sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PALAVRA SAGRADA DO APRENDIZ - TRANSMISSÃO INICIÁTICA

Em 21.05.2021 o Respeitável Irmão Errol Joerê Foltran Júnior, Loja Luz e Fraternidade, 1828, REAA, GOB-PR, Oriente de Cascavel, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão:

TRANSMISSÃO DA PALAVRA

Estou assistindo a live sobre orientações ritualísticas do REAA, e você acabou de falar sobre a palavra do grau do Aprendiz...

Minha dúvida é: na transmissão da palavra, do Venerável Mestre ao1º Diácono, e assim sucessivamente... ela deve ser transmitida como foi orientado... letra por letra. Já fui Diácono nomeado da minha Loja e sempre foi assim, (aliás, algumas vezes falavam a palavra letra por letra e depois diziam as duas sílabas). Pois bem, agora, com essa pandemia, poucos Irmãos em Loja, substitui o 2º vigilante. Qual foi minha surpresa quando o 2º diácono me passou a
palavra apenas 
silabada!!! Quase falei, Irmão 1ºVigilante, tudo não está justo e perfeito. Agora, pensando nisso, me arrependo de não ter feito isso.

Afinal, a palavra do grau de Aprendiz deve ser passada apenas com as letras, é isso? Se a palavra vier silabada, o Vigilante pode/deve que não está J e P?

CONSIDERAÇÕES.

 

De início é bom que se diga que no REAA a P S do Aprendiz é dada soletrada em qualquer circunstância. É uma questão iniciática onde o Aprendiz, representando simbolicamente a infância (sua e da humanidade) ainda não aprendeu a silabar, portanto ao dar a P a dá soletrada.

Iniciaticamente, quem transmite por sílabas a P é o Companheiro que, por estar simbolicamente mais evoluído, já sabe juntar as letras e formar sílabas.

Nesse sentido, existem duas situações que ocorrem no REAA envolvendo a transmissão da palavra. A primeira é no telhamento, ou seja, quando se está examinando a qualidade maçônica de alguém. A segunda é a transmissão da palavra que ocorre na abertura e encerramento dos trabalhos envolvendo as Luzes da Loja e os Diáconos. Nesta ocasião não se trata de telhamento, mas da liturgia da transmissão simbolizando as aprumadas e nivelamentos do passado na época da Maçonaria Operativa.

Pois bem, no primeiro caso, o do telhamento, os interlocutores trocam entre si as letras da P S. Isto é, soletram intercalando sequencialmente cada letra da palavra na forma de costume. Nesse caso, quem pede a P é quem dá a primeira letra, recebendo em seguida a segunda, e assim sucessivamente. Vide instruções no SOR - Sistema de Orientação Ritualística sobre o Cobridor do Grau.

No segundo caso, não se trata mais de telhamento, mas da simples transmissão da P S do Aprendiz entre dois Mestres Maçons (cargos em Loja são privativos de Mestres). Assim, de modo soletrado, quem transmite a palavra o faz transmitindo letra por letra, isto é, soletrada para o outro protagonista – que apenas recebe a palavra soletrada. Nesse caso, não há troca de letras entre interlocutores. Um transmite e o outro simplesmente a recebe.

O que foi corrigido através do Sistema de Orientação Ritualística do GOB RITUALÍSTICA foi o equívoco que de há muito tempo vinha ocorrendo ao final da transmissão quando erradamente repetia-se a palavra soletrada por sílabas! Ora, o Aprendiz simbolicamente só sabe soletrar e não silabar! Quem sabe silabar, repetimos, é o Companheiro, não o Aprendiz.

Desse modo - o que não era sem templo - esse erro crasso foi extirpado. Assim, em qualquer caso, tanto como no primeiro, quanto no segundo aqui mencionados, a P S do Aprendiz é dada apenas e tão somente letra por letra. Ela, como P S maçônica, sob nenhuma hipótese pode ser pronunciada por sílabas.

No caso específico da sua questão, o mensageiro fez a transmissão de maneira completamente equivocada. Em primeira análise, se a transmissão não foi a contendo, então, para o bem da liturgia, ela deveria ser retransmitida na forma correta.

Infelizmente, muitos dos nossos Irmãos ainda pouco sabem do significado das passagens ritualísticas que compõem a liturgia maçônica. Já falei bastante a respeito disso, contudo, não me nego a repetir o significado da alegoria da transmissão da P S na abertura e encerramento dos trabalhos no REAA. Lá vai de novo:

A transmissão da abertura e encerramento que envolve os Diáconos e as Luzes da Loja, alegoricamente revive as aprumadas e nivelamentos que ocorriam no período da Maçonaria Primitiva, principalmente nas atividades de início e de encerramento dos trabalhos nos canteiros de obra da Idade Média.

Genericamente, para começar uma etapa da construção, o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre), através dos mensageiros, comunicava aos seus Wardens (hoje os Vigilantes) para que dispusessem os cantos da construção aprumados e nivelados para o começo dos trabalhos. Desse modo, depois de receberem a missão cumpriam-na integralmente e, estando tudo nos conformes era então comunicado ao Mestre que tudo estava J e P. Só assim se iniciavam os trabalhos.

Ao final daquela etapa de trabalho, da mesma forma o Mestre, através dos mensageiros, ordenava que aquela etapa deveria ser aferida, isto é, verificada se de fato os trabalhos transcorreram de modo satisfatório, ou seja, nivelados e aprumados.

Se tudo estivesse de acordo, ou seja, J e P, a etapa era então dada por encerrada pelo 1º Vigilante e todos os operários eram pagos e despedidos contentes e satisfeitos. Em seguida a Loja (oficina ou canteiro de trabalho) era fechada pelo 1º Vigilante. Tudo isso ocorria no período operativo.

Atualmente, contudo, na Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, as aprumadas e nivelamentos primitivos se transformaram simbolicamente na alegoria da transmissão da palavra que, estando ela transmitida J e P, os trabalhos da Loja podem ser abertos e também fechados.

Presentemente, na oficina especulativa o Venerável Mestre é o antigo Mestre da Obra; os Vigilantes, os Wardens e os Oficiais de Chão (mensageiros), os Diáconos. Note que ainda hoje as joias dos Vigilantes são respectivamente o Nível e o Prumo e é o Primeiro Vigilante quem fecha a Loja.

Para concluir, vale mencionar que se fosse bem compreendida a Arte, certamente fatos equivocados não se espalhariam como ervas daninhas pelo fértil solo da liturgia maçônica. Tenho dito que o ordenamento ritualístico não foi criado por acaso. Tudo nele faz sentido; a questão é matar a sede do conhecimento procurando e bebendo em fontes de água limpa.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

OUT/2021

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