.
Entrada formal em uma Loja aberta no Rito Escocês Antigo e Aceito significa o ato nela se ingressar pela Marcha do Grau e em seguida proceder à saudação às Luzes pelo Sinal, podendo ainda, conforme a situação, ser ele submetido ao telhamento oral (questionário) ministrado pelo Venerável Mestre.
Somente após esses procedimentos é que o Irmão que acabou de ingressar assina o Livro de Presenças e é posteriormente conduzido a um lugar na Loja.
Entretanto, pelo perfil da Maçonaria Latina que não foge a regra do “jeitinho”, consuetudinariamente é prerrogativa do Venerável Mestre, usando do seu bom senso, dispensar parte dessas formalidades, sobretudo se o caso for o de um Irmão conhecido do Quadro. Nesse sentido, excepcionalmente o Venerável Mestre pode dispensar a Marcha do Grau e o questionário do telhamento, permanecendo, porém o ato de se saudar as Luzes pelo Sinal.
É oportuno mencionar que no REAA\ o Mestre de Cerimônias, portando o seu bastão, sempre estará presente nesse ato de recepção e condução.
Assim, pela abordagem acima, acredito que o texto responde as suas questões.
Dando por concluído, nunca é demais mencionar que a ritualística disciplina os trabalhos maçônicos, portanto é sempre de boa geometria que se evitem dispensas de procedimentos na liturgia maçônica. Que as exceções sejam realmente avaliadas como algo verdadeiramente necessário. Nesse caso, dispensas não são regras, mas puramente exceções.


T.F.A.

PEDRO JUK


FEV/2018


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

OFÍCIO DO COBRIDOR EXTERNO

Em 08/11/2017 o Respeitável Irmão Luciano Peixoto, Loja Universitária de Cascavel, REAA, GOB-PR, Oriente de Cascavel, Estado do Paraná, solicita a seguinte informação:

OFÍCIO DO COBRIDOR EXTERNO.


Assumi este ano o cargo de Cobridor Externo e percebi que tem poucos detalhes sobre a função no manual de procedimentos ritualísticos. Tentando tirar dúvidas com os Irmãos percebi também que muitos não têm convicção sobre o cargo.
As minhas dúvidas são básicas, como por exemplo, no início da sessão, na entrada dos Irmãos ao Templo, bem como na saída, devo ficar com a espada embainhada ou a rigor? Como devo proceder nas entradas e saídas dos Irmãos nos casos de mudança de Grau da sessão? Depois que se inicia a sessão e um Irmão chega atrasado, qual é o procedimento correto?

CONSIDERAÇÕES.

O Cobridor Externo (Guarda Externo) na Maçonaria latina ou o Tiler na Maçonaria inglesa é um dos cargos mais antigos utilizados na Ordem. Originário dos tempos operativos ele tinha a função de guardar e proteger externamente o local de trabalho dos bisbilhoteiros e dos cowans.
Com o advento da Maçonaria Especulativa e na sequência da Moderna Maçonaria o Cobridor ou o Guarda Externo foi mantido com a função simbólica de proteger a porta do Templo pelo seu lado externo. No caso do REAA\ ele ocupa o respectivo Átrio.
Até certo ponto esse cargo foi mantido, principalmente na vertente francesa com um cargo mais decorativo do que funcional na liturgia. Em síntese, não lhe é dada a importância que o cargo devidamente merece.
Pelo seu aspecto quase decorativo, no REAA\ - rito de origem francesa - o Cobridor Externo tem sido mantido em alguns rituais das Obediências como um elemento que vigia o espaço externamente apenas durante a abertura dos trabalhos, ingressando no Templo logo após a devida abertura ritualística e ali permanecendo “esquecido” até no encerramento - isso quando esse cargo é preenchido.
Diferente da Maçonaria inglesa, o Tiler (título dado ao Guarda Externo na Inglaterra) obrigatoriamente permanece no Átrio e geralmente ele não é um membro efetivo da Loja, mas um Past-Master idoso e experiente que tem por ofício guardar externamente a Sala da Loja, inclusive sendo remunerado financeiramente pelo seu ofício. O Tiler não ingressa nos trabalhos ritualísticos na Inglaterra.
A despeito do que foi até aqui comentado, no caso do REAA\ o Cobridor Externo pelo menos deveria ser o primeiro oficial a receber eventualmente os retardatários que costumeiramente pedem ingresso após a abertura dos trabalhos. Também, no caso de existirem visitantes que formalmente só ingressam após a Ordem do Dia, o Cobridor Externo deveria permanecer no Átrio – pelo menos até as suas entradas. Ainda, em havendo necessidade de cobertura temporária do Templo para Irmãos cumprindo as formalidades ritualísticas de mudança de grau, também o Guarda Externo deveria se posicionar no Átrio até o retorno dos retirantes (em tese alguém está presente nas proximidades do Templo).
Obviamente que nada disso acontece, pois não está previsto no ritual. É comum atualmente apenas que ele ingresse após a abertura e tome assento no seu lugar devido e ali permaneça até o encerramento.
Dados esses comentários, seguem as respostas solicitadas:
- Segundo o Ritual do GOB\ e os Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR, durante o ingresso o Cobridor Externo permanece no Sul do Átrio, próximo a Coluna Vestibular J\ mantendo a espada desembainhada, isto é, em ombro-arma até que todos tenham ingressado. Posteriormente embainha a espada e permanece no Átrio até que seja convidado a entrar. Quanto ao encerramento nada é mencionado. Nesse sentido ele se retira com os demais, preferencialmente ao final do préstito em retirada, mantendo a espada embainhada. Não existindo bainha, mantém a espada no dispositivo localizado atrás do espaldar da sua cadeira.
- O ideal seria ele se manter no Átrio com a espada em ombro-arma enquanto o Templo estivesse coberto aos retirantes, entretanto como nada está previsto nesse sentido, o Cobridor Externo se mantém internamente sentado no seu devido lugar (lado Norte da porta). Nesse caso sua espada permanece embainhada ou, na ausência de bainha, ela fica presa no dispositivo preso atrás do espaldar da sua cadeira.
- Como nada está previsto, tendo ele já ingressado, permanece sentado no seu lugar. Na hipótese de que ele não tenha ainda ingressado, é dele então a responsabilidade inicial de receber retardatários na forma de costume, dar os avisos iniciais sobre o grau de trabalho da Loja, podendo inclusive e se for o caso, submeter o atrasado aos exames iniciais da praxe antes que ele peça ingresso.


T.F.A.

PEDRO JUK



FEV/2018

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

VENERÁVEL MESTRE À ORDEM - O SINAL E O INSTRUMENTO DE TRABALHO

Em 07/11/2017 o Respeitável Irmão Hernay Canhoto, Venerável Mestre da Loja Eugenio Bargiona, 3593, GOB-RJ, sem mencionar o nome do Rito, Oriente do Recreio dos Bandeirantes, Estado do Rio de Janeiro, solicita a seguinte informação:

VENERÁVEL MESTRE À ORDEM.

Primeiramente gostaria de enaltecer seu trabalho, suas respostas nesse blog acendem uma luz no nosso universo maçônico, tão carente de informações fidedignas.
Nesses primeiros meses de trabalho à frente de minha loja muito tenho usado seus ensinamentos.
Tenho uma duvida que não achei dirimida em seu blog, um ex Venerável Mestre da minha Loja usava o malhete ao peito como Sinal de Ordem e alguns Mestres Instalados concordam que o Venerável Mestre não faz o Sinal de Ordem normal do grau e sim sempre colocando o malhete ao peito, eu particularmente, discordo nesse sentido, tenho feito o Sinal de Ordem relativo ao grau que estamos trabalhando. Gostaria de saber qual o procedimento ritualístico correto.

CONSIDERAÇÕES.

O Sinal de Ordem (Sinal Penal) é feito com a mão, ou mãos se for o caso.
Ninguém faz Sinal com o instrumento de trabalho. Essa regra se aplica a todos os Obreiros, inclusive o Venerável Mestre e aos Vigilantes, cujos quais têm malhetes como seus objetos de trabalho.
Nos seus lugares os portadores de malhete ao ficarem à Ordem devem deixá-los sobre o respectivo móvel à sua frente (altar e mesas) e compor devidamente o Sinal com a(s) mão(s).
Infelizmente aqui no Brasil ainda existe a falsa crença de que ao se apoiar o malhete no lado esquerdo do peito, o protagonista estará fazendo o Sinal de Ordem.
Na realidade, o que existe mesmo é uma forma de se conduzir um objeto de trabalho - nesse caso o malhete - nas ocasiões em que sejam necessários deslocamentos pelo recinto da sala da Loja.
Nessas oportunidades a liturgia maçônica prevê a forma de como se empunha o instrumento de trabalho, tanto em deslocamento, como parado em pé fora do seu lugar. Esse gesto é geralmente conhecido como “estar a rigor com o instrumento de trabalho”. Assim, quem por motivo ritualístico estiver em pé e parado empunhando um objeto de trabalho, em hipótese alguma significa que ele estará compondo ou executando um Sinal de Ordem.
Ratifico o que é consuetudinário na Maçonaria: não se usa nenhum instrumento de trabalho para com ele compor e executar o Sinal, portanto até mesmo as Luzes da Loja (o Venerável e os Vigilantes), nos seus lugares, para fazerem o Sinal, deixam os respectivos malhetes e ficam à Ordem na forma de costume, isto é, fazem o Sinal com a mão, ou mãos conforme o caso.


T.F.A.

PEDRO JUK


FEV/2018