quinta-feira, 31 de maio de 2018

A PONTA LIVRE DO COMPASSO - RITUALÍSTICA DO SEGUNDO GRAU - REAA


Em 03/04/2018 o Respeitável Irmão Gilberto S. Oliveira Filho, Loja União e Lealdade, 547, Grande Loja do Estado de São Paulo, REAA, Oriente de Osasco, Estado de São Paulo, formula a seguinte questão:

A PONTA LIVRE DO COMPASSO


Eu sempre recebia a revista eletrônica JB News, enviada pelo Ir. Jerônimo Borges.
Bom, em uma destas edições, há uma resposta dada através de um de seus artigos, referente a uma indagação feita por um irmão, com a seguinte pergunta; "No 2º Grau, há obrigatoriedade da Ponta do Compasso ficar "descoberta" para a Coluna dos Companheiros?" Eu gostaria de consultá-lo, sobre este tema. Eu não encontrei nenhum artigo, exceto este referido. Eu seria muito grato em receber uma resposta direta, neste e-mail, ou indicar-me o nº da edição JB News, para uma pesquisa.

CONSIDERAÇÕES.

Já dei inúmeras respostas a respeito, das quais muitas foram publicadas no nosso sempre lembrado JB News, revista eletrônica que encerrou as suas atividades no primeiro quartel do ano de 2017. A despeito disso vamos então relembrar esse tema que faz parte do grau mais genuíno da Maçonaria - o Grau de Companheiro Maçom.
No rigor da lei iniciática do Segundo Grau o importante é que uma das pontas do Compasso que vai entrelaçado ao Esquadro sobre o Livro da Lei fique livre.
Não importa qual, pois a sua interpretação esotérica menciona que o Companheiro Maçom, mais evoluído, é agora senhor de todos os caminhos no Ocidente, tanto para o Norte, lugar por onde ele passou quando era ainda Aprendiz, bem como agora no Sul onde ele exerce o ofício de elevar a Obra ao Meio-Dia.
Isso pode ser comprovado pela Marcha do Segundo Grau, onde a maioria dos autores autênticos, a exemplo de Theobaldo Varolli Filho, menciona que a variação do passo tanto pode ser para a direita ou para a esquerda, a despeito de que em alguns casos é preferível que seja para a esquerda em respeito à circulação obrigatória que se dá em alguns ritos quando se passa de uma para outra Coluna (circulação horária).
Já em termos de ritualística, do ponto de vista daquele que abre e lê o Livro da Lei, quem determina qual ponta da haste dessa Luz Emblemática (Compasso) deva ficar livre é o ritual em vigência na Obediência.
Assim, alguns rituais não mencionam o lado, enquanto que outros mencionam.
Geralmente os rituais que especificam o lado da ponta livre do Compasso o fazem indicando que o mesmo deve coincidir com a Coluna onde os Companheiros ocupam lugar na Loja, ou seja, com o lado Sul. Nesse caso, sob o ponto de vista de quem abre o Livro da Lei, a ponta direita.
A despeito de que essa até seja uma justificativa sugestiva, ela não pode servir de regra por não possuir amparo iniciático, pois como dito, o Companheiro é livre para circular por todo o Ocidente.
Nesse sentido, o melhor mesmo é seguir o que menciona o ritual, porém compreendendo que essa ponta livre, não importando o lado indicado no ritual, demonstra que houve evolução na vida do operário especulativo. Demonstra que no seu aprimoramento espiritual ele consegue agora equilibrar suas ações e pensamentos em relação à materialidade humana.
Assim, como já mencionado, no caso do REAA\ essa evolução e aprimoramento podem ser constatados por vários aspectos da liturgia. Note por exemplo a Marcha que, dentre outros, exprime a ideia de retomada de curso na senda iniciática. O Companheiro, perambulando a procura de mais conhecimento sabe por si só retomar o curso em direção à Luz. Nesse particular, a evolução é o esclarecimento demonstrado alegoricamente pelo acréscimo de mais luzes litúrgicas acesas em relação àquelas que aparecem na Loja de Aprendiz. Em síntese, mais luz, mais esclarecimento.
Dados esses apontamentos, por fim cabe mencionar que de tudo o que a liturgia maçônica nos ensina, o importante é vivenciar essa evolução, pois a ponta liberta do Compasso não é uma ação meramente contemplativa. O importante nesse caso não é o lado, mas sim viver esse emblema altamente significativo para vida do maçom, sobretudo quando já tiver ultrapassado a porta para conhecer a Árvore da Vida.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2018

quarta-feira, 30 de maio de 2018

TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA - ELA VAI E RETORNA?


Em 01/04/2018 o Respeitável Irmão Hélio Brandão Senra, Loja União Força e Liberdade, 272, sem mencionar o nome do Rito e o Oriente, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Estado de Minas Gerais, solicita a seguinte informação:

TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA - VAI E RETORNA?


Meu Irmão gostaria de saber o histórico da transmissão da palavra sagrada e qual a razão do Rito Brasileiro praticar o retorno da palavra ao encerramento dos trabalhos.

CONSIDERAÇÕES.

Antes dos comentários pertinentes à questão, é bom que se diga que essa transmissão de Palavra nada tem a ver com telhamento maçônico. Essa transmissão é parte de uma alegoria que se dá entre Mestres Maçons, a despeito de que cargos em Loja são privativos apenas daqueles que alcançaram o Terceiro Grau. Ratifica-se: essa transmissão não é uma ação de reconhecimento, mas um procedimento de alto significado iniciático, como se verá a seguir.
Dados esses comentários preliminares, vamos ao tema propriamente dito.
A transmissão da Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos é prática original do REAA\ que, pelo título “antigo” que traz em seu nome, justifica a rememoração dos costumes operativos. Embora de origem francesa, portanto latino, o escocesismo historicamente possui também particularidades inerentes à Maçonaria anglo-saxônica.
Assim, essa liturgia alude aos tempos da Maçonaria de Ofício, ou Operativa (dos antigos). Naqueles tempos, o Mestre da Obra operativo (ancestral do Venerável Mestre), durante a construção no imenso canteiro de obras, se comunicava com seus auxiliares imediatos (Wardens – atuais Vigilantes) utilizando-se dos seus mensageiros, ou “oficiais de chão” (ancestrais dos Diáconos).
Dentre as comunicações enviadas pelos mensageiros, uma delas se dava constantemente antes do início dos trabalhos, cujo desiderato era o de enviar ordens aos seus Vigilantes para que eles executassem a preparação para o trabalho nivelando e aprumando os cantos da obra.
Nesse sentido, os Vigilantes cumpriam a ordem executando a aprumada e o nivelamento dos cantos a partir da pedra angular aonde ia fixado o cordel para se aplicar a 47ª Proposição de Euclides – além do nivelamento e aprumada também se conferia o esquadro (canto).
Estando tudo pronto, nivelado e aprumado, os Vigilantes por fim comunicavam o Mestre da Obra, através dos mensageiros (Diáconos), que tudo estava de acordo e pronto para que os trabalhos se iniciassem.
Ao se comunicar como o Mestre da Obra, os Vigilantes enviavam mensagem dizendo que tudo estava “justo e perfeito”. Recebida essa comunicação, o Mestre então declarava abertos os trabalhos no canteiro (atual Loja).
É dessa prática a origem do termo “justo e perfeito” na Maçonaria, assim como a adoção pela Moderna Maçonaria do Nível e do Prumo como joias distintivas dos seus Vigilantes especulativos.
Já quando do encerramento da jornada de trabalho, novamente o Mestre da Obra, utilizando-se do oficial de chão (Diácono), enviava ordens aos seus Vigilantes para que tudo agora fosse conferido novamente, oportunidade em que os Vigilantes, cada qual pela sua banda no canteiro, percorriam a construção conferindo se todas as paredes estavam niveladas, aprumadas e concordantes com todos os cantos esquadrejados.
Certificando-se que tudo estava nos conformes, os Vigilantes comunicavam novamente o Mestre da Obra que os trabalhos estavam “justos e perfeitos”, pelo que ele então ordenava ao Primeiro Vigilante que fechasse a Loja, pagasse os obreiros e os despedisse contentes e satisfeitos. Cumprindo a ordem, o Vigilante assim procedia, mas não sem antes recomendar aos operários que após o inverno retornassem para a próxima jornada de trabalho.
Esse comentário explica muitos procedimentos ritualísticos relacionados à liturgia de abertura e encerramentos dos trabalhos conforme o Ritual.
Como mencionado, tudo isso se dava nos canteiros operativos da Francomaçonaria.
Com a decadência dessas corporações de ofício e o aparecimento da Maçonaria Especulativa, muitos desses costumes seriam lembrados na Moderna Maçonaria por alegorias ritualísticas, como é o caso do que acontece no REAA\ e a transmissão da Palavra Sagrada para a abertura e encerramento dos trabalhos.
Entretanto, em se tratando de Maçonaria Especulativa, o simbolismo revive práticas por alegorias, já que nesse caso, a construção não mais é de igrejas, abadias e catedrais, mas do próprio homem. Assim, o canteiro é a sala da Loja (Templo) e o maçom a matéria prima utilizada no lugar da pedra calcária de antigamente.
Por esse feitio, o REAA\ utiliza simbolicamente, no lugar dos literais nivelamentos e aprumadas dos cantos, uma Palavra que, se transmitida corretamente significa que tudo está “justo e perfeito” para se iniciar os trabalhos especulativos da Loja, bem como que ao final verifica se tudo está nos conformes para o seu encerramento.
Em linhas gerais a transmissão correta da Palavra Sagrada é a conferência simbólica que relembra uma antiga tradição da Francomaçonaria.
Dado ao comentado, pela sua origem, é possível se observar que a questão não é de ida e volta da Palavra, mas a de atingir um objetivo e para tanto é preciso simplesmente que ela seja transmitida corretamente.
Infelizmente existe rito que copia essa prática ritualística do escocesismo simbólico atribuindo-lhe uma pretensa liturgia de “ida e volta”. Provavelmente os ritualistas que assim procederam não conheciam a história dessa liturgia e por isso criaram esse retorno contraditório.
Assim, de modo geral se faz cogente compreender que a Palavra Sagrada nessa ocasião não vai, para depois retornar, pois nesse caso ela simboliza uma atitude. Essa é a questão.
Quanto à razão dela aparecer “indo e voltando” no Rito Brasileiro, eu não encontrei nenhuma explicação plausível que possa se coadunar com o verdadeiro sentido dessa tradição.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2018

terça-feira, 29 de maio de 2018

SINAIS MAÇÔNICOS - ORIGEM DO SINAL GUT.


Em 29/03/2018 o Respeitável Irmão Luiz Mario Cabral Zucolo, Loja Caridade Rosariense, 175, REAA, sem mencionar o nome da Obediência, Oriente de Rosário do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, formula a seguinte questão:

ORIGEM DO SINAL GUT.


Sempre que o tempo me permite chegar ao computador dou uma lida na sua pagina, sempre com assuntos relevantes. Sou de Rosário do Sul e procuro informações a respeito da origem e significado do sinal gut\, confesso que estou com dificuldade de achar este tipo de material.

CONSIDERAÇÕES.

A dificuldade de se encontrarem explicações consistentes sobre o assunto, obviamente se dá porque os verdadeiros segredos da Maçonaria se concentram nos seus Sinais, Toques e Palavras.
Por óbvio, qualquer não iniciado de posse deles pode, inclusive, ingressar nos trabalhos cobertos (privativos somente aos iniciados na Maçonaria). O mesmo também pode se dar entre aqueles maçons que não possuem ainda grau suficiente para trabalhar numa Loja em que não lhes é permitido o ingresso.
É sabido que muitas das nossas tradições são sigilosas e sempre foram transmitidas de modo velado com máxima descrição. Não é comum alguém encontrar a descrição literal de um Sinal e, mais ainda, o significado que lhe dá sentido.
Assim sendo, obviamente que é obrigação dos Mestres Maçons ensinarem essas particularidades aos Aprendizes e Companheiros, embora desafortunadamente se reconheça que muitos deles não estão habilitados a ensinar.
Todo o Mestre Maçom da Moderna Maçonaria encontrará a origem dos Sinais especulativos quando observa e compreende a Lenda Hirâmica.
Esotericamente os Sinais se explicam pela sua aplicação por dar sentido ético e moral na construção e aperfeiçoamento de um novo homem. Nesse sentido é preciso compreender que o Sinal demonstra a atitude e o perfil daquele que se propõe a compô-lo. As penas simbólicas que eles representam e que paulatinamente emergem do teatro iniciático lendário, foram adaptadas conforme os costumes e as tradições sociais, culturais e territoriais da época.
Em síntese, os Sinais simbolizam as severas aplicações das penas que eram auferidas aos condenados pelas autoridades eclesiásticas e monárquicas no período medieval, época em que florescia a Francomaçonaria Operativa.
Além do sentido especulativo que o Sinal passou a exercer na Moderna Maçonaria, literalmente eles foram nela criados para o reconhecimento entre os Francomaçons do período operativo. Naquela época distante, um maçom livre quando se apresentava a uma Guilda de Construtores em busca de trabalho, ele se identificava por Sinais, Toques e Palavras, o que era muito mais prático do que se ficar horas trabalhando uma pedra calcária para provar a sua habilidade.
Lembro que nesse período da história a Maçonaria era literalmente de ofício, ao tempo em que também era constituída apenas por duas classes de trabalhadores - à época não existiam ainda graus especulativos na Maçonaria.
Assim, com o advento da Maçonaria Especulativa e o seu simbolismo, essas “penas capitais” que dantes eram aplicadas pelos reis, senhores feudais e até mesmo pela Igreja-Estado aos seus súditos e vassalos, acabou nela se incorporando apenas como uma alegoria penal que sugere o “compromisso ou obrigação” do iniciado no tocante ao impreterível cumprimento das regras e das leis da sua Obediência – algumas vertentes maçônicas tratam essa obrigação como “juramento”.
A ideia de não revelar segredos lembra as antigas obrigações pelas quais o maçom operativo se comprometia em não revelar os segredos profissionais da Guilda a que ele pertencia. Esses segredos também alcançavam a ideia de não revelar às Guildas concorrentes os planos da obra – era comum que o segredo regesse a concorrência entre os construtores das confrarias medievais.
Desse modo, a Maçonaria, atendendo a um dos seus Landmarks (o sigilo), adota Sinais, Toques e Palavras que, além de possuírem alto significado iniciático e simbólico, também servem como meio exclusivo de reconhecimento entre os confrades maçônicos.
Melhores detalhes a respeito podem ser encontrados a partir do aparecimento da Francomaçonaria (século X) e o seu desenvolvimento desde o período Operativo passando pela paulatina transformação em Maçonaria Especulativa até a evolução dos ritos e rituais maçônicos da Moderna Maçonaria (meados do século XVIII).
Como auxílio para o seu estudo, segue também anexo uma Peça de Arquitetura elaborada para a Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil pelo meu amigo e irmão Hercule Spoladore denominada “Sinais Maçônicos Antigos”. Esse artigo lhe dará mais subsídios para estudo sobre o tema.

T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2018

segunda-feira, 28 de maio de 2018

INGRESSO DE COSTAS NO TEMPLO?


Em 29/03/2018 o Respeitável Irmão Paulo Assis Valduga, REAA, GOERGS (COMAB), Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, solicita as seguintes informações:

INGRESSO DE COSTAS NO TEMPLO?

Pelo presente venho dirimir uma dúvida: se um Irmão chegar atrasado, ou um Aprendiz adentrar no Templo após se revestir e receber as devidas instruções na sua iniciação, como deve se postar após pedir ingresso pelas batidas ritualísticas (3 batidas universais):
1.     Entrar e ficar de costa para o Oriente sem armar o sinal, esperar a porta ser cerrada, para, então, se voltar, armar o sinal, dar os passos e saudar o Venerável Mestre e Vigilantes.
2.     Entrar ficar de frente para o Oriente esperar a porta ser cerrada, fazer o Sinal, dar os passos e saudação.
Ou seja, para melhor esclarecimento, quando entrar fica de costa ou de frente para o Oriente, esta é a minha dúvida;
Outrossim, já ouvi os dois comportamentos.

CONSIDERAÇÕES.

Chegar atrasado não deveria ser prática maçônica, mas como é público e notório, infelizmente nos meios maçônicos esse costume tem sido uma prática quase que constante, sobretudo nos ritos da na vertente latina da Maçonaria.
Como o Irmão menciona na sua questão, dela o item 01, houve tempos em que certos “luminares” maçônicos apregoavam essa bobagem justificando que o atrasado deveria ingressar de costas (literalmente andando de marcha ré) porque, no entendimento deles, o retardatário não sabia ainda em que grau a Loja estaria trabalhando.
Na verdade isso foi mais um delírio imaginativo do que uma afirmativa racional, já que ninguém, sem ser antes autorizado e comunicado, está habilitado a ingressar nos trabalhos de uma Loja aberta. Ora, é indispensável que o recepcionista do atrasado antes verifique se ele possui qualificação para ingressar. Por conseguinte, antes deverá informa-lo do grau de trabalho da Loja.
Agora, entrar de costas é mesmo uma orientação prosaica que, por obvio, é mera invenção.
O correto numa situação dessas é aquela pertinente ao número 2 da sua questão. Nesse sentido, quando um retardatário, após ter dado a bateria universal (três pancadas) na porta pedindo ingresso e, depois de tomadas as providências de costume, das quais informá-lo do grau de trabalho da Loja, ele ingressa andando normalmente de frente para o Oriente e se coloca à Ordem sobre o eixo do Templo no extremo do Ocidente (próximo à parte interna da porta). Ato seguido ele, no caso do REAA, executará a Marcha do Grau e, ao final saudará as Luzes da Loja pela ordem hierárquica. Ato concluído, ele aguarda os procedimentos de costume – questionário do telhamento (se for o caso) e a condução ao seu lugar.
Cabe mencionar que o ato de esperar o Cobridor fechar a porta para depois se posicionar à Ordem, embora com certo excesso de preciosismo, até se justifica devido ao fato de que o maçom somente compõe o Sinal de Ordem em Loja, isto é, estando ele sob cobertura, o que assim se dá porque o Templo é coberto pelo Cobridor que fecha a porta – de fora ninguém pode ver e nem ouvir o que se passa no interior do recinto.
Dando por concluído, ratifica-se que quem nessa situação ingressar no Templo, o faz sempre de frente para o Oriente, nunca de costas.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2018

quinta-feira, 24 de maio de 2018

BATERIA DO GRAU NA PORTA DO TEMPLO


Em 29/03/2018 o Respeitável Irmão Carlos Eduardo Flores dos Santos, Loja Ovídio Moraes Leal, 2.420, REAA, GOB-RS, Oriente de Rio Pardo, Estado do Rio Grande do Sul, solicita os seguintes esclarecimentos:

BATERIA DO GRAU NA PORTA

Tenho dúvidas quanto a Bateria do Grau para o ingresso no Templo no Início dos trabalhos, assim está descrito no Ritual:
Na página 44, na abertura ritualística: “o Mestre de Cerimônias pondo-se à frente, dará na porta de entrada do Templo a Bateria do Grau e o Cobridor Interno abrirá a porta”.
Primeira dúvida: em caso de abertura ritualística no Grau de Companheiro a Bateria do Grau seria a universal (de Aprendiz) ou as pancadas fazendo referência ao grau de Companheiro? E para o Grau de Mestre?
Segunda dúvida: o Cobridor dentro do Templo responde com uma batida?
Para o ingresso do Irmão atrasado li no seu blog a dúvida ritualística de um irmão e apresentei uma Peça de Arquitetura chamada "O Cobridor Interno e o uso da Espada" fazendo a devida referência ao seu trabalho.

CONSIDERAÇÕES.

A bateria é dada de acordo com o grau que a Loja irá trabalhar, portanto esse não é procedimento para os “atrasados”. Assim, conforme o ritual, após todos estarem preparados e organizados no Átrio, o Mestre de Cerimônias dá na porta a bateria do grau em que a Loja será aberta.
Dada a bateria para o ingresso do préstito, o Cobridor Interno, que já se encontra no interior do Templo, abre imediatamente a porta sem nela dar nenhuma bateria de réplica. O Cobridor simplesmente abre a porta e se posiciona com a espada em ombro-arma (lâmina na vertical pelo lado direito do corpo e com a ponta voltada para cima). Terminado o ingresso dos Irmãos (por último entra o Venerável Mestre), o Cobridor Interno fecha a porta e se dirige diretamente ao seu lugar.
Ratificando: para o ingresso antes do início dos trabalhos a bateria será igual a do grau em que a Loja será aberta e sem nenhuma réplica.
Quanto ao procedimento que envolve em qualquer situação a bateria universal (de Aprendiz) ele se dará quando porventura um retardatário se apresentar junto à porta do Templo pedindo ingresso. Nessa situação (não existindo Guarda Externo) ele sempre pedirá acesso pela bateria universal, não importando o grau em que a Loja esteja trabalhando.
Nesse caso pode existir a réplica pela mesma bateria (a universal) dada pelo Cobridor Interno se a oportunidade exigir que o retardatário tenha que aguardar. A réplica significa simplesmente, aguarde! É errado o costume de se aumentar a bateria para outro grau nessa ocasião. Também não existe a “estória” de se dar uma só pancada pelo Cobridor para avisar que a Loja está trabalhando em outro grau. Isso é pura invenção. A porta do Templo não é lugar para se exercitarem “batucadas”.
Assim, o correto é que na ocasião oportuna o Cobridor, ou o Segundo Experto, informe pessoalmente no Átrio ao retardatário o grau de trabalho da Loja antes da sua entrada formal, o que se dará, obviamente, de acordo com o grau de trabalho da Loja.
Concluindo, bateria do grau o Mestre de Cerimônias dá na porta quando do ingresso dos Irmãos do Quadro antes da abertura da Loja (vide ritual). Nessa ocasião, não existe nenhuma réplica por parte do Cobridor. Já um retardatário, em qualquer situação após o início dos trabalhos, pede ingresso sempre pela bateria universal (Aprendiz). Nessa oportunidade haverá réplica pela mesma bateria se a ocasião exigir que o retardatário aguarde. Compreenda-se que orientação de procedimentos para os “atrasados” não aparecem nos regulamentos e rituais porque o “atraso” não pode ser institucionalizado.



T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2018



quarta-feira, 23 de maio de 2018

CARACTERÍSTICAS RITUALÍSTICAS - CARGOS DO REAA


Em 28/03/2018 o Respeitável Irmão Maycon Corazza, Loja Vigilantes do Oeste, 2713, REAA, GOB-PR, Oriente de Cascavel, Estado do Paraná, formula as questões seguintes:

CARACTERÍSTICAS RITUALÍSTICAS - CARGOS DO REAA


Gostaria de pedir auxílio para compreensão de alguns aspectos do rito praticado em minha Oficina, o Rito Escocês Antigo e Aceito.
Segue:
1) Quais são os cargos existentes no REAA que possuem vínculo direto com o período operativo da Maçonaria?
2) Em relação aos cargos que foram criados já no período especulativo, seria possível apontar em quais períodos surgiram e possíveis motivações para criação de cada um deles?
3) Percebemos a diferenças entre ritos, também no tocante aos cargos. Muitas vezes as diferenças são apenas de nomenclaturas, mas há alguns casos em que as diferenças são mais aprofundadas. Como compreender melhor isso?

CONSIDERAÇÕES.

  1. Sob o aspecto histórico os cargos que possuem vínculo com a Maçonaria de Ofício (Operativa) são os do Venerável Mestre e Vigilantes, dos Diáconos e dos Cobridores. Junto a esses cargos também existia normalmente um clérigo da Igreja Católica que cuidava dos registros da Guilda. De modo imemorial, espontâneo e universalmente aceito (identificações de um verdadeiro Landmark), uma Loja, desde os canteiros medievais (século X) era dirigida por três Luzes. Não existiam exatamente naquela época graus especulativos, senão apenas duas classes de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos e a dos Companheiros do Ofício. Dentre a classe operária dos Companheiros era escolhido um de comprovado conhecimento e experiência profissional para dirigir a Loja. Assim, o Venerável era o Mestre do Ofício, ou da Loja, sendo diretamente auxiliado por dois Zeladores (wardens) que mais tarde ficariam conhecidos como Vigilantes (todos, Companheiros experimentados).
Os Diáconos eram os antigos “oficiais de chão” e tinham o ofício de levar e trazer mensagens pelo imenso canteiro que servia para a construção de uma catedral, por exemplo.
Os Zeladores eram os instrutores e ensinavam a arte de construir aos Aprendizes que se dividiam em recém-admitidos (Juniors) os mais experientes, os Sêniores. Cabia também aos Vigilantes (antigos zeladores) conferir os trabalhos e, particularmente ao Primeiro, pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos, recomendando o retorno de todos para a próxima jornada de trabalho que se daria após a passagem do inverno.
O Segundo Vigilante era o responsável em receber e instruir os candidatos à Iniciação e o Primeiro encarregava-se de proferir orações em favor dos recém-iniciados. Competia também ao Primeiro Vigilante ensinar os Companheiros do Ofício as técnicas de elevação, aprumada e nivelamento dos cantos da obra.
Num período bem primitivo, algumas associações de construtores (monásticas ou confrarias leigas) davam também aos oficiais de chão (Diáconos) a incumbência de instruir os operários. Dado a isso alguns autores os mencionam como ancestrais dos Vigilantes.
Merecedor de judiciosa proteção, o canteiro de obras era protegido externamente contra os vândalos pelo guardião externo, enquanto que internamente o guardião interno protegia os planos da obra contra os cowans. Deve-se a esses guardiões do passado os cargos de Guarda Externo e Cobridor Interno da Moderna Maçonaria. É daí o termo Tiler associado à cobertura e proteção contra os bisbilhoteiros e espiões que sorrateiramente buscavam conhecer os segredos da construção (planos da obra). A palavra cowan, haurida de um dialeto da Escócia medieval, segundo Harry Carr, significa “aquele que constrói muros sem argamassa” – genericamente menciona o profissional despreparado ou desqualificado. O embusteiro profissional.
O clérigo, que era um preposto da Igreja, assegurava os direitos de proteção e locomoção dos operários e cuidava dos registros financeiros e administrativos pertinentes à construção e à Guilda. Esse personagem religioso pode ser considerado como o precursor do Secretário das Lojas especulativas da atualidade.
É bom que se diga que um canteiro medieval era constituído por grande quantidade de operários e, desses, os que se sobressaíssem profissionalmente eram admiti
dos no Ofício mediante a solene obrigação de não revelar os segredos da arte e nem os planos que constituíam o projeto da obra àqueles que não fossem verdadeiramente iniciados.
Assim eram as antigas iniciações operativas, época em que não existiam templos maçônicos. Elas geralmente se davam nas próprias construções e nos adros das igrejas em datas solsticiais que, por influência da Igreja, coincidiam com as datas comemorativas de João, o Batista e de João, o Evangelista. Daí, as Lojas de São João.
Destaque-se que esse comentário é apenas uma descrição genérica e resumida do tema, pois o assunto é amplo e envolve profunda observação no que diz respeito aos costumes e tradições comuns às diversas regiões onde atuavam os construtores operativos da Idade Média.
  1. Em relação aos demais cargos que paulatinamente foram surgindo na Moderna Maçonaria, sobretudo com a propagação dos ritos maçônicos especulativos a partir do século XVIII, todos dependem da liturgia adotada por esse ou por aquele Rito.
No caso específico do escocesismo e o aperfeiçoamento dos seus rituais, permaneceram os cargos tradicionais, mas com roupagem especulativa. Além deles, outros iam surgindo na medida em que a sua ritualística se consolidava. Destaque-se que o primeiro ritual simbólico do REEA\ somente apareceu na França no ano de 1804.
Assim, além dos cargos tradicionais apareceriam: o cargo de Mestre de Cerimônias como um diretor litúrgico, o cargo dos Expertos como oficiais auxiliares imediatos e experientes para atuar nas funções ritualísticas, o cargo de Orador como o Guarda da Lei inerente à Constituição e Regulamentos da Obediência, o cargo de Hospitaleiro como oficial da caridade e da solidariedade (virtudes primazes da Moderna Maçonaria), o cargo de Tesoureiro como o guardião e administrador das finanças da Loja, o cargo de Chanceler como o responsável pelo selo da Loja e pelos registros próprios do quadro de obreiros – sua frequência e regularidade, etc.
Obviamente que esse sistema de cargos em Loja está intimamente ligado à identidade de cada Rito, observado as tradições, usos e costumes, tanto dele em particular quanto da Maçonaria em geral.
  1. Basicamente essa resposta já está inserida no item anterior.
Na verdade os cargos em Loja, além daqueles históricos que praticamente aparecem em todos os sistemas, mesmo que diferentes às vezes em suas nomenclaturas, mais iguais em essência, são explicados principalmente pela liturgia adotada no rito. Por isso é imperativo que se conheça a profundeza doutrinária de cada rito. Deísta ou teísta? Sem dúvida esses são parâmetros que podem explicar essas diferenças.
Concluindo, destaco que o assunto é bastante amplo e carece nesse sentido, a abordagem de rito por rito, levando-se em conta sempre a sua expressão cultural, política e social do meio em que ele surgiu. Essa seria uma maneira racional para se achar explicações relativas ao mote das suas questões.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2018