segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

PALAVRA DE PASSE NO SEGUNDO GRAU - SIGNIFICADO


Em 01/10/2018 o Irmão Cícero Ramos, Companheiro Maçom, Loja Rui Barbosa, 3419, sem mencionar o nome do Rito, GOB-MT, Oriente de Sinop, Estado do Mato Grosso, apresenta o que segue:

PALAVRA DE PASSE NO SEGUNDO GRAU


Estimado Pedro tenho dois trabalhos para apresentar no grau de Companheiro. Um sobre Atos 20:34, sobre o trabalho do Apóstolo Paulo, já está pronto. Outro sobre a palavra שיבולת Shib\, como fiz hebraico, usei conhecimento adquirido das aulas, conversei com
os professores israelenses. Nesse sentido te escrevi pedindo auxílio, caso tenha algum material ou possa indicar livro para comprar, de modo a encorpar e trazer mais luz sobre a questão, agradeço.

CONSIDERAÇÕES.

A despeito do seu significado maçônico que corresponde à fart\ e abund\ (nnum\ ggr\ de tr\), essa alegoria é concebida, principalmente na Tábua de Delinear do Segundo Grau do Craft, onde a mesma aparece como uma esp\ de tr\ junto a uma queda d’água. Assim, essa palavra, que é de origem hebraica, tem sido comum ao segundo grau de quase todos os ritos da Moderna Maçonaria.
Na realidade, como Pal\ Pas\ ela cumpre o desiderato de explorar o nível de conhecimento daquele que aspira chegar ao topo da Esc\ em Carac\, ou a Esc\ Sin\ como também é conhecida.
Como Pal\ de Pas\, sua origem na Maçonaria está ligada diretamente à lenda que envolve um personagem denominado Jefté, cujo qual é encontrado no Antigo Testamento e que foi um dos Juízes de Israel (Juízes 12:7) por um período de seis anos.
Jefté viveu em Gileade e foi um membro da tribo de Gade. Quando da divisão das terras de Israel, a tribo de Gade (nome do 7º filho de Jacó) se assenhorou de regiões além do Rio Jordão, rincão então conhecido como a terra de Gileade. Jefté, segundo menciona a história bíblica, depois de ter sido expulso da casa de seu pai pelos seus meios-irmãos passou a viver em Tobe, localidade que ficava a leste de Gileade.
Com o advento na época da guerra dos amonitas contra os israelitas, os primeiros, por não ter no seu círculo nenhum valoroso guerreiro, foram buscar por meio dos seus anciãos, Jefté na terra de Tobe.
Segundo a história bíblica, após ter sido expulso de casa, Jefté teve em Tobe com homens levianos (Juízes 11.3), cujos quais logo não tardariam a se tornar soldados de um exercito liderado por ele. Embora Jefté tenha tentado estrategicamente estabelecer negociações com reinos vizinhos, no que não obteve sucesso, ele então partiu para a guerra invocando para ela a proteção de Deus oferecendo-Lhe pela vitória votos em sacrifício, obtendo com isso a volta triunfante da guerra.
A despeito de todos esses comentários, a Moderna Maçonaria retirou desse contexto bíblico, mas sem propósito religioso, a alegoria da palavra Shib\ como Pal\ de Pas\ do Segundo Grau. Em termos genéricos esse apólogo é geralmente contado da seguinte forma:
“A Pal\ Shib\ teve origem na época em que um exército dos efrainitas atravessou o Rio Jordão para combater Jefté, famoso general gileadita. Conta-se que essa contenda teve como pretexto a razão por não terem sido os efrainitas convidados da honra da guerra amonita. Entretanto, sua verdadeira causa foi à captura dos despojos de que em consequência dessa guerra, Jefté e seu exército tinha se apoderado. Explica-se que os efrainitas, embora tidos como um povo turbulento e sedicioso, só romperam as hostilidades em razão dos pesados insultos que lhes dirigiam os gileaditas. Daí jurarem exterminá-los. Jefté, contudo, tentou por todos os meios apaziguá-los; vendo, porém, que isso não era possível, avançou com o seu exército e, dando-lhes combate, derrotou-os colocando-os em fuga. No intuito de se precaver contra futuras agressões, assim como para tornar decisiva a sua vitória, Jefté enviou destacamentos para guardarem a passagem pelo Rio Jordão, por onde deveria forçosamente os insurretos fugir para o seu país. Com isso, Jefté deu ordens severas para que fosse executado qualquer fugitivo que por ali passasse e se declarasse como efrainita. Aqueles que se negassem a se identificar ou usassem esse subterfúgio seriam obrigados a pronunciar a palavra Shib\. Como os efrainitas, por defeito vocal, próprio do seu dialeto, não pronunciavam Shib\, mas Sib\, essa ligeira diferença de pronúncia fazia com que se descobrisse a sua nacionalidade, o que lhe custaria a vida. Dizem as Escrituras que morreram no campo de batalha e nas margens do Rio Jordão cerca de 42.000 efrainitas. Assim, a palavra Shib\ passou a servir como a palavra que distinguiria amigos de inimigos e, por conta disso, Salomão resolveu adotá-la como Pal\ de Pas\ dos Companheiros. Com isso, os nossos antigos Irmãos, depois de darem a Pal\ de Pas\ ao Irmão 2º Vig\, este então lhes dizia – passe Shib\. Só depois de dada essa permissão é que os Companheiros poderiam subir a Esc\ em Carac\ por 3, 5 e 7 degraus”.
Na Maçonaria, a interpretação dessa alegoria está na pronúncia certa da palavra o que, em primeira analise, significa que o Companheiro, para obter o seu aumento de salário deve antes conhecer a contento a Arte. É devido a isso que o Vigilante simbolicamente obsta a passagem daqueles que não comprovam a sua habilidade, o que, emblematicamente, só acontece se a Pal\ de Pas\ for transmitida nos conformes.
Literalmente isso implica que o maçom, aspirante ao terceiro grau, deve comprovadamente estar apto para atingir a Câmara do Meio no topo da Esc\ em Carac\ onde se encontra a Árvore da Vida. Obviamente que a sinuosidade da Esc\ se compara às agruras da vida onde o iniciado constantemente é chamado para superar os entraves e as dificuldades da sua existência.
Em síntese, Shib\ é a chave com a qual o iniciado um dia alcançará a Loja do Terceiro Grau. O topo da Esc\ é a plenitude maçônica, pois “A A\ M\ É C\”.
Sem a pretensão de revelar “segredos” e ser execrado pelos “puristas de plantão”, são essas a luzes que me são permitidas trazer até esse momento.


T.F.A.

PEDRO JUK


DEZ/2018

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

INGRESSO NO ORIENTE. COM QUAL PÉ?


Em 01.10.2018 o Respeitável Irmão Marcelo Ciesilski, Loja Mandaguari, 167, GOP (COMAB), REAA, Oriente de Mandaguari, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão:

INGRESSO NO ORIENTE. COM QUAL PÉ?

Fui questionado que ao entrar ao oriente e ao sair do oriente, devemos usar sempre o pé esquerdo primeiro, porém nunca li nada sobre isto, gostaria que sanasse está dúvida.


CONSIDERAÇÕES.

Pois é, o Irmão, por certo você nunca leu nada sobre isso porque isso simplesmente não existe. Aliás, quem lhe questionou é quem deveria lhe explicar a razão do exercício dessa bobagem.
Talvez por vivermos na Maçonaria latina, invenções nela é que não faltam, todavia quando pedimos explicações sobre essas inferências ninguém se apresenta para dá-las. É bem verdade que até existem “autores” que, no ímpeto de expor as suas crenças particulares, acabaram expressando práticas que não condizem com a razão aplicada pela Maçonaria. Algumas dessas ideias até chegaram a ingressar em rituais anacrônicos.
Assim meu Irmão, essa de ingressar com esse ou com aquele pé é mera invencionice. Portanto, aquele que em deslocamento se dirigir ao Oriente, nele ingressará pelo seu lado nordeste sempre vindo da Coluna do Norte e andando normalmente. Não há para tal nenhuma norma que indique qual o pé que por primeiro se deva ingressar. Do mesmo modo, em retirada, não existe também nenhuma regra que indique alguma obrigatoriedade nesse sentido. Naturalmente quem sai do Oriente o faz sempre pelo lado sudeste em direção da Coluna do Sul – com qual pé se deva por primeiro descer não importa.
Quanto aos inventores e os questionadores, eles que justifiquem com razão, propriedade e convencimento o porquê das suas ilações.
Por fim devo expressar que os comentários acima estão de acordo com a tradição, usos e costumes do Rito. Se porventura houver rituais em vigência que se expressem ao contrário, cabe então aos seus autores dar uma justificativa plausível sobre o fato. Com isso não estou induzindo ninguém a desrespeitar um ritual.


T.F.A.

PEDRO JUK


DEZ/2018

ABREVIATURA MAÇÔNICA III


Em 01.10.2018 o Irmão Robert Nicholas, Loja Dr. Germano Costa, 2.349, REAA, GOB-RN, Oriente de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, solicita o seguinte esclarecimento:

ABREVIATURA

Gostaria de saber qual é a abreviação correta para companheiro? C, CM ou COMP?

RESPOSTA.

Para os ritos latinos que utilizam a tri pontuação em forma de um delta (\), a abreviação, nesse caso, pode se dar pela simples grafia de uma letra inicial acrescida dos três pontos, ou a mais tradicional que é aquela que interrompe a palavra numa consoante, se ela possuir, seguida da tri pontuação.
Assim, respondendo a sua questão, a palavra “Companheiro Maçom”, se abreviada apenas nas iniciais, apresenta-se grafada como C\M\, enquanto que a utilizada nos conteúdos textuais, que é aquela geralmente abreviada numa consoante, se apresenta escrita como Comp\ Maç\.
Por óbvio, não raras vezes essas abreviaturas se igualam entre palavras, todavia a sua diferenciação e significado deve ser constatada no contexto de uma frase ou de uma oração. Exemplo, Comp\ = Companheiro; Comp\ = Compasso.
Por outro lado, é oportuno mencionar que esse tipo de abreviação, a dos três pontos em forma de delta, não é unânime na sua utilização por toda a Maçonaria Universal. Como já mencionado, essa abreviação é mais comum na Maçonaria de vertente latina e praticamente desconhecida no Craft (Maçonaria anglo-saxônica).
Destaque-se que esse costume acabou permanecendo mais por tradição do que como um modo eficiente de resguardar algum segredo no significado de uma escrita. Nesse sentido, infelizmente muitos Irmãos, sem se aperceber, exageram na utilização dessa abreviação tri pontual transformando os textos num amontoado de palavras truncadas sem que isso seja eficiente no tocante à discrição.
De mais a mais, alguns autores fantasistas, vislumbrando simbologia temerária, acabaram escrevendo verdadeiros absurdos abeirados de imaginação e fantasias relacionados aos três pontos distribuídos de modo triangular. Na realidade esses três pontos nada têm de simbolismo iniciático, senão o de serem um modo característico de se abreviar palavras, cujo costume fora haurido de um passado em que o segredo era necessário e muitas vezes, inclusive, servia para privar a Ordem de perseguições dos seus inimigos.
Exageros a parte, essa tripontuação se mantém mais como tradição do que como um meio eficiente para ocultar o significado de textos e/ou palavras dos não iniciados.


T.F.A.

PEDRO JUK


DEZ/2018

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

JOÃO, O EVANGELISTA - MAÇONARIA SEM MISTÉRIOS


MAÇONARIA SEM MISTÉRIO – UM MINUTO DE PROSA.

As datas solsticiais e os cultos solares da antiguidade são temas importantes para o estudo e a compreensão da "Arte Maçônica". Como atualmente vivemos um período solsticial de inverno no hemisfério norte (berço de origem da Maçonaria) é oportuno lembrar um dos dois personagens que, por influência da Igreja, são tidos como protetores da Ordem.
Pela própria história das confrarias de construtores medievais, o solstício de inverno no hemisfério boreal se associa a pratica profissional dos cortadores e entalhadores da pedra calcária. Esses, então construtores de mosteiros, abadias, igrejas e catedrais eram protegidos pela Igreja-Estado. Assim, no período em que os rigores do inverno não permitiam o trabalho na sua plenitude, ansiosamente os operários esperavam pelo final das agruras da estação gélida em que a Terra fica "viúva" do Sol (noites longas e dias curtos).
Como que a existir um elo entre essa alegoria solsticial e os Ofícios Francos, João, o Evangelista já era lembrado desde então como aquele que “divulgou a Luz”. Por óbvio, tudo em alusão Àquele que veio para trazer de volta a Luz ao mundo. O "Natalis Invicti Solis", desde o mitraísmo persa, parece misteriosamente concordar com o nascimento de Jesus - nesse caso Ele conhecido como a “Luz do Mundo”.
Não obstante às convenções alegóricas dos cultos solares da antiguidade (base da grande maioria das religiões), as confrarias medievais de construtores - precursoras da Maçonaria - como que a cumprir os ditames da Natureza, também dividiam o seu tempo (semestral) se utilizando das datas solsticiais próprias do hemisfério norte do nosso Planeta - o de início do verão em junho e o de início do inverno em dezembro.
A despeito das questões relativas ao andamento profissional da própria confraria e as estações propícias para o trabalho, havia também a influência da Igreja expansionista na época que associava esses Santos Protetores aos ditames dos seus domínios.
Por conta disso a Igreja se utilizou das datas solsticiais de inverno e de verão, o que fez com que João, o Batista (o que previu a Luz) e João, o Evangelista (o que pregou a Luz) se consolidassem como patronos das Guildas de Construtores, e por extensão à Franco-Maçonaria, que viviam sobre o seu protetorado.
Sob o aspecto filosófico e doutrinário, essa alegoria busca demonstrar figuradamente que essa Luz se reporta a “Jesus”, Ele tido pelo Cristianismo como a “Luz do Mundo”.
É devido a isso que a data do Seu nascimento fora adequada e fixada pela igreja justamente num solstício de inverno do hemisfério Norte.
Na realidade esse teatro natural representa que no inverno os dias são curtos e as noites longas, o que, em primeira análise, simboliza um tempo em que as trevas acabam prevalecendo sobre a Luz – Jesus, nesse caso, veio para dissipar as trevas.
Como o período é o de solstício hibernal ao Norte, a Maçonaria, cujo berço de nascimento é desse mesmo hemisfério, tem por tradição comemorar no dia 27 de dezembro a data de um dos seus Patronos, João o Evangelista, ou aquele que "espalhou a Luz". Destaque-se nesse caso que a Maçonaria, além das influências da Igreja (uma das suas protetoras da época) é reconhecidamente tida como um instrumento de Luz porque combate as trevas da ignorância.
Sob essa conduta, a Moderna Maçonaria professa seu objetivo construindo uma Obra de Luz, Luz essa que tem por desiderato iluminar (esclarecer) o Homem preparando-o para lutar contra os flagelos da humanidade, aqui muito bem representados pelas trevas da superstição e da ignorância.
Nesse sentido, João, o Evangelista, por ter tido a missão de disseminar a Luz (Evangelho), tem na Ordem Maçônica um caráter não religioso, mas simbólico, representativo e patronal de um personagem ligado ao esclarecimento.
Foi assim que esse "pregador", no momento em que ao Norte a Terra fica viúva da Luz, acabou se consolidando na Maçonaria como um patrono insigne do “esclarecimento”. Ratifico: nessa alegoria não está em jogo nenhuma demonstração dogmática de fé religiosa ou religiosidade, mas sim a de demonstrar um ícone importante que traz na sua companhia a nobre missão de levar a mensagem da Luz.
Dentre outros, a Luz nos traz a Esperança para que tenhamos um ano novo iluminado pelo bem e pela solidariedade. Enfim, assim como o Sol simbolicamente inicia sua jornada de retorno a partir do Sul para o Norte, que também tenhamos notícias alvissareiras para novo ano que se aproxima. Que de fato o ano de 2019 seja mesmo uma “boa nova”.


PEDRO JUK
27/12/2018


Publicado no Blog do Pedro Juk em Opinião – http://pedro-juk.blogspot.com.br

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

VERSÃO BÍBLICA DO LIVRO DA LEI NA MAÇONARIA


Em 27/09/2018 o Respeitável Irmão Alberto Rafael Moreira Ferreira, Loja Cidade de Viamão, 99, REAA, GLMRS, Oriente de Viamão, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta o que segue:

LIVRO DA LEI


Nossa oficina trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceito, pertencente à GLMRS e escrevo ao irmão após ler uma peça de sua autoria que trata da "Leitura e Abertura do Livro da Lei", em seu Blog. Em uma das nossas sessões surgiu um questionamento sobre O USO DA BÍBLIA CATÓLICA no nosso rito. Bem, fiquei encarregado pelo Venerável Mestre de escrever uma peça sobre o tema, assim ao começar a pesquisar conheci o blog do irmão e seus trabalhos que são de grande qualidade. A referida peça do irmão é muito importante e esclarecedora sobre a matéria, mas pergunto se seria possível o irmão me ajudar com a indicação de alguma bibliografia sobre essa questão.

CONSIDERAÇÕES.

Na realidade não existe essa questão de se adotar uma Bíblia católica (sic) ou não, sobretudo porque a Maçonaria não é religião. Entretanto, dependendo da vertente maçônica a que seus ritos pertencem, adota-se, ou a versão Septuaginta (dos Setenta ou Alexandrina), ou a Vulgata (latina).
A versão bíblica Septuaginta, geralmente adotada pela maçonaria de origem anglo-saxônica (Craft), teve sua redação a partir da Bíblia hebraica e foi usada pelos judeus de língua grega que a preferiam no lugar do texto escrito em hebraico. No que concerne ao título, “Dos Setenta", este se deve porque a tradição judaica atribui essa tradução a “setenta” sábios judeus helenistas, enquanto que o título "Alexandrina" se deve porque ela foi redigida em Alexandria.
No que diz respeito à versão intitulada Vulgata, a mesma se refere à tradução da Bíblia do grego para o latim, cuja tradução se deve a São Jerônimo ao atender uma determinação do Papa Dâmaso I. Esse fato se deu entre os fins do século IV e início do V, sendo a Vulgata, sobretudo a partir da edição de 1.532, então utilizada oficialmente pela Igreja católica, essa mesma Igreja que no início se fazia valer do idioma grego.
A despeito dessas duas versões, ambas são da religião cristã, cabendo cada uma dessas versões a utilização pelos ramos do cristianismo. A questão é não se confundir “igreja” com “religião” – a religião cristã, por exemplo, envolve a igreja católica, a protestante, a anglicana e a evangélica.
Genericamente, a Bíblia é uma coleção de textos religiosos tidos de valor sagrado para o cristianismo. Nela se narram interpretações religiosas pertinentes à existência do homem na Terra. Ela é considerada pelos cristãos como livros escritos por inspiração divina, tratando-se para a religião cristã num importante documento doutrinário.
Em Maçonaria, a qual eu ratifico não é uma religião, a Bíblia se apresenta desde o seu nascimento na Idade Média, sobretudo por influência da Igreja que era a protetora das confrarias dos construtores – vide a sua história.
Com o advento da Maçonaria Especulativa e o aparecimento dos ritos maçônicos, cada qual deles, dependendo da sua origem cultural, manteve a versão bíblica condizente com os seus costumes. Nesse caso, a Maçonaria anglo-saxônica adotou no seu idioma a versão correspondente à Septuaginta (Bíblia Alexandrina), enquanto que a outra, a versão da Vulgata, manteve-se nos ritos de origem latina.
Assim, se é que se pode mencionar diferença, salvo alguns pormenores no texto, mas que não influem na sua essência, as duas versões bíblicas também são partes integrantes da Moderna Maçonaria.
Um aspecto não menos importante na utilização da Bíblia como o Livro da Lei (uma das Três Grandes Luzes da Loja) é a de que, em se levando em conta a liberdade religiosa do maçom, conforme a sua religião, adota-se o Livro que se adequa à sua crença. Na verdade isso reforça a teoria de que a Sublime Instituição não é uma religião, porém respeita a todas na sua essência desde que professem de modo conciliatório a crença num Ser Supremo o qual se denomina o “Grande Arquiteto do Universo”.
Quanto à versão bíblica utilizada no REAA\, a mesma tem sido tradicionalmente a Vulgata. Isso se explica porque a origem desse rito, embora ele até possua algumas influências anglo-saxônicas, incontestavelmente é latina – o REAA é um rito maçônico nascido na França.
Concluindo, sugiro ao Irmão que construa sua grade de pesquisa sobre o tema o “Livro da Lei na Maçonaria”. Recolha subsídios sobre essa égide, porém sempre se desvencilhando de opiniões temerárias que tratam de diferenças entre “Bíblias dessa ou daquela religião”, pois isso não interessa à Maçonaria. Para a Ordem, sem que ela indague da religião de cada maçom, a sugestão é a de aperfeiçoar moralmente aqueles que se propõem construir um edifício social dedicado à virtude universal. Destaco, o Livro da Lei na Maçonaria é o código de moral que cada maçom, conforme a sua crença, se obriga a seguir. Se bem compreendia a Arte, isso está muito longe de ser confundido com preferências religiosas.


E.T. – Consulte no meu Blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br títulos relacionados a esse tema que envolve Booz ou Boaz.


T.F.A.

PEDRO JUK


DEZ/2018.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

QUAL A ESCRITA CORRETA - BOOZ OU BOAZ


Em 26/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Rodrigues, Loja Justiça e Perfeição, 1178, GOB-RS, REAA, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:

BOOZ ou BOAZ?


Teria como dar uma luz?

CONSIDERAÇÕES
SÃO JERÔNIMO

A despeito de ser essa palavra de origem hebraica, muito já se escreveu sobre a de grafia de B\. Alguns escritos são dignos de apreciação, enquanto que outros nem tanto. Muitos deles mais apregoam opiniões pessoais do que se preocupam em trazer qualquer contribuição para o tema.
Sob a óptica dos escritos confiáveis, muitos autores têm mencionado que a diferença da grafia está nos conformes com as duas principais versões da Bíblia – a Septuaginta, ou “Dos Setenta” e a Vulgata. Assim, explica-se:
A Septuaginta. Versão dos "Setenta" ou "Alexandrina" é provavelmente a principal variante grega por conta da a sua antiguidade e autoridade. Sua redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a. C., sendo usada pelos judeus de língua grega que a preferiam no lugar do texto escrito em hebraico. Quanto ao título conhecido como a “Dos Setenta", o mesmo se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a “setenta” sábios judeus helenistas.
Já o também título de "Alexandrina" é porque ela foi redigida em Alexandria.
No que menciona a versão Septuaginta, a palavra que é o objeto dessa discussão é grafada como BOAZ (sem vogal dobrada).
A Vulgata. No sentido em curso, Vulgata é a tradução da Bíblia do grego para o latim que ocorrera entre os fins do século IV e início do V por São Jerônimo atendendo determinação do Papa Dâmaso I. É essa a versão que seria usada oficialmente pela Igreja Cristã.
Cabe destacar, entretanto, que essa mesma Igreja, onde nos primeiros séculos da sua existência servia-se da língua grega, com o aparecimento da tradução latina da Vulgata, sobretudo a partir da edição de 1.532, consolidaria a utilização dessa versão latina.
No que menciona a Vulgata, a palavra que é o objeto dessa discussão tem a sua escrita grafada como BOOZ (com as vogais dobradas).
Ainda sobre esse tema, outras ponderações merecem considerações: A primeira delas se refere à quebra do monopólio da língua latina quando da realização da Reforma Protestante. Nessa ocasião a tradução da Bíblia foi feita por Martinho Lutero do latim para o idioma alemão. Nessa tradução germânica a palavra B\ é escrita como BOAZ (sem vogais dobradas).
Outra ponderação importante é a de que, além da tradução protestante e germânica mencionada, também entre os britânicos o termo BOOZ é desconhecido. De fato, os ingleses só conhecem a palavra escrita como BOAZ.
Assim, dentre outras, a que eu reputo ser a mais importante é que a grafia BOOZ é desconhecida no vernáculo hebraico (origem do termo). Nele somente se conhece o termo BOAZ.
Reforçando essa afirmativa, vejamos o que diz um Irmão conhecedor do idioma hebraico. Assim ele se pronuncia:
“(...) acho que não se precisa nem de São Jeronimo, nem de Martin Luther (que não gostava de judeus), nem da Versão dos Setenta (feita para judeus tão helenizados que não sabiam mais ler hebraico). Peguem qualquer judeu que se preze (ou um que não se preza como eu) e vamos ao texto hebraico do Livro de Ruth. Está lá: Letra “Beit” (é o som do Bê), mais o sinal vocálico do som do Ó (é um pontinho), mais a letra “Áiin” com o sinal vocálico de A, mais a letra “Záin” que sempre tem som de Zê. Resultado: BOAZ”.
Por aí mais uma vez é possível se constatar que a grafia correta dessa palavra é BOAZ, nunca BOOZ, pois essa última, como demonstrado anteriormente, nada mais é do que uma corruptela da palavra apropriada, corruptela essa que fora adquirida por equivoco de São Jerônimo quando fez a tradução do grego para o latim.
Explica-se a consagração e conservação em alguns casos dessa corruptela porque a Igreja Católica, alegando “respeito” ao tradutor bíblico, resolveu manter a tradição da Vulgata, ou seja, manteve o equivocado termo BOOZ no lugar do correto BOAZ.
Não obstante a consagração de equívocos, diga-se de passagem, que não é só na Maçonaria latina que existem “entendidos” que adoram cultuar erros crassos – esse é um exemplo.
Em relação à Maçonaria propriamente dita e a utilização desses dois vocábulos (o certo e o errado), o fato é facilmente compreendido em se observando a qual vertente o rito pertence. Explica-se: Na pura vertente anglo-saxônica de Maçonaria (Craft inglês e norte-americano) utiliza-se apenas palavra é BOAZ (sem vogal dobrada tal qual ocorre originalmente na língua hebraica), enquanto que na vertente latina (francesa) de Maçonaria, da qual pertence o REAA\, o termo comumente utilizado, por provável influência da Vulgata (latina por excelência), é a corruptela BOOZ (palavra etimologicamente inexistente).
Foi desse modo que a Maçonaria brasileira – por ser quase que na sua totalidade filha espiritual da França – acabou adotando para os ritos de origem francesa a corruptela (BOOZ) haurida da Vulgata; É o caso, por exemplo, do Rito Escocês Antigo e Aceito praticado no Brasil.
Dado a isso, mesmo que exaustivamente comprovado que a palavra BOAZ não traga na sua escrita as consoantes dobradas “oo”, ainda assim muitos rituais insistem em utilizar a corruptela BOOZ (particularmente isso acontece no GOB).
Sob a luz da razão, eu penso que a Maçonaria, como investigadora da Verdade, deveria, nas Obediências que ainda insistem em manter o anacronismo de BOOZ, corrigir esse equívoco. Ora, se já foi demonstrado que etimologicamente a palavra correta é BOAZ, que sentido faz então se manter o que não é verdadeiro? Alegar tradição como fez na época a Igreja Católica?
O grande problema é que muitos maçons brasileiros “acham” que são grandes conhecedores da liturgia maçônica por possuírem parte da enxurrada de rituais que foram publicados pela Maçonaria Brasileira, esquecendo-se esses que a imensa maioria deles só comporta equívocos, invenções e enxertos. Infelizmente esses detentores de rituais têm nessa coleção temerária um apoio que lhes coloca com opinião irreversível. Desse modo, somos obrigados apenas a apontar os absurdos para que alguns possam avaliar melhor a situação – me disse um dia um grande Mestre: “não perca tempo discutindo com crânios blindados”.
Como a esperança é a última que morre, sempre há de existir uma Luz no fim do túnel. Nesse sentido, sugiro ao o Irmão que consulte uma excelente Peça de Arquitetura intitulada “Discussões Bíblicas – BOOZ ou BOAZ” de autoria do Irmão Willian Almeida de Carvalho e pode ser encontrada na Internet. Em minha opinião esse trabalho fecha o assunto e ainda dá subsídios para pesquisa sobre o tema.
Dando por concluído, não me custa alertar para que se tome muito cuidado com discussões ritualísticas oriundas de grupos de orientação formados na Internet. É prudente se compreender que nem tudo o que reluz é ouro. Muitas vezes nesse ambiente a grande maioria diz o que pensa, sem que haja antes uma avaliação acadêmica suportada por uma analise ponderada dos fatos. Simplesmente dizer que “eu tenho esse e aquele ritual antigo” não faz do pesquisador um arauto da verdade – antes de tudo é preciso se saber se as fontes procedem de água limpa.


T.F.A.

PEDRO JUK

DEZ/2018