Em 21.05.2021 o Respeitável Irmão Errol Joerê Foltran Júnior, Loja Luz e Fraternidade, 1828, REAA, GOB-PR, Oriente de Cascavel, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão:
TRANSMISSÃO DA PALAVRA
Estou
assistindo a live sobre orientações ritualísticas do REAA, e você acabou de
falar sobre a palavra do grau do Aprendiz...
palavra apenas silabada!!! Quase falei, Irmão 1ºVigilante, tudo não está justo e perfeito. Agora, pensando nisso, me arrependo de não ter feito isso.
Afinal,
a palavra do grau de Aprendiz deve ser passada apenas com as letras, é isso? Se
a palavra vier silabada, o Vigilante pode/deve que não está J∴ e P∴?
CONSIDERAÇÕES.
De início é bom que se diga que no REAA a P∴ S∴ do Aprendiz é dada soletrada
em qualquer circunstância. É uma questão iniciática onde o Aprendiz,
representando simbolicamente a infância (sua e da humanidade) ainda não
aprendeu a silabar, portanto ao dar a P∴ a dá
soletrada.
Iniciaticamente, quem transmite por sílabas a P∴ é o Companheiro que, por
estar simbolicamente mais evoluído, já sabe juntar as letras e formar sílabas.
Nesse sentido, existem duas situações que
ocorrem no REAA envolvendo a transmissão da palavra. A primeira é no telhamento,
ou seja, quando se está examinando a qualidade maçônica de alguém. A segunda é
a transmissão da palavra que ocorre na abertura e encerramento dos trabalhos envolvendo
as Luzes da Loja e os Diáconos. Nesta ocasião não se trata de telhamento, mas da
liturgia da transmissão simbolizando as aprumadas e nivelamentos do passado na
época da Maçonaria Operativa.
Pois bem, no primeiro caso, o do telhamento, os
interlocutores trocam entre si as letras da P∴ S∴. Isto
é, soletram intercalando sequencialmente cada letra da palavra na forma de
costume. Nesse caso, quem pede a P∴ é quem
dá a primeira letra, recebendo em seguida a segunda, e assim sucessivamente.
Vide instruções no SOR - Sistema de Orientação Ritualística sobre o Cobridor do
Grau.
No segundo caso, não se trata mais de
telhamento, mas da simples transmissão da P∴ S∴ do Aprendiz entre dois
Mestres Maçons (cargos em Loja são privativos de Mestres). Assim, de modo
soletrado, quem transmite a palavra o faz transmitindo letra por letra, isto é,
soletrada para o outro protagonista – que apenas recebe a palavra soletrada.
Nesse caso, não há troca de letras entre interlocutores. Um transmite e o outro
simplesmente a recebe.
O que foi corrigido através do Sistema de
Orientação Ritualística do GOB RITUALÍSTICA foi o equívoco que de há muito
tempo vinha ocorrendo ao final da transmissão quando erradamente repetia-se a
palavra soletrada por sílabas! Ora, o Aprendiz simbolicamente só sabe soletrar
e não silabar! Quem sabe silabar, repetimos, é o Companheiro, não o Aprendiz.
Desse modo - o que não era sem templo - esse
erro crasso foi extirpado. Assim, em qualquer caso, tanto como no primeiro,
quanto no segundo aqui mencionados, a P∴ S∴ do Aprendiz é dada apenas e
tão somente letra por letra. Ela, como P∴ S∴ maçônica, sob nenhuma hipótese
pode ser pronunciada por sílabas.
No caso específico da sua questão, o mensageiro
fez a transmissão de maneira completamente equivocada. Em primeira análise, se
a transmissão não foi a contendo, então, para o bem da liturgia, ela deveria
ser retransmitida na forma correta.
Infelizmente, muitos dos nossos Irmãos ainda
pouco sabem do significado das passagens ritualísticas que compõem a liturgia
maçônica. Já falei bastante a respeito disso, contudo, não me nego a repetir o
significado da alegoria da transmissão da P∴ S∴ na abertura e encerramento
dos trabalhos no REAA. Lá vai de novo:
A transmissão da abertura e encerramento que envolve
os Diáconos e as Luzes da Loja, alegoricamente revive as aprumadas e
nivelamentos que ocorriam no período da Maçonaria Primitiva, principalmente nas
atividades de início e de encerramento dos trabalhos nos canteiros de obra da Idade
Média.
Genericamente, para começar uma etapa da
construção, o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre), através dos mensageiros,
comunicava aos seus Wardens (hoje os Vigilantes) para que dispusessem os
cantos da construção aprumados e nivelados para o começo dos trabalhos. Desse modo,
depois de receberem a missão cumpriam-na integralmente e, estando tudo nos
conformes era então comunicado ao Mestre que tudo estava J∴ e P∴. Só assim se iniciavam os
trabalhos.
Ao final daquela etapa de trabalho, da mesma forma
o Mestre, através dos mensageiros, ordenava que aquela etapa deveria ser
aferida, isto é, verificada se de fato os trabalhos transcorreram de modo
satisfatório, ou seja, nivelados e aprumados.
Se tudo estivesse de acordo, ou seja, J∴ e P∴, a etapa era então dada por encerrada
pelo 1º Vigilante e todos os operários eram pagos e despedidos contentes e
satisfeitos. Em seguida a Loja (oficina ou canteiro de trabalho) era fechada
pelo 1º Vigilante. Tudo isso ocorria no período operativo.
Atualmente, contudo, na Moderna Maçonaria, especulativa
por excelência, as aprumadas e nivelamentos primitivos se transformaram
simbolicamente na alegoria da transmissão da palavra que, estando ela transmitida
J∴ e P∴, os trabalhos da Loja podem
ser abertos e também fechados.
Presentemente, na oficina especulativa o
Venerável Mestre é o antigo Mestre da Obra; os Vigilantes, os Wardens e os Oficiais
de Chão (mensageiros), os Diáconos. Note que ainda hoje as joias dos Vigilantes
são respectivamente o Nível e o Prumo e é o Primeiro Vigilante quem fecha a Loja.
Para concluir, vale mencionar que se fosse bem
compreendida a Arte, certamente fatos equivocados não se espalhariam como ervas
daninhas pelo fértil solo da liturgia maçônica. Tenho dito que o ordenamento
ritualístico não foi criado por acaso. Tudo nele faz sentido; a questão é matar
a sede do conhecimento procurando e bebendo em fontes de água limpa.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
OUT/2021
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