Em 14.12.2021 o Respeitável Irmão Bruno Leonardo, Loja Barão de Mauá, 4.399, REAA, GOB-DF, Oriente de Brasília, Distrito Federal, apresenta a seguinte questão:
OFÍCIO DOS DIÁCONOS
Surgiu
uma dúvida quanto a prática da ritualística durante a última sessão do ano. Eu
ocupava o cargo de Primeiro Diácono e recebi a ordem do Venerável Mestre de
buscar o livro de presenças junto ao Chanceler (cumprindo assim a minha
atribuição prevista no ritual). O Mestre de cerimônias me advertiu que nenhum
irmão deve transitar em loja senão acompanhado pelo Mestre de Cerimônias (o que
também está correto). Após a sessão conversamos com um MI do quadro bastante
experiente, ele disse que ambos estão corretos e que esse seria um erro no
ritual. Gostaria de saber a opinião do irmão quanto a essa questão. E se
realmente for um erro do ritual, se há previsão de correção para a nova edição.
CONSIDERAÇÕES
Antes
um comentário pertinente sobre os Diáconos, cargos originais da Maçonaria anglo-saxônica
que foram introduzidos no REAA.
Os
Diáconos foram admitidos no REAA (rito de origem francesa) apenas e tão somente
para trabalhar como mensageiros na liturgia da transmissão da palavra.
A
transmissão da palavra que ocorre na abertura e encerramento não tem o caráter
de telhamento e nem de ofício administrativo, porém é representação simbólica
de uma prática haurida dos velhos costumes operativos nas oportunidades em que
eram nivelados e aprumados os cantos da construção (no início e no final da
jornada de trabalho).
Nos
tempos do ofício (Maçonaria Operativa) os Diáconos, então os antigos oficiais
de chão, eram os mensageiros que atuavam na imensidão dos canteiros de obra como
interlocutores entre o Mestre da Loja (mais tarde o Venerável Mestre) e os Wardens
(zeladores, diretores) que mais tarde seriam os Vigilantes.
forte influência da vertente da Grande Loja dos Antigos de 1751, não é de se estranhar que ele tenha recebido na sua liturgia muitas reminiscências dos costumes hauridos dos canteiros medievais, nossos antecessores.
Nesse
sentido, o REAA, vislumbrando rememorar as aprumadas e nivelamentos das velhas construções
medievais, recebeu no seu contexto ritualístico a alegoria da transmissão de uma
palavra que, se transmitida nos conformes, significava estar justa e perfeita, ou
seja, especulativamente simboliza um trabalho eficientemente, isto é, nivelado
e aprumado. Na Moderna Maçonaria, em especial o REAA, essa transmissão da palavra
tem o desiderato de simbolizar a aplicação do nível e do prumo nos cantos da
obra (vide as joias dos Vigilantes). Vale lembrar que na Maçonaria Especulativa
o elemento primário “pedra” fora substituído simbolicamente pelo material humano
(o homem).
Assim,
os Diáconos, lembrando os mensageiros operativos dos velhos canteiros medievais
acabariam admitidos na liturgia do REAA com a finalidade única de atuar na
transmissão da palavra.
Graças
a isso é que a dialética de abertura no REAA menciona a presença dos Diáconos
como transmissores de ordem, mas isso apenas como lembrança de uma ação comum que
ocorria nos tempos primitivos da Maçonaria e nunca literalmente como auxiliares
imediatos do Venerável Mestre e dos Vigilantes. Para desempenhar essa função
administrativa (não iniciática), o REAA tem no seu quadro o cargo de Mestre de
Cerimônias.
Por
esses comentários, reitero que no REAA os Diáconos estão presentes apenas
para atuar na alegoria da transmissão da palavra. A função de levar
recados, bilhetes, documentos e outros do gênero dentro de Loja é ofício do
Mestre de Cerimônias. As indagações e respostas que envolvem os Diáconos na ritualística
da abertura dos trabalhos apenas justificam o ato da alegoria e o seu caráter
histórico e iniciático, não cabendo, portanto, para eles o ofício do Mestre de
Cerimônias.
No
que diz respeito especificamente à sua questão, nela existem várias
contradições. Por exemplo, o ritual não manda o Diácono buscar documentos para
ninguém em Loja. Como foi explicado, a dialética de abertura nada tem a ver
com procedimentos administrativos que ocorrem na liturgia dos trabalhos. Nesse
caso, quem deveria buscar o livro de presenças era o Mestre de Cerimônias, não
o Diácono. Nas suas funções os Diáconos servem apenas como mensageiros da
palavra sagrada entre as Luzes da Loja. Nessa oportunidade eles se deslocam
pela Loja sem a necessidade de serem conduzidos pelo Mestre de Cerimônias ou
outro guia. De fato, quem conduz alguém em Loja, indo sempre à frente do conduzido,
é o Mestre de Cerimônias que, nessa ocasião deve estar munido do seu bastão. Os
Diáconos, no exercício da sua função (única e exclusiva para transmitir a
palavra) não carecem de um condutor. Não custa lembrar que um Experto também atua
em determinadas ocasiões como um condutor, ou guia na Loja.
Concluindo, vale mencionar que na plataforma do GOB RITUALÍSTICA encontra-se
o SOR – Sistema de Orientação Ritualística. Esse sistema traz inúmeras
explicações, correções e orientações para os rituais em vigência. O SOR está
amparado pelo Decreto 1784/2019 do Grão-Mestre Geral e encontra-se publicado no
Boletim Oficial do GOB sob o nº 31, mês de outubro de 2019.
T.F.A.
PEDRO JUK
Secretário Geral de Orientação
Ritualística - GOB
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JULHO/2022
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