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segunda-feira, 24 de julho de 2023

III CONGRESSO DO RITO MODERNO NO BRASIL

 

RITO MODERNO – ELEMENTOS GENÉRICOS PARA A SUA HISTÓRIA.

TEÍSMO E DEÍSMO – O DOGMATISMO E ADOGMATISMO
 

  1. Inicialmente segue uma breve abordagem envolvendo os principais ritos por aqui conhecidos e os seus conceitos de teísmo, deísmo e agnosticismo.

Dos muitos ritos praticados pela MAÇONARIA, muitos deles já desapareceram completamente. Já escrevia Ragon em 1853 no seu livro Ortodoxia Maçônica que “o número de Maçonarias ultrapassa sessenta”. Ragon já expunha a diversidade de ritos encontrados na Maçonaria daquela época.

De certa forma, todos os ritos maçônicos apresentam uma adequada unidade no simbolismo, diferindo, entretanto, na liturgia e na abordagem filosófica, principalmente quando se trata de concepções metafísicas.

Entre os ritos mais conhecidos na Maçonaria brasileira, e que aqui serão abordados, destacamos quatro ritos: o Craft (York) vertente inglesa, o REAA, o Rito Moderno, e o Adoniramita - esses três últimos da vertente latina de Maçonaria.

Embora esses quatro ritos possam trazer diferenciais na prática particular da sua liturgia e ritualística, entendemos que as diferenças doutrinárias fundamentais são aquelas que envolvem concepções metafísicas.

NOTA - Metafísica é uma das bases da Filosofia e é também o ramo responsável pelo estudo da existência do ser. Por meio da metafísica procura-se dar uma interpretação do mundo, da Natureza e da constituição das estruturas básicas da realidade.

No aristotelismo, é o estudo do ser enquanto ser e especulação em torno dos primeiros princípios e das causas.

Nessas circunstâncias, muitos autores, a exemplo de Paul Naudon, classificam esses quatro ritos como teístas, deístas e racional. Outros, no entanto, como José Castellani, os classificam apenas como dogmáticos e adogmáticos.

Ritos teístas.

NOTA – Genericamente, Teísmo é a crença absoluta na existência de Deus, um Deus pessoal, causa do mundo, e que interage com a sua criação.

No tocante a ritos teístas, o Rito (working) de York, amparado pelo anglicanismo britânico, é tipicamente um deles. Com um caráter religioso muito particular, esse rito anglo-saxônico preconiza a crença em Deus com sentimentos antropomórficos. Nesse contexto, a vertente anglo-saxônica de Maçonaria tem o Rito de York como um instrumento para externar a crença em Deus, ao mesmo tempo em que auxilia o maçom a pautar a sua vida conforme a sua crença religiosa, que deve ser monoteísta, com caráter sublime e elevado da divindade (transcendental).

Ritos deístas

NOTA – Deísmo é o sistema que, rejeitando qualquer revelação divina, aceita a existência de Deus, porém, um Deus destituído de atributos morais e intelectuais, não se admitindo interferência divina nas coisas do mundo.

Nesse cenário, o REAA, nascido em berço francês e com costume deísta, acabou, por razões históricas, se misturando com o teísmo anglo-saxônico. Já o Rito Adoniramita, que chegou no seu inicio a conservar feição deísta por não ter sofrido diretamente influências anglo-saxônicas, no andamento da sua história acabou sofrendo influências que lhe deram aparências diferenciadas, ou seja, um misto de deísmo e teísmo. Desse modo, tanto o REAA, um rito solar por excelência, assim como o Adoniramita não possuem característica deísta pura.

À vista disso, dos ritos elencados, fora das concepções deístas e teístas temos o Rito Moderno.

NOTA – Cabe observar que as abordagens aqui apresentadas se prendem exclusivamente ao franco-maçônico básico, também conhecido como simbolismo.

Diferente dos ritos anteriores aqui mencionados, originalmente o Rito Moderno é classificado por muitos autores como um rito racional, onde as concepções de crença dos seus membros são consideradas de foro íntimo, portanto, com respeito absoluto à liberdade de pensamento.

Nessa conjuntura, o Rito Moderno também é tido como um rito agnóstico. Isso pela razão de o mesmo se colocar como incapaz de compreender a realidade das coisas incognoscíveis – essa característica não deve ser compreendida como ateísmo.

À vista de que no percurso da história muitos ritos deístas acabariam também absorvendo características do teísmo, é que apareceu, por parte de alguns autores, outra classificação, talvez a mais apropriada nessa conjuntura: a que os classifica como ritos dogmáticos e adogmáticos.

Com isso, o que se quer dizer é que por circunstâncias próprias alguns ritos se basearam integralmente em dogmas absorvidos da Igreja Medieval, ou do Anglicanismo, fazendo aos seus membros imposições metafísicas. Esses ritos são consideramos ritos dogmáticos. Deles, acentuadamente, o York pelo berço de
nascimento, e os ritos Escocês Antigo e Aceito, e Adoniramita por influências adquiridas durante a construção das suas histórias. Já o Moderno, por se distinguir pelo respeito à liberdade de crença e de pensamento, é considerado um rito racional e adogmático.

  1. O teísmo a partir da Maçonaria de Ofício. Como se deu a influência teísta nos ritos maçônicos? Qual a sua origem?

A conhecida Maçonaria dos Aceitos (depois Moderna Maçonaria), formada exclusivamente por maçons especulativos, sucedeu à Maçonaria de Ofício (Operativa), que era um conjunto de organizações de pedreiros da Idade Média.

Destas corporações medievais, destacam-se, no ordenamento da história da Maçonaria, as seguintes organizações:

a)    Os Collegia Romanos ou Collegia Fabrorum. Eram organizações que já existiam desde o século VI a. C. e possuíam um forte apelo religioso. Davam ao trabalho um caráter sagrado haurido de cultos à determinadas divindades pagãs. Inicialmente politeístas, se tornariam mais tarde, monoteístas.

b)    As Associações Monásticas. Surgidas aproximadamente no século VII, tinham como objetivo principal construir igrejas, mosteiros, abadias, conventos e catedrais. Por serem formadas exclusivamente por clérigos, elas se caracterizavam por uma acentuada religiosidade.

NOTA – As Associações Monásticas eram originárias principalmente do reino dos godos.

c)    As Confrarias Leigas. Criadas no século XI para atender ao “ofício” durante a expansão dos domínios da Igreja, eram organizações formadas por leigos que aprenderam arquitetura e arte de construir com os clérigos construtores. Assim, nada a estranhar que essas organizações acabassem também herdando o acentuado cunho religioso que era dado ao trabalho.

d)    As Guildas de Construtores. Com características germânicas e anglo-saxônicas, inicialmente eram apenas entidades religiosas, passando, a partir do século XII, a formar corpos de profissionais, entre eles os dos canteiros construtores. Assim, as guildas permaneceriam como associações expressivamente religiosas.

e)    Os Ofícios Francos, ou a Franco-maçonaria. Eram grupos privilegiados de artesãos construtores que apareceram após o século XII. Esses corpos profissionais, acompanhados de forte religiosidade, eram livres dos feudos, das obrigações e do poder monárquico. Com isso, protegidos pela igreja-estado, tinham liberdade de locomoção. Nesse cenário, a palavra franco designava aquele que era livre, não só em oposição ao que era servil, mas livre das obrigações e tutelas senhoriais. Os Ofícios Francos conservavam características religiosas hauridas da Igreja “protetora”.

Nota-se, dessa forma, que todas as corporações que formaram a Maçonaria Operativa, ou de Ofício, estavam impregnadas pelo espírito religioso e dogmático daquela época. Entre os seus membros existia a obrigatoriedade de respeitar a Igreja e a religião.

Isso pode ser perfeitamente constatado em se perscrutando os Estatutos das Corporações (manuscritos), conhecidos como Old Charges, onde nelas eram previstos juramentos sobre os santos evangelhos. Na verdade, era o teísmo a dominar as profissões, coisa própria de um tempo em que o clero comandava governantes e governados.

Nesse cenário da história, além do misticismo religioso, normalmente peculiar às corporações, cada uma das antigas Lojas também tinha o seu santo protetor - algo natural para organizações que se estabeleciam nos adros das igrejas, mosteiros e catedrais.

As organizações de ofícios francos (Franco-maçonaria), por exemplo, em face às comemorações solsticiais - costume herdado das guildas – tinham como patronos, João, o Batista e João, o Evangelista. Esses personagens religiosos são encontrados ainda hoje em ritos dogmáticos, a exemplo do REAA.

As iniciações (admissões) na época do ofício não eram apenas os ensinamentos básicos da profissão de pedreiro, eram também um meio de aproximar o admitido da religião – vide as orações que eram feitas em favor do candidato no dia da sua admissão. Nessas condições, o ofício não era apenas um elemento econômico de subsistência, era também uma maneira de servir a Deus e à Igreja Católica Romana.

Essa aparência católica imposta à Maçonaria Operativa (de ofício) pela “proteção do clero”, mais tarde, já no período da aceitação, iria assumir na Inglaterra uma configuração teísta protestante, onde a Primeira Grande Loja de Londres e Westminster impunha nas suas Lojas as convicções do anglicanismo.

  1. O deísmo na Moderna Maçonaria - Especulativa por excelência.

NOTA – Maçonaria Especulativa (Aceitos) e Moderna Maçonaria. O registro documental da iniciação em uma Loja do primeiro aceito é datada do ano de 1600 na Escócia, sendo, portanto, esse o marco inicial da Maçonaria Especulativa. Já a Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, tem como referência primitiva de existência a fundação da Primeira Grande Loja em Londres em 1717 (sistema obediencial).

A transformação da Maçonaria Operativa em Especulativa que ocorrera com a iniciação de John Boswell, na Loja Capela de Maria, em Edimburgo na Escócia, possivelmente aconteceu graças à maior liberdade que imperava na Inglaterra em contraposição às perseguições sofridas Maçonaria no século XVI, na França e na Alemanha.

No século XVI apareceriam no continente europeu as Academias”. Existentes na França e na Itália, principalmente, elas reuniam um grande número de personagens ligados ao mundo científico e artístico daquela época na Europa.

A partir do século XV, após o advento da Renascença, iniciava-se o espírito da crítica científica em oposição aos dogmas impostos pela Igreja Católica. Com isso, acirravam-se as lutas entre os defensores intransigentes do “papado” e os que atacavam os dogmas e as interferências da Igreja no Estado, mas não eram ateus.

É bom que se diga que os contrários ao papado não combatiam propriamente a religião e a crença em Deus, mas de maneira geral lutavam contra um sistema obscuro de crença que existia amparado em dogmas impostos pela classe clerical.

Essa combatividade, no entanto, não nos autoriza a afirmar que essa foi uma ação em favor do ateísmo. Grande parte dos que faziam oposição ao clero acreditavam na possibilidade de existir um Princípio Criador, contudo, eram contrários ao dogmatismo proposto pela Igreja Católica.

Muitos deles, grandes pensadores e filósofos, externavam pareceres de que a rudeza da mente humana era incapaz de perscrutar os mistérios da Criação, rejeitando, com isso, qualquer revelação divina que pudesse interferir nas coisas do mundo. Esse conceito era o do deísmo e acabaria sendo integrado à Maçonaria Francesa por pensadores, filósofos e artistas que, principalmente a partir do século XVIII, iriam fazer parte dos quadros das Lojas maçônicas na França.

Na Itália, Leonardo Da Vinci, Américo Vespúcio e Paulo Toscanelli formavam a Academia de Milão com o propósito de criar um centro de cultura científica e artística isento de ideias dogmáticas. Muitos dos membros dessa Academia, capitaneados por Da Vinci, iriam se transferir para Paris onde se filiariam ao “Colégio Francês”, então criado em 1517 e que mais tarde se tornaria em um centro de maçons especulativos, movidos pelo espírito, científico e racional, contrários aos dogmas que impunham grilhões ao conhecimento e à verdade.

Notoriamente isso não agradou à Igreja, fazendo crescer cada vez mais o ódio clerical que mais tarde se transformaria nas grandes perseguições à Maçonaria. Graças a isso, o polo de atuação maçônica da França se mudaria para a Inglaterra, onde aparentemente havia maior tolerância por parte da Igreja Anglicana.

Isso fez com que a na Inglaterra do anglicanismo, a Maçonaria evoluísse bastante, sobretudo por encontrar um ambiente propício para expor os seus ideais.

Com a presença de muitas Lojas livres espalhadas pelas Ilhas Britânicas, os ingleses, ao contrário de persegui-las como ocorria no continente, logo resolveram aproveitá-las em prol do anglicanismo e em favor da nobreza, não obstante tenham para isso sido amputados muitas ideais deístas, liberais e de espírito crítico que acompanhavam a Maçonaria na França.

Foi com esse espírito que em 1717 nasceu a Primeira Grande Loja em Londres, e logo teve, em 1723, a sua primeira constituição que ficaria conhecida como As Constituições de Anderson. Essa Constituição, embora regulamentasse uma Maçonaria de cunho teísta em prol do anglicanismo, surpreendentemente trazia no seu Artigo 1º um texto com tendências deístas e com certa liberalidade.

  1. Uma característica Deísta que apareceu nas Constituições de Anderson de 1723.

Em 1721 a Primeira Grande Loja solicitou a James Anderson, pastor presbiteriano nascido em Aberdeen na Escócia, que fizesse uma compilação dos antigos regulamentos e preceitos da Francomaçonaria. Anderson, que teve como colaboradores George Payne e Jean Théophile Desaguliers, segundo e terceiro Grão-Mestres da 1ª Grande Loja, submeteu a compilação à aprovação de uma comissão composta por 14 maçons, e assim, em 1723 era aprovada e publicada a Constituição dos Franco-maçons que ficaria conhecida como As Constituições de Anderson.

No que diz respeito à essa Constituição e as concepções metafísicas, é possível nela observar no seu artigo inicial, um discreto deísmo acompanhado de uma ampla tolerância vestida com atributos de liberalidade.

Possivelmente essas qualidades se deve à influência de Jean Théophile Desaguliers, um importante personagem ligado à Primeira Grande Loja.

Oriundo de uma família de huguenotes franceses, Desaguliers nascera em um subúrbio de La Rochelle na França. Homem pragmático e preocupado em resolver os problemas do seu tempo, possuía uma sólida formação científica. Era um homem de escol e ainda hoje é considerado como um dos pais da Moderna Maçonaria.

Nessa condição, vale registrar o que menciona o Art. 1º da Constituição de Anderson de 1723:

“O maçom está obrigado, por vocação, a praticar a moral e, se compreender seus deveres, nunca se converterá em um estúpido ateu e nem em religioso libertino. Apesar de, nos tempos antigos, os maçons estarem obrigados a religião que se observava, nos países que habitavam, hoje, crê-se mais conveniente não lhe impor outra religião, senão aquelas que todos os homens aceitam e dar-lhes completa liberdade com referência às suas opiniões particulares. Essa religião consiste em ser homens bons e leais, quer dizer, homens honrados e justos, seja qual for a diferença de nome, ou de convicções. Deste modo a Maçonaria se converterá em um centro de união e um meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas.”

Note-se que originalmente no artigo inicial da Constituição não existe nenhuma imposição de um padrão religioso e dogmático, senão um deísmo intrínseco nas suas entrelinhas.

No entanto, essa primitiva característica encontrada na Constituição de 1723 seria posteriormente modificada, primeiramente já em 1738 e finalmente em 1815 por imposição política anglicana e também por forte imposição dos ditos “Antigos de York” que, juntamente com a Primeira Grande Loja, dita dos “Modernos”, após a reconciliação (Antigos e Modernos) iria formar, em novembro de 1813, a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Além da maioria das práticas ritualísticas serem conservadas no formato antigo, o teísmo dos Antigos de York também acabaria prevalecendo após a união de 1813. Assim, o Livro das Constituições passaria novamente por adequações em 1815, não obstante ela já tivesse sofrido suas primeiras alterações em 1738.

Esse teísmo pode ser constatado no Artigo 1º das Constituições de 1815 da Grande Loja Unida, bem diferente do de 1723. Segue descrito o Artigo 1º reformado pelas convicções teístas:

“Um maçom é obrigado, por seu título, a obedecer a lei moral, e se compreender bem a Arte, nunca será ateu estúpido nem libertino irreligioso. De todos os homens deve ser o que melhor compreende que Deus enxerga de maneira diferente do homem, pois o homem vê a aparência externa, ao passo que Deus vê o coração. Seja qual for a religião de um homem, ou a sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no Glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e praticar os sagrados deveres da moral...”

É impossível não se notar nesse texto que ao liberalismo e tolerância originais da primitiva Constituição de 1723, sobrepuseram-se o teísmo pessoal, o dogmatismo e a imposição, algo que nos parece incompatível com a liberdade de consciência e de pensamento.

No entanto, cabe observar que mais tarde, na França, sob a égide do Grande Oriente da França, o Rito Moderno seguiria o liberalismo e a tolerância exposta na Constituição inglesa de 1723.

Expostas essas colocações, seguem outros comentários.

  1. A Maçonaria Francesa, Grande Oriente da França e o Rito Moderno.

MAÇONARIA FRANCESA E O GOF - À vista dos argumentos até aqui apresentados, foi a Grande Loja de Londres e Westminster quem diretamente influenciou a Moderna Maçonaria na França.

Por iniciativa de Charles Radclyffe (Conde de Derwentwater), em 1725 a Moderna Maçonaria era instalada em uma Loja em Paris. Sem ainda existir uma Obediência genuinamente francesa, em 1728 o Duque de Wharton, um dos ex-Grãos-Mestre da Primeira Grande Loja londrina (1722 e 1723), foi reconhecido como o primeiro Grão-Mestre dos maçons franceses, sendo sucedido por dois outros Grão-Mestres ingleses, como James H. MacLean e Charles Radclyffe.

Por pressão das lojas francesas, em assembleia geral ocorrida no ano de 1738, era instalado como Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons da França, Louis de Pardaillan Gondrin, o Duque de Antin. Enfim um Grão-Mestre francês para a Maçonaria Francesa.

Com o falecimento de Antin e 1743, assume Louis Bourbon de Condé, o Conde de Clermont que, por sua vez, seria sucedido em 1771, por decorrência da sua morte, por Louis Philippe Joseph D’Orléans, o Duque de Chartres. Sem muita afinidade para com o cargo, Chartres, por ser primo do Rei, mais empresta o seu nome do que dirige a Maçonaria, ficando a Grande Loja de fato sob a administração do Duque de Luxemburgo. Ainda em 1771 inicia-se uma grande reforma administrativa culminando com a extinção da Grande Loja da França, aparecendo no ano seguinte a Grande Loja Nacional da França que adotaria, anda no ano de 1772, o título de Grande Oriente da França.

Inicialmente, a grande inovação promovida pelo GOF foi a chamada “democracia maçônica” – o Grão-Mestre e os deputados das Lojas.

Já em 1877, em nome da liberdade de consciência e do livre arbítrio, o Grande Oriente da França passa a rejeitar qualquer afirmação dogmática, não existindo mais a obrigatoriedade das suas Lojas trabalharem à G D G A D U

RITO MODERNO – Em linhas gerais, avalia-se que nome Moderno, dado ao Rito Moderno, está intimamente ligado à prática da moderna Maçonaria exercitada na Grande Loja de 1717 e inserida em solo francês pelos ingleses desde 1725.

Por questões de ordem, e no intuito de combater o caos causado pela enorme proliferação de altos graus pela França daquela época, o GOF, no intuito de organizar a situação, nomeou uma comissão de estudos para fazer uma depuração no sistema de altos graus vigente. Inicialmente esse grupo de estudos, após trabalhar por três anos e levar em conta vários aspectos, recomendou a utilização dos três primeiros graus apenas. Temendo com isso um cisma no Grande Oriente, a comissão renunciou, mas mesmo assim o GOF, em 1777, declarou por circular às suas Lojas que só reconheceria os três graus básicos da Maçonaria.

No entanto, a resolução de não reconhecer os altos graus acabou causando muitos ressentimentos por parte dos que se utilizavam daqueles “vistosos” paramentos. Graças a isso, em 1782 era então criada uma Câmara de Graus sob a liderança de Alexandre Roëttiers de Montaleau, com a proposta de formatar o Rito dando-lhe apenas o essencial dos Altos Graus. Em 1784, sete Lojas Capitulares Rosa Cruz formam o Grande Capítulo Geral da França. Depois de mais de 4 anos de estudos era apresentado, em 1786, um projeto contendo, além do franco-maçônico básico, mais 4
graus superiores, resultando assim em um total de 7 graus, cujo último era o Grau Rosa Cruz. Aprovado pela assembleia, o rito foi posto em prática e ficou conhecido como o Rito dos Sete Graus.

Somente em 1801, com a publicação do Le Régulateur du Maçon na França, é que o Rito Moderno, ou dos 7 Graus, passa a ter os seus rituais. No itinerário da sua história, entre os séculos XIX e XX, o seu simbolismo acabaria passando por várias revisões a exemplo da de Murat, em 1858; Amiable, em 1887; Blatin, em 1907; Gérard em 1922; Groussier, em 1946.

Vamos à conclusão desse trabalho.

  1. Finalização.

Assim, o Grande Oriente da França serviu de suporte para muitos ritos maçônicos, dogmáticos como o REAA que é filho espiritual da França, mas com influências anglo-saxônicas (deísta/teísta) no seu simbolismo; como o Rito Adoniramita, inicialmente deísta, mas depois contaminado pelo teísmo; e o Rito Moderno que atravessaria reformas importantes que o levariam a ser em um rito adogmático, racional e agnóstico, não obstante alguns paradoxos, naturais pela sua adoção em algumas Obediências Maçônicas.

Desse modo, no cenário desse despretensioso arrazoado, vale destacar que tanto os ritos teístas, assim como os deístas, os racionais ou mesmo deístas teístas, enfim, dogmáticos ou adogmáticos, nenhum deles, pelas suas características, possui mais qualidade do que o outro. Em sua grande maioria nascidos no século XVIII, sempre tiveram o desiderato de superar os resquícios do nebuloso período coercitivo que havia paralisado por séculos a evolução racional da humanidade durante a Idade Média.

Eram esses os elementos genéricos que procurei trazer no intuito de contribuir com o estudo sobre a história da Maçonaria em geral, do Grande Oriente da França e do Rito Moderno em particular.

 

 

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO

AMIABLE, L. – Repport Confidentiel au Grand Collège des Rites, Paris, 1890.

BAYLOT, J. – Dossier Français de la Franc-Maçonnerie Régulier, Paris, 1965

BORD, G. – La Franc-Maçonnerie en France des origines a 1815, Paris, 1908.

CASTELLANI, J. – Moderna Maçonaria, Gazeta Maçônica, São Paulo, 1987.

_____________ - Rito Escocês Antigo e Aceito. História Doutrina e Prática, A Trolha, Londrina, 1988.

FINDEL, J. G. – Histoire de La Franc-maçonnerie (tradução francesa), Paris, 1866.

GOULD, R. F. – History of Freemasonry, Londres, 1951.

JONES, B. – The Fremansonry – Guide and Compendium, Londres, 1950.

PATUTO, G. V. – Introdução ao Rito Moderno ou Rito de Fundação de Maçonaria Especulativa, Curitiba, 2022.

NAUDON, P. – La Franc-maçonnerie, Paris, 1963.

RAGON, J. M – Orthodoxie Maçonnique, Paris, 1853.

MELLOR, A. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons, Martins Fontes, São Paulo, 1989.

CARR, H. – Seiscentos Anos de Rituais, Londres.

 

 

(a)               PEDRO JUK – 22/07/2023

sábado, 10 de abril de 2021

ENSAIO - ORIGEM DOS CARGOS EM LOJA

 

ENSAIO – ORIGEM DOS CARGOS EM LOJA

 

 

Pedro Juk

 

 

 

 

Muito dessa história não possui registro, pelo menos até a presente data.

Em linhas gerais a maioria dos cargos em Loja foram criados conforme a vertente maçônica e de acordo com a necessidade litúrgica do rito (sua cultura, costumes, estrutura doutrinária, etc.).

Para o desenvolvimento das considerações que se seguem será utilizado como parâmetro a Maçonaria Primitiva (de Ofício) do século XVII na Escócia e o seu alcance sobre
a Maçonaria Inglesa no século XVIII, seguida da Maçonaria Francesa.

No princípio a Maçonaria de Ofício em território escocês possuía somente duas classes de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos (registrados por aproximadamente sete anos) e a dos Companheiros do Ofício. Dentre esses últimos eram escolhidos os Mestres da Loja e o Mestre da Corporação - uma corporação poderia possuir mais do que uma Loja.

No tocante ao título de Mestre, nessa época ele ainda não era considerado um grau especulativo, tal como é conhecido atualmente. No período do ofício (Maçonaria Operativa) o Mestre era apenas o cargo de dirigente, administrador ou mesmo o proprietário da guilda.

É na Escócia desse período que aparecem os Wardens, personagens identificados como guardiões, zeladores ou diretores, podendo ser algumas vezes até o dirigente maior de uma corporação de construtores.

Somente por volta de 1730 é que o Warden ficaria genericamente conhecido como Vigilante, no caso, os dois Vigilantes inseridos como auxiliares do Venerável Mestre. Vale mencionar que que Vigilante, ou Warden, é um cargo e não um grau iniciático.

Ainda no que se refere à Maçonaria primitiva, havia também o Deacon (Diácono), mas não aquele relacionado aos antigos oficiais de chão a exemplo dos mencionados por Harry Carr em seu Masons At Work, porém o Diácono que era às vezes até mesmo o próprio dirigente da guilda - na Escócia operativa o termo Diácono possuía o sentido de “enviado”.

Cabe aqui outra observação. O Diácono relativo à maçonaria primitiva escocesa também não possui nenhuma relação com os Diáconos irlandeses da Grande Loja dos Antigos que mais tarde, no século XVIII, seriam extensivamente adotados como guias na ritualística dos ritos e rituais da Moderna Maçonaria.

Assim, para o nosso comentário é possível se dizer que tanto o Warden como o Deacon eram cargos já existentes na maçonaria primitiva na Escócia.

Também não há como negar que esse primitivo sistema de cargos do século XVII iria mais tarde influenciar a Maçonaria Inglesa, nomeadamente nas guildas londrinas como a da Companhia dos Maçons de Londres.

Cabe registrar que já nessa época primitiva também se faziam presentes nas Lojas um secretário-tesoureiro, ou mesmo um secretário e um tesoureiro que atuavam como importantes funcionários na vida administrativa da Loja. Os ocupantes desses cargos eram homens que não exerciam o ofício de pedreiro, isto é, não eram profissionais da cantaria e nem assentadores e ajustadores.

No século XVIII, com o aparecimento da Primeira Grande Loja londrina no ano de 1717, era inaugurado o sistema obediencial, marco da Moderna Maçonaria. Mais precisamente na sua primeira Constituição, datada de 1723, e conhecida como a Constituição de Anderson, dela o seu Título IV, aparecem nominados, Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes, contudo vale repetir que o Mestre ali mencionado ainda não era o grau especulativo de Mestre Maçom, mas o do cargo de Mestre da Loja, ou Worschipful Master (Venerável Mestre). Registre-se que o grau de Mestre Maçom somente seria citado oficialmente na segunda Constituição que fora publicada no ano 1738.

É nesse período o aparecimento de dois Vigilantes (Wardens) distribuídos na Loja, agora sendo o 1º Vigilante, ou o Senior Warden e o 2º Vigilante, ou Junior Warden.

Com isso, de certo modo era constituída uma ordem hierárquica entre o grau de Aprendiz e o de Companheiro, sendo que esse último ainda era qualificação indispensável para se assumir o cargo de Vigilante e posteriormente o de Mestre da Loja. Aprendizes e Companheiros como graus, Vigilantes e Mestre da Loja como cargos.

Vale mencionar que o termo Vigilante como sinônimo de Warden acabaria consagrado na Moderna Maçonaria.

Ainda em relação aos cargos, há que se separar aqueles relacionados às Lojas e aqueles relativos à Grande Loja. Essa última trazia no artigo 17 do seu Regulamento Geral os cargos de um Grão-Mestre, um Grão-Mestre Adjunto, dois Grandes Vigilantes, um Tesoureiro e um Secretário.

Assim, é preciso separar os cargos de uma Loja e os cargos inerentes às autoridades que administram a Grande Loja.

No que diz respeito aos estudos e pesquisas sobre o tema, cabe lembrar que nos primeiros anos de existência da primeira Grande Loja londrina, de 1717 a 1723, não existem registros de documentação. Suas atas somente passam a ser registradas de 1723 em diante, ano da promulgação da primeira Constituição de Anderson.

Somente em 1738, ano da publicação da segunda Constituição é que seriam reconstruídas por James Anderson as atas dos primeiros anos de existência da Grande Loja. Compete lembrar que essa é uma reconstrução de atas, portanto não são registros originais, podendo sobre eles existir a possibilidade de contradição. Conforme menciona Anderson nos seus registros reconstruídos, havia na Grande Loja em 1717 um Grão-Mestre, cujo cargo era ocupado pelo Irmão Anthony Sayer, esse investido pelos mais antigos Mestres de Loja então presentes. É mencionada também a existência de dois Grandes Vigilantes.

Com base nesses registros é bastante provável que a utilização de um Venerável e de dois Vigilantes conduzindo uma Loja seja costume haurido das quatro Lojas fundadoras da Primeira Grande Loja. Desta maneira, a constituição administrativa da Loja formada por um Venerável e dois Vigilantes acabou se conservando em toda a Moderna Maçonaria.

Mas pergunta-se: e o Mestre Maçom como grau iniciático? Quando ele apareceu? A bem da verdade, a semente desse grau germinou em Londres no ano de 1725 dentro de um clube profano denominado Philo Musicae et Architecturae Societas Apollini.

Clube composto apenas por maçons da Grande Loja, artistas, matemáticos, cientistas, todos membros da Royal Society, foi nele que o Duque de Richmond, Venerável Mestre da Loja da Taverna Queen’s Head, na intenção de criar um título diferenciado para o dirigente da Societas Apollini, esta seria composta só por maçons, acabou plantando a semente do que em um futuro próximo iria se tornar um grau exclusivamente maçônico – o de Mestre Maçom.

Os primeiros maçons a assumirem o cargo de dirigente da Societas Apollini foram
Charles Cotton e Papilon Bull. Dado a isso é que ambos são considerados como os dois primeiros Mestres Maçons especulativos da história.

Com o sucesso da criação de Richmond, a sua ideia logo acabaria na Primeira Grande Loja – destaque-se que o Duque de Richmond era possuidor de grande prestígio, sobretudo por já por ter sido Grão-Mestre. Assim, logo a Grande Loja aperfeiçoou e adotou o novo sistema como o 3º Grau do Franco-Maçônico básico universal - Grau de Mestre Maçom.

É bem verdade que não há registros se os dois primeiros maçons foram feitos Mestres na Loja ou no Clube, mas o que se sabe é que pelo alto conceito que gozava o Duque de Richmond, na cerimônia estiveram presentes os dois Grandes Vigilantes da Grande Loja. Se houve ou não irregularidade não se sabe, mas o fato é que essa performance logo seria adotada pela Primeira Grande Loja.

Conjugado ao então novo grau, o de Mestre Maçom, aparece a lenda hirâmica, provavelmente adaptada de uma antiga lenda noaquita (relativa a Noé) que aparece no Manuscrito Graham datado de 1726, comum ao antigo e genuíno grau de Companheiro que seria desdobrado para dar origem ao terceiro grau. A partir daí os C PP PP do Companheirismo passam a pertencer ao grau de Mestre Maçom, agora denominados como os C PP PP do Mestrado.

Consolidado o grau de Mestre Maçom, consagra-se então o currículo iniciático de Aprendiz, Companheiro e Mestre nas Lojas pertencentes Primeira Grande Loja. Os Vigilantes são agora escolhidos dentre os Mestres Maçons e aquele que desejar se tornar um Venerável Mestre (Mestre da Loja) é preciso antes ter sido um Vigilante.

Vale lembrar que na Moderna Maçonaria o termo “Mestre” designa o grau iniciático que encerra a plenitude maçônica, assim como assinala também o maior cargo administrativo da Loja – o Mestre da Loja ou o Venerável Mestre (Worshipful Master).

Em relação aos Diáconos, oriundos dos “antigos oficiais de chão” da Maçonaria de Ofício, na Moderna Maçonaria inglesa não existe, a respeito deles, nenhuma citação antes de 1740, época em que os irlandeses começam a se manifestar e influenciar a liturgia maçônica da época.

Na famosa revelação (exposure) de autoria de Samuel Prichard, datada de 1730, intitulada Masonry Dissected, por exemplo, é possível se conferir que os Diáconos não tinham ainda ofício de receber e conduzir candidatos como aconteceria mais tarde no Craft (Maçonaria Inglesa). Como nos tempos primitivos, o oficio de receber e instruir candidatos era de obrigação do 2º Vigilante.

Embora com funções diferenciadas dos da vertente moderna inglesa, no século XVIII o cargo de Diácono logo não tardaria a aparecer também na vertente francesa de Maçonaria. Cite-se como exemplo nesse caso o REAA, onde nele os dois Diáconos (1º e 2º) atuam apenas como os antigos oficiais de chão para relembrar a velha função dos mensageiros que operavam nos primitivos canteiros de ofício da Idade Média.

Isso explica no REAA o porquê da liturgia da transmissão da Palavra Sagrada entre as Luzes da Loja e os Diáconos durante a abertura e encerramento dos trabalhos. Note que ao contrário do Craft, no escocesismo os Diáconos não atuam como guias e receptores.

Diferente do Warden, ancestral cargo das lojas primitivas escocesas que facilmente seria implantado na Inglaterra como Vigilante, o cargo de Diácono, provavelmente por ser estranho às organizações de ofício inglesas, acabou levando mais tempo para ser recebido e fixado no Craft. Na verdade, deve-se aos irlandeses da Grande Loja dos Antigos (1751) a propagação e a fixação do cargo de Diácono na Moderna Maçonaria inglesa.

Em relação ao cargo do Tyler (Telhador ou Cobridor Externo), foi James Anderson na Constituição de 1723 quem mencionou um cargo cujo ofício era o de proteger e guardar a porta da Grande Loja.

Ainda não há como se afirmar da existência do Tyler, ou Cobridor Externo nas Lojas, embora seja provável ter existido alguém encarregado pela segurança do recinto para preservar o sigilo dos trabalhos contra os cowans.

Ainda relacionado à proteção da porta, porém agora pelo seu interior, existe o cargo de Cobridor Interno (Inner Guard). A seu respeito, acredita-se que, tal como outros cargos, também o de Cobridor Interno tenha sido adotado por primeiro pela Primeira Grande Loja para só depois se fixar nas Lojas da sua jurisdição.

Em relação ao cargo de Tyler e a Maçonaria Francesa, somente a partir dos meados do século XVIII é que o ofício de “Tuileur”, que em tradução livre significa Cobridor, seria adotado.

Dentre outros, não há como negar o empenho da primeira Grande Loja londrina em estruturar os cargos das suas Lojas. Conforme mencionam alguns autores, desde de 1727 ela adotou para o Venerável Mestre e os Vigilantes das suas Lojas joias distintivas para os cargos, cujos quais iam pendentes de fitas brancas. Poucos anos depois, em março de 1731, os aventais decorados e debruados ficavam reservados ao Venerável Mestre e aos Vigilantes. Tempos a seguir, a cor branca dos colares e da seda que ia debruada nos aventais dos Grandes Oficiais passaria a ser de matiz azul.

Sem embargo do que até aqui fora mencionado, constata-se que a estrutura da Maçonaria Inglesa nos primórdios da sua primeira Grande Loja se derivou das estruturas da Maçonaria Escocesa do século XVII.

É inegável que durante transição de toda essa estrutura tenha havido uma série de mudanças, das quais pelo menos duas merecem destaque, mormente por atuarem de modo abrangente no sistema especulativo da Moderna Maçonaria.

Nesse sentido, cabe então destacar:

1º) A presidência da Loja passou a não mais ser creditada apenas a um “Warden” (guardião, vigia, diretor, administrador [manager], principal), mas a um “Master of Lodge” (Mestre da Loja);

2º) O Mestre da Loja passou a ser auxiliado por dois Vigilantes – “três governam a Loja”.

Ressalte-se que essa nova estrutura, composta por um Venerável Mestre e dois Vigilantes, vai se disseminar a tal ponto de ser a única conhecida já na a partir de 1740.

Um novo acontecimento, contudo, acabaria desenhando novos rumos no andamento dessa história na Inglaterra. Em 1751, um outro sistema estrutural, com costumes e tradições próprias e importado por maçons irlandeses iria aparecer. É quando surge então uma nova Grande Loja em oposição à primeira que fora fundada em 1717.

Essa Grande Loja, a de 1751, trazia na sua formação maçons que se auto denominavam “Antigos” porque alegavam possuir uma tradição mais velha do que os da Grande Loja de 1717. Dado a isso eles atribuíam pejorativamente aos membros da primeira Grande Loja o adjetivo de “Modernos”.

A bem da verdade, nessa disputa por antiguidade entre as duas Grandes Lojas rivais existe um paradoxo, pois atribui-se o título de antiga àquela que nasceu depois, e de moderna àquela que nasceu antes.

Há uma explicação para essa contradição. Em linhas gerais esta disputa por antiguidade se dá pela defesa do sistema trazido pela Grande Loja de 1751, e não propriamente pela data de fundação. Nesse contexto então alguns fatores acabariam arrefecendo as escaramuças entre os Modernos e os Antigos ingleses.

Numa abordagem superficial sobre o fato poder-se-ia então citar dois fatores principais nessa altercação:

O primeiro é o que se deu pelas alterações produzidas pelos “Modernos” na forma de trabalho. Dentre outros, os “Modernos” simplificaram a liturgia maçônica, inverteram a tradicional posição das Colunas B e J para J e B, omitiram orações, promoveram a descristianização dos catecismos, etc.

O segundo pode-se dizer que foi pela aristocratização, até certo ponto imposta à Moderna Maçonaria inglesa, principalmente pela sua estreita relação com a Royal Society e, por extensão, com a coroa britânica.

Também em relação ao primeiro fator, muitas adulterações se devem às obras espúrias que, mediante boa recompensa financeira, revelavam nos jornais londrinos da época as formas de trabalho e outras particularidades da ritualística maçônica. Devido a isso os Modernos acabaram promovendo substanciais mudanças na liturgia com o intuito de confundir os bisbilhoteiros que constantemente espiavam para revelar “segredos” nos semanários londrinos – destaque-se, por exemplo, a exposure de 1730 escrita por Samuel Prichard e publicada na Inglaterra sob o título de Masonry Dissected. Essa obra trazia revelações atinentes aos trabalhos maçônicos.

Ainda referente ao primeiro fator, nota-se que a primeira Constituição, a de 1723, trazia um teísmo abrandado, isto é, com feições deístas ajustadas às conveniências daquela época – isso apesar de James Anderson ter sido um pastor protestante.

Com isso muitas orações que ocorriam durante os trabalhos maçônicos acabaram sendo omitidas, o que resultou numa espécie de descristianização dos catecismos maçônicos, inclusive com a supressão de muitas festas patronais.

Pertinente ainda ao segundo fator, notadamente a primeira Grande Loja já se preparava para num breve futuro atuar ligada à coroa inglesa. A sua estreita relação com os membros da Royal Society dá uma ideia essa intenção.

Paga a pena mencionar que essa logística de conjuntura estrutural não agradava a totalidade dos maçons ingleses, sobretudo os irlandeses que, de berço mais humilde, não se sentiam à vontade com a aristocratização da Grande Loja.

É certo que esses dois fatores contribuíram substancialmente para o aparecimento em 1751 de outra Grande Loja então fundada pelo irlandês Lawrence Dermott. Os membros dessa Grande Loja se autodenominavam de “Antigos” por alegarem ser os guardiões dos “velhos costumes”.

Com severas críticas àqueles que alteraram a forma tradicional de trabalho, os autodenominados “Antigos”, de modo pejorativo, então taxavam os integrantes da primeira Grande Loja de “Modernos”.

O aparecimento dessa Grande Loja rival na Inglaterra logo daria início a uma longa rivalidade entre os “Modernos” e os “Antigos”, rivalidade essa que duraria até novembro de 1813 quando as duas Grandes Lojas adversárias, através do Ato de União, iriam se unir e criar a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Registre-se que a aproximação, reconciliação e união das duas Grandes Lojas inglesas é uma história a parte que merece ser cuidadosamente perscrutada.

Estabelecida a Grande Loja dos “Antigos”, em 1772, procurando demonstrar a sua rivalidade para com a primeira Grande Loja, ela elaborou uma lista de pontos que estavam em desacordo com os “Modernos”, dos quais alguns, como se verá a seguir, mostram-se relevantes na evolução dos cargos em Loja desde os tempos de rivalidade até o Ato de União de novembro de 1813.

Venerável Mestre – Em relação a esse cargo, os irlandeses da Grande Loja dos Antigos desaprovavam com veemência o fato de que os “Modernos” ignoravam a prática de instalação do Venerável na cadeira da Loja, principalmente porque os Antigos tinham nessa cerimônia um meio de acesso ao Arco Real, uma espécie de extensão do mestrado considerada como tradição para os irlandeses. Sobre isso, alguns autores até mesmo afirmam que os “Antigos” o consideravam como um grau relacionado à cúpula da Maçonaria.

Considerações à parte, e segundo respeitáveis tratadistas, o Arco Real foi inserido nas práticas dos “Antigos” por Lawrence Dermott com o fito de chamar atenção e cooptar obreiros para a sua Grande Loja que rivalizava com a dos Modernos.

Sob esse artifício, Dermott adaptou uma lenda que, em linhas gerais, trazia na sua narrativa o conto sobre uma abóbada que fora encontrada intacta sob as ruínas do Templo de Jerusalém, etc., etc. Isso sem dúvida causou uma ótima impressão nos maçons da época que acorreram para ingressar e engrossar as fileiras da Grande Loja dos Antigos.

Em um aparte sobre esse fato, note-se que a curiosidade e procura de novidades não é apenas um atributo dos latinos.

Sobre a instalação do Venerável Mestre na cadeira da Loja, até 1760 não é encontrado nenhum vestígio dessa cerimônia secreta em solo inglês, contudo não há dúvida que ela, estruturada como extensão de grau, já era admitida entre os autodenominados “Antigos”. Assim, pelo interesse que ela despertava na comunidade maçônica, a mesma não tardaria a se impor também entre os “Modernos”. Infelizmente ainda existem maçons na atualidade que “acham” que o Mestre Instalado é um grau maçônico – confundem, grau com cargo e título distintivo.

Diáconos – Outro ponto conflitante entre as duas Grandes Lojas era o de que os “Modernos” ignoravam a existência dos Diáconos.

Ressalte-se que os cargos de 1º e 2º Diáconos não são os do Diácono que aparecia em certas ocasiões nas corporações de pedreiros escocesas do século XVII. Como aqui já abordado, em algumas corporações de construtores da Idade Média o Diácono era o líder do canteiro e não um mensageiro ou mesmo um guia.

A bem da verdade, na Inglaterra os 1º e 2º Diáconos não são mencionados na primeira constituição dos “Modernos” (1723). Como guias e mensageiros eles devem o seu aparecimento na Inglaterra à Maçonaria Irlandesa, cuja qual, que desde 1733 já trazia esses cargos nas suas Lojas. Fala-se na presença dos Diáconos numa procissão maçônica trazendo às mãos uma vara, ou bastão. Em 1753, entre os “Antigos”, eles aparecem como oficiais inferiores da Loja, hierarquicamente logo abaixo dos Vigilantes.

Embora no princípio desconhecidos dos “Modernos”, pouco a pouco, os Diáconos irão se estabelecer nas suas Lojas, de tal modo que mesmo antes da união das duas Grandes Lojas rivais eles já são encontrados nas Lojas por volta de 1810, trazendo cada qual um bastão negro com uma joia prateada no topo. Certamente As Três Batidas Distintas na Porta da Antiga Maçonaria, revelação atribuída aos “Antigos” que apareceu por volta de 1760, também colaborou para a fixação dos Diáconos entre as Lojas dos “Modernos”.

Cobridor Externo. Dentre os primeiros cargos que constituíram as Lojas maçônicas especulativas do século XVIII, encontra-se o cargo do Tyler, ou o Telhador, que ficaria também conhecido por Guarda Externo.

Na Moderna Maçonaria, nascida em 24 junho de 1717 com a fundação da Premier Grand Lodge, o cargo de Telhador (Guarda Externo) nela aparece inicialmente como uma dignidade que posteriormente adaptou-se para ser um guarda nas Lojas, não obstante ele ainda possuísse outras obrigações de ofício, como as de ser o responsável pelo envio pessoal de convocações aos Irmãos e ainda traçar o Quadro da Loja quando da preparação do recinto para os trabalhos maçônicos.

Paulatinamente o cargo de Tyler (Telhador ou Cobridor Externo) foi se fixando nas Lojas inglesas. Em 1813, após a união entre duas Grandes Lojas rivais que resultou no aparecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, aparece, ao lado do Tyler, mais um Cobridor, porém este agora pelo lado interior do recinto e que ficou conhecido como Guarda Interno ou o Inner Guard (guarda do interior).

Desse modo, após a União de 1813 é inegável que boa parcela dos principais cargos da Loja foi emprestada dos “Antigos” e logo adaptada nos trabalhos do Craft. Essa principal estrutura então se fundamenta sobre os cargos de Venerável Mestre ou Mestre da Loja, Vigilantes ou Wardens, Tesoureiro, Secretário, Diáconos (ancestrais mensageiros oficiais de chão) e Cobridores.

Não menos importantes, outros cargos também aparecem nas cerimônias que são demonstradas após 1813, especialmente a partir de 1823 pela Emulation Lodge of Improvement. Incluem-se nos Trabalhos do Craft, ainda os cargos de Diretor de Cerimônias, Capelão, Esmoler, Diretor de Caridades, Organista e alguns assistentes de cargos quando necessários.

Moderna Maçonaria Francesa - No que diz respeito aos cargos em Loja na vertente francesa de maçonaria, compete de antemão esclarecer que a sua Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, floresceu em meados do século XVIII.

Sua estrutura de cargos foi em grande parte baseada na maçonaria inglesa, sobretudo os cargos de Venerável Mestre, Vigilantes, Cobridores, Tesoureiro, Secretário e Diáconos, não obstante possa existir de acordo com o rito substanciais diferenças na execução dos seus trabalhos ritualísticos. Nesse sentido poder-se-ia citar, por exemplo, o REAA (rito de origem francesa) onde os Diáconos, diferente do costume inglês, atuam exclusivamente como mensageiros e não portam bastão ou varas (canas).

Visando facilitar a compreensão desse tema, vale a pena antes expor um breve relato sobre a história da Maçonaria Francesa em meados do século XVIII.

Nessa época havia em solo francês dois ramos de maçonaria a saber: um “stuartista”, alusivo ao escocesismo (movimento político que nascera no norte da França para a retomada do trono inglês), livre e que não se sujeitava a nenhuma obediência, e o outro, dependente da Primeira Grande Loja inglesa conhecida como os “Modernos” de 1717.

Ressalte-se que à época a França desconhecia por completo a prática dos autodenominados “Antigos” ingleses de 1751. Desse modo, se consolidava em solo francês a divisão entre as Lojas derivadas do “stuartismo” (com maior número) e as submissas aos ingleses da Premier Grand Lodge, essa com número substancialmente inferior.

Com o avanço das Lojas “stuartistas” que aumentavam progressivamente em número - provavelmente frenesi causado pelos altos graus - pleiteou-se em 1735 da necessidade de se eleger um Grão-Mestre para toda a Maçonaria Francesa.

Assim em 24 de junho de 1738, dia de São João Batista, numa assembleia geral é conferido ao Duque D’Antain o título de “Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons do Reino da França”.

Com isso era então plantado o germe de uma Grande Loja em solo francês que seria denominada Grande Loja da França. Destaque-se que essa Grande Loja somente viria aparecer oficialmente vinte e sete anos depois, em 1765.

Comentários a parte, esse acontecimento libertava definitivamente a Maçonaria Francesa dos grilhões da Maçonaria Inglesa, o que obviamente descontentou sobremaneira o egocentrismo inglês que, já naquela época, se auto intitulava o “Vaticano da Maçonaria” – vide o registro desse descontentamento inglês em anotação da segunda Constituição de Anderson, a de 1738.

Com a morte do Duque D’Antain em 1743, assume o grão-mestrado na França o Conde de Clermont – Louis de Bourbon Condé.

A gestão do sucessor D’Antain caracterizou-se pelo desinteresse pela Ordem, razão pela qual Clermont acabou nomeando prepostos para o seu lugar. Com cada preposto exercendo a totalidade do seu poder, sobretudo pelas as oposições que entre si provocavam, o resultado foi o do fraccionamento da Grande Loja.

Desafortunadamente essa atitude trouxe graves consequências para a Maçonaria Francesa, a tal ponto de ter vários dos seus maçons expulsos e ainda ter as suas reuniões proibidas pela autoridade real até 1771.

Com a morte do Conde de Clermont em 1771, e com o aval do Duque de Luxemburgo, assume o grão-mestrado francês o Duque de Chartres, que era primo do Rei da França.

Chartres, tal como Clermont, também não se interessava muito pelas coisas da Ordem, contudo, ao contrário de nomear prepostos, deixou a administração da Grande Loja para Duque de Luxemburgo. Na verdade, a intenção era a de reintegrar muitos dos maçons expulsos pela crise anteriormente deflagrada, bem como aproveitar o prestígio do Duque de Chartres, por ser primo do rei, para reerguer a então combalida Maçonaria Francesa.

Dessa forma, em agosto de 1771 inicia-se uma reforma administrativa na Maçonaria Francesa. Para tal é criada uma comissão composta por maçons reintegrados às fileiras da Ordem e por membros do Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente (escocesismo). O objetivo dessa comissão era promover uma extensa reforma administrativa elaborando estatutos e reorganizando os altos graus que surgiam de maneira descontrolada em solo francês. Desse modo, em 24 de dezembro daquele ano, em assembleia administrativa era declarada extinta a Grande Loja da França.

No ano seguinte, em 1772, essa mesma comissão criava uma nova Obediência que seria nominada por Grande Loja Nacional da França, contudo, em 22 de outubro daquele mesmo ano, a Grande Loja se reúne em assembleia geral e adota o nome de Grande Oriente da França.

Objeto dessa reforma, o Grande Oriente da França traz consigo uma grande inovação administrativa introduzindo na França a chamada “democracia maçônica”, baseada num Poder Central assessorado por um grupo de deputados de todas as suas Lojas. A partir daí essa tem sido uma característica de todos os Grandes Orientes espalhados pelos países.

E assim segue a história da Maçonaria Francesa onde o Grande Oriente da França, no trajeto da sua existência, passará ainda por muitos acontecimentos relevantes, a exemplo do da Revolução Francesa no ano de 1789 onde atuaram maçons nos dois lados da contenda. Também não há como esquecer o ano de 1877 quando o Grande Oriente se coloca em contraposição ao teísmo em respeito à liberdade de consciência dos homens.

Assim conclui-se esse breve relato histórico pertinente à Maçonaria Francesa no século XVIII e início do XIX.

Ritos Franceses - É nesse contexto histórico da Maçonaria Francesa que no século XVIII e início do XIX aparecem e se consolidam os seus principais ritos.

Dos seus primórdios pode-se citar: o Rito Francês, ou Moderno - criado em 1761, constituído em dezembro de 1772 e proclamado pelo Grande Oriente da França em 09 de março de 1773; o Rito Adonhiramita – surgido com a publicação na França, em 1744 da primeira edição, e logo a seguir a segunda edição em 1747 do Catecismo dos Franco-Maçons, ou O Segredo dos Franco-Maçons; o REAA, cujo primeiro ritual simbólico somente apareceria em 1804 e posteriormente publicado em 1821 no Guia dos Maçons Escoceses.

Cada rito que se consolidava na França trazia, além das características maçônicas universais, também as suas próprias particularidades litúrgicas, ritualísticas e de distribuição de cargos. Em síntese, cada qual trazendo o seu próprio ritual e o seu particular modus operandi de trabalho.

Embora a existência dessas diferenças, todos os ritos sempre trabalham em prol de um mesmo objetivo – o do aprimoramento humano.

Cabe salientar que não só entre as duas principais vertentes maçônicas, mas também entre ritos da mesma origem, alguns cargos podem existir, enquanto em outros não.

No que diz respeito aos cargos universais, isto é, os comuns em qualquer vertente, trabalho ou rito, encontramos o de Venerável Mestre (ou Mestre da Loja), Vigilantes (ou Wardens), Diáconos (em alguns casos), Cobridores, Secretário e Tesoureiro.

Além desses cargos, tidos como universais, os ritos de origem francesa também trazem os de Orador (fiscal da lei), Mestre de Cerimônias (exerce atividade diferente da do Diretor de Cerimônias inglês), Expertos, Chanceler, Hospitaleiro e, dependendo do rito, ainda outros como o de Mestre de Harmonia, Porta-Espada, Bibliotecário, Mestre de Banquetes, Arquiteto, etc. Reitera-se que na Maçonaria Francesa os cargos de Loja só se constituíram nos séculos XVIII e XIX com a profusão dos ritos e o aperfeiçoamento dos seus rituais.

Ainda uma das características dos ritos de origem francesa é a de classificar os seus cargos principais como Luzes da Loja (em número de três), Dignidades da Loja (em número de cinco) e os Oficiais – esses últimos em quantidade conforme o rito.

Nessa classificação, o Venerável Mestre e os dois Vigilantes são as três Luzes da Loja. Estas então somadas ao Orador e ao Secretário perfazem as cinco Dignidades. Além das Luzes e Dignidades são necessários pelo menos mais dois Mestres Maçons ocupando cargos para abrir a Loja (três governam a Loja, cinco a compõem e sete a completam). A Moderna Maçonaria exige o mínimo de sete Mestres Maçons para se abrir uma Loja, destacando que dentre eles o Cobridor Interno sempre se faça presente.

Já a vertente inglesa trata o Mestre da Loja (Venerável) e os Wardens (Vigilantes) como Principais Oficiais (3). Ainda o Cobridor Interno e os Diáconos como Oficiais Ajudantes (3), mais o Tyler (Cobridor Externo). Outros cargos se distribuem conforme o working (Secretário, Tesoureiro, Capelão, Esmoler, Mestre de Caridade, Diretor de Cerimônias, Organista). A estrutura de cargos de Loja da Moderna Maçonaria Inglesa se consolidaria após o Ato de União de 1813.

É também um dos apanágios da vertente inglesa possuir uma cerimônia de Instalação para conduzir o Mestre da Loja ao trono. Quando o Mestre da Loja deixa o cargo por ter cumprido o mandato ele é o Imediate Past Master, depois disso é o Past Master.

Indevidamente esse costume - original da Maçonaria Inglesa - acabou parando nos ritos da vertente francesa de algumas Obediências espalhadas pelo mundo. Originalmente, na França não existe cerimônia de Instalação e nem a figura do Mestre Instalado. O Venerável ao deixar o cargo é o Ex-Venerável mais recente e, posteriormente, o Ex-Venerável.

É bem verdade que nos meados do século XX uma Obediência francesa (lá existem três), provavelmente para agradar e receber o reconhecimento inglês, adotou inapropriadamente a Instalação até em ritos que não a possuem. Como consequência, esse enxerto acabou se espalhado por outras Obediências ao redor do Terra. É o caso do Brasil, por exemplo, onde o REAA, que é um rito de origem francesa, recebeu uma indevida cerimônia de Instalação. Mesmo enxertada essa prática acabou se tornando consuetudinária, sendo comum no Brasil se tratar os Ex-Veneráveis como Mestres Instalados.

Por fim, eram esses os comentários a respeito do ancestral aparecimento dos cargos em loja na Moderna Maçonaria. Procurou-se tomar por base a Maçonaria primitiva da Escócia do século XVII, bem como na sequência a Moderna Maçonaria inglesa e francesa.

Em que pese os primeiros registros ritualísticos para dois graus se encontrarem datados de 1696 no Manuscrito dos Registros da Casa de Edimburgo (Edimburg Register Hause), na Escócia, não há dúvida que os ritos maçônicos se construiram proficuamente nos séculos XVIII e XIX para chegarem até os nossos dias com as suas riquíssimas formas de trabalho exaradas pelos rituais autênticos.

Ao concluir sugiro para estudos o roteiro bibliográfico seguinte:

 

DACHEZ, Roger e BAUDIGNON, Thierry. Cargos em Loja da Maçonaria e Dignidades Maçônicas na Grã-Bretanha do Século XVII até os nossos dias. Tradução – José Filardo. Publicado no Blog o Ponto e o Círculo. 2021

CARR, Harry. Seiscentos Anos de Rituais. Conferência. Tradução Paulo Daniel Monteiro.

CARR, Harry. O Ofício do Maçom, Editora Madras, São Paulo.

CASTELLANI, José. A Maçonaria Moderna. A Gazeta Maçônica. SP. 1987

JONES, Bernard E. Freemason’ Guide and Compendium. George G. Harrap & Ltd. London. 1950.

 

 

 

PEDRO JUK – ABRIL/2021