quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

PALAVRA SAGRADA DO 3º GRAU - EXISTE MAIS DO QUE UMA?

Em 23/07/2021 o Respeitável Irmão André Corado, Loja Mahatma Gandhi, 90, sem mencionar o nome do Rito, GLMERJ (CMSB), Oriente do Rio de Janeiro, apresenta a questão seguinte.

 

PALAVRA SAGRADA DO MESTRE MAÇOM

 

Gostaria de saber porque os Mestres tem duas Palavras Sagradas.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

A bem da verdade, pelo menos até onde eu entendo, não existem duas PPal SSagr para um mesmo grau. É normal sim existir uma Pal Sagr e uma Pal de
Pas
∴, mormente a partir do 2º Grau (no 1º somente a Pal Sagr).

Infelizmente, nesses termos, ao que parece existe ritual aprovado com duas PPal SSagr, o que no mínimo para mim parece altamente contraditório – “yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”.

Desafortunadamente na Maçonaria Brasileira, em particular, tem sido comum a existência de muitos “compiladores de rituais” que se acham altamente conhecedores da história da Ordem, contudo, esses, o que de fato têm feito é descuidadamente semear procedimentos equivocados e contraditórios nocivos à liturgia maçônica. Esses experts quando indagados a respeito, geralmente só sabem mencionar que está escrito em algum lugar, contudo não avaliam antes se esse escrito está de fato nos conformes com as exigências da Arte, ou seja, se a fonte é de água limpa.

Destaque-se que é primário nos estudos maçônicos logo se observar que palavras, e até sinais, se diferem conforme o rito e os respectivos graus, sobretudo por motivos culturais e doutrinários.

Desse modo, provavelmente por descuido, e às vezes por ignorância mesmo, alguns ao topar com PPal SSagr e de Pas diferenciadas inseridas no mosaico da história da Maçonaria (conforme o rito ou trabalho), inadvertidamente, por acharem que tudo é a mesma coisa, logo enxertam em rituais de ritos que simplesmente as desconhecem, tanto no seu sentido, como no seu significado.

Esses ritualistas, então lançando mão do jeitinho latino de ser, logo inserem práticas e procedimentos em ambientes relativamente desconhecidos para elas. Daí, dá no que dá, ou seja, ninguém entende nada, senão o de que está escrito em algum lugar, como se isso bastasse para ser um elemento verdadeiro – ledo engano!

No caso a Pal Sagr, como dito, existem muitas delas, mas apenas uma por rito e grau, isto é, cada macaco no seu galho.

Nesse particular, basta que se observem as duas principais vertentes de Maçonaria, a anglo-saxônica e a latina onde no caso do 3º Grau as PPal SSagr, embora de uma mesma raiz, se diferenciam conforme os costumes (ritos e rituais).

Fatalmente, é nesse ambiente que alguns ditos ritualistas misturam as coisas e logo, para acomoda-las, saem inventado desculpas, como por exemplo a da existência de duas PPal SSagr num mesmo grau. Ora, certamente somente uma delas é matéria que faz sentido. A outra é produto de enxerto e geralmente não encontra sustentação no arcabouço doutrinário original do grau e do rito.

De fato, eu tenho questionado essas meras cópias de rituais anacrônicos, assim como tenho também questionado as autoridades maçônicas que aprovam e adotam rituais sem antes atentar para o bom senso dos fatos que compõem a sua liturgia.

Na questão da Pal Sagr Moab, por exemplo, de há muito tenho explicado que ela é uma corruptela que acabou sendo consagrada no REAA. Ela é mesmo um paradoxo, já que no tocante ao REAA o correto deveria ser M B, destacando que o seu significado se associa à frase original “tut nos oo”, ou “ainda há tut nos oo” - marrow in bone (note as iniciais no contexto da frase). Para ilustrar, basta observar o verdadeiro avental de Mestre Maçom do REAA aprovado desde 1875 no Congresso de Lausanne na Suíça. Esse avental original, orlado em vermelho, traz nele as letras M B. Será por quê?

Infelizmente fizeram, inventaram e deturparam tanto os rituais que chegaram a dar um significado de “a c s d dd oo∴” para a palavra Moab que por sua vez é originária do termo moabitas, habitantes de Moab, ou Moabe, mencionado na Bíblia.

A título de ilustração seguem alguns comentários sobre essa palavra no intuito de demonstrar que ela nada tem a ver com o sentido da Palavra no REAA que é o da “c que se d dos oo”. Nesse sentido, note que os moabitas foram um povo nômade que se estabeleceu a Leste do Mar Morto por volta do século XIII a.C., na região que mais tarde ficaria conhecida como Moab ou Moabe. Os moabitas eram um povo que descendia de Moab, filho de Ló. Eram parentes próximos dos israelitas e até tinham boa convivência com eles. Moab significa, em hebraico, “de seu pai”. Consta no Antigo Testamento ser esse o nome de um filho de Ló. Ele era ancestral dos moabitas (vide a tragédia que se assolou sobre Sodoma e Gomorra).

Ora, é difícil racionalmente engolir que os nativos de uma região montanhosa, hoje pertencente a Jordânia, e conhecidos como moabitas, tenham alguma coisa a ver com uma tradução igual a frase “a c se d dd oo. Me parece que isso esteja muito longe de ser uma tradução Moab, até porque não faz absolutamente nenhum sentido.

Como diz o ditado, água mole em pedra dura tanto bate até que fura, assim a Pal Sagr Moab virou uma corruptela de M B no REAA.

Como se não bastasse essa aleivosia de tradução, alguns ainda a misturam com uma Pal Sagr do Rito Moderno, bem como também com outras derivações de rituais e trabalhos anglo-saxônicos (ingleses, irlandeses e escoceses) onde a palavra, com o mesmo sentido, tem escritas às vezes diferenciadas.

Por uma questão de sigilo não vou mencioná-las aqui, embora todas, sem exceção, tenham uma estreita relação com a frase “Marrow in Bone” – vide, por exemplo, a lenda Noaquita (Noé e seus três filhos: Sem, Can e Jafé) e a sua associação com a lenda de H A.

No caso da sua questão propriamente dita, é provavelmente daí que vem a anomalia de existir mais de uma Pal Sagr em um mesmo grau de um mesmo Rito. Na verdade, isso nada mais é do que um acréscimo equivocado.

Um exemplo desses enxertos, embora não relativo às PPal, mas aos Painéis, é o do Painel do 1º Grau do REAA, onde alguns rituais desse Rito no Brasil trazem dois painéis, sendo um o original, que é o francês, e outro advindo do Craft, que um enxerto no escocesismo. Para justificar a inserção indevida de mais um painel, absurdamente alguns ritualistas passaram a chamar o intruso de Painel Alegórico, não obstante o Rito em questão ser de origem francesa e tradicionalmente possuir apenas e tão somente um Painel.

Nesse caso, ao tempo de se corrigir e eliminar o painel que não é nativo do rito, preferiu-se antes mantê-lo mascarando-o como Painel Alegórico, coisa que, como mencionado, ele não exista de modo algum no REAA.

Em síntese, na Maçonaria inglesa o painel é a Tábua de Delinear (Tracing Board), na francesa é simplesmente o Painel do Grau – cada um no seu sistema.

Vale a pena mencionar que entre ambos os painéis existem muitas diferenças no seu conteúdo simbólico, cujo corolário adapta-se ao teor iniciático do rito. Não dá para se misturar as coisas.

Dando por concluído, reitero que esse pode ser o caso de mais uma flagrante acomodação, onde um Rito estranhamente acabou indevidamente ganhando, num mesmo grau, duas PPal SSagr.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

JAN/2021.

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