quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

SINAL DE H.'. - ORIGEM


Em 01.10.2018 o Respeitável Irmão Thiago Santana Picoli, Loja Delegado Armando Antonio Rodrigues de Oliveira, 188, REAA, GLMERS, Oriente de Barra do Ribeiro, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a questão seguinte:

SIN\ DE H\ - ORIGEM.


Irmão Pedro, muitas são as dúvidas no caminho do Maçom estudioso que busca respostas sérias e convincentes, baseadas em fatos concretos e históricos. Feita esta pequena consideração, te faço a primeira pergunta de várias que virão daqui pra frente:
1 - Na marcha do Grau de M\M\, após vencer a m\, o Maçom (agora renascido) elev\ aa\ mm\ p\ c\, fazendo a seguinte exclamação: A\ S\ M\ D\ (ou O\, S\ M\ D\), posteriormente curv\ o c\ para frente, bat\ c\ a p\ dd\ mm\ acima dd\ jj\ por t\ v\. Após, arma o Sinal de M\M\ e faz a saudação às Luzes.
A minha dúvida é a seguinte: Qual a origem da exclamação: A\ S\ M\ D\ com a posterior bat\ com a p\ dd\ mm\ acima dd\ jj\?
Um tempo atrás, um Irmão muito esclarecido veio em nossa Loja fazer uma palestra e colocou (de forma muito rápida) que a origem desse movimento tinha a ver com os Judeus (ou Hebreus?). Ele disse que o referido povo (que eu não consigo me lembrar ao certo) não acreditava na vida após a morte. Sendo assim, ao vencer a morte e se colocar diante do Criador, saudavam o mesmo e b\ com a p\ d\ m\ acima dd\ jj\ como um sinal de arrependimento, ou seja, para mostrarem que estavam arrependidos por não acreditarem em vida após a morte.
Após a palestra fui conversar com o Irmão para que ele me desse maiores informações a respeito, pois ninguém sabe a origem desse movimento. Todavia, ele desconversou e não se mostrou muito confortável com meus questionamentos. Particularmente, achei um pouco egoísta de parte dele, mas percebi que ele não queria dividir os detalhes da informação.
A minha pergunta é se isso tem fundamento? Poderia me indicar alguma literatura a respeito do assunto onde eu possa corroborar tal situação?

CONSIDERAÇÕES

Sinceramente nunca encontrei essa “estupenda explicação” nos meus anos de estudo (que não são poucos) sobre Maçonaria.
Em que pese não se possa negar influência cultural hebraica muito forte em alguns ritos maçônicos, o S\ de H\, como é feito no REAA\, nada tem a ver com essa explicação estapafúrdia mencionada pelo douto visitante. Isso simplesmente porque o conjunto gestual e a exclamação que acompanha o Sin\ se originam na teatralização da Lenda Hirâmica conforme ela é contada no Terceiro Grau do escocesismo. Entenda-se que a Lenda do Terceiro Grau é exclusivamente maçônica e foi remontada sobre lendas antigas alusivas aos Cultos Solares da Antiguidade.
Assim, o sinal representa simbolicamente a dor e a consternação expressada pelo Rei quando ele, finalmente horrorizado, constata ser aquele o corpo do tão valoroso Mestre. Nesse momento então, segundo a Lenda, a atitude gestual do Rei dá origem ao S\ de H\ representado no REAA\
Na realidade as mm\ eerg\ denota um gesto de se dirigir em lamento a Deus, enquanto que as bb\ com aa\ pp\ dd\ mm\ sobre o av\ denotam um gesto de dor e ao mesmo tempo resignação – toda a cena expressa o horror pela comprovação de tão infame homicídio.
Como se pode notar meu Irmão, isso nada tem a ver com crença de vida após a morte, até porque, esse significado não trata literalmente do extermínio de uma vida, mas o da possibilidade da nefasta destruição dos bons costumes.
Nesse sentido, se sobressai que não é intenção da Maçonaria apregoar concepções hauridas de crenças religiosas. Na verdade, todo esse conjunto lendário aventa uma alegoria que procura demonstrar que o homem, passível de aperfeiçoamento, precisa se purificar, ou morrer para renascer. É o exemplo da renovação da Natureza que morre no Inverno para reviver na Primavera – o homem como parte dela está sujeito às suas leis.
Dado a esses comentários, provavelmente o ilustre palestrante não conhece os preciosos afins iniciáticos da Maçonaria a contento e, com isso, passa a disseminar ideias temerárias – coisa própria de falsos eruditos. Assim explica-se o desconforto e a desconversa do ilustre personagem quando lhe foi solicitado um melhor esclarecimento sobre o fato.
A título de ilustração, cabe comentar que o Sin\ de H\, também conhecido como o G\ Sin\ R\ no REAA\, é muito parecido com o Sin. de Afl. e Ag\ do Craft e que é tido também como um pedido de socor\, principalmente na Escócia, Irlanda e Estados Unidos da América.
Concluindo, penso que é preciso se combater essas invenções e principalmente esses ideários particulares recheados de inverdades. As lendas e alegorias maçônicas têm a finalidade de explicar, de modo velado, os objetivos iniciáticos da Ordem. Não cabe à Maçonaria trazer concepções e crenças que não condigam com o seu arcabouço doutrinário. Antes de se proferir ideias temerárias como a relatada na questão, melhor mesmo seria antes compreender o conjunto lendário hirâmico como um todo e não ficar especulando sobre partes do seu desenvolvimento lendário. A morte de H\, antes dessas ilações temerárias, tem muito mais a ver é com a morte da Natureza, período que a Terra fica viúva do Sol nos três meses de inverno. Que o digam todos os argumentos e as alegorias dos ritos deístas - como é o caso no REAA. Duvido, mas se porventura existe nesse Sinal alguma relação com antigos costumes hebraicos, certamente não é essa a explicação que cabe para a Maçonaria.

E.T. Busque bibliografia para estudo sobre o tema em autores comprometidos com a autenticidade e a razão. A melhor grade de pesquisas nesse caso é aquela que aborda as origens da Lenda Hirâmica na Maçonaria, destacando que o Grau de Mestre só aparece na Moderna Maçonaria a partir do ano de 1725. Entenda, porém, que os fatos que compõe uma lenda não devem ser tomados como afirmativas da História. Sugiro títulos a respeito que constem das Atas da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati, 2076 de Londres. Veja também Astrologia e Maçonaria do autor José Castellani e, nele, roteiros bibliográficos anexos.


T.F.A.

PEDRO JUK


JAN/2019


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