segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

SIGNIFICADO DA MARCHA DO MESTRE NO REAA


Em 05/10/2018 o Respeitável Irmão Cleber Medeiros, Loja Verdade e Justiça, 16, REAA, GLMPI (CMSB), Oriente de Teresina, Estado do Piauí, apresenta a questão seguinte:

MARCHA DO MESTRE - SIGNIFICADO


Estudando sobre as Marchas de Aprendiz Companheiro e Mestre. Consegui os SIGNIFICADOS dos passos do Aprendiz que é: 1º LUTA, 2º PERSEVERANÇA E O 3º FRATERNIDADE. O de Companheiro: 1º IMAGINAÇÃO, 2º AFETIVIDADE. Juntando o p\ dir\ ao calc\ esq\ chegamos a RAZÃO. E os de Mestre, qual significado?
Ajude-Nos!

CONSIDERAÇÕES.

Antes das considerações propriamente ditas, saliente-se que as Marchas, ou Passos do Grau, como são conhecidos na Maçonaria, acontecem em alguns ritos, sendo que essa prática não é generalizada na amplitude dos trabalhos maçônicos. A despeito disso, cada Rito ou Trabalho, possui suas particularidades e propriedades litúrgicas inerentes à sua estrutura iniciática. Em assim sendo, que fique bem claro que os apontamentos seguintes se referem apenas ao simbolismo do REAA.
Em que pese os significados mencionados na sua questão, me perdoe à sinceridade, mas essas definições, no meu entender, não passam de suposições. Eu particularmente não vejo aonde alguns autores conseguem fazer interpretações desse tipo. Para mim nada mais são do que coisas da fertilidade da imaginação.
Tornando mais palatável essas interpretações, o conceito das Marchas no simbolismo do REAA é simplesmente iniciático e se refere à jornada do maçom em direção ao Oriente (lugar do Mestre). Destaque-se que a Maçonaria busca por ordem da razão dar sentido às suas práticas com explicações plausíveis e não em meras suposições.
Nesse sentido, os passos do Aprendiz (Marcha) iniciaticamente se relacionam com uma linha reta por onde é conduzido aquele que, pelo aspecto de ser ainda um iniciante, traz consigo a ausência de experiência e, por conseguinte, a insuficiência de um conhecimento mais acurado sobre a Arte Real.
A melhor explicação para essa insígnia emblemática é a de que o Aprendiz não possa ainda se desviar desse rumo sob a pena de se perder para sempre da senda da Sabedoria. Assim, a liturgia da Marcha do Aprendiz também menciona racionalmente a “retidão”, tanto de caráter, bem como de objetivo. É dessa condição que o Aprendiz representa a infância no processo iniciático da Maçonaria.
Faz-se apropriado nesse momento lembrar de que um dos mais importantes símbolos da “retidão” na Maçonaria é o Esquadro, sendo essa a razão pela qual a esquadria se faz presente na execução dos passos.
É nesse contexto então que o conjunto dos tr\ pp\ significam o primeiro ciclo do aprendizado e dele se destaca a idade simbólica do Aprendiz. Esotericamente a alegoria da Marcha no Primeiro Grau prevê que o Aprendiz, por se apresentar ainda como um elemento despreparado para a Arte, bruto em essência, deve então ser amparado ao peregrinar em linha reta, o que simbolicamente acontece quando ele no Ocidente, e de frente para o Oriente, dá os tr\ pp\ sobre o equador do Templo.
Explica-se que o desvio daquele que ainda não possui experiência necessária pode demandar num ato temerário, cujo qual poderá leva-lo a se perder para sempre. A ação de se perder denota no ato de se desviar do caminho que vai em direção à Luz (objetivo daquele que espera um dia alcançar na plenitude maçônica).
Cumprida a idade simbólica dos tr\ aa\ e dando sequência à senda iniciática o Aprendiz é então alçado à Elevação ao Segundo Grau, Grau esse que tem a pragmática da juventude, da ação e do trabalho. Assim, agora como Companheiro Maçom, portanto mais experiente indo do Norte para o Sul, ou passando para a perpendicular ao Nível, ele já pode perambular por todo o Ocidente da Loja (canteiro de trabalho).
Uma síntese dessa evolução (aprimoramento das ações e dos costumes) é representada emblematicamente pelos dois pp\ a mais que o Companheiro dá além dos três primeiros hauridos da primeira etapa da sua jornada iniciática. Agora totalizando c\ pp\, os mesmos denotam aos c\ aa\ de aprendizado na Arte, condição simbólica de aperfeiçoamento para se atingir o Segundo Grau. Assim, os c\ aa\ correspondem à idade figurada do Companheiro.
Esotericamente, os dd\ pp\ a mais - um oblíquo e outro de retorno ao eixo (equador) - significam que o Companheiro representando a juventude e com mais experiência já pode, a partir do eixo do Templo, se deslocar pelas Colunas e posteriormente a ele retornar na sua jornada em direção à Luz. Assim, o Companheiro demostra que pela sua evolução é senhor dos caminhos pelo Ocidente da Sala da Loja.
Prosseguindo na jornada, alcança-se por fim o final da senda iniciática – a plenitude maçônica, ou o Grau de Mestre Maçom.
Agora como senhor de todos os quadrantes da Loja, desde o Ocidente até o Oriente e do Norte até o Sul, entre o Esquadro e o Compasso o Mestre completa a sua Marcha.
A plenitude do trajeto iniciático somente será alcançada pela consecutiva conclusão de todas as etapas da jornada do simbolismo, isto é, no REAA marchando como Aprendiz, como Companheiro e por fim efetuando os caminhares do Mestre. Na realidade a sinopse dessa plenitude corresponde ao trajeto completo da senda iniciática maçônica. Por oportuno cabe mencionar que a Moderna Maçonaria Universal (simbolismo) é composta apenas e tão somente por três graus – Aprendiz, Companheiro e Mestre. É bom que se diga que a mais antiga, a Maçonaria de Ofício, se constituía apenas de duas classes de trabalhadores.
Retomando os comentários sobre a Marcha do Mestre, os t\ últimos pp\ que completam simbolicamente a sua jornada remontam, no REAA, à alegoria da morte e do renascimento da Natureza.
Sob essa égide esse teatro emblemático tem o desiderato de demostrar sequencialmente os ciclos naturais (estações do ano). Em linhas gerais essa alegoria procura demonstrar o alcance da maturidade (plenitude, experiência) e o descanso à meia-noite (morte).
Nesse contexto cada passo do Mestre simboliza o trajeto (eclíptica) na revolução anual do Sol, destacando que nessa alegoria Hiran, na concepção deísta do Rito é o Sol que morre no inverno deixando dele a Terra sua “viúva”. Assim, é imperativo que o maçom compreenda essa representação ao mesmo tempo em que se afaste das interpretações fantasiosas, temerárias e desprovidas de justificativas.
No tocante à Marcha em si, o Mestre como que a transpassar por sobre um e\ simbólico, imitando o deslocamento do Sol de um para o outro hemisfério, dá, a partir da conclusão da Marcha de Companheiro, na forma de costume e com o p\ dir\ um p\ em direção à Coluna do Sul (em seguida junta ao seu p\ dir\ normalmente o p\ esq\) - o ponto ao Sul alcançado pelo primeiro passo representa solstício de inverno no hemisfério Norte.
Prosseguindo, a partir dai e representando a volta do Sol do Sul para o Norte, o Mestre, como que ainda a transpassar por sobre um e\ simbólico, dá outro p\, porém agora com o p\ esq\, em direção à Coluna do Norte (em seguida junta ao seu p\ esq\ normalmente o p\ dir\) – o ponto ao Norte alcançado pelo segundo passo representa o solstício de verão no hemisfério Norte.
Por fim o Mestre, ainda como que a passar por sobre um e\ simbólico, dá com o seu p\ dir\ o terceiro e último passo em direção ao equador do Templo como que a se preparar para ingressar no Oriente da Loja (junta em seguida o seu p\ esq\ ao p\ dir\ formando pelos cc\ uma esq\).
Esotericamente essa alegoria procura demonstrar que os tr\ pp\ finais elevados do Mestre desenham figuradamente no espaço a trajetória anual do Sol, isto é, a sua ida e a sua volta de um para outro hemisfério, o que confere ao Planeta Terra as suas estações do ano. Ficam assim demonstrados, à direita e à esquerda, os solstícios de inverno e de verão, cujas datas, caras aos nossos antepassados (Maçonaria Operativa) correspondem a João - o Batista e a João - o Evangelista. Dessa característica solsticial as Lojas ficariam mais tarde sendo conhecidas também como as “Lojas de São João”.
Assim sendo, esse teatro simbólico que associa o Homem à Natureza representa toda a jornada iniciática maçônica do simbolismo – infância, juventude, maturidade e morte. Em suma essa alegoria solar representa o aperfeiçoamento do iniciado que, tal qual a Natureza cumpre o seu ciclo, morrendo no inverno para renascer na Luz. A Marcha completa, do Aprendiz ao Mestre, resume todo esse corolário iniciático.
Por óbvio essa é apenas uma explicação sintética de toda essa jornada que propõe o aperfeiçoamento do maçom conforme o arcabouço doutrinário do REAA. A regra é a de que investigando constantemente a Verdade o Iniciado cumpra todas as três etapas iniciáticas.
A título de esclarecimento, os oito passos que se dão a partir do Aprendiz até o Mestre têm no REAA origem nos tempos dos seus primeiros rituais em França a partir do século XIX. Nessa época, a Marcha era única e simplesmente se constituía por “oito passos normais”. Somente mais tarde, a partir dos meados desse mesmo século é que com a evolução dos rituais essa jornada seria dividida em três etapas relativas a cada grau simbólico. Atualmente esses “oito passos” permanecem, porém quando somados os de Aprendiz, os de Companheiro e os de Mestre. Destaque-se que a Marcha completa do Companheiro se dá a partir da do Aprendiz. Já a do Mestre se dá a partir da do Aprendiz passando pela do Companheiro. Salvo a Marcha do Aprendiz, a dos dois outros graus somente se completa seguindo sequencialmente a(s) Marcha(s) anterior (es).
Dado os comentários é esse o significado superficial das Marchas no simbolismo do REAA. Cada conjunto por grau completa uma etapa iniciática, portanto não faz sentido interpretações individuais de cada passo como a que fora mencionada na sua questão. Destarte os significados de cada ciclo iniciático, a alegoria somente se completa no encerramento da jornada, cuja qual exalta a plenitude maçônica adquirida ao se receber o salário na Câmara do Meio.
Concluindo, se isso puder ajudá-los, me resguardando da atitude de não revelar segredos e ser escrachado pelos puristas de plantão, esses são os meus comentários.


T.F.A.

PEDRO JUK


JAN/2019

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