Em
02/09/2020 o Respeitável Irmão Hamilton Santos, Loja Pedro Marques, 201, Rito Brasileiro,
GLMERJ, Oriente de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, solicita esclarecimentos
para o que segue:
NÚMERO, IDADE E MARCHA
Prezado Irmão Pedro Juk, fraternais saudações. Antes de tudo, parabenizá-lo pelo excelente trabalho que vem executando desde que assumiu essa nobre tarefa de espalhar a luz sobre nossos caminhos, através do "consultório" criado, e agora nomeado em honra do Irmão Castellani. Feito esse registro, preciso de sua ajuda e eu explico: Outro dia numa das nossas reuniões virtuais, surgiu uma questão, no mínimo interessante, qual seja, o fato de nos Grau
s 1 e 2 existirem um número associado, a marcha tem esse número de passos, assim como a idade esse número de anos. Até aí tudo bem. Entretanto no grau 3 essas coincidências desaparecem, ou seja, um número associado (?), o número de passos da marcha é outro e a idade é indefinida. Nessa reunião (de mestres), gastamos mais de hora e meia com inúmeras teorias a respeito de cada um dos itens (idade, marcha, número) e não chegamos a lugar algum. Ficamos, cada um, tentar achar o "fio de Ariadne" e encontrar a saída. De minha parte, tomei a liberdade de procurar alguém que possa, pelo menos, mostrar o caminho. E desde já agradecemos a ajuda é pedimos ao GADU que lhe proteja e guarde.
CONSIDERAÇÕES.
Antes é bom que se diga que o nosso Rito Brasileiro foi em grande parte decalcado
no Rito Escocês Antigo e Aceito por aqui praticado, portando é bastante natural
que algumas explicações tenham relação com a liturgia e ritualística do escocesismo.
Quando surgiu o primeiro ritual para o simbolismo do REAA na França em
1804 através da Grande Loja Geral Escocesa criada em 22 de outubro pelo II
Supremo Conselho (o primeiro foi nos EE. UU.) para organizar um ritual para os
três primeiros graus já que quando o REAA retornou à França oriundo dos Estados
Unidos da América, este, para ser praticado na Europa, ainda não possuía ritual
para o franco-básico universal, isto é, para os graus de Aprendiz, Companheiro
e Mestre. Na América do Norte o REAA de então se servia para tal dos rituais
das Lojas Azuis norte-americanas, destacando que o Supremo Conselho Mãe do
Mundo, fundado em Charleston, na Carolina do Sul em maio de 1801 trazia apenas
os ditos Altos Graus, isto é, do 4º ao 33º, ficando a prática do simbolismo legada
ao empréstimo de outro rito como comentado.
Pois bem, esse primeiro ritual, criado em 1804, no tocante à prática da marcha,
ou os passos do grau, trazia ritualisticamente oito passos normais, sem que houvesse
ainda a divisão dos três graus. Assim, os passos eram executados tão somente
numa série única, ou seja, davam-se os oito passos na forma de costume. É daí então
que se originou o ato litúrgico de se andar em linha reta e para a frente em
trajeto compreendido por oito passos em se junt∴ a cada p∴ pelos cc∴ os pp∴ em esq∴. Mais tarde com o aperfeiçoamento dos rituais escoceses, a marcha seria
dividida por graus iniciáticos conforme conhecemos atualmente. Os oito passos
significavam algo mais além de sete.
Aspectos históricos da Marcha do Grau – como na Maçonaria primitiva
(operativa dos séculos XII ao XVI principalmente) não existiam graus, mas apenas
duas classes de operários, a do Aprendiz Admitido e a do Companheiro do Ofício,
alguns ritos especulativos que iriam florescer a partir do século XVIII, adotariam
na sua liturgia uma idade simbólica para o iniciado (tempo de aperfeiçoamento) em
número correspondente à quantidade de passos dados ritualisticamente nas marchas
do 1º e do 2º Grau. Vale mencionar que na Maçonaria de Ofício (primitiva) não
existia ainda o grau especulativo de Mestre, já que na época do ofício o
canteiro de obras era dirigido por um Companheiro do Ofício experimentado, cujo
cargo era conhecido por Mestre da Obra. Geralmente ele era o dono da corporação
de canteiros que construía principalmente para o clero daquele período.
É no século XVIII, com o advento da Moderna Maçonaria que o grau de
Mestre Maçom especulativo (de viés iniciático) viria aparecer em 1725 na
Inglaterra, porém só se consolidando oficialmente em 1738 por ocasião da segunda
constituição inglesa. Desse modo, no escocesismo, seguindo o aperfeiçoamento e
a evolução dos seus rituais, paulatinamente houve a divisão dos oito pp∴ iniciais da macha, de tal modo à
servir aos três graus iniciáticos, sendo, um grupo de pp∴ para os Aprendizes outro para os
Companheiros, ambos correspondentes à idade simbólica e, por fim, os três últimos
pp∴ destinados ao 3º Grau, contudo esse
último grupo de pp∴ não fazendo alusão à idade do Mestre, mas representando a cada um deles
à revolução anual do Sol. Na realidade, os pp∴ do Mestre no escocesismo marcam alegoricamente, sobre o pavimento, os
ciclos da Natureza. Essa alegoria se faz presente para determinar
esotericamente a relação entre os ciclos da Natureza e as etapas da vida do
iniciado (concepção deísta presente no rito).
No que diz respeito a idade simbólica do Mestre Maçom, ela relembra, além
do shabat, ou o Dia da Criação, também uma reminiscência dos tempos
primitivos quando um Aprendiz Admitido era basicamente servo do Mestre da Obra,
oportunidade em que ele tinha uma carta de trabalho que durava sete anos. Vencido
o prazo, geralmente ele então poderia requerer ao seu senhor, ou o proprietário
do canteiro, a sua liberdade para que ele pudesse, alçado ao cargo de Companheiro
do Ofício, trabalhar por conta própria. O final desse processo de aprendizado
que durava geralmente sete anos era ainda acrescido por “mais”
dois anos para que o operário pagasse com trabalho ao seu amo e senhor toda a
acomodação, vestimenta e alimentação que lhe fora fornecida no tempo do seu
aprendizado. Essa é a origem do o significado da I∴ do M∴ M∴ do REAA.
Por extensão, esses comentários históricos se aplicam também ao Rito
Brasileiro que teve boa parte da sua ritualística e liturgia decalcada no REAA.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
ABR/2021
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