Em 14/04/2021 o Respeitável Irmão Francisco C. Lajús, Loja Alferes Tiradentes, 20, REAA, GLSC (CMSB), Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita esclarecimentos.
ALTAR DOS JURAMENTOS E DOS PERFUMES
Em nosso ritual na parte que descreve o Templo, temos o Altar dos Perfumes
localizado no Oriente, e pelo que tenho assistido das "lives" do
Irmão, lá é que deveria estar o Altar dos Juramentos. Consta no ritual: "À
frente do Trono, acha-se colocado o Altar dos Perfumes, tendo por base uma
coluna tosca, e sobre ela, uma trípode, um turíbulo e uma naveta."
A minha dúvida é sobre uma trípode sobre o Altar dos Perfumes? Qual a
finalidade desta peça sobre o altar? Qual a origem tanto da Trípode quanto do
Altar dos Perfumes no REAA?
CONSIDERAÇÕES.
Na questão do Altar dos Juramentos no REAA, ele na verdade é uma
extensão do
Altar ocupado pelo Venerável Mestre.
Com o aparecimento das Lojas Capitulares, hoje de há muito já extintas,
o quadrante oriental do Templo do REAA acabou sendo erguido e dividido e assim
permaneceu até hoje, mesmo depois de desaparecerem completamente as Lojas
Capitulares (vide essa história nos primórdios do Rito no século XIX.
Em síntese, o primeiro ritual simbólico do REAA criado na França em 1804
não tinha o Oriente elevado. Como na Maçonaria Inglesa, era tudo no mesmo nível.
A elevação do Oriente só ocorreu mais tarde para acomodar o santuário
Rosa-Cruz, grau 18 do REAA.
Explica-se que nas extintas Lojas Capitulares o sistema de graus englobava
todos os graus do 1º até o 18º. O dirigente do Capítulo era também o Venerável
das Lojas Simbólicas. Essa prática, altamente irregular, foi mais tarde
extinta, contudo, os resquícios do Capítulo acabariam permanecendo no
simbolismo, como é o caso do Oriente elevado e dividido, cuja forma topográfica
do templo acabou consuetudinariamente consagrada no REAA até os dias atuais.
Por esse conjunto de circunstâncias é que no REAA a extensão do altar
principal (do Venerável), denominado Altar dos Juramentos, também teve a sua
localização consagrada no Oriente da Loja, e não ao centro do Ocidente como lamentavelmente
mencionam alguns rituais. Altar dos Juramentos no centro da Loja é comum se ver
nas Blue Lodges da Maçonaria Norte-Americana.
A questão sobre o Altar dos Perfumes. Eu já escrevi bastante a respeito.
Essas matérias podem ser encontradas pesquisando o meu blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br
A origem desse altar na Maçonaria está relacionada primitivamente ao ideário
antecessor do primeiro templo hebraico construído, segundo a bíblia, no século
X a.C. e que ficou conhecido como o Templo de Salomão.
É já no tabernáculo, uma espécie de templo móvel que os hebreus armavam
no
deserto durante as suas peregrinações em busca da terra prometida
(Palestina), que esse altar era mencionado como parte do mobiliário. Consta que
ele se localizava no Sanctum (Santo), uma espécie de antessala do Sanctum Sanctorum
(Santo dos Santos). Junto ao Altar dos Perfumes ia ainda a Menorá (Candelabro
de Sete Braços) e a Mesa dos Pães da Proposição. No Tabernáculo, o Altar dos
Perfumes era também conhecido como Altar do Incenso.
Nesse sentido, em face à Maçonaria ter como sua maior alegoria a lendária
construção do Templo de Salomão, não é de se estranhar que muitos elementos
oriundos do tabernáculo, e por extensão do primeiro templo hebraico, apareçam
no seu encadeamento simbólico.
É bem verdade que os templos maçônicos não podem ser meramente confundidos
com uma edificação derivada (um arquétipo) do primeiro Templo de Jerusalém,
contudo é natural que alguns dos seus componentes, por influências lendárias e por
elementos iniciáticos-doutrinários apareçam como elementos emblemáticos em muitos
ritos da Moderna Maçonaria.
A despeito desse comentário, é bom que se diga que está muito longe se
imaginar existência da Maçonaria na construção desse primeiro templo.
Isso nada mais é do que uma lenda adaptada para se construir o ideário
iniciático maçônico. Genuinamente a Maçonaria possui 800 anos de história,
portanto é bom distinguir lenda de realidade.
No caso do simbolismo do REAA, ele originalmente não adota o Altar dos
Perfumes na sua liturgia, até porque não há nele prevista nenhuma cerimônia
iniciática que careça de incensação do ambiente.
Infelizmente, mesmo assim muitos rituais ainda trazem indevidamente esse
costume que provavelmente foi copiado de outro rito. Aliás, a condenável prática
de enxerto era, por circunstâncias históricas, comum no passado da Maçonaria
brasileira.
Especialmente no caso do Altar dos Perfumes no REAA, acredita-se que a
grande probabilidade da sua contraditória presença em alguns rituais por aqui
se deve a cerimônia de consagração (sagração) do Templo.
Graças a essa prática, que nada mais é do que um ato de inauguração que
acontece uma única só vez no templo de uma determinada Loja, é que provavelmente
esse altar acabou permanecendo, já que geralmente para a consagração (dedicação
do espaço) normalmente existe um ritual genérico para essa prática, o que faz
com que o seu conteúdo seja sincrético, pois nele há uma mistura práticas de vários
ritos.
Esse ritual, especialmente decalcado em muitas práticas de outros ritos,
provavelmente adotou um cerimonial de incensação do templo para a prática
genérica de sagração do templo – é o caso, por exemplo, do que acontece no
Grande Oriente do Brasil.
Desse modo existe a grande possibilidade de que foi desta forma que o
Altar dos Perfumes acabou enxertado no conjunto mobiliário do REAA, mesmo que
sem nenhuma finalidade para a liturgia do simbolismo do rito em questão.
Com essa presença indevida, não tardariam a aparecer outros objetos para
se juntarem a ele, como é o caso da trípode (que tem três pés), do turíbulo
(incensador) e da naveta (objeto que acondiciona incenso).
Ora, se originalmente no REAA não existe cerimônia de incensação, não há
razão para nele existir Altar dos Perfumes, e muito menos ainda outros objetos
destinados à essa finalidade.
Diante disso, são esses os meus comentários a respeito do Altar dos
Juramentos e o dos Perfumes, porém destaco que as minhas considerações abordam apenas
a originalidade do REAA, portanto não se afasta a possibilidade de existirem
rituais que exarem elementos contrários aos meus comentários. Salvo melhor juízo,
assim fica a possibilidade de uma análise de outros pesquisadores sobre o tema.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
OUT/2021
A justificativa que poderia se dar ao fato do iniciando e do aprendiz entrar no Oriente para acessar o altar e prestar seu juramento na iniciação e elevação, está somente na relação das lojas capitulares com os graus simbólicos? Haja vista que é vedado o acesso ao Oriente aos aprendizes e companheiros
ResponderExcluirEssa foi uma contradição que ficou por ter permanecido o Oriente separado. Na época capitular, o Athersata, que era também o Venerável, vinha até a entrada do Oriente onde o iniciando aguardava para fazer o juramento. Ele não ingressava no Oriente que era reservado apenas aos do Grau 18. Caíram as Lojas Capitulares e o Oriente ficou reservado apenas aos Mestres, contudo com o Oriente ainda separado e o Altar dos Juramentos ali colocado, acabou que nos aumentos de salário é permitido, mesmo que contraditório, o ingresso para o juramento. Na Verdade, o Venerável deveria fazer como o Athersata, vir até a entrada do Oriente para os procedimentos, isto é, nas cerimônias de aumento de salário o Altar dos Juramentos deslocado até o limite com o Ocidente. Esse, na época capitular, deve ter sido o motivo de ter sido criado uma extensão móvel do Altar principal.
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