Em 13/09/2017 o Respeitável Irmão
Juvenal Cordeiro Barbosa, Loja Novo Tempo, 19, REAA, Grande Oriente de Mato
Grosso do Sul (COMAB), Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul,
pede respostas para as seguintes questões.
ORIENTAÇÕES MAÇÔNICAS SOBRE A HISTÓRIA DAS LOJAS DE MESA.
Volto a solicitar do estimado irmão orientações, se possível for,
conforme abaixo segue:
1 - A terminologia da Loja de Mesa, sua ritualística e as alegorias dos
brindes tem relação direta ou indireta com os Cavaleiros Templários?
2 - O brinde maçônico é um costume antigo, porém, como e quando surgiu?
3 - Quando e como surgiram as primeiras Lojas Militares?
4 - Quem concedia Cartas Constitutivas as Lojas Militares?
COSIDERAÇÕES
Antes das
considerações propriamente ditas se faz necessário primeiro compreender que a
Maçonaria não teve sua origem nos Templários.
Isso tem sido até
agora um erro crasso cometido por alguns articulistas que insistem em misturar
a história dos Cavaleiros Templários com a Maçonaria.
Infelizmente essa
confusão tem feito com que muitos maçons atualmente fiquem se imaginando
protagonistas dos contos de “capa e espada”. Não há como confundir os side degree ingleses, ou Ordens de
Aperfeiçoamento, que não raras vezes utiliza alegorias templárias, bem como
outras, com a história acadêmica da Ordem.
Na realidade essa
associação com os Templários quando literalmente existiu, não foi nada mais,
nada menos do que uma relação estritamente profissional.
Enquanto os
Templários passavam pelo auge da sua existência e poder, não raras vezes eles
contratavam maçons operativos para trabalhar em edificações de castelos,
fortalezas, abadias, etc., por eles idealizados.
Com o declínio da
Ordem Templária, o que se deu pela condenação à morte nas fogueiras da
Inquisição do seu Grão-Mestre Jacques De Molay, o que levou praticamente ao quase
extermínio dos Templários, muitos dos seus membros, ao se refugiarem no norte
da Inglaterra, acabariam se empregando, sobretudo pela experiência adquirida
nas suas andanças pelo Oriente Médio, nas associações de ofício de
profissionais da pedra calcária (Maçonaria de Ofício) do norte da Inglaterra.
Assim, foi essa à
integração que existiu entre as duas corporações, mas nunca ao ponto de se afirmar
que a Maçonaria se originou dos Templários - qualquer afirmativa desse tipo é
temerária e não tem nenhum compromisso com a verdade.
A despeito dessa
integração é que pode ter existido alguma influência, mas não de origem, porém aquelas
adquiridas pela longa convivência entre os dois grupos – uns pedreiros
operativos e outros soldados sob o comando do rei. Uma, a Francomaçonaria, que
se originou das corporações de ofício da Idade Média, atuava principalmente nas
construções com a pedra calcária, a outra, a dos Cavaleiros Templários,
composta por cavaleiros que, sob a tutela dos reis e senhores feudais tinham a
missão principal de proteger os peregrinos cristãos que transitavam entre a
Europa e o Oriente Médio.
Com o advento da Maçonaria Especulativa
e, sobretudo o que ocorreu especialmente na Moderna Maçonaria, é que houve o
aparecimento e a profusão dos ritos maçônicos, principalmente a partir do
Século XVIII. Foi através deles e pelos seus sistemas culturais, doutrinários e
litúrgicos que muitos costumes templários “especulativamente” acabariam
sendo incorporados à Ordem Maçônica, entretanto não se admite que esse seja um elemento
que possa ser considerado como um embrião da origem da Maçonaria. A Moderna
Maçonaria, eclética por natureza não acolhe especulações que possam lhe
construir uma falsa origem.
Dados esses comentários, seguem os
apontamentos relativos às suas questões.
Respostas:
- No
que diz respeito à Maçonaria, o termo Loja deve-se as associações
religiosas do século XII denominadas Guildas. O nome “Guilt”, de origem teutônica, se deriva de um antigo título
dado a um ágape religioso na antiga região da Escandinávia. Durante esse
ágape desenvolvia-se uma cerimônia especial quando eram despejados três
chavelhos (copos de chifre) cheios de cerveja, cujos quais se destinavam,
um a homenagear os deuses, outro pelos antigos heróis e o último a
homenagear os parentes e os amigos mortos. Ao final da cerimônia, todos se
comprometiam a defender uns aos outros, como irmãos e se socorrerem
mutuamente nas oportunidades que se fizessem necessárias.
As Guildas se caracterizavam por três finalidades: atuação nos direitos
sociais, auxílio mútuo e reuniões em banquetes.
Na Maçonaria essa pode ser considerada como a certidão de nascimento das
suas Lojas de Mesa.
A sua ritualística e os seus costumes foram adquiridos conforme evoluíam
as Lojas Operativas e posteriormente as Especulativas.
Sob o ponto de vista da tradição, a liturgia da Loja de Mesa está
intimamente ligada aos períodos solsticiais (Lojas de São João) e em alguns
casos também nas datas equinociais, já que os ciclos naturais (estações do ano)
coordenavam e coadunavam os trabalhos dos canteiros medievais. Assim, o comum é
que as Lojas de Mesa sejam apenas realizadas nesses períodos e não aleatoriamente
como se faz hoje em dia em algumas Lojas.
Ainda no que diz respeito à sua ritualística, muito dela se desenvolveu
nas tabernas dos maçons antigos, sobretudo em um período que ainda não existiam
templos e era comum que eles se reunissem nos adros das igrejas e nas tabernas.
Há registros desde o século XVI.
Outro aspecto é o relativo à dialética utilizada com as quais se fazem
os brindes nas saúdes de obrigação, das quais muitos são substantivos relativos
ao ofício militar, isso porque as chamadas Lojas Maçônicas Militares, formadas
principalmente a partir da expansão dos domínios da coroa inglesa, sem dúvida também
muito influenciaram, principalmente nas práticas relativas aos “fogos maçônicos”
realizados nas Lojas de Mesa. Por exemplo: Fogo! Alinhar os canhões! Armas em
frente! Alfanje na mão! Pólvora forte, pólvora fraca, etc.
Já em relação à arte de construir e o ágape em Loja de Mesa, as
denominações vão relacionadas aos materiais e utensílios de trabalho utilizados
no ofício. Exemplo: pá, picareta, telha grande, telhas, bandeja grande, materiais,
demolir os materiais, barrica, areia branca, etc.
Como se pode notar nada das terminologias e substantivos proferidos tem
a ver com a Ordem dos Cavaleiros Templários.
- Em
síntese, isso já foi respondido, todavia reforçando, os brindes maçônicos
em Loja de mesa são feitos principalmente nas datas solsticiais.
Já como costume antigo veja o que foi mencionado no item 1 em relação às
Guildas e os três primeiros brindes.
O formato atual das saúdes de obrigação se deu por primeiro no XVII na
Escócia e na Inglaterra nas Lojas das tabernas dos maçons antigos. Por segundo o
formato sofreu grande influência das Lojas Maçônicas Militares, principalmente
aquelas que se espalharam pelas colônias inglesas no Século XVIII.
- No
século XVIII, aproximadamente em 1732 devido à expansão do colonialismo
inglês surgiam, acompanhando esse desenvolvimento, corporações maçônicas especulativas
ligadas às forças armadas britânicas. Essas Lojas itinerantes muitas vezes
se reuniam sob a presidência de um Mestre da Loja que era o mesmo comandante
do regimento. Essas Lojas, também conhecidas como Lojas de Campo reuniam
oficiais das mais elevadas patentes, bem como os seus subalternos.
Devido ao seu regime militar, essas Lojas Maçônicas ao se reunirem em
Loja de Mesa acabariam trazendo consigo costumes hauridos da disciplina
militar. É daí que muitas exclamações e ordens de comando passaram também a
fazer parte da liturgia maçônica em banquetes ritualísticos.
- Desde
a inauguração do primeiro sistema obediencial criado pela Primeira Grande
Loja em Londres no ano de 1717, até a sua união com os Antigos de 1751 no
que resultaria na Grande Loja Unida da Inglaterra em 1813, a Grande Loja
era a responsável pela carta constitutiva das Lojas Maçônicas Militares.
Entretanto, antes da união entre os Antigos e os Modernos, a concessão das
Cartas ficava apenas a cargo da Primeira Grande Loja – aquela ligada à
coroa britânica.
A título de ilustração, segundo alguns autores, a primeira Loja Maçônica
Militar que existiu nas Forças Armadas Britânicas foi a First
Foot em 1732, cuja qual seria mais tarde a Royal Scots Lodge. Em 1734 já havia cinco Lojas como essa e, em
1755 elas já eram em número de 29.
T.F.A.
PEDRO JUK
DEZ/2017
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