quarta-feira, 31 de julho de 2019

REAA - CONTRADIÇÃO NO RITUAL DE COMPANHEIRO


Em 07/04/2019 o Respeitável Irmão Francisco Kennedy C. de Souza, Loja Estrela da Fronteira, 2.024, REAA, GOB-MS, Oriente de Mundo Novo, Estado do Mato Grosso do Sul, apresenta a dúvida seguinte:

DÚVIDA NO RITUAL DO SEGUNDO GRAU


Novamente venho tirar uma dúvida, na verdade duas. A primeira, no Ritual que usamos (ano 2009) do GOB tenho observados alguns erros, principalmente no Grau de Companheiro Maçom, na página 74, na primeira fala, o Venerável pergunta ao Irmão Primeiro Vigilante se o Irmão Aprendiz preencheu o seu tempo e tem condições de ser elevado. Se o responsável pelos ensinamentos aos AApr\ é o 2º Vigilante, a pergunta não deveria ser dirigia a ele (2º Vig)?
Segunda, as correções neste, que serão varias, vão demorar a serem feitas?

CONSIDERAÇÕES.

Exatamente. Como no REAA, por uma questão de hierarquia - não de lugar na Loja - o instrutor dos Aprendizes é o Segundo Vigilante, no Ritual a questão aqui colocada é contraditória, portanto, a pergunta do Venerável constante do 1º parágrafo da página 74 deve ser ao Segundo Vigilante, não ao Primeiro.
Essa, e outras contradições já estão devidamente adequadas e corrigidas nas orientações sobre o Ritual de Companheiro do REAA em vigência que serão colocadas na plataforma do GOB em http://ritualistica.gob.org.br
A respeito de quando, informo que as do Ritual do Companheiro estarão em breve a disposição. Encontram-se atualmente em fase final de correção, adequação e revisão. É oportuno mencionar que as orientações do Ritual de Aprendiz já estão nesse endereço e a disposição dos Irmãos do GOB.
No tocante as orientações e adequações que se encontram na plataforma, destaco que elas são “oficiais” e se encontram em vigência.
Cabe comentar também que sempre encontraremos “resistências” que ficam a duvidar do nosso trabalho e da sua legalidade. Ora, se elas estão no site oficial e partem da Secretaria Geral de Orientação Ritualística, lá não se encontram por acaso. Inclusive a Secretaria Geral de Comunicação e Informática do GOB já colocou matéria a respeito, “comunicando” às Lojas da existência das orientações. Já saiu, inclusive, o primeiro Seminário de Padronização Ritualística estruturado nessas orientações (outros já estão agendados).
Por fim, volto ao assunto do instrutor dos Aprendizes. Notadamente, é o Segundo Vigilante o instrutor oficial dos Aprendizes, todavia isso não impede que os mesmos recebam também instruções de outros Irmãos na Loja. Tenho dito sempre que a questão de quem instruí não é uma questão de lugar, ou da Coluna de quem. A questão é de hierarquia, bem como de história. Essa prática remonta uma antiga tradição dos canteiros medievais quando os Aprendizes Admitidos (no ofício) eram recebidos e instruídos por primeiro pelo Segundo Vigilante - alguns ritos da Moderna Maçonaria rememoram esse antigo costume e, independente de onde tomem assento os Aprendizes, colocam o Segundo Vigilante como seu instrutor.


T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2019


terça-feira, 30 de julho de 2019

REAA - USO DO CHAPÉU NA EXALTAÇÃO


Em 04/04/2019 o Respeitável Irmão Marcelo Gass, Loja Tríplice Aliança, 3.277, GOB-PR, REAA, Oriente de Toledo, Estado do Paraná, solicita o seguinte esclarecimento.

EXALTAÇÃO – CHAPÉU


Preciso mais uma vez de sua ajuda. Hoje teremos Sessão Magna de Exaltação, e a dúvida é referente ao uso do chapéu. Usamos sempre o chapéu nas Exaltações. Porém, sempre que algum Irmão levanta o mesmo tira o chapéu. Visitei uma Loja, onde os Irmãos não tiram os chapéus quando levantam, somente no Juramento. Em nosso Manual de Procedimentos, na passagem do Juramento, os Irmãos tiram os chapéus e depois o colocam. Minha dúvida é: só tira o chapéu no momento do Juramento? E nas outras vezes que o Irmão levantar (palavra sobre ato) fica com o chapéu?

CONSIDERAÇÕES.

O Ritual de Mestre do REAA\ em vigência, menciona em alguns momentos a ocasião em que os Irmãos devem se descobrir. De certo modo, timidamente, ele pouco enfatiza esse importante adereço, inclusive com uma orientação que deixa a desejar.
Corretamente, o procedimento de se descobrir se dá nas seguintes ocasiões: Primeira, quando o Orador se coloca para abrir e fazer a leitura do Livro da Lei. Nesse momento, todos se descobrem e só voltam a se cobrir depois que o Venerável Mestre declarou a Loja aberta e mandou todos se sentarem novamente. A segunda ocasião é quando o candidato presta o seu Juramento. Findo este, todos se cobrem novamente. A terceira vez ocorre quando da Confirmação do Juramento e a Proclamação. Nessa oportunidade todos se descobrem para a Confirmação e só voltam a se cobrir depois de ter sido o candidato proclamado Mestre Maçom. Por fim, a quarta vez é quando o Orador se coloca para fechar o Livro da Lei. Nessa ocasião todos se descobrem e só voltam a se cobrir quando o Venerável Mestre determinar que todos se retirem em paz.
É bem verdade que o Ritual em vigência precisa ser adequado, pois o mesmo determina a retirada da cobertura já na transmissão da Palavra, o que não está correto, pois a retirada de cobertura somente deve se dar após a transmissão, não antes dela – nada existe de transcendental na transmissão da palavra.
Comentários a parte, quando chegar a vez das orientações para o Ritual de Mestre, a Secretaria Geral de Orientação Ritualística fará as adequações para a liturgia do uso do chapéu.
Durante o uso da palavra, ou ocasiões que não as acima mencionadas, não se retira o chapéu.


T.F.A.

PEDRO JUK


JULHO/2019

segunda-feira, 29 de julho de 2019

OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA


Em 04/04/2019 o Respeitável Irmão André Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, GOEPE (COMAB), REAA, Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, solicita esclarecimentos para a seguinte questão:

OFÍCIO DOS DIÁCONOS.
 
Gostaria de seus esclarecimentos a respeito da questão abaixo: No REAA qual a função dos Irmãos primeiro e segundo Diáconos durante uma sessão econômica, ou eles só trabalham nas sessões magnas?

CONSIDERAÇÕES.

Originalmente, no REAA os Diáconos são apenas os transmissores da Palavra Sagrada para a abertura e encerramento dos trabalhos. A liturgia desse ato revive uma antiga prática da Maçonaria de Ofício quando os Diáconos eram ainda os Oficiais de Chão e serviam de mensageiros entre o Mestre da Obra e os seus auxiliares imediatos, os Vigilantes.
Na época do Ofício não existia transmissão de palavra nenhuma (nem ritos existiam), porém os mensageiros levavam as ordens profissionais para nivelar e aprumar os cantos da Obra para que os trabalhos se iniciassem e, ao final, conferissem o nivelamento e a aprumada para se certificar se tudo estava “justo e perfeito” e em condições de pagar os obreiros despedindo-os contentes e satisfeitos.
Assim eles levavam as mensagens para a execução desse ofício junto aos Vigilantes – vide o Nível e o Prumo como joias distintivas especulativas da atualidade e que relembram o antigo ofício de aprumar e nivelar os cantos.
Como na Moderna Maçonaria a pedra é a representação esotérica do homem, não faz mais sentido que os Vigilantes literalmente os aprumem e os nivelem. No REAA, em lugar dessa prática ficou então a transmissão de uma palavra entre as Luzes da Loja e os Diáconos para rememorar, em primeira análise, as tradições, usos e costumes de um passado distante.
Nesse sentido, como oficiais, os Diáconos no REAA apenas são os mensageiros para essa prática ritualística, a despeito de que essa alegoria traz consigo importantes ensinamentos morais e éticos, cabendo ao maçom compreender o significado da mensagem e do mensageiro nesse contexto simbólico.
Quando a dialética ritualística pertinente aos Diáconos, ela é apenas simbólica e relembra os canteiros medievais quando os Oficiais de Chão, além de mensageiros, também ajudavam a fiscalizar os trabalhos. O termo “diácono” apareceria mais tarde por influência da Igreja.
Vale a pena mencionar, entretanto, que existem ritos em que os Diáconos trabalham como oficiais experientes e atuam principalmente nas cerimônias ritualísticas de Passagem e Elevação, como é o caso do Rito de York. A Maçonaria anglo-saxônica não se faz valer de Expertos, como a francesa, por esse viés os Diáconos é que atuam nesse ofício.
Concluindo, ainda em relação ao simbolismo do REAA, os Diáconos, genuinamente atuam como mensageiros na alegoria da transmissão da Palavra. Não usam bastão e nem participam de formação de pálios. Reitero: isso se dá no REAA puro e sem enxertos.



T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2019

REGULARIDADE E A PALAVRA SEMESTRAL


Em 03/04/2019 o Respeitável Irmão André Sarpitti, Loja Estrela de Luziânia, 1.644, REAA, GOB-GO, Oriente de Luziânia, Estado de Goiás, apresenta a seguinte questão:

PALAVRA SEMESTRAL

A par de cumprimentá-lo, sirvo-me por meio deste a fim de solicitar de vossa sabedoria a seguinte assertiva.
Amado Irmão, em minha temos um Irmão que faz parte do nosso quadro de obreiros, mas que também é filiado em outra Loja. E nesse caso, ficou impedido de receber a palavra semestral, por não ter a devida certeza quanto à sua regularidade na Loja que recolhe os emolumentos.
Desde já agradeço pela atenção, oportunidade em que reitero as minhas cordiais saudações colhendo ensejo para externar minha estima e consideração.

CONSIDERAÇÕES.

Não é essa a minha especialidade.
Primo por assuntos de liturgia, ritualística, história e filosofia da Ordem, no entanto, como maçom regular entendo que o obreiro que estiver filiado a mais de uma Loja, recolhe os emolumentos pertinentes ao Poder Central e Estadual por apenas uma delas, no entanto os devidos às Lojas que ele é filiado, assim como a frequência, são também da sua obrigação.
Em síntese, entendo que o maçom filiado a mais de uma Loja deve estar regular em tantas Lojas quantas ele estiver filiado. Ao que parece, estando ele irregular numa delas, a sua irregularidade pode abranger também as outras (isso no momento não tenho certeza).
Talvez seja essa a situação desse Irmão que, para receber a Pal\ Semestral, precise comprovar a sua regularidade nas demais.
Se é o que eu entendi da questão, esses são os meus apontamentos.


T.F.A.

PEDRO JUK


JULHO/2019

domingo, 28 de julho de 2019

DECORAÇÃO DO TEMPLO. ENTRE RITOS, DIFERENÇA DE ABÓBADAS


Em 03/04/2019 o Respeitável Irmão Edinei Francisco da Silva, Loja Araponga 4.318, REAA, GOB-PR, Oriente de Arapongas, Estado do Paraná, solicita esclarecimentos para o que segue:

DIFERENÇA ENTRE ABÓBADAS NO TEMPLO.

 
Gostaria de saber de você se a abóboda celeste do Rito Brasileiro é diferente do REAA. Gostaria de apresentar um trabalho sobre esse tema.

CONSIDERAÇÕES.

A distribuição dos astros e estrelas de ambos é muito próxima, até porque o Rito Brasileiro indisfarçavelmente foi decalcado do Rito Escocês Antigo e Aceito.
O costume de se decorar os tetos representando-os pela abóbada celeste remonta ao antigo Egito e seria, mais tarde copiado por alguns ritos maçônicos.
Em se tratando da decoração do REAA, rito esse nascido na França, portanto no hemisfério Norte da Terra, a mesma tem sua disposição astronômica e estelar observada a partir da meia-esfera boreal do nosso Planeta. Alguns autores, inclusive preconizam ser uma visão correspondente ao período solsticial de verão no setentrião, o que não pode ser definitivamente afirmado, pois a distribuição dos astros e estrelas na abóbada de um Templo maçônico geralmente não guardam proporções e nem precisão astronômica na sua composição. Sua decoração é mais estilizada e representativa do que uma demonstração precisa do mapa celeste.
Em se tratando do Rito Brasileiro, é preciso se levar em consideração que o seu nascimento se deu no hemisfério Sul, assim, diferente do REAA, seu ponto de observação é da meia esfera austral – pelo menos deveria ser - mas parece que isso não acontece, pois a distribuição dos astros e estrelas é próxima a do Rito Escocês, ressalvando-se que no Rito Brasileiro é comum também aparecer na abóbada a constelação do Cruzeiro do Sul, agrupamento de estrelas que só é visto no hemisfério Sul.
A diferença mais substancial de um Rito que tem sua origem no hemisfério Sul é que nele os Aprendizes sentam no topo do Sul e os Companheiros no topo do Norte. Isso sem dúvida tem relação com a distribuição dos astros e estrelas na abóbada já que os equinócios e solstícios ocorrem de modo oposto conforme o hemisfério.
Concluindo, você encontrará no Blog do Pedro Juk em Peças de Arquitetura um trabalho intitulado “A Abóbada do Templo – REAA. Veja em http://pedro-juk.blogspot.com.br


T.F.A.

PEDRO JUK


JULHO/2019

sábado, 27 de julho de 2019

O SINAL DE MESTRE E O GR.'. SIN.'. R.'. (SIN.'. DE H.'.)


Em 27/07/2019 o Respeitável Irmão Rony Silvio, Loja Estrella da Syria, 751, REAA, GOB-SP, Oriente de São Paulo, Capital, apresenta a questão seguinte:

SINAL DO MESTRE. SIN\ DE H\


Estou fazendo um trabalho e estou com dificuldades de encontrar um livro que me esclareça mais sobre o por que do Sin\ de Mestre é chamado de " Sin\ de H\"?
Encontro somente passagens..., mas sem muita explicação.
Peço por gentileza ajuda do irmão. 

CONSIDERAÇÕES.

Caro Irmão, isso se dá porque foi o gesto que fizeram aqueles que ao encontrar se certificaram que o c\ s\ do Mestre H\ A\.
Este Sin\, no REAA, é conhecido como Sin\ de H\ e é também conhecido como o Gr\ Sin\ R\.
Destaco que esse não é o Sin\ de Ord\ e nem o Sin\ Pen\ do Mestre.
A origem do Sin\ de H\, ou o Gr\ Sin\ R\, está na exposição teatral da Lenda de H\ e não é de se estranhar que não existam livros e escritos a respeito, pois os sinais são práticas sigilosas e reservadas somente aos iniciados, pelo que não podem estar aleatoriamente descritas. Essas exposições são privativas do Ritual e devem ser ensinadas em Loja.
Das duas vertentes principais de Maçonaria, a inglesa e a francesa, existem algumas diferenças e podem ser comparadas em se estudando os rituais anglo-saxônicos e os latinos.


T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2019


sexta-feira, 26 de julho de 2019

ARCA DA ALIANÇA, OU DO TESTEMUNHO


Em 02/04/2019 o Respeitável Irmão Renato Barreto Filho, Loja Vale do Tijucas, 2.817, e da Loja de Perfeição Marco Aurélio de Oliveira, REAA, GOB-SC, REAA, Oriente de Tijucas, Estado de Santa Cataria, solicita informações para o que segue:

ARCA DA ALIANÇA


Meu nome é Renato, sou obreiro da Loja Vale do Tijucas sou amigo do André Carpes, ele me passou o teu contato para tirar algumas dúvidas de alguns trabalhos que estou desenvolvendo na Loja de Perfeição.
Tenho que falar sobre a Arca da Aliança, mas notei que na internet e nos livros os temas sempre são os mesmos, ou seja, falam das origens bíblicas da mesma, do fato de ser uma arma e as questões enérgicas da mesma, e sobre os conteúdos da mesma. Queria uma abordagem diferente, ou alguma curiosidade diferente sabe?
Se puder me ajudar aonde pesquisar, agradeceria.

CONSIDERAÇÕES.

  1. Introdução.
Não especificamente só para a Loja de Perfeição, vou deixar alguns comentários sobre a presença da Arca da Aliança como um ícone simbólico utilizado na Maçonaria.
Sobretudo pela influência hebraica na Maçonaria, notadamente a Arca da Aliança, ou do Testemunho, tem seu espaço na doutrina da Ordem, tanto como elemento individual, bem como um relicário simbólico que é parte de uma alegoria.
A despeito da sua presença, muitas vezes abstrata no simbolismo, a Arca possui uma relação direta com os Templos maçônicos da Moderna Maçonaria.
Em se tratando desses Templos (espaços onde se realizam os trabalhos maçônicos), os mesmos, como Salas da Loja, são relativamente novos, pois o primeiro Templo maçônico somente surgiria com o aparecimento da primeira Obediência maçônica, fundada em Londres a 24 de junho de 1.717 e que teve seu Templo inaugurado em 1.776.
É bom que se diga que antes do surgimento dos Templos específicos para os trabalhos maçônicos, era comum as Lojas se reunirem em Tabernas e Cervejarias e, muitas vezes, também nos espaços em torno das igrejas, conhecidos como adros. Entenda-se que não havia ainda na época os conhecidos ritos maçônicos e suas liturgias elaboradas. Isso só viria ocorrer, paulatinamente, a partir do primeiro quartel século XVIII.
Não menos importante nessa história é se saber que a palavra “taberna”, na Europa do século XVII e XVIII não se resumia apenas num lugar para abrigo, repouso e alimentação, mas um espaço que possuía grande função social. Geralmente nelas também se reuniam grupos associativos, como o de artesãos do mesmo ofício, o que dava às tabernas condição de ser um local de concentração, onde os homens buscavam, pela troca de ideias, aprimoramento pessoal.
Assim, descontraidamente as tabernas eram o ponto de encontro para essas reuniões informais, enquanto que de modo formal, como admissões no Ofício (iniciações), ensinamentos dos segredos da Arte, etc., as Lojas de artesãos construtores preferiam reunir-se nos adros das Igrejas, embora também usassem recintos que eram alugados nas Tabernas.
Essa relação da Moderna Maçonaria com as Igrejas nata tem de surpreendente, pois é sabido que a sua predecessora, a Maçonaria de Ofício, floresceu e se desenvolveu sob a sua proteção (da Igreja).
Foi com o aparecimento da Primeira Grande Loja em 1.717 que os maçons ingleses, organizados e prevendo expansão do sistema obediencial que acabara de nascer, construiriam, em 1.776, o primeiro Templo maçônico.
  1. Relação Arca, Igreja e Templo Maçônico.
Feitos esses comentários iniciais, é sobre eles que eu gostaria de inserir, nesse contexto, a Arca da Aliança - não como um marco do seu aparecimento na Maçonaria, mas como uma alegoria maçônica que possui estreita relação com o espaço e divisão de um Templo maçônico herdado de costumes eclesiásticos.
Por oportuno, cabe mencionar que já na Maçonaria de Ofício, muitas lendas que envolviam o Tabernáculo e a construção do Templo de Jerusalém eram contadas. Sob essa conotação mística vários elementos relacionados à fé e a história hebraica faziam parte do relicário dito e recitado em muitas old charges. Nesses conteúdos sustentados pela fé, a Arca da Aliança, a Urna do Maná e a Vara de Aarão, por exemplo, já eram mencionadas.
Assim, segue um breve relato sobre a construção do primeiro Templo maçônico do mundo e a sua relação com a alegoria da Arca.
Os ingleses, para construir o primeiro espaço específico para os trabalhos maçônicos (a sala da Loja) buscaram inspiração em dois exemplares deles bem conhecidos: as Igrejas e o Parlamento britânico.
No que diz respeito às Igrejas, dela eles copiaram a orientação e a divisão, enquanto que do Parlamento, a sua disposição.
É preciso salientar entrementes que indisfarçavelmente as Igrejas foram inspiradas nas hipotéticas descrições bíblicas relativas ao Templo de Jerusalém. A sua orientação do Oriente para o Ocidente e a sua divisão em número de três demonstra perfeitamente esse comentário.
Vide, por exemplo, o altar-mor, o presbitério e a nave das Igrejas. Nessa divisão, o altar-mor, onde se oficia a missa, corresponde ao Santo dos Santos do Templo de Jerusalém; o presbitério, onde se colocam os auxiliares para o ofício da missa, o Santo; e a nave, onde se colocam os fiéis, corresponde a parte sem cobertura do Templo hebraico, parte essa destinada aos pátios para acomodar o povo.
A despeito das acomodações dos lugares nos Templos maçônicos que foram copiados do Parlamento britânico, influenciados pela Igreja, os recintos de trabalho maçônico com seu eixo longitudinal oriente-ocidente são do mesmo modo divididos em três partes. O Altar no Oriente, que acomoda o Venerável Mestre, corresponde ao mesmo tempo ao “Santo dos Santos” do Templo hebraico e ao altar-mor da Igreja; o restante do espaço oriental, onde se colocam as autoridades e outras dignidades maçônicas, corresponde ao mesmo tempo ao “Santo” do Templo hebraico e ao presbitério da Igreja. Por fim, as Colunas, onde ocupam lugar os demais obreiros da Loja, correspondem simultaneamente à nave da Igreja e ao pátio do Templo de Jerusalém.
É por esse viés que o Templo maçônico possui relação com Templo de Jerusalém, todavia sem que se imagine ser um a cópia fiel do outro. Há sim alguns aspectos correspondentes, todavia mais pelo seu significado simbólico do que propriamente como um modelo.
De qualquer modo, a afinidade entre um e outro existe, e tem como intermediária dessa relação, a Igreja. Destaque-se que nada há de estranho nessa relação, pois a Igreja, através do Cristianismo, acabou herdando do judaísmo inúmeros aspectos ligados à liturgia e os seus símbolos.
Nesse sentido, a Arca acabou se tornando uma peça importante nas lendas e alegorias que dão estrutura à doutrina de muitos ritos maçônicos – a exemplo do escocesismo, a mesma tem estado presente em vários dos seus Altos Graus.
De alto significado simbólico, no Templo maçônico a Arca da Aliança geralmente aparece aberta mostrando no seu interior o Decálogo. Colocada no Oriente, fica junto ao Altar por este simbolizar o Santo dos Santos do Templo hebraico.
  1. A Arca da Aliança, ou do Testemunho. Síntese do seu significado.
Citada na Bíblia em Êxodo 25 – 10 a 22, ela simboliza terceira aliança de Deus com o homem. Cabe destacar que a primeira aliança, a que abrange a humanidade inteira, foi aquela que Deus firmou com Noé. Como menciona em Gênesis, o arco-íris é a prova da sua existência. A segunda aliança, já de modo mais particular, foi a abraâmica e tem como sinal a circuncisão (em hebraico: brit-milá). Seu propósito abrange todos aqueles que invocam o Deus de Abraão. Por fim, a terceira aliança foi aquela concluída no monte Horeb por Moisés. Essa aliança aspira representar pelo sacrifício, o pacto de união entre Israel e seu Deus. O seu sinal é o shabat (sábado) – dia da plenitude da criação. A sua Lei é aquela que Deus revelou a Moisés no Sinai.
A Arca, com as Tábuas da Lei, ou o Testemunho da Lei, foi colocada no Santo dos Santos como único objeto a ali se situar, não havendo nenhum outro além dela. Nesse recinto (Santo dos Santos) só teria acesso, uma única vez por ano, no Dia do Perdão, ou Expiação o sumo sacerdote (em hebraico:  cohen gadol).
No trajeto da sua existência, segundo conta a tradição, após a entrada dos hebreus na terra prometida, a Arca ficou guardada em Galgala, e posteriormente levada a Siló, juntamente com o Tabernáculo. Quando ocorreu a guerra contra os filisteus, ela fora roubada, porém recuperada posteriormente pelos hebreus. Permaneceu então pelo período de oitenta anos em Cariatiarim, de onde foi levada para a casa de Obed-Edom. Assumiu lugar definitivo no Santo dos Santos quando da construção do Primeiro Templo (o de Jerusalém – de Salomão). Em 586 a.C., após a tomada de Jerusalém pelos babilônios de Nabucodonosor II, quando o Templo foi completamente destruído, a Arca desapareceu, sem que se saiba do seu destino (se a mesma foi escondida ou destruída junto com o Templo).
Cabe comentar que o termo Testemunho (da lei) se refere ao decálogo e é o Testemunho da terceira aliança – de Deus como Moisés.
De tudo, a alegoria da Arca da Aliança carece de um estudo abrangente naquilo que envolve o seu significado histórico, religioso e simbólico no contexto em que ela aparece.
  1. Arca da Aliança nos Altos Graus.
Sob a égide dos graus históricos israelitas-bíblicos a Arca é um símbolo de sustentação e de fé. É o elemento principal de uma alegoria relacionada a existência de uma aliança entre a Lei do Criador e o homem como produto da Sua criação.
Sob aspecto filosófico, poder-se-ia citar Leibniz e a sua teoria da mônada. Segundo ele, a Arca é tida como o elemento constitutivo de todas as coisas. Essa teoria, que se refere ao “todo no um”, tem o propósito de explicar que cada uma das substâncias simples e de quantidade infinita, de natureza psíquica e que não têm relação umas com as outras, se agregam harmoniosamente no Universo por vontade da Divindade.
Nesse sentido, são várias as apreciações que a Arca assume, mesmo nos Altos Graus. Cada lenda que a envolve traz uma espécie de chave, ou uma espécie de fio de Ariadne para se descobrir o segredo do absoluto.
Para a Maçonaria, além dos propósitos do seu significado alegórico e filosófico, a Arca, em última análise, representa a onipresença do Arquiteto Criador.
Epílogo.
Concluindo, devo mencionar que as considerações aqui contidas não possuem o objetivo de explicar o seu simbolismo sob o viés esotérico. Superficialmente essa abordagem objetiva incluir no seu contexto a relação do símbolo da Arca com o Templo maçônico. Assim, a sua exposição mística e histórica, mesmo que superficial, se embasou na tradição hebraica. No contexto maçônico ela se resume a uma colocação filosófica que faz parte da espinha dorsal doutrinária dos Altos Graus do REAA.


T.F.A.

PEDRO JUK


JULHO/2019