ENSAIO – ORIGEM DOS CARGOS EM LOJA
Pedro Juk
Muito dessa história não possui registro,
pelo menos até a presente data.
Em linhas gerais a maioria dos cargos em
Loja foram criados conforme a vertente maçônica e de acordo com a necessidade
litúrgica do rito (sua cultura, costumes, estrutura doutrinária, etc.).
a Maçonaria Inglesa no século XVIII, seguida da Maçonaria Francesa.
No princípio a Maçonaria de Ofício em
território escocês possuía somente duas classes de trabalhadores, a dos
Aprendizes Admitidos (registrados por aproximadamente sete anos) e a dos Companheiros
do Ofício. Dentre esses últimos eram escolhidos os Mestres da Loja e o Mestre
da Corporação - uma corporação poderia possuir mais do que uma Loja.
No tocante ao título de Mestre, nessa
época ele ainda não era considerado um grau especulativo, tal
como é conhecido atualmente. No período do ofício (Maçonaria Operativa) o Mestre
era apenas o cargo de dirigente, administrador ou mesmo o
proprietário da guilda.
É na Escócia desse período que aparecem os
Wardens, personagens identificados como guardiões, zeladores ou diretores,
podendo ser algumas vezes até o dirigente maior de uma corporação de
construtores.
Somente por volta de 1730 é que o Warden
ficaria genericamente conhecido como Vigilante, no caso, os dois Vigilantes inseridos
como auxiliares do Venerável Mestre. Vale mencionar que que Vigilante, ou Warden,
é um cargo e não um grau iniciático.
Ainda no que se refere à Maçonaria primitiva,
havia também o Deacon (Diácono), mas não aquele relacionado aos antigos
oficiais de chão a exemplo dos mencionados por Harry Carr em seu
Masons At Work, porém o Diácono que era às vezes até mesmo o próprio dirigente
da guilda - na Escócia operativa o termo Diácono possuía o sentido de “enviado”.
Cabe aqui outra observação. O Diácono relativo
à maçonaria primitiva escocesa também não possui nenhuma relação com os
Diáconos irlandeses da Grande Loja dos Antigos que mais tarde, no século XVIII,
seriam extensivamente adotados como guias na ritualística dos ritos e rituais
da Moderna Maçonaria.
Assim, para o nosso comentário é possível se
dizer que tanto o Warden como o Deacon eram cargos já existentes na
maçonaria primitiva na Escócia.
Também não há como negar que esse primitivo
sistema de cargos do século XVII iria mais tarde influenciar a Maçonaria Inglesa,
nomeadamente nas guildas londrinas como a da Companhia dos Maçons de
Londres.
Cabe registrar que já nessa época primitiva
também se faziam presentes nas Lojas um secretário-tesoureiro, ou mesmo um
secretário e um tesoureiro que atuavam como importantes funcionários na vida administrativa
da Loja. Os ocupantes desses cargos eram homens que não exerciam o ofício de
pedreiro, isto é, não eram profissionais da cantaria e nem assentadores e
ajustadores.
No século XVIII, com o aparecimento da
Primeira Grande Loja londrina no ano de 1717, era inaugurado o sistema obediencial,
marco da Moderna Maçonaria. Mais precisamente na sua primeira Constituição,
datada de 1723, e conhecida como a Constituição de Anderson, dela o seu Título
IV, aparecem nominados, Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes, contudo
vale repetir que o Mestre ali mencionado ainda não era o grau especulativo de Mestre
Maçom, mas o do cargo de Mestre da Loja, ou Worschipful Master
(Venerável Mestre). Registre-se que o grau de Mestre Maçom somente seria citado
oficialmente na segunda Constituição que fora publicada no ano 1738.
É nesse período o aparecimento de dois
Vigilantes (Wardens) distribuídos na Loja, agora sendo o 1º Vigilante,
ou o Senior Warden e o 2º Vigilante, ou Junior Warden.
Com isso, de certo modo era constituída
uma ordem hierárquica entre o grau de Aprendiz e o de Companheiro,
sendo que esse último ainda era qualificação indispensável para se assumir o
cargo de Vigilante e posteriormente o de Mestre da Loja. Aprendizes e Companheiros
como graus, Vigilantes e Mestre da Loja como cargos.
Vale mencionar que o termo Vigilante como
sinônimo de Warden acabaria consagrado na Moderna Maçonaria.
Ainda em relação aos cargos, há que se
separar aqueles relacionados às Lojas e aqueles relativos à Grande Loja. Essa
última trazia no artigo 17 do seu Regulamento Geral os cargos de um Grão-Mestre,
um Grão-Mestre Adjunto, dois Grandes Vigilantes, um Tesoureiro e um Secretário.
Assim, é preciso separar os cargos de
uma Loja e os cargos inerentes às autoridades que administram a Grande Loja.
No que diz respeito aos estudos e
pesquisas sobre o tema, cabe lembrar que nos primeiros anos de existência da primeira
Grande Loja londrina, de 1717 a 1723, não existem registros de documentação. Suas
atas somente passam a ser registradas de 1723 em diante, ano da promulgação da primeira
Constituição de Anderson.
Somente em 1738, ano da publicação da
segunda Constituição é que seriam reconstruídas por James Anderson as atas dos
primeiros anos de existência da Grande Loja. Compete lembrar que essa é uma
reconstrução de atas, portanto não são registros originais, podendo sobre eles existir
a possibilidade de contradição. Conforme menciona Anderson nos seus registros reconstruídos,
havia na Grande Loja em 1717 um Grão-Mestre, cujo cargo era ocupado pelo Irmão
Anthony Sayer, esse investido pelos mais antigos Mestres de Loja então presentes.
É mencionada também a existência de dois Grandes Vigilantes.
Com base nesses registros é bastante provável
que a utilização de um Venerável e de dois Vigilantes conduzindo uma Loja seja
costume haurido das quatro Lojas fundadoras da Primeira Grande Loja. Desta maneira,
a constituição administrativa da Loja formada por um Venerável e dois Vigilantes
acabou se conservando em toda a Moderna Maçonaria.
Mas pergunta-se: e o Mestre Maçom
como grau iniciático? Quando ele apareceu? A bem da verdade, a semente desse
grau germinou em Londres no ano de 1725 dentro de um clube profano denominado Philo
Musicae et Architecturae Societas Apollini.
Clube composto apenas por maçons da Grande
Loja, artistas, matemáticos, cientistas, todos membros da Royal Society, foi nele
que o Duque de Richmond, Venerável Mestre da Loja da Taverna Queen’s
Head, na intenção de criar um título diferenciado para o dirigente da Societas
Apollini, esta seria composta só por maçons, acabou plantando a semente do que
em um futuro próximo iria se tornar um grau exclusivamente maçônico – o de
Mestre Maçom.
Charles Cotton e Papilon Bull. Dado a isso é que ambos são considerados como os dois primeiros Mestres Maçons especulativos da história.
Com o sucesso da criação de Richmond,
a sua ideia logo acabaria na Primeira Grande Loja – destaque-se que o Duque
de Richmond era possuidor de grande prestígio, sobretudo por já por ter sido Grão-Mestre.
Assim, logo a Grande Loja aperfeiçoou e adotou o novo sistema como o 3º Grau do
Franco-Maçônico básico universal - Grau de Mestre Maçom.
É bem verdade que não há registros se
os dois primeiros maçons foram feitos Mestres na Loja ou no Clube, mas o que se
sabe é que pelo alto conceito que gozava o Duque de Richmond, na cerimônia
estiveram presentes os dois Grandes Vigilantes da Grande Loja. Se houve ou não irregularidade
não se sabe, mas o fato é que essa performance logo seria adotada pela Primeira
Grande Loja.
Conjugado ao então novo grau, o de
Mestre Maçom, aparece a lenda hirâmica, provavelmente adaptada de uma antiga
lenda noaquita (relativa a Noé) que aparece no Manuscrito Graham datado
de 1726, comum ao antigo e genuíno grau de Companheiro que seria desdobrado para
dar origem ao terceiro grau. A partir daí os C∴ PP∴ PP∴ do Companheirismo passam a pertencer ao grau de Mestre Maçom, agora
denominados como os C∴ PP∴ PP∴ do Mestrado.
Consolidado o grau de Mestre Maçom, consagra-se
então o currículo iniciático de Aprendiz, Companheiro e Mestre nas Lojas pertencentes
Primeira Grande Loja. Os Vigilantes são agora escolhidos dentre os Mestres
Maçons e aquele que desejar se tornar um Venerável Mestre (Mestre da Loja) é
preciso antes ter sido um Vigilante.
Vale lembrar que na Moderna Maçonaria
o termo “Mestre” designa o grau iniciático que encerra a plenitude
maçônica, assim como assinala também o maior cargo administrativo da
Loja – o Mestre da Loja ou o Venerável Mestre (Worshipful Master).
Em relação aos Diáconos, oriundos dos
“antigos oficiais de chão” da Maçonaria de Ofício, na Moderna Maçonaria inglesa
não existe, a respeito deles, nenhuma citação antes de 1740, época em que os
irlandeses começam a se manifestar e influenciar a liturgia maçônica da época.
Na famosa revelação (exposure) de
autoria de Samuel Prichard, datada de 1730, intitulada Masonry Dissected,
por exemplo, é possível se conferir que os Diáconos não tinham ainda ofício de
receber e conduzir candidatos como aconteceria mais tarde no Craft
(Maçonaria Inglesa). Como nos tempos primitivos, o oficio de receber e instruir
candidatos era de obrigação do 2º Vigilante.
Embora com funções diferenciadas dos da
vertente moderna inglesa, no século XVIII o cargo de Diácono logo não tardaria a
aparecer também na vertente francesa de Maçonaria. Cite-se como exemplo nesse
caso o REAA, onde nele os dois Diáconos (1º e 2º) atuam apenas como os antigos oficiais
de chão para relembrar a velha função dos mensageiros que operavam nos primitivos
canteiros de ofício da Idade Média.
Isso explica no REAA o porquê da liturgia
da transmissão da Palavra Sagrada entre as Luzes da Loja e os Diáconos durante
a abertura e encerramento dos trabalhos. Note que ao contrário do Craft,
no escocesismo os Diáconos não atuam como guias e receptores.
Diferente do Warden, ancestral
cargo das lojas primitivas escocesas que facilmente seria implantado na
Inglaterra como Vigilante, o cargo de Diácono, provavelmente por ser estranho às
organizações de ofício inglesas, acabou levando mais tempo para ser recebido e fixado
no Craft. Na verdade, deve-se aos irlandeses da Grande Loja dos Antigos (1751)
a propagação e a fixação do cargo de Diácono na Moderna Maçonaria inglesa.
Em relação ao cargo do Tyler (Telhador
ou Cobridor Externo), foi James Anderson na Constituição de 1723 quem mencionou
um cargo cujo ofício era o de proteger e guardar a porta da Grande Loja.
Ainda não há como se afirmar da
existência do Tyler, ou Cobridor Externo nas Lojas, embora seja provável
ter existido alguém encarregado pela segurança do recinto para preservar o sigilo
dos trabalhos contra os cowans.
Ainda relacionado à proteção da porta,
porém agora pelo seu interior, existe o cargo de Cobridor Interno (Inner
Guard). A seu respeito, acredita-se que, tal como outros cargos, também o
de Cobridor Interno tenha sido adotado por primeiro pela Primeira Grande Loja para
só depois se fixar nas Lojas da sua jurisdição.
Em relação ao cargo de Tyler e
a Maçonaria Francesa, somente a partir dos meados do século XVIII é que o ofício
de “Tuileur”, que em tradução livre significa
Cobridor, seria adotado.
Dentre outros, não há como negar o empenho
da primeira Grande Loja londrina em estruturar os cargos das suas Lojas. Conforme
mencionam alguns autores, desde de 1727 ela adotou para o Venerável Mestre e os
Vigilantes das suas Lojas joias distintivas para os cargos, cujos quais iam pendentes
de fitas brancas. Poucos anos depois, em março de 1731, os aventais decorados e
debruados ficavam reservados ao Venerável Mestre e aos Vigilantes. Tempos a
seguir, a cor branca dos colares e da seda que ia debruada nos aventais dos
Grandes Oficiais passaria a ser de matiz azul.
Sem embargo do que até aqui fora
mencionado, constata-se que a estrutura da Maçonaria Inglesa nos primórdios da sua
primeira Grande Loja se derivou das estruturas da Maçonaria Escocesa do século
XVII.
É inegável que durante
transição de toda essa estrutura tenha havido uma série de mudanças, das quais pelo
menos duas merecem destaque, mormente por atuarem de modo abrangente no sistema
especulativo da Moderna Maçonaria.
Nesse sentido, cabe então destacar:
1º) A presidência da Loja passou
a não mais ser creditada apenas a um “Warden”
(guardião, vigia, diretor, administrador [manager], principal), mas a um
“Master of Lodge” (Mestre
da Loja);
2º) O Mestre da Loja passou
a ser auxiliado por dois Vigilantes – “três governam a Loja”.
Ressalte-se que essa nova
estrutura, composta por um Venerável Mestre e dois Vigilantes, vai se disseminar
a tal ponto de ser a única conhecida já na a partir de 1740.
Um novo acontecimento,
contudo, acabaria desenhando novos rumos no andamento dessa história na
Inglaterra. Em 1751, um outro sistema estrutural, com costumes e tradições próprias
e importado por maçons irlandeses iria aparecer. É quando surge então uma nova
Grande Loja em oposição à primeira que fora fundada em 1717.
Essa Grande Loja, a de 1751,
trazia na sua formação maçons que se auto denominavam “Antigos” porque alegavam
possuir uma tradição mais velha do que os da Grande Loja de 1717. Dado a isso eles
atribuíam pejorativamente aos membros da primeira Grande Loja o adjetivo de
“Modernos”.
A bem da verdade, nessa
disputa por antiguidade entre as duas Grandes Lojas rivais existe um paradoxo, pois
atribui-se o título de antiga àquela que nasceu depois, e de moderna àquela que
nasceu antes.
Há uma explicação para essa
contradição. Em linhas gerais esta disputa por antiguidade se dá pela defesa do
sistema trazido pela Grande Loja de 1751, e não propriamente pela data de fundação.
Nesse contexto então alguns fatores acabariam arrefecendo as escaramuças entre
os Modernos e os Antigos ingleses.
Numa abordagem superficial
sobre o fato poder-se-ia então citar dois fatores principais nessa altercação:
O primeiro é o que se deu
pelas alterações produzidas pelos “Modernos” na forma de trabalho. Dentre
outros, os “Modernos” simplificaram a liturgia maçônica, inverteram a tradicional
posição das Colunas B e J para J e B, omitiram orações, promoveram a descristianização
dos catecismos, etc.
O segundo pode-se dizer que foi
pela aristocratização, até certo ponto imposta à Moderna Maçonaria inglesa, principalmente
pela sua estreita relação com a Royal Society e, por extensão, com a
coroa britânica.
Também em relação ao
primeiro fator, muitas adulterações se devem às obras espúrias que, mediante
boa recompensa financeira, revelavam nos jornais londrinos da época as formas
de trabalho e outras particularidades da ritualística maçônica. Devido a isso
os Modernos acabaram promovendo substanciais mudanças na liturgia com o intuito
de confundir os bisbilhoteiros que constantemente espiavam para revelar “segredos”
nos semanários londrinos – destaque-se, por exemplo, a exposure de 1730 escrita
por Samuel Prichard e publicada na Inglaterra sob o título de Masonry
Dissected. Essa obra trazia revelações atinentes aos trabalhos maçônicos.
Ainda referente ao primeiro
fator, nota-se que a primeira Constituição, a de 1723, trazia um teísmo abrandado,
isto é, com feições deístas ajustadas às conveniências daquela época – isso apesar
de James Anderson ter sido um pastor protestante.
Com isso muitas orações que
ocorriam durante os trabalhos maçônicos acabaram sendo omitidas, o que resultou
numa espécie de descristianização dos catecismos maçônicos, inclusive com a supressão
de muitas festas patronais.
Pertinente ainda ao segundo
fator, notadamente a primeira Grande Loja já se preparava para num breve futuro
atuar ligada à coroa inglesa. A sua estreita relação com os membros da Royal
Society dá uma ideia essa intenção.
Paga a pena mencionar que essa
logística de conjuntura estrutural não agradava a totalidade dos maçons
ingleses, sobretudo os irlandeses que, de berço mais humilde, não se sentiam à vontade
com a aristocratização da Grande Loja.
É certo que esses dois
fatores contribuíram substancialmente para o aparecimento em 1751 de outra
Grande Loja então fundada pelo irlandês Lawrence Dermott. Os membros dessa
Grande Loja se autodenominavam de “Antigos” por alegarem ser os guardiões dos “velhos
costumes”.
Com severas críticas àqueles
que alteraram a forma tradicional de trabalho, os autodenominados “Antigos”, de
modo pejorativo, então taxavam os integrantes da primeira Grande Loja de “Modernos”.
O aparecimento dessa Grande
Loja rival na Inglaterra logo daria início a uma longa rivalidade entre os “Modernos”
e os “Antigos”, rivalidade essa que duraria até novembro de 1813 quando as duas
Grandes Lojas adversárias, através do Ato de União, iriam se unir e criar a
Grande Loja Unida da Inglaterra.
Registre-se que a aproximação,
reconciliação e união das duas Grandes Lojas inglesas é uma história a parte
que merece ser cuidadosamente perscrutada.
Estabelecida a Grande Loja
dos “Antigos”, em 1772, procurando demonstrar a sua rivalidade para com a primeira
Grande Loja, ela elaborou uma lista de pontos que estavam em desacordo com os “Modernos”,
dos quais alguns, como se verá a seguir, mostram-se relevantes na evolução dos
cargos em Loja desde os tempos de rivalidade até o Ato de União de novembro de 1813.
Venerável Mestre – Em relação a esse cargo, os irlandeses da Grande Loja
dos Antigos desaprovavam com veemência o fato de que os “Modernos” ignoravam a
prática de instalação do Venerável na cadeira da Loja, principalmente porque os
Antigos tinham nessa cerimônia um meio de acesso ao Arco Real, uma espécie de extensão
do mestrado considerada como tradição para os irlandeses. Sobre isso, alguns autores
até mesmo afirmam que os “Antigos” o consideravam como um grau relacionado à
cúpula da Maçonaria.
Considerações à parte, e segundo
respeitáveis tratadistas, o Arco Real foi inserido nas práticas dos “Antigos” por
Lawrence Dermott com o fito de chamar atenção e cooptar obreiros para a sua
Grande Loja que rivalizava com a dos Modernos.
Sob esse artifício, Dermott
adaptou uma lenda que, em linhas gerais, trazia na sua narrativa o conto sobre uma
abóbada que fora encontrada intacta sob as ruínas do Templo de Jerusalém, etc.,
etc. Isso sem dúvida causou uma ótima impressão nos maçons da época que acorreram
para ingressar e engrossar as fileiras da Grande Loja dos Antigos.
Em um aparte sobre esse fato,
note-se que a curiosidade e procura de novidades não é apenas um atributo dos latinos.
Sobre a instalação do
Venerável Mestre na cadeira da Loja, até 1760 não é encontrado nenhum vestígio
dessa cerimônia secreta em solo inglês, contudo não há dúvida que ela,
estruturada como extensão de grau, já era admitida entre os autodenominados “Antigos”.
Assim, pelo interesse que ela despertava na comunidade maçônica, a mesma não
tardaria a se impor também entre os “Modernos”. Infelizmente ainda existem
maçons na atualidade que “acham” que o Mestre Instalado é um grau maçônico –
confundem, grau com cargo e título distintivo.
Diáconos – Outro ponto conflitante entre as duas Grandes Lojas era o de
que os “Modernos” ignoravam a existência dos Diáconos.
Ressalte-se que os cargos de
1º e 2º Diáconos não são os do Diácono que aparecia em certas ocasiões nas
corporações de pedreiros escocesas do século XVII. Como aqui já abordado, em algumas
corporações de construtores da Idade Média o Diácono era o líder do canteiro e
não um mensageiro ou mesmo um guia.
A bem da verdade, na Inglaterra
os 1º e 2º Diáconos não são mencionados na primeira constituição dos “Modernos”
(1723). Como guias e mensageiros eles devem o seu aparecimento na Inglaterra à Maçonaria
Irlandesa, cuja qual, que desde 1733 já trazia esses cargos nas suas Lojas. Fala-se
na presença dos Diáconos numa procissão maçônica trazendo às mãos uma vara, ou
bastão. Em 1753, entre os “Antigos”, eles aparecem como oficiais inferiores da
Loja, hierarquicamente logo abaixo dos Vigilantes.
Embora no princípio
desconhecidos dos “Modernos”, pouco a pouco, os Diáconos irão se estabelecer
nas suas Lojas, de tal modo que mesmo antes da união das duas Grandes Lojas
rivais eles já são encontrados nas Lojas por volta de 1810, trazendo cada qual
um bastão negro com uma joia prateada no topo. Certamente As Três Batidas
Distintas na Porta da Antiga Maçonaria, revelação atribuída aos “Antigos” que
apareceu por volta de 1760, também colaborou para a fixação dos Diáconos entre as
Lojas dos “Modernos”.
Cobridor Externo. Dentre os primeiros cargos que constituíram as Lojas maçônicas
especulativas do século XVIII, encontra-se o cargo do Tyler, ou o Telhador,
que ficaria também conhecido por Guarda Externo.
Na Moderna Maçonaria, nascida
em 24 junho de 1717 com a fundação da Premier Grand Lodge, o cargo
de Telhador (Guarda Externo) nela aparece inicialmente como uma dignidade que posteriormente
adaptou-se para ser um guarda nas Lojas, não obstante ele ainda possuísse outras
obrigações de ofício, como as de ser o responsável pelo envio pessoal de convocações
aos Irmãos e ainda traçar o Quadro da Loja quando da preparação do recinto para
os trabalhos maçônicos.
Paulatinamente o cargo de Tyler
(Telhador ou Cobridor Externo) foi se fixando nas Lojas inglesas. Em 1813, após
a união entre duas Grandes Lojas rivais que resultou no aparecimento da Grande
Loja Unida da Inglaterra, aparece, ao lado do Tyler, mais um Cobridor,
porém este agora pelo lado interior do recinto e que ficou conhecido como Guarda
Interno ou o Inner Guard (guarda do interior).
Desse modo, após a União de
1813 é inegável que boa parcela dos principais cargos da Loja foi emprestada
dos “Antigos” e logo adaptada nos trabalhos do Craft. Essa principal estrutura
então se fundamenta sobre os cargos de Venerável Mestre ou Mestre da Loja,
Vigilantes ou Wardens, Tesoureiro, Secretário, Diáconos (ancestrais mensageiros
oficiais de chão) e Cobridores.
Não menos importantes, outros
cargos também aparecem nas cerimônias que são demonstradas após 1813, especialmente
a partir de 1823 pela Emulation Lodge of Improvement. Incluem-se nos Trabalhos
do Craft, ainda os cargos de Diretor de Cerimônias, Capelão, Esmoler, Diretor
de Caridades, Organista e alguns assistentes de cargos quando necessários.
Moderna
Maçonaria Francesa - No que diz respeito aos cargos
em Loja na vertente francesa de maçonaria, compete de antemão esclarecer que a sua
Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, floresceu em meados do século XVIII.
Sua estrutura de cargos foi
em grande parte baseada na maçonaria inglesa, sobretudo os cargos de Venerável
Mestre, Vigilantes, Cobridores, Tesoureiro, Secretário e Diáconos, não obstante
possa existir de acordo com o rito substanciais diferenças na execução dos seus
trabalhos ritualísticos. Nesse sentido poder-se-ia citar, por exemplo, o REAA
(rito de origem francesa) onde os Diáconos, diferente do costume inglês, atuam exclusivamente
como mensageiros e não portam bastão ou varas (canas).
Visando facilitar a
compreensão desse tema, vale a pena antes expor um breve relato sobre a história
da Maçonaria Francesa em meados do século XVIII.
Nessa época havia em solo
francês dois ramos de maçonaria a saber: um “stuartista”, alusivo ao
escocesismo (movimento político que nascera no norte da França para a retomada
do trono inglês), livre e que não se sujeitava a nenhuma obediência, e o outro,
dependente da Primeira Grande Loja inglesa conhecida como os “Modernos” de 1717.
Ressalte-se que à época a
França desconhecia por completo a prática dos autodenominados “Antigos”
ingleses de 1751. Desse modo, se consolidava em solo francês a divisão entre as
Lojas derivadas do “stuartismo” (com maior número) e as submissas aos ingleses da
Premier Grand Lodge, essa com número substancialmente inferior.
Com o avanço das Lojas “stuartistas”
que aumentavam progressivamente em número - provavelmente frenesi causado
pelos altos graus - pleiteou-se em 1735 da necessidade de se eleger um
Grão-Mestre para toda a Maçonaria Francesa.
Assim em 24 de junho de 1738,
dia de São João Batista, numa assembleia geral é conferido ao Duque D’Antain o
título de “Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons do Reino da França”.
Com isso era então plantado
o germe de uma Grande Loja em solo francês que seria denominada Grande Loja da
França. Destaque-se que essa Grande Loja somente viria aparecer oficialmente vinte
e sete anos depois, em 1765.
Comentários a parte, esse acontecimento
libertava definitivamente a Maçonaria Francesa dos grilhões da Maçonaria
Inglesa, o que obviamente descontentou sobremaneira o egocentrismo inglês que,
já naquela época, se auto intitulava o “Vaticano da Maçonaria” – vide o registro
desse descontentamento inglês em anotação da segunda Constituição de Anderson,
a de 1738.
Com a morte do Duque D’Antain
em 1743, assume o grão-mestrado na França o Conde de Clermont – Louis de Bourbon
Condé.
A gestão do sucessor D’Antain
caracterizou-se pelo desinteresse pela Ordem, razão pela qual Clermont acabou
nomeando prepostos para o seu lugar. Com cada preposto exercendo a totalidade
do seu poder, sobretudo pelas as oposições que entre si provocavam, o resultado
foi o do fraccionamento da Grande Loja.
Desafortunadamente essa atitude
trouxe graves consequências para a Maçonaria Francesa, a tal ponto de ter
vários dos seus maçons expulsos e ainda ter as suas reuniões proibidas pela
autoridade real até 1771.
Com a morte do Conde de
Clermont em 1771, e com o aval do Duque de Luxemburgo, assume o grão-mestrado francês
o Duque de Chartres, que era primo do Rei da França.
Chartres, tal como Clermont,
também não se interessava muito pelas coisas da Ordem, contudo, ao contrário de
nomear prepostos, deixou a administração da Grande Loja para Duque de Luxemburgo.
Na verdade, a intenção era a de reintegrar muitos dos maçons expulsos pela
crise anteriormente deflagrada, bem como aproveitar o prestígio do Duque de
Chartres, por ser primo do rei, para reerguer a então combalida Maçonaria
Francesa.
Dessa forma, em agosto de
1771 inicia-se uma reforma administrativa na Maçonaria Francesa. Para tal é
criada uma comissão composta por maçons reintegrados às fileiras da Ordem e por
membros do Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente (escocesismo). O
objetivo dessa comissão era promover uma extensa reforma administrativa elaborando
estatutos e reorganizando os altos graus que surgiam de maneira descontrolada
em solo francês. Desse modo, em 24 de dezembro daquele ano, em assembleia administrativa
era declarada extinta a Grande Loja da França.
No ano seguinte, em 1772,
essa mesma comissão criava uma nova Obediência que seria nominada por Grande Loja
Nacional da França, contudo, em 22 de outubro daquele mesmo ano, a Grande Loja
se reúne em assembleia geral e adota o nome de Grande Oriente da França.
Objeto dessa reforma, o
Grande Oriente da França traz consigo uma grande inovação administrativa
introduzindo na França a chamada “democracia maçônica”, baseada num Poder
Central assessorado por um grupo de deputados de todas as suas Lojas. A partir
daí essa tem sido uma característica de todos os Grandes Orientes espalhados pelos
países.
E assim segue a história da
Maçonaria Francesa onde o Grande Oriente da França, no trajeto da sua
existência, passará ainda por muitos acontecimentos relevantes, a exemplo do da
Revolução Francesa no ano de 1789 onde atuaram maçons nos dois lados da contenda.
Também não há como esquecer o ano de 1877 quando o Grande Oriente se coloca em
contraposição ao teísmo em respeito à liberdade de consciência dos homens.
Assim conclui-se esse breve
relato histórico pertinente à Maçonaria Francesa no século XVIII e início do
XIX.
Ritos Franceses - É nesse contexto histórico da Maçonaria Francesa que no século
XVIII e início do XIX aparecem e se consolidam os seus principais ritos.
Dos seus primórdios pode-se
citar: o Rito Francês, ou Moderno - criado em 1761, constituído em dezembro de
1772 e proclamado pelo Grande Oriente da França em 09 de março de 1773; o Rito Adonhiramita
– surgido com a publicação na França, em 1744 da primeira edição, e logo a
seguir a segunda edição em 1747 do Catecismo dos Franco-Maçons, ou O Segredo
dos Franco-Maçons; o REAA, cujo primeiro ritual simbólico somente apareceria em
1804 e posteriormente publicado em 1821 no Guia dos Maçons Escoceses.
Cada rito que se consolidava
na França trazia, além das características maçônicas universais, também as suas
próprias particularidades litúrgicas, ritualísticas e de distribuição de cargos.
Em síntese, cada qual trazendo o seu próprio ritual e o seu particular modus
operandi de trabalho.
Embora a existência dessas diferenças,
todos os ritos sempre trabalham em prol de um mesmo objetivo – o do aprimoramento
humano.
Cabe salientar que não só
entre as duas principais vertentes maçônicas, mas também entre ritos da mesma
origem, alguns cargos podem existir, enquanto em outros não.
No que diz respeito aos
cargos universais, isto é, os comuns em qualquer vertente, trabalho ou rito, encontramos
o de Venerável Mestre (ou Mestre da Loja), Vigilantes (ou Wardens), Diáconos
(em alguns casos), Cobridores, Secretário e Tesoureiro.
Além desses cargos, tidos como
universais, os ritos de origem francesa também trazem os de Orador (fiscal da
lei), Mestre de Cerimônias (exerce atividade diferente da do Diretor de Cerimônias
inglês), Expertos, Chanceler, Hospitaleiro e, dependendo do rito, ainda outros como
o de Mestre de Harmonia, Porta-Espada, Bibliotecário, Mestre de Banquetes,
Arquiteto, etc. Reitera-se que na Maçonaria Francesa os cargos de Loja só se
constituíram nos séculos XVIII e XIX com a profusão dos ritos e o
aperfeiçoamento dos seus rituais.
Ainda uma das
características dos ritos de origem francesa é a de classificar os seus cargos principais
como Luzes da Loja (em número de três), Dignidades da Loja (em número de cinco)
e os Oficiais – esses últimos em quantidade conforme o rito.
Nessa classificação, o
Venerável Mestre e os dois Vigilantes são as três Luzes da Loja. Estas então somadas
ao Orador e ao Secretário perfazem as cinco Dignidades. Além das Luzes e
Dignidades são necessários pelo menos mais dois Mestres Maçons ocupando cargos
para abrir a Loja (três governam a Loja, cinco a compõem e sete a completam). A
Moderna Maçonaria exige o mínimo de sete Mestres Maçons para se abrir uma Loja,
destacando que dentre eles o Cobridor Interno sempre se faça presente.
Já a vertente inglesa trata
o Mestre da Loja (Venerável) e os Wardens (Vigilantes) como Principais Oficiais
(3). Ainda o Cobridor Interno e os Diáconos como Oficiais Ajudantes (3), mais o
Tyler (Cobridor Externo). Outros cargos se distribuem conforme o working
(Secretário, Tesoureiro, Capelão, Esmoler, Mestre de Caridade, Diretor de Cerimônias,
Organista). A estrutura de cargos de Loja da Moderna Maçonaria Inglesa se consolidaria
após o Ato de União de 1813.
É também um dos apanágios da
vertente inglesa possuir uma cerimônia de Instalação para conduzir o Mestre da
Loja ao trono. Quando o Mestre da Loja deixa o cargo por ter cumprido o mandato
ele é o Imediate Past Master, depois disso é o Past Master.
Indevidamente esse costume -
original da Maçonaria Inglesa - acabou parando nos ritos da vertente francesa de
algumas Obediências espalhadas pelo mundo. Originalmente, na França não existe cerimônia
de Instalação e nem a figura do Mestre Instalado. O Venerável ao deixar o cargo
é o Ex-Venerável mais recente e, posteriormente, o Ex-Venerável.
É bem verdade que nos meados
do século XX uma Obediência francesa (lá existem três), provavelmente para
agradar e receber o reconhecimento inglês, adotou inapropriadamente a Instalação
até em ritos que não a possuem. Como consequência, esse enxerto acabou se espalhado
por outras Obediências ao redor do Terra. É o caso do Brasil, por exemplo, onde
o REAA, que é um rito de origem francesa, recebeu uma indevida cerimônia de
Instalação. Mesmo enxertada essa prática acabou se tornando consuetudinária,
sendo comum no Brasil se tratar os Ex-Veneráveis como Mestres Instalados.
Por fim, eram esses os comentários
a respeito do ancestral aparecimento dos cargos em loja na Moderna Maçonaria. Procurou-se
tomar por base a Maçonaria primitiva da Escócia do século XVII, bem como na sequência
a Moderna Maçonaria inglesa e francesa.
Em que pese os primeiros
registros ritualísticos para dois graus se encontrarem datados de 1696 no
Manuscrito dos Registros da Casa de Edimburgo (Edimburg Register Hause),
na Escócia, não há dúvida que os ritos maçônicos se construiram proficuamente
nos séculos XVIII e XIX para chegarem até os nossos dias com as suas riquíssimas
formas de trabalho exaradas pelos rituais autênticos.
Ao concluir sugiro para
estudos o roteiro bibliográfico seguinte:
DACHEZ, Roger e BAUDIGNON, Thierry. Cargos em Loja da Maçonaria e
Dignidades Maçônicas na Grã-Bretanha do Século XVII até os nossos dias.
Tradução – José Filardo. Publicado no Blog o Ponto e o Círculo. 2021
CARR, Harry. Seiscentos Anos de Rituais. Conferência. Tradução Paulo
Daniel Monteiro.
CARR, Harry. O Ofício do Maçom, Editora Madras, São Paulo.
CASTELLANI, José. A Maçonaria Moderna. A Gazeta Maçônica. SP. 1987
JONES, Bernard E. Freemason’ Guide and Compendium. George G. Harrap
& Ltd. London. 1950.
PEDRO JUK
– ABRIL/2021
Muito bom e esclarecedor meu irmão.
ResponderExcluirParabéns pelo site.
Agradecido pela sua visita meu Irmão. T.F.A.
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