Em 21.03.2017 o Respeitável Irmão
Lauro Gorell Filho, Loja Filhos do Pelicano, 3.866, REAA, GOB-PR, Oriente de
Cianorte, Estado do Paraná, formula a seguinte pergunta através do meu blog http://pedro-juk.blogspot.com.br
M\ B\ NO AVENTAL.
Gostaria de saber o significado das
letras M\ e B\, no avental do
Mestre Maçom.
CONSIDERAÇÕES.
As iniciais tem relação direta com a Palavra
Sagrada do Mestre Maçom. Essas duas letras possuem significados de acordo com a
vertente do rito maçônico, assim com a sua exegese é tratada por alguns autores
confiáveis e compromissada com a autenticidade maçônica.
Basicamente essa sigla possui íntima relação
com os C\ PP\ PP\
do Mestre, ou da Maçonaria, esses amparados pela Lenda de Hiran, ou mesmo pela
Lenda sobre Noé e seus filhos Sem, Can e Jafé.
Em síntese as iniciais M\
e B\ podem ser representativas de aspectos
relativos à Lenda agrupados numa frase, ou mesmo diretamente como inicial da
Palavra Sagrada adotada por um rito maçônico. Obviamente que esse espaço não é
adequado para entrar do assunto em detalhes por evidentes razões.
De modo superficial pode-se explicar que a
Lenda de Noé e os seus três filhos (Noaquita) envolvem aspectos que podem ser
encontrados, por exemplo, no Manuscrito Graham de 1723, o qual menciona, dentre
outras passagens lendárias, a expressão “Marrow
in Bone” (os grifos nas iniciais
são meus), cujo seu significado relativo à alegoria lendária se constitui na
frase “ainda há tutano no osso”, a despeito de que esse teatro simbólico
envolve a mítica morte de Noé e a tentativa dos seus três filhos em ressuscitá-lo
– essa lenda é muito similar à de Hiran e defendida por muitos autores como a
que deu origem à Lenda do Terceiro Grau.
Nesse sentido, alguns autores defendem que a
frase “Marrow in Bone”, acolhidas as
iniciais “M e B”, se traduzem na expressão gálica “Mak Benak”, pois no diálogo teatral da Lenda, tal qual na de Hiran,
é mencionado o corpo achado em estado de putrefação, cujo personagem é revivido
pelos CC\ PP\. A expressão inglesa
se refere a “bone marrow” – medula
óssea.
A expressão Mak Benak, como mencionado e que,
segundo alguns pesquisadores, é originária de um dialeto gálico, sofreria mais
tarde a corruptela de grafia escocesa por “Mac Benac”, cuja palavra inicial “Mac”,
conforme pesquisadores da Quatuor Coronati Lodge citados por Francisco de Assis
Carvalho in O Mestre Maçom - Cadernos
de Estudos Maçônicos significa “filho”. Já outra corrente de pesquisadores,
também citada pelo mesmo autor, define o termo gálico “Mak Benac” como “podridão”, ou “está podre”.
A despeito desses pontos de vista, o fato é
que ainda existem muitas divergências nesse sentido. É o caso, por exemplo, da
expressão “Mac Benac” que também é tida em alguns ritos com o significado de
“viver no filho” – nesse caso o filho do justo que está morto.
Historicamente foi o Irmão A. C. F. Jackson
da Quatuor Coronati Lodge quem estudou profundamente esse tema, o que se
recomenda conhecer essas ponderações para melhor entendimento dessa matéria.
Jackson menciona inclusive, que a palavra Mac Benac viria aparecer pela
primeira vez na Maçonaria inglesa no livro Ahiman Rezon de 1756 de autoria de
Lawrence Dermott que pertencia a Grande Loja dos Antigos no Yorkshire. Segundo
Jackson é de autoria de Dermott a palavra “Mac Benac” (in O Mestre Maçom – Francisco de Assis Carvalho).
Outro aspecto que merece consideração nesse
pormenor, é que a Grande Loja dos Modernos, a outra protagonista das
escaramuças entre os Antigos e os Modernos ingleses, adotaria por algum tempo
para os Mestres dessa Grande Loja a expressão “Moab\”
em lugar de Mac Benac, muito provavelmente na intenção de alterar costumes com
a finalidade de combater as revelações de Prichard em 1730 (Masonry Dissected). Pela importância
desse fato, aconselha-se também o estudo da história dos Antigos e dos Modernos
na Inglaterra até o Ato de União ocorrido em 1813.
A despeito desses acontecimentos na Inglaterra
da época, a vertente francesa de Maçonaria não deixaria de sofrer essas mesmas influências.
Capítulo à parte há que se notar que o Rito Moderno ou Francês adotaria a
Palavra M\ B\ enquanto que o Rito
Escocês Antigo e Aceito, também filho espiritual da França, adotaria a palavra
Moab\ para os seus Mestres.
Ainda no que tange a expressão composta pelas
iniciais M\ B\, para alguns outros
autores, ela está associada ao termo “Filho da Viúva”, entretanto isso nos
parece especulação, pois não possui fundamento confiável, cujas justificativas
não merecem aqui serem comentadas por se referirem à rainha viúva do rei
decapitado (vide os Stuars e a revolução puritana de Cromwell em 1649 na
Inglaterra).
Na realidade, o “filho morto”, é o “filho do
justo” e essa relação faz sentido quando ligada à putrefação e à morte (da Natureza),
daí existir um consenso a respeito quando tratado sob o ponto de vista
alegórico, já que a Natureza é assassinada pelos três meses de inverno, o que
em primeira análise deixa a mãe Terra viúva do Sol uma vez por ano. Em síntese,
os personagens assassinados nas Lendas, tanto na Noaquita como na Hirâmica,
personificam o Sol.
Há ainda em relação às iniciais M\
B\ inúmeras influências e estudos que merecem
ser pesquisados e até levados em consideração, todavia pela controvérsia do
tema e o sigilo maçônico que o cerca por se tratar da Palavra do Mestre ele
merece prudência e comentários cobertos (vide a influência hebraica na
Maçonaria e particularmente do REAA\).
Assim, objetivamente respondendo à questão, como
dito as iniciais fazem referência à Palavra Sagrada de acordo com os ritos
maçônicos, a despeito de que as suas interpretações estão intimamente ligadas
aos diversos arcabouços doutrinários a eles pertinentes. É bem verdade, entretanto,
que os seus diversos significados não podem ser tratados pura e simplesmente como
uma mera tradução, mas sim com o que a sua mensagem pode representar (pragmatismo
simbólico). Uma tradução pura e simples, a exemplo da expressão Moab\
como A C\ S\ DD\
DD\ OO\ é mera fantasia, já
que Moab\ tem origem bíblica in os “moabitas” – povo nômade que se estabeleceu a leste do Mar
Morto por volta do século XIII a. C., na região que seria mais tarde conhecida
como Moabe. Assim, a expressão dela derivada usada no REAA\
só faz sentido se tomada como um título enigmático do que a filosofia da Palavra
Sagrada pode manifestar – é o símbolo falando através dos seus códigos.
T.F.A.
PEDRO
JUK
MAIO/2017
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