quinta-feira, 20 de outubro de 2022

FERRAMENTAS DE UM COMPANHEIRO MAÇOM NO REAA

Em 06.04.2022 o Companheiro Maçom Irmão Gilbert Povidaiko, Loja Cavaleiros em Ascensão, 3004, GOB-SP, REAA, Oriente de Guarulhos, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

 

FERRAMENTAS DO 2º GRAU

 

Acabo de passar pela arguição à Mestre em minha Loja. Estudando o Ritual e Instruções Complementares, me surgiu uma dúvida: qual é (ou quais são) as ferramentas de trabalho do Comp?

Explico:

Ao realizarmos as 05 viagens, ainda como AApr, pelo Ritual me fica claro que Maço e Cinzel, Régua e Compasso, Régua e Alavanca e Régua e Esquadro (pulo aqui a última viagem) remetem aos 05 anos que um Aprendiz deva trabalhar para ser Elevado a Comp. Portanto, seriam ferramentas de Aprendiz.

Após a última viagem, juramento, sinal, toque e palavras, ou seja, já como Comp, e bem no final da sessão, uma fala do Orador me chamou a atenção, à qual transcrevo com minha
interpretação: agora já instruído nas práticas manuais, o Comp
tem um trabalho mais intelectual, social, e dedica-se à Elevação da Obra Social, devendo, já com as pedras cortadas, lavradas, transportadas e niveladas (pelos AApr) dedicar-se a "rejuntar" as imperfeições destas pedras com a argamassa da Fraternidade, tolerando os defeitos dos IIr ao mesmo tempo que lhes corrige através de boas palavras e bons exemplos.

Nesse contexto, me parece que a única ferramenta do Comp seria a Trolha, e que as usadas nas viagens seriam dos AApr. O que me leva a concluir que, enquanto Apr (03 anos), o Maço e Cinzel seriam as ferramentas do período como aprendiz recém iniciado (rough mason), que apenas faz o corte de pedras de forma grosseira, e que os 05 anos de Comp, e todas as acima descritas ferramentas, remeteriam ao período de Aprendiz mais instruído (stone mason), mas ainda assim Apr

Se possível, gostaria de suas possíveis considerações a respeito, visto sua enorme capacidade nestes assuntos.

 

CONSIDERAÇÕES:

 

Vou reeditar uma resposta que eu dei ainda nos tempos do JB News do saudoso Irmão Jerônimo Borges em 22 de fevereiro de 2017, Informativo 2337, destacando que fiz algumas atualizações no seu texto em outubro de 2022.

Eis o texto atualizado:

Para os Ritos de origem francesa, como é o caso do REAA, os instrumentos de trabalhos consagrados do Companheiro Maçom, tem sido, segundo a alegoria conexa ao Painel do 2º Grau, a Régua Graduada (conhecida com 24 Polegadas), a Alavanca e o Esquadro, além do Maço e da Colher de Pedreiro (Trolha).

Algumas alegorias apresentam o Companheiro trazendo o conjunto Maço e Cinzel.

Baseado em tratadistas confiáveis a exemplo de Jules Boucher, Theobaldo Varolli Filho, José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, dentre outros, eu entendo, que as ferramentas oficiais do Companheiro Maçom no contexto doutrinário do REAA são aquelas que constam no seu Painel do Grau que consta no Ritual de Companheiro Maçom, REAA, GOB, 2009.

Nesse caso aparecem as seguintes ferramentas dentre outros símbolos: a Alavanca e a Régua Graduada, a Colher de Pedreiro (Trolha) e ainda o Maço e o Cinzel.

Sob o aspecto prático, qualquer instrumento usado na construção se constitui como elemento fundamental nas diversas etapas da Obra, principalmente quando se leva em conta os tempos operativos onde somente existiam duas classes profissionais de trabalhadores (não eram graus especulativos), o Aprendiz Iniciado e o Companheiro do Ofício.

Em algumas corporações de canteiros havia o Aprendiz recém-iniciado (Júnior Aprendiz) e o Aprendiz do Ofício (Senior Aprendiz).

Em ambos os casos, o Mestre da Obra era naquela época um Companheiro experimentado escolhido dentre outros Companheiros do Ofício para conduzir os trabalhos no canteiro. Geralmente o Mestre da Obra era assessorado por dois imediatos então conhecidos por Wardens (zeladores, diretores) que mais tarde ficariam conhecidos como Vigilantes.

No que diz respeito aos seus instrumentos de trabalho, salvo as duas primeiras ferramentas, o Maço e o Cinzel específicos do Aprendiz, os demais eram paulatinamente usados pelos operários conforme as necessidades exigidas pelas diversas etapas da construção.

Assim, atualmente, na Moderna Maçonaria é difícil de maneira generalizada atribuir essa ou aquela ferramenta como própria de um Grau especulativo, sobretudo pelas características iniciáticas hauridas da profusão de ritos maçônicos a partir do século XVIII na Europa.

Nesse sentido, os exegetas preferiram atribuir elementos de trabalho específicos (ferramentas) conforme o conteúdo iniciático vislumbrado no Painel do Grau de cada rito, todavia se faz cogente compreender que no agrupamento de símbolos do Painel também existem outros emblemas, que não são propriamente ferramentas, mas que são elementos constitutivos do Grau. É o caso, por exemplo, de duas das Três Grandes Luzes Emblemáticas (Esquadro e o Compasso unidos) correspondentes à Loja e o Venerável; o Nível e o Prumo como identificadores dos Vigilantes; a Espada associada ao Experto como condutor; a letra G correspondente à Geometria aplicada, etc. (toda essa simbologia se encontra no Painel).

Perceba-se que esses são elementos simbólicos que junto com as ferramentas do Companheiro constituem, de modo velado (compreensível aos Iniciados) a Loja. Em síntese, o conjunto instrumental de ferramentas é parte do relicário simbólico dos ensinamentos do Companheiro Maçom.

Nesse contexto, os objetos de trabalho mais apropriados para o Companheiro Maçom do REAA que constam no Painel são o Maço, a Régua Graduada, a Alavanca, o Esquadro e a Colher de Pedreiro (Trolha).

Genericamente, eis na sequência as suas aplicações no contexto doutrinário: o Maço: o Companheiro o utiliza para ajustar as pedras justapostas e unidas pelo mesmo cimento (o 1º trabalho na P C). Como o Grau de Companheiro simboliza o Iniciado que adquiriu mais conhecimento, então ele poderá golpear a pedra com discernimento, isto é, ajustá-la na parede golpeando-a sem esfacela-la. A Régua Graduada: serve ao Companheiro para medir as proporções e verificar a possível existência de arestas que deverão ser então corrigidas conforme as exigências da Arte. A Alavanca: é a digna representação da ação e do trabalho (pragmática do Grau na juventude); ela move as pedras pelo esforço compensatório. A Colher de Pedreiro (a Trolha): alisa a argamassa que excede no assentamento e retifica juntas extirpando material desnecessário. Por fim o Esquadro: verifica os cantos esquadrejados a partir da sua base de acordo com as exigências da Arte. É a preparação dos cantos para que o 2º Vigilante por eles passe o Prumo (cantos nivelados e aprumados na elevação da Obra).

Enfim, essa é a exegese sintética relativa às ferramentas utilizadas pelo operário colado no Segundo Grau da Moderna Maçonaria no REAA.

Ainda, no que diz respeito aos instrumentos empunhados pelo candidato à Elevação durante a alegoria das viagens simbólicas, estas representam as etapas de aperfeiçoamento na transição do 1º para o 2º Grau pelo obreiro que busca o aumento de salário. No período Operativo da Ordem geralmente esse tempo durava aproximadamente cinco anos.

Assim, a alegoria das viagens simbólicas, com suas perambulações e permutas de instrumentos representa o tempo de evolução profissional do artífice. A última delas, demonstra a sinceridade, onde o Iniciado simbolicamente doa seu cor à Fraternidade (a Esp, o Exp e a região cordial do Iniciado).

Esse é o meu entendimento no tocante às ferramentas simbólicas do Companheiro Maçom do REAA, observando o Painel do 2º Grau do ritual em vigência e a consagrada alegoria do Companheiro da vertente francesa de Maçonaria onde o Companheiro, dentre outros instrumentos de trabalho, traz a Régua Graduada sobre o seu ombro esquerdo.

São esses os comentários pertinentes à sua questão.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

OUT/2022

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