sábado, 16 de outubro de 2021

ALTARES DOS JURAMENTOS E DOS PERFUMES NO REAA

 Em 14/04/2021 o Respeitável Irmão Francisco C. Lajús, Loja Alferes Tiradentes, 20, REAA, GLSC (CMSB), Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita esclarecimentos.

 

ALTAR DOS JURAMENTOS E DOS PERFUMES

 

Em nosso ritual na parte que descreve o Templo, temos o Altar dos Perfumes localizado no Oriente, e pelo que tenho assistido das "lives" do Irmão, lá é que deveria estar o Altar dos Juramentos. Consta no ritual: "À frente do Trono, acha-se colocado o Altar dos Perfumes, tendo por base uma coluna tosca, e sobre ela, uma trípode, um turíbulo e uma naveta."

A minha dúvida é sobre uma trípode sobre o Altar dos Perfumes? Qual a finalidade desta peça sobre o altar? Qual a origem tanto da Trípode quanto do Altar dos Perfumes no REAA?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Na questão do Altar dos Juramentos no REAA, ele na verdade é uma extensão do
Altar ocupado pelo Venerável Mestre.

Nos tempos primitivos, o compromisso era tomado sobre esse altar, principal (Venerável), contudo, com o passar do tempo criou-se um pequeno móvel para essa finalidade o qual obteve o nome de Altar dos Juramentos e foi colocado próximo e logo à frente do altar principal como uma espécie de sua extensão.

Com o aparecimento das Lojas Capitulares, hoje de há muito já extintas, o quadrante oriental do Templo do REAA acabou sendo erguido e dividido e assim permaneceu até hoje, mesmo depois de desaparecerem completamente as Lojas Capitulares (vide essa história nos primórdios do Rito no século XIX.

Em síntese, o primeiro ritual simbólico do REAA criado na França em 1804 não tinha o Oriente elevado. Como na Maçonaria Inglesa, era tudo no mesmo nível. A elevação do Oriente só ocorreu mais tarde para acomodar o santuário Rosa-Cruz, grau 18 do REAA.

Explica-se que nas extintas Lojas Capitulares o sistema de graus englobava todos os graus do 1º até o 18º. O dirigente do Capítulo era também o Venerável das Lojas Simbólicas. Essa prática, altamente irregular, foi mais tarde extinta, contudo, os resquícios do Capítulo acabariam permanecendo no simbolismo, como é o caso do Oriente elevado e dividido, cuja forma topográfica do templo acabou consuetudinariamente consagrada no REAA até os dias atuais.

Por esse conjunto de circunstâncias é que no REAA a extensão do altar principal (do Venerável), denominado Altar dos Juramentos, também teve a sua localização consagrada no Oriente da Loja, e não ao centro do Ocidente como lamentavelmente mencionam alguns rituais. Altar dos Juramentos no centro da Loja é comum se ver nas Blue Lodges da Maçonaria Norte-Americana.

A questão sobre o Altar dos Perfumes. Eu já escrevi bastante a respeito. Essas matérias podem ser encontradas pesquisando o meu blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br

A origem desse altar na Maçonaria está relacionada primitivamente ao ideário antecessor do primeiro templo hebraico construído, segundo a bíblia, no século X a.C. e que ficou conhecido como o Templo de Salomão.

É já no tabernáculo, uma espécie de templo móvel que os hebreus armavam no
deserto durante as suas peregrinações em busca da terra prometida (Palestina), que esse altar era mencionado como parte do mobiliário. Consta que ele se localizava no Sanctum (Santo), uma espécie de antessala do Sanctum Sanctorum (Santo dos Santos). Junto ao Altar dos Perfumes ia ainda a Menorá (Candelabro de Sete Braços) e a Mesa dos Pães da Proposição. No Tabernáculo, o Altar dos Perfumes era também conhecido como Altar do Incenso.

Nesse sentido, em face à Maçonaria ter como sua maior alegoria a lendária construção do Templo de Salomão, não é de se estranhar que muitos elementos oriundos do tabernáculo, e por extensão do primeiro templo hebraico, apareçam no seu encadeamento simbólico.

É bem verdade que os templos maçônicos não podem ser meramente confundidos com uma edificação derivada (um arquétipo) do primeiro Templo de Jerusalém, contudo é natural que alguns dos seus componentes, por influências lendárias e por elementos iniciáticos-doutrinários apareçam como elementos emblemáticos em muitos ritos da Moderna Maçonaria.

A despeito desse comentário, é bom que se diga que está muito longe se imaginar existência da Maçonaria na construção desse primeiro templo.

Isso nada mais é do que uma lenda adaptada para se construir o ideário iniciático maçônico. Genuinamente a Maçonaria possui 800 anos de história, portanto é bom distinguir lenda de realidade.

No caso do simbolismo do REAA, ele originalmente não adota o Altar dos Perfumes na sua liturgia, até porque não há nele prevista nenhuma cerimônia iniciática que careça de incensação do ambiente.

Infelizmente, mesmo assim muitos rituais ainda trazem indevidamente esse costume que provavelmente foi copiado de outro rito. Aliás, a condenável prática de enxerto era, por circunstâncias históricas, comum no passado da Maçonaria brasileira.

Especialmente no caso do Altar dos Perfumes no REAA, acredita-se que a grande probabilidade da sua contraditória presença em alguns rituais por aqui se deve a cerimônia de consagração (sagração) do Templo.

Graças a essa prática, que nada mais é do que um ato de inauguração que acontece uma única só vez no templo de uma determinada Loja, é que provavelmente esse altar acabou permanecendo, já que geralmente para a consagração (dedicação do espaço) normalmente existe um ritual genérico para essa prática, o que faz com que o seu conteúdo seja sincrético, pois nele há uma mistura práticas de vários ritos.

Esse ritual, especialmente decalcado em muitas práticas de outros ritos, provavelmente adotou um cerimonial de incensação do templo para a prática genérica de sagração do templo – é o caso, por exemplo, do que acontece no Grande Oriente do Brasil.

Desse modo existe a grande possibilidade de que foi desta forma que o Altar dos Perfumes acabou enxertado no conjunto mobiliário do REAA, mesmo que sem nenhuma finalidade para a liturgia do simbolismo do rito em questão.

Com essa presença indevida, não tardariam a aparecer outros objetos para se juntarem a ele, como é o caso da trípode (que tem três pés), do turíbulo (incensador) e da naveta (objeto que acondiciona incenso).

Ora, se originalmente no REAA não existe cerimônia de incensação, não há razão para nele existir Altar dos Perfumes, e muito menos ainda outros objetos destinados à essa finalidade.

Diante disso, são esses os meus comentários a respeito do Altar dos Juramentos e o dos Perfumes, porém destaco que as minhas considerações abordam apenas a originalidade do REAA, portanto não se afasta a possibilidade de existirem rituais que exarem elementos contrários aos meus comentários. Salvo melhor juízo, assim fica a possibilidade de uma análise de outros pesquisadores sobre o tema.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

OUT/2021

2 comentários:

  1. A justificativa que poderia se dar ao fato do iniciando e do aprendiz entrar no Oriente para acessar o altar e prestar seu juramento na iniciação e elevação, está somente na relação das lojas capitulares com os graus simbólicos? Haja vista que é vedado o acesso ao Oriente aos aprendizes e companheiros

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    1. Essa foi uma contradição que ficou por ter permanecido o Oriente separado. Na época capitular, o Athersata, que era também o Venerável, vinha até a entrada do Oriente onde o iniciando aguardava para fazer o juramento. Ele não ingressava no Oriente que era reservado apenas aos do Grau 18. Caíram as Lojas Capitulares e o Oriente ficou reservado apenas aos Mestres, contudo com o Oriente ainda separado e o Altar dos Juramentos ali colocado, acabou que nos aumentos de salário é permitido, mesmo que contraditório, o ingresso para o juramento. Na Verdade, o Venerável deveria fazer como o Athersata, vir até a entrada do Oriente para os procedimentos, isto é, nas cerimônias de aumento de salário o Altar dos Juramentos deslocado até o limite com o Ocidente. Esse, na época capitular, deve ter sido o motivo de ter sido criado uma extensão móvel do Altar principal.

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