terça-feira, 8 de maio de 2018

QUEM FALA NO ORIENTE, FALA EM PÉ OU SENTADO NO REAA?


Em 24/02/2018 o Respeitável Irmão Aécio Speck Neves, sem mencionar o nome da Loja, REAA, GOB-SC, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita o seguinte esclarecimento.

FALAR NO ORIENTE. EM PÉ OU SENTADO?


Solicito a fineza de me dizer qual o apoio legal maçônico para a seguinte assertiva: Em Sessão as Luzes e as Dignidades do Oriente falam sentados. Pergunto, por que a Loja onde fui recentemente filiado, eles falam em pé. Com exceção do Venerável Mestre, claro. Procurei no RGF e não encontrei.

CONSIDERAÇÕES.

A questão não é tanto a da legalidade, mas da história e, até certo ponto, por que não dizer, iniciática (lugar da plenitude).
Como esse costume se trata particularmente da ritualística de um Rito, no caso do REAA\, não há como se encontrar apontamentos específicos no RGF.
O caráter de que todos no Oriente têm o direito de falar sentados, salvo se se o ritual mencionar o contrário é uma prática consuetudinária adquirida a partir do aparecimento das Lojas Capitulares (hoje extintas por lei).
Surgidas na França no primeiro quartel do século XIX, as Lojas Capitulares agrupavam sob a égide do Grande Oriente da França os graus simbólicos e os graus capitulares, isto é do 1º ao 18º grau do REAA. Nesse sistema o Athersata (governador) era também o Venerável Mestre do simbolismo. Maiores detalhes a esse respeito podem ser encontrados na história do Grande Oriente e do Segundo Supremo Conselho da França nos primórdios do século XIX. Vide também a Grande Loja Mãe Escocesa em Avinhão na França.
Foi dessa época então que para se adequar aos costumes capitulares, dentre outros, o Oriente acabou sendo elevado e separado por uma balaustrada. Isso pode ser constatado se consultando o primeiro ritual simbólico do escocesismo (1804) quando o Oriente era ainda disposto no mesmo nível do Ocidente e nem havia balaustrada. Oriente elevado no simbolismo é cópia do Capítulo.
Como a questão foi a de se adequar às práticas capitulares, pegava carona também no simbolismo, o costume de os ocupantes do Oriente, à moda capitular, falarem sentados.
Ocorre, contudo, que mais tarde essas Lojas Capitulares foram extintas e com isso o simbolismo permaneceu com a Obediência Simbólica enquanto que os graus do 4º até o 18º (Perfeição e Capítulo) voltavam ao Supremo Conselho – em síntese, as coisas voltavam ao seu devido lugar.
Entretanto, à moda latina, muitas práticas da época capitular acabariam permanecendo também no simbolismo. É o caso do Oriente elevado e separado tal como se apresentam nos nossos templos simbólicos até hoje. Assim, como o Oriente permaneceu elevado, nada mais natural do que também permanecesse a prerrogativa de ali se falar sentado.
Como essa prática surgiu de uma acomodação ritualística ela acabou fundamentada no costume ao ponto de se tornar habitual, isto é: consuetudinária.
É essa a razão de que no REAA todos os ocupantes do Oriente, salvo nas situações em que a liturgia previr o contrário, podem falar sentados. Se alguém ali preferir falar em pé, deve obrigatoriamente ficar à Ordem. Ratifico: é costume adquirido do Capítulo.
Destaco ainda que abordei o assunto do Oriente elevado nas Lojas Capitulares porque historicamente ele está diretamente relacionado à questão de se ali falar sentado ou em pé.
Sob a óptica esotérica o Oriente maçônico é o lugar da Luz. É o lugar daqueles que venceram com sabedoria as agruras da vida. É o lugar do Mestre. Simboliza o lugar elevado onde a plenitude iguala as atitudes. Ali descansa o sábio,
Ao concluir observo que muitos Irmãos ainda não conhecem esses fatos e com isso generalizam desnecessariamente as práticas litúrgicas. Como vivemos numa Maçonaria latina por excelência onde antes de compreendê-la primeiro busca-se o amparo nos carimbos e convenções de um sistema que vive no exagero da expressão (peripatético), acaba sendo imperioso o comodismo de se achar que “tudo deve estar escrito”, não importando se o que está escrito faz sentido ou não.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2018

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