domingo, 13 de agosto de 2023

INFLUÊNCIAS SOBRE A CONSTRUÇÃO RITUALÍSTICA DO REAA

Em 08.04.2023 o Respeitável Irmão Roberto Matsumoto, sem mencionar o nome da Loja e Oriente, Rito Moderno, GOB-SP, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte.

 

INFLUÊNCIA NO REAA

 

Uma dúvida, quando o Conde de Grasse-Tilly trouxe o REAA de Charleston para Paris em 1804, o REAA não tinha os graus simbólicos. Então ele adotou o Regulateur Du Maçon de 1801, (agora é minha dúvida) + Jachin e Boaz de 1762 ou foi Three Distinct Knocks?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

           O resumo dessa história é o seguinte: a elaboração de um ritual para o simbolismo do REAA, inexistente naquela época, deu-se no ano de 1804 na França e sua construção teve três elementos fundamentais principais: o Regulateur du Maçon de 1801 do Grande Oriente da França para servir o Rito Francês ou Moderno; a exposure pertinente aos Antigos de 1751 denominada As Três Pancadas Distintas na Porta da Antiga Maçonaria (1760) e a criação da Loja Geral Escocesa então constituída em outubro 1804 para gerenciar a elaboração do primeiro ritual. Essa Loja Geral Escocesa trouxe como contribuição para o primeiro ritual a disposição da Colunas B e J conforme o costume dos “antigos” (B à esquerda de quem entra e J à direita), a predominância da cor vermelha (encarnada) na decoração do templo, a ornamentação estelar da abóbada e a aclamação Huz!

Assim, Grasse Tilly, um dos fundadores do 1º Supremo Conselho do REAA nos Estados Unidos da América do Norte a 31 de maio de 1801, de retorno à França no ano de 1804, desconhecia completamente qualquer relação com a forma maçônica de trabalho dos Modernos Ingleses da Primeira Grande Loja, esta então fundada em Londres no mês de junho 1717.

Vale ressaltar que no século XVIII a exposure relativa aos “modernos” era conhecida como Jachin and Boaz e a pertinente aos “antigos” The Three Distinct Knocks. As exposures eram revelações (traições) que apareciam publicadas nos jornais londrinos e que contavam ao mundo profano como os maçons trabalhavam nas suas Lojas. Isso acabou se tornando algo muito rentável economicamente sobretudo pelo interesse que o assunto despertava na população dos não iniciados.

À vista disso, Jachin and Boaz revelava como os modernos trabalhavam e The Three Distinct Knocks como os antigos trabalhavam nas suas Lojas.

Os títulos Modernos e Antigos era a designação dada aos maçons das duas Grandes Lojas rivais que protagonizaram conflitos até novembro de 1813, quando pelo Ato de União era então fundada a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Antes de 1804, nos EE. UU. da América, os graus iniciais do sistema americano denominado Blue Lodges foi quem deu suporte inicial à prática dos três primeiros graus do REAA, já que nos EE. UU. da América o escocesismo, derivado do Rito de Perfeição, ou de Heredon, não possuía graus simbólicos, ou seja, o REAA, nominado com 33 graus, na realidade possuía apenas 30 graus a partir do 4º Grau.

Isso fez com que o REAA para trabalhar em solo norte-americano emprestasse das Blue Lodges os três primeiros graus fundamentais (Aprendiz, Companheiro e Mestre). Desse modo o escocesismo, originalmente francês, acabaria, por conta desse fato, recebendo das Lojas Azuis algumas influências anglo-saxônicas.

Graças a isso, o sistema das Lojas Azuis norte-americanas acabaria ficando bem conhecido de Grasse Tilly, um dos idealizadores do REAA. Vale destacar nesse contexto que o franco-maçônico básico das Lojas Azuis possuía íntima relação com a Grande Loja dos Antigos ingleses de 1751. Isso fazia com que os norte-americanos refutassem qualquer ligação com a Grande Loja dos Modernos porque essa Grande Loja estava intimamente ligada à Coroa Britânica e o interessa das colônias norte-americanas era o de declarar a sua independência da Inglaterra.

Em função disso, Thomas Smith Webb, ao estruturar o ritual para as Blue Lodges, a exemplo do Duncan's Ritual, se apoiou da prática ritualística da Grande Loja dos Antigos que eram rivais dos Modernos. Assim é que se pode explicar o porquê da vertente anglo-saxônica que existe até hoje no escocesismo.

Retomando os comentários sobre o primeiro ritual para o simbolismo do REAA, vale antes lembrar que a vertente francesa de Maçonaria, relativa aos Modernos do Grande Oriente da França tinha como referência para o Rito Francês a exposure Jachin and Boaz, esta pertinente aos modernos ingleses. Sobre esse fato, nada a estranhar. já que foram os ingleses da Primeira Grande Loja que implantaram a vertente maçônica dos Modernos na França. Foi por esse motivo que o Rito Francês ficaria também conhecido como Rito Moderno (em alusão aos Modernos ingleses de 1717).

Já o REAA, que buscava na época construir o seu primeiro ritual para o simbolismo na Europa, em princípio nada teve a ver com a vertente maçônica dos Modernos, pois a vertente do escocesismo na França, nascida por volta de 1649 em Saint Germain-en-Laye, nunca havia se submetido aos mandos dos modernos ingleses da Primeira Grande Loja – procuravam se manter livres nas Lojas livres.

Graças a isso é que o escocesismo acabaria sendo rotulado como a vertente dos maçons livres, antigos e aceitos. Isso também explica o porquê de o REAA ser mais conhecido na Europa como “Rito Antigo e Aceito”.

Em função dessa relação com os “antigos” - e em princípio o distanciamento dos “modernos” - é que na construção do primeiro ritual para REAA a exposure The Three Distinct Knocks de 1760 teve a preferência por parte da Loja Geral Escocesa que funcionava dentro do Grande Oriente da França ao lado do II Supremo Conselho do REAA.

Ainda, no tocante ao primeiro ritual, a única relação possível do escocesismo com à prática dos “modernos” na França se deve superficialmente à também utilização do Regulateur du Maçon de 1801 do GOF, mas nunca especificamente à exposure Jachin and Boaz.

Finalmente, outro aspecto importante, que de certa forma acabou interferindo na originalidade do ritual de 1804 do REAA, foi o aparecimento das Lojas Capitulares no seio do Grande Oriente da França, fazendo com que em 1816 a Loja Geral Escocesa acabasse extinta e o projeto do primeiro ritual começasse a sofrer profundas influências advindas desse sistema criado pelo GOF (vide essa história).

O conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly, descontente com essas interferências acabou por retirar o REAA do GOF, fazendo com que, por um determinado tempo, o escocesismo trabalhasse na irregularidade.

Serenados os ânimos, é bom que se diga que o REAA só não desapareceu por completo graças ao código napoleônico que esteve em vigência até 1814. Assim, o REAA acabaria sendo praticado com Lojas Capitulares sob a égide do GOF. No sistema capitular, o Athersata era também o Venerável Mestre do simbolismo. Em síntese o REAA era praticado até o 18º Grau sob a tutela do GOF, ficando sob o comando do II Supremo Conselho os graus de Kadosh e Consistório.

Dessa demanda fez com que muitas alterações se processaram sobre o ritual primitivo de 1804. Com isso, a partir de 1820/21 aparece um caderno para os três graus simbólicos intitulado Guia dos Maçons Escoceses, mas alavancado ainda por influências capitulares e alguns temperos hauridos do Rito Moderno. E assim tem início a saga dos rituais para o simbolismo do REAA que, ao longo da sua história, acabaria sofrendo inúmeras intervenções que atentariam contra a sua originalidade.

E por aí vai a história dos rituais e das Lojas Capitulares do REAA na França. Uma das marcas dessas intervenções é o Oriente elevado e separado, então criado para ajustar um espaço para o santuário Rosa Cruz. Mesmo após a extinção das Lojas Capitulares essa topografia seria mantida no simbolismo do REAA, mas agora como lugar distintivo para os Mestres Maçons e Mestres Maçons Instalados.

Finalmente, para ilustrar esse comentário, vale mencionar que, dentre outros, originalmente o projeto do ritual de 1804 do REAA não contemplava Oriente elevado e separado do Ocidente nos seus templos

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

AGO/2023

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