terça-feira, 31 de julho de 2018

PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS NA MAÇONARIA II


Em 18.05.2018 o Respeitável Irmão Marco Cacciacarro, Loja Concórdia e Caridade, 3.790, sem mencionar o nome do Rito, GOSP-GOB, Oriente de Capão Bonito, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

MAÇOM PORTADOR DE NECESSIDADE ESPECIAL


Estamos com um problema em uma das Lojas da nossa região se for possível nos ajudar ficaremos muito agradecidos.
Trata-se de um Irmão Mestre Maçom que sofreu um acidente e ficou paralitico, tendo que utilizar cadeira de rodas para se locomover, uma vez que perdeu as funções dos membros superiores e inferiores.
Esse nosso irmão deseja continuar frequentando a Loja, só que não consegue evidentemente realizar o Sinal de Ordem.
Ele pode continuar frequentando as sessões normalmente.

CONSIDERAÇÕES.

Em minha opinião esse Irmão pode perfeitamente continuar frequentando a sessão. Precisamos compreender que vivemos tempos diferentes da época operativa quando literalmente o maçom era um operário hígido que trabalhava duramente nas construções que utilizavam a pedra calcária como matéria prima. Atualmente as nossas práticas são especulativas e a matéria prima, ao invés da pedra, somos nós mesmos.
No caso desse Irmão, que por obra dos revezes da vida acabou adquirindo necessidades especiais, considere-se de que ele só as adquiriu após a sua iniciação.
Pelo caráter de humanidade e solidariedade seria inadmissível que a Loja ficasse alheia a essa situação.
Num caso desses, eu entendo que se poderia perfeitamente dispensar os sinais e as outras práticas pertinentes à liturgia, pois afinal, por ele já ter atingido a plenitude maçônica, obviamente é conhecedor da ritualística e sabe perfeitamente o que ela representa para o maçom. Parece-me que é isso que importa.
Infelizmente, esse Irmão na atualidade carece de ajuda - não de piedade - para frequentar os trabalhos. Assim, com boa vontade e acima de tudo com bom senso e determinação, eu o vejo como um obreiro regular que pode, com as devidas adaptações, ressalvas e acomodações se fazer presente na Loja. É o que eu penso.

T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2018

sábado, 28 de julho de 2018

CÂMARA DE REFLEXÃO II


Em 18/05/2018 o Irmão Aprendiz Alexandre Costa Maldonado, Loja União e Segredo, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Franca, Estado de São Paulo, solicita o seguinte:

CÂMARA DE REFLEXÃO


Preciso de informações sobre a Câmara de Reflexões/Perseverança.

CONSIDERAÇÕES.

A câmara não é de reflexões, no plural, mas de reflexão, no singular, já que em Maçonaria ela significa a volta da consciência do candidato sobre si mesmo para examinar o seu próprio conteúdo por meio do entendimento da razão. Em linhas gerais é o ato de refletir sobre si.
É bom que se diga que não são todos os ritos maçônicos que adotam a Câmara. No Rito Escocês Antigo e Aceito, que é um dos ritos que a adota, a mesma deve ser compreendida sob três configurações.
A primeira é como um local de medição e interiorização. Esse artifício é utilizado para conduzir o candidato a um momento único - consigo mesmo - quando ficam frente a frente à materialidade e a espiritualidade. Todo o cenário desse apólogo foi arquitetado para chamar atenção do postulante, por meio de símbolos, frases e alegorias, sobre a brevidade e a finitude da vida.
A segunda é que de modo figurado, a Câmara lembra as masmorras que aprisionam o homem. Menciona que são os vícios e os maus costumes que deformam a conduta humana. Nesse sentido, a Câmara é um marco referencial para que o homem se liberte das amarras que dormem nesses calabouços.
Por fim, a terceira que sugere a morte e o renascimento. É uma concepção que compara a vida do homem aos ciclos da Natureza (renovação da vida). É a sua purificação pelos elementos. Nesse sentido a Câmara é a prova da Terra (o primeiro elemento). É o útero, a fecundação; é a escuridão onde a semente, como produto da putrefação do fruto que morreu no inverno começa agora a germinar. É o novo broto da planta que surge. Vem das profundezas da terra em direção à Luz. De maneira geral é o primeiro ciclo do iniciado. É agora o neófito, ou aquele que iniciaticamente se compara a uma “nova planta” (néo = novo; fito = planta, vegetal). O Mestre que o apadrinha é o semeador e o neófito o vegetal que no futuro proporcionará a colheita.
Por esse caráter é que existe toda a simbologia da Câmara de Reflexão no REAA\, das quais a divisa “Vigilância e Perseverança”, onde o termo Vigilância está por sugerir ao postulante que ele vigie diuturnamente a sua consciência e as suas ações, enquanto que para o termo Perseverança, objeto da sua questão, seguem os comentários seguintes.
Alusivo à Câmara de Reflexão, a palavra “perseverança” é o procedimento de ser perseverante; se refere à constância e à firmeza. Relativo ao verbo transitivo indireto “perseverar”, ele sugere ao candidato que se conserve firme e constante no seu objetivo. Assim, o termo “perseverança” ensina que aquele que persiste em seus propósitos acaba um dia vencedor.
Não obstante os ensinamentos maçônicos lembrarem constantemente que todo o trajeto iniciático é e cheio de obstáculos, é na Câmara de Reflexão que o Iniciado se coloca à prova para vencer o seu primeiro grande empecilho, já que nessa fase, embora conduzido por um guia, ele ainda caminha nas trevas. Assim, ele só conseguirá transpor o umbral do Templo se adequadamente for um elemento perseverante.
A alegoria da perseverança está bem representada pela figura de um galo que anuncia o raiar de um novo dia – não desista, pois quanto mais escura é a madrugada, mais próximo está o raiar de um novo dia. Seja perseverante.
Concluindo, é oportuno mencionar que a Câmara é um recinto para se refletir, portanto não são apropriados trotes e brincadeiras com o candidato à iniciação. Na realidade esse é o primeiro contato real que ele tem com a Maçonaria. Assim, espera-se que esse futuro Irmão tenha de nós a melhor das impressões.


T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2018

sexta-feira, 27 de julho de 2018

SESSÃO MAGNA PÚBLICA - PROCEDIMENTOS


Em 17/05/2018 o Respeitável Irmão José Roberto Ramos Menezes, Loja Fraternidade Campista, 0011, REAA, GOB-RJ, Oriente e Estado do Rio de Janeiro, apresenta a seguinte dúvida:

PROCEDIMENTOS PARA SESSÃO MAGNA PÚBLICA


Mais uma vez solicito sua ajuda para sanar uma dúvida:
Sempre em Sessões Magnas Públicas, palestras profanas, ou como em nossa última sessão do dia 15 de maio, quando fizemos uma homenagem ao dia das mães: o Venerável Mestre suspendeu a sessão com um golpe de malhete e os convidados entraram
no Templo. Após esta homenagem, os convidados se retiraram, e o Venerável Mestre como o mesmo procedimento reabre os trabalhos normalmente.
Surgiu então a seguinte dúvida: quando a sessão é suspensa pelos procedimentos mencionados, é necessário no REAA; GOB\ fechar o Livro da Lei e apagar as luzes das dignidades, ou ficam como estavam?
Agradeço pela sua cordialidade e parabenizo seu grande trabalho que acompanho na Revista "A Trolha".

CONSIDERAÇÕES.

Sessões Magnas em que é admitida a presença de não maçons são previstas conforme o Regulamento Geral da Federação no seu Art.º 108, § 3º.
Nesse sentido, o que está faltando no GOB é uma orientação ritualística formal para essas sessões. Aqui no Paraná eu fiz um roteiro informal para auxiliar os Irmãos nessas oportunidades. No mês de maio próximo passado eu ouvi no Congresso Maçônico do GOB-PR que o Poder Central iria lançar um manual para essas sessões, porém até então eu o desconheço.
Então, até que o GOB apresente uma orientação oficial para essas ocasiões, em linhas gerais tem-se orientado que a Loja seja aberta normalmente no grau de Aprendiz até a Ordem do Dia, dispensando-se o Expediente e a circulação da Bolsa de Propostas e Informações.
Em seguida, abre-se então ritualisticamente a Ordem do Dia e nesse período ingressam na forma de costume os convidados não maçons. Estando todos já acomodados, dá-se ingresso do Pavilhão Nacional para que a seguir ocorra o desenvolvimento da Sessão Magna conforme os seus propósitos e afins.
Concluídos os trabalhos pertinentes a esse período, a palavra, ainda na Ordem do Dia, é franqueada aos convidados. Finalizadas as manifestações, procede-se a saudação e retirada do Pavilhão. Em seguida os convidados não maçons se retiram.
Após a retirada o Venerável então encerra a Ordem do Dia e faz circular em seguida ritualisticamente o Tronco de Beneficência. Por fim encerra os trabalhos conforme o previsto no ritual.
Seguem ainda outras recomendações pertinentes:
a)    Durante a presença de convidados não maçons ficam abolidos todos os Sinais;
b)    Antes dos convidados não maçons ingressarem, o Venerável Mestre deve fazer as recomendações pertinentes à finalidade da sessão.
c)     Não existe suspensão dos trabalhos, porém o que existe é a suspensão de algumas práticas ritualísticas que são veladas aos olhos dos não iniciados. Isso o Venerável recomenda antes do ingresso dos convidados;
d)    A Ordem do Dia é aberta e encerrada conforme o ritual e sem a presença dos convidados;
e)    Mesmo na presença de não iniciados a Loja permanece como foi aberta. Não há necessidade de fechar o Livro da Lei, cobrir o Painel, apagar luzes litúrgicas, etc. O que fica abolido nessa ocasião são apenas os sinais e os procedimentos litúrgicos utilizados na ritualística de abertura da Loja. De resto, tudo ocorre normalmente.
f)      Se por opção a Loja não fizer o ingresso e retirada formal do Pavilhão Nacional, sugere-se que pelo menos seja feita nos moldes costumeiros a saudação à Bandeira.
g)    Como a Loja é aberta ritualisticamente e assim permanece, no Oriente não ingressam Aprendizes e Companheiros e, principalmente, convidados não maçons.
h)    Durante a ocupação das Colunas pelos não iniciados, as do sexo feminino ocupam a Coluna da Beleza e os do sexo masculino a Coluna da Força.
Eram essas as considerações pertinentes.
Por oportuno convido-o a visitar o Blog do Pedro Juk.


T.F.A.


PEDRO JUK



JULHO/2018

quinta-feira, 26 de julho de 2018

SAUDAÇÃO AO DELTA DO ORIENTE

Em 17/05/2017 o Respeitável Irmão Bernardo Bosak de Rezende, Loa Sephira, 447, Rito Azul (?), GORGS, (COMAB), Estado do Rio Grande do Sul, pede esclarecimentos para o seguinte:

DELTA DO ORIENTE


Primeiramente, gostaria de dizer que sou muito fã da sua obra. Adquiri vários exemplares do livro Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom e estou sempre incentivando os nossos aprendizes a estudarem por ele. É um livro bastante lúcido e objetivo! Você é um dos me
us escritores maçônicos prediletos, junto com Castellani, Xico Trolha e o Kennyo Ismail e é um prazer poder questioná-lo!
Bem, em minha Loja praticamos o Rito Azul (também conhecido aqui no GORGS como M\L\A\A\ - Maçons Livres Antigos e Aceitos). É um Rito que foi criado pelo GORGS, mas basicamente é o REAA praticado pelas Grandes Lojas estaduais, ou seja, o azul (infelizmente no Brasil temos bastante essa deterioração do padrão ritualístico do REAA).
Minha dúvida é a seguinte: o nosso ritual prega a utilização de dois triângulos no Oriente: um equilátero com o IOD dentro (preso no dossel) e outro isósceles com o Olho da Providência (atrás do Trono de Salomão). Neste caso, qual dos dois "deltas" devemos saudar quando cruzamos o eixo e por qual motivo? Procurei em várias fontes para compreender a diferenciação dos dois símbolos, algumas dizem que no fundo remetem ao mesmo simbolismo, outras dizem que são diferentes, outras que um pode substituir o outro, outras que dizem que podemos substituir a letra G pelo olho, e por aí vai... Porém, nunca encontrei a informação de qual delta saudar quando ambos se fazem presentes dentro do templo.
Para facilitar, anexo abaixo o trecho do ritual que orienta a utilização de ambos:

“O dossel do Trono é formado por duas CCol\ Compósitas, uma de cada lado do Trono, ligadas por um arco revestido de tecido azul celeste, com franjas de prata ou brancas, do centro do qual penderá um triângulo equilátero, em cujo centro estará, presa por arame invisível, a letra hebraica Iod.
Na parede do fundo, no Or\, em um painel, são pintados ou bordados os astros do dia (o Sol), no lado S\, e da noite (a Lua, em quarto crescente) no lado N\ tendo, no meio dos dois, um triângulo isósceles com o Olho Onividente ou Olho da Providência, com fundo azul e raios luminosos.”.

CONSIDERAÇÕES.

Pois é, lamentavelmente o REAA\, principalmente aqui no Brasil, continua sendo o rito preferido para acolher deturpações, enxertos e modificações. Na realidade um verdadeiro atentado contra a sua história e a sua ritualística.
Sendo um Rito de ascendência francesa, tradicionalmente ele possui decoração predominantemente vermelha, o que pode ser constatado em se consultando as resoluções de 1875 formalizadas pelo Congresso de Lausanne na Suíça, assim como pela história das suas origens stuartista-jacobita (católica).
Entretanto, aqui no Brasil, como que na contramão da história, desde 1927 o REAA acabou se desfigurando por copiar vários costumes de outros ritos, dos quais principalmente aquele praticado nas Lojas Azuis norte-americanas (também conhecido como Rito de York americano) e que é de cor predominantemente azul. Dado a isso é que até hoje em boa parte das Obediências brasileiras o Rito Escocês Antigo e Aceito continua sofrendo com enxertos e desfigurações ritualísticas, a exemplo da de ser transformado equivocadamente num rito azulado.
Boa parte disso se deu desde a época em que Mário Marinho Béhring, fundador das Grandes Lojas Estaduais no Brasil, buscou reconhecimento para a sua Obediência recém-criada nas Grandes Lojas norte-americanas. Dado a isso ele acabou trazendo – talvez para angariar simpatia - da Maçonaria simbólica praticada nos Estados Unidos da América do Norte (Lojas Azuis), inúmeros costumes estranhos ao REAA\ e nele acabou os introduzindo. Nesse sentido, podem-se citar como inapropriados para o escocesismo, por exemplo, a cor azulada dos seus templos e dos aventais dos Mestres quando originalmente deveriam ser predominantemente encarnados (vermelhos); a utilização de bastões pelos Diáconos quando isso não é apropriado no REAA; o Altar dos Juramentos colocado no Ocidente quando no escocesismo ele fica no Oriente, destacando-se que o que fica no centro do Ocidente é o Painel da Loja e não o Altar dos Juramentos, etc.
Apesar de todos esses esclarecimentos e alertas emitidos por estudiosos autênticos, lamentavelmente ainda muitos rituais do escocesismo simbólico no Brasil continuam a prestigiar essas contradições.
Mas, o mais lamentável mesmo não é o que Béhring trouxe e consolidou nas suas Grandes Lojas Estaduais brasileiras, mas sim quando outra Obediência que não a Grande Loja, já bem mais tarde e conhecedora de todos esses equívocos, ao invés de simplesmente desconhecê-los, ao contrário, opta por criar um novo rito sob a absurda justificativa de que ele é um “tipo azulado de escocesismo” e nele acondiciona todo esse imbróglio em favor dos “inconformados” da época. Em síntese, no intuito de acomodar situações, se descaracterizou ainda mais a tão sofrida liturgia original do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Esse é o caso do tal “Rito Azul”, também conhecido por lá (desde os idos anos de 1990) como o rito dos “Maçons, Antigos Livres, e Aceitos”. Segundo informações confiáveis, posteriormente seu título seria alterado para rito dos “Maçons, Livres, Antigos e Aceitos” para fugir da jocosa alcunha que ele houvera adquirido em razão das suas iniciais primárias - o “rito da MALA”.
Parece que na concepção de alguns, apoiados na lei do menor esforço, ao contrário de se corrigir um erro, melhor mesmo é formalizá-lo, pois a boca se entorta conforme o hábito do cachimbo.
Comentários à parte vale a pena mencionar que o verdadeiro escocesismo é originário da França. Primeiramente com 25 graus e conhecido como Rito de Perfeição, ou de Héredon, ele só passaria a ser conhecido como Rito Escocês Antigo e Aceito, agora com 33 graus, após a criação do seu Supremo Conselho em 1801 nos Estados Unidos da América do Norte.
Dadas essas explicações, nada justifica a criação de “outro” REAA\ só porque outra Obediência o pratica de modo contrário à sua tradição.
Seguem então outros comentários, porém agora mais específicos à simbologia utilizada pelo REAA\ original, destacando-se o Delta Radiante por ser o principal objeto da questão apresentada.
No tocante à saudação ao Delta.
Esse costume atualmente deixou de ser uma obrigatoriedade já que essa conduta era muito comum, mas nos tempos anteriores ao aparecimento das hoje já extintas Lojas Capitulares. Mencionar aqui as Lojas Capitulares é importante por existir um elo entre elas e o ato ritualístico de se saudar o Delta na liturgia do Rito em questão.
Cabe esclarecer que em parte do primeiro quartel do século XIX o Grande Oriente da França exercia o governo sobre o simbolismo e também sobre os graus de Perfeição e do Capítulo do escocesismo, restando ao Supremo Conselho da França os graus de Kadosh e do Consistório. Naquela oportunidade o Athersata do Capítulo (Grau 18) era também o Venerável Mestre da Loja Simbólica. Sob a égide do Grande Oriente da França esse sistema ficaria conhecido como Lojas Capitulares. Mais tarde esse sistema contraditório seria extinto, ficando o Grande Oriente com o simbolismo, enquanto que os demais graus acima do terceiro seriam devolvidos ao Supremo Conselho - donde nunca deveriam ter saído.
Assim, foi pelo aparecimento dessas Lojas no século XIX que o espaço oriental das Lojas simbólicas do REAA\ acabou sendo elevado e demarcado para concordar com a liturgia capitular. Antes, como pode ser constatado no primeiro ritual do escocesismo simbólico datado de 1804 na França, o oriente da Loja ficava no mesmo nível do ocidente. Também nele não havia separação por balaustrada.
Nessa época então, o procedimento ritualístico para o deslocamento pelo recinto da Loja (sem separação e desnível do Oriente) era o de que ao se passar diante e próximo ao Delta Radiante, costumeiramente fazia-se uma parada rápida e formal voltando-se para o Delta. Nessa oportunidade fazia-se a saudação ao Delta pelo Sinal. Em se tratando da Maçonaria francesa, essa era uma espécie de cumprimento à Luz, ou o obreiro alinhado à Luz fazia o Sinal de Ordem.
É oportuno esclarecer que a Luz é uma alegoria de concepção deísta adotada pela Maçonaria como Obra da Criação e também como um importante símbolo representativo da fonte de esclarecimento para o homem. A Luz e a sabedoria fazem oposição às trevas da ignorância.
Com o espaço oriental mais tarde já elevado e dividido em função do aparecimento das Lojas Capitulares à saudação ao Delta, devido à circulação horária se restringir ao Ocidente, passou a ser feita somente quando alguém cruzasse o eixo imaginário do Templo (equador) no ponto mais próximo do limite com o Oriente. Alguns rituais, inclusive previam que a saudação ao Delta fosse feita todas as vezes que alguém, circulando pelo Ocidente, cruzasse o equador imaginário. Ou seja, tanto próximo ao limite com o Oriente ou no extremo do Ocidente, próximo à porta. Isso pode ser constatado em se consultando na França os antigos rituais dos primórdios do escocesismo simbólico na França do século XIX
Com a elevação do Oriente, também ficava estabelecido nas Lojas Capitulares que quem nele ingressasse, imediatamente deveria saudar o Delta pelo Sinal. Do mesmo modo, ao dele se retirar, antes de descer ao Ocidente, também se fazia a mesma saudação.
Mais tarde e após o desaparecimento das Lojas Capitulares (vide a sua história nos meados do século XIX e início do XX), muitos costumes capitulares deixariam de existir no simbolismo, entretanto, não foi o que aconteceu com o Oriente da Loja simbólica que se manteve elevado e dividido tal qual como conhecemos atualmente.
Sacramentada essa divisão e elevação na topografia da Loja simbólica do Rito Escocês, paulatinamente, desde o final do século XIX e início do XX, à saudação ao Delta foi sendo abolida e transformada em saudação ao Venerável Mestre, porém apenas quando do ingresso e saída do Oriente ou às Luzes da Loja imediatamente após o término da marcha do grau. Assim, no Ocidente ao se circular em Loja, extinguiam-se as saudações durante as transposições sobre a linha imaginária do equador.
Entretanto, alguns rituais, mesmo na contramão do que fora consuetudinariamente estabelecido, ainda insistem anacronicamente em mencionar que essa saudação deva ser feita ao Delta.
Esclareça-se que a saudação ao Delta deixou de existir porque essa atitude pode ser confundida com uma prática de caráter dogmático-religiosa estabelecida como adoração a um símbolo, o que é altamente desaconselhável nos meios da Sublime Instituição. O maçom deve compreender que os símbolos não são objetos de adoração na Maçonaria, mas sim são ícones que veladamente encerram Verdades.
É com essa finalidade e sem proselitismos religiosos que um único Delta Radiante aparece na Loja ao alto e no centro do Retábulo do Oriente (parede imediatamente atrás do Venerável). Situado entre o Sol e a Lua ele é um símbolo aberto à compreensão de todos.
Quanto ao Delta e o significado da sua representação na Loja.
Historicamente, desde as mais antigas civilizações o Delta tem sido um símbolo alusivo à divindade. Por esse caráter ele é representado como um triângulo equilátero, ou seja, composto por três lados iguais concomitantes aos ângulos internos de sessenta graus. Segundo Plutarco, Xenócrates comparava o triângulo de lados iguais à divindade, já os formatos triangulares, que não possuíam o equilíbrio da igualdade, eram comparados à materialidade humana.
Sob essa óptica Xenócrates então classificava os triângulos comparando o perfeito equilíbrio do triângulo equilátero com os atributos divinos, enquanto que os gênios eram associados ao triângulo isósceles (dois lados iguais) e por fim os homens que, de uma forma geral, eram simbolizados pelo triângulo escaleno (três lados desiguais). Em síntese era uma espécie de escala comparativa que se estabelecia pela a perfeição e a espiritualidade (equilátero), a materialidade trabalhada pelo espírito (isósceles) e o perfectível sujeito ao aprimoramento (escaleno).
O termo Delta, (do grego: delta), como substantivo masculino, designa a quarta letra do alfabeto grego e corresponde à letra “D” do nosso alfabeto. É a foz caracterizada pela presença de várias ilhas de aluvião, geralmente de configuração triangular, dispostas à embocadura de um rio, formando canais até o mar. Assim, pela sua constituição triangular é que o termo delta é comumente utilizado de modo figurado para designar uma figura geométrica com três lados.
Em Maçonaria, o Delta aparece no Oriente da Loja como um triângulo equilátero representando as tríades divinas. Com todos os lados iguais ele exprime a natureza neutra e o perfeito equilíbrio entre os atributos da divindade. Por representar desde as antigas civilizações as qualidades espirituais, no Retábulo do Oriente ele se destaca com um dos seus ápices voltado para cima. É devido a esses predicados que o Delta na Maçonaria, como expressão da neutralidade, lembra a cada um que, independente da sua concepção religiosa, o Criador sempre estará presente. De modo conciliatório, tal qual o equilíbrio do triangulo equilátero, o Criador é conhecido na Maçonaria como o “Grande Arquiteto do Universo”. Assim, o Delta não é a representação do Arquiteto Criador, mas é um símbolo que lembra ao homem da sua inexorável existência.
Indubitavelmente o Delta Radiante, ou Delta Luminoso, é um dos principais símbolos que se apresentam em Loja. Ocupando lugar de destaque sob o dossel ao centro alto da parede oriental, sua única localização destacada permanece sempre visível para a compreensão de todos.
Símbolo monoteísta e de concepção deísta, o Delta Radiante como compleição da Divindade, ou do “Grande Arquiteto do Universo”, revela na mística maçônica que a Loja esotericamente é a representação alegórica de um segmento do Universo (Cosmos). Como representação única do Criador, ele também é único na Loja.
Quanto à representação que vai inscrita no Delta Radiante.
No caso do REAA\, rito de origem francesa, portanto deísta, mas com inquestionável influência teísta haurida dos veios anglo-saxônicos que fazem parte da sua história, e ainda o forte alcance da cultura hebraica sobre a sua conduta ritualística, a representação mais apropriada prevista para o interior do Delta Radiante é, ou pelo menos deveria ser, o Tetragrama representativo do nome inefável de Deus.
O tetragrama hebraico, constituído pelas letras Iôd, Hé, Vav, Hé, lidas da direita para a esquerda, que é o sentido da escrita hebraica, designa as quatro letras místicas que vão inscritas no interior do Delta Radiante para ali figurarem como o nome misterioso de Deus. Muitas vezes o Tetragrama é substituído no interior do Delta apenas pela letra Iôd, o que é também reconhecido na Maçonaria como símbolo do Grande Geômetra. Em qualquer das opções, na Loja só deve existir um Delta Radiante, tendo nele inscrito o Tetragrama ou apenas com a letra Iôd. Nesse sentido, não existem dois Deltas (triângulos), pois ele, como símbolo único representa para a Maçonaria teísta o símbolo máximo.
Existem ritos, sobretudo os de concepção apenas deísta e os ditos racionalistas, que não utilizam o Tetragrama ou a letra Iôd inscritos no interior do Delta, porém nele utilizam o “Olho Onividente”, também representativo da Divindade que segue os passos do Iniciado. Esse é um conceito haurido dos Cultos Solares da Antiguidade onde o Olho, a exemplo dos persas, era o Olho de Ormuz em alusão ao Sol, ou Luz. Esse é um conceito mítico e largamente baseado nos mitos solares das antigas civilizações. O Olho associado ao Delta preconiza a sabedoria e é, nesse sentido, mais apropriado àqueles ritos que não possuam influências teístas.
No que diz respeito ao REAA, embora ele tenha tido o seu arcabouço doutrinário urdido na investigação da Natureza, portando de concepções deístas, ele ao longo da formação da sua liturgia também acabou sofrendo forte influência teísta haurida dos “Antigos” (anglo-saxônicos), sobretudo quando da constituição dos seus rituais simbólicos a partir de 1804. Não obstante essa influência teísta, há também que se considerar a origem do escocesismo no século XVII onde se fez presente o teísmo jacobita-stuartista (tronco católico do Rito).
Dados esses particulares, é que na histórica do REAA\ o teísmo e o deísmo acabaram se fundindo nas suas estruturas doutrinárias, o que justifica a presença de um símbolo teísta como o seu maior emblema e que vai afixado ao alto do Retábulo do Oriente – o Tetragrama inscrito no Delta Radiante.
Faz-se oportuno comentar que a Maçonaria anglo-saxônica, ao contrário da francesa, sobretudo aquela praticada no Craft (raízes inglesas), é de extrema compreensão teísta, entretanto isso não é regra para se imaginar que todas as vertentes teístas existentes na Maçonaria adotam o Tetragrama na sua liturgia.
Assim, cabe ao estudante de Maçonaria bem compreender esses conceitos e diferenças, sobretudo àquilo que diz respeito à sua estrutura doutrinária. Símbolos não podem se espalhar indistintamente sem que se perceba antes se eles são apropriados aos propósitos iniciáticos dos Ritos. A Maçonaria é uma só, mas ela se divide em duas vertentes principais, a anglo-saxônica (teísta) e a francesa (deísta). Dessas duas vertentes ainda se proliferam os Ritos e Trabalhos maçônicos, cada qual com a sua história e os seus conceitos. Muitos símbolos são próprios a todos os ritos, entretanto, muitos outros, não. Cada símbolo escreve veladamente o significado dos Painéis da Loja, ou das Tábuas de Delinear. É fundamental que se compreenda isso.
Por fim, depois de todos esses comentários e respondendo a sua questão pertinente ao Delta, afirma-se que eles não devem existir em duplicidade na decoração da Loja. O único Delta existente é o radiante e de formato equilátero. Por ser único, ele fica ao alto no Retábulo do Oriente (parede atrás do Venerável). Ratifica-se: esse triângulo não é isóscele! Aliás, além do Delta, no REAA\ não existe outro tipo de triângulo solitário no Oriente da Loja, nem no retábulo e muito menos pendurado no dossel.
Quanto ao triângulo pendente do dossel mencionado na sua questão, ele nada mais é do que fruto de pura invenção, salvo se os “criadores” desse tal Rito Azul tenham uma explicação plausível para ele.
Também é bom que se diga que dependendo da proposta iniciática do rito, o Delta traz no seu interior ou o Tetragrama, ou a letra Iôd, ou ainda o Olho Onividente. Agora o que não se pode é criar um rito para nele se juntar aleatoriamente um amontoado de símbolos.
Como mencionado, em respeito à concepção monoteísta adotada pela Maçonaria, uma Loja traz no seu interior um único símbolo representativo da presença do Criador, nesse caso, o Delta, que é um triângulo equilátero e que se apresenta no Retábulo do Oriente (alto da parede), isto é, sob o dossel e nunca nele pendurado.
No que diz respeito à saudação ao Delta, como foi anteriormente explicado, ela não é mais comum durante as perambulações pela sala da Loja. Esse é um costume abolido porque em Maçonaria não se venera um símbolo. Assim, se essa saudação porventura ainda persistir como prática ritualística emanada de algum ritual, certamente ela é contraditória por ferir a liberdade religiosa de outrem. Em Maçonaria, nesse particular, basta que o símbolo lembre a cada um o porquê da sua presença. Afinal, o ambiente maçônico não é lugar para que aconteçam proselitismos religiosos.
Dando por concluído, eram essas as minhas considerações. Por oportuno aproveitei esse momento para demonstrar o meu repúdio às invenções que ainda povoam a cultura maçônica. Foi com esse desiderato que eu me fiz prolixo nessa ocasião - pelo que peço minhas desculpas - pois só assim eu pude apontar o quão nocivo e desproposital é a falta de cultura e de conhecimento de causa, sobretudo quando nos referimos àqueles que usam de meios legais para construir ritualísticas temerárias e, o que é pior, em nome de acomodar as coisas.


T.F.A.

PEDRO JUK

JULHO/2018