segunda-feira, 28 de agosto de 2023

NÚMERO DE NÓS - O CORDEL E A CORDA

Em 14.04.2023 o Respeitável Irmão Giovani Nocchi, Loja Confraternidade Macaubense, 0920, REAA, GOB-RJ, Oriente de Conceição de Macabu, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a dúvida seguinte:

 

NÚMERO DE NÓS

 

Meu querido e amado irmão tudo bem? Tenho uma outra dúvida. Por que alguns rituais possuem a discrepância com relação ao número de nós nas cordas do ritual de aprendizes companheiros? Eram 9, hoje são 3 e no Ritual de Aprendiz são 7?

 

CONSIDERAÇÕES

 

                       Ao longo da trajetória da Maçonaria Especulativa centenas de Painéis de Lojas foram construídos. Entre eles existem muitas diferenças de aparência, mesmo que em um mesmo rito, sobretudo na organização dos seus símbolos. Consequentemente, depende de qual Painel foi adotado e qual deles consta no ritual em vigência.

Principalmente na França, entre os séculos XVIII e XIX, um mesmo Painel muitas vezes servia para o grau de Aprendiz e de Companheiro ao mesmo tempo, destacando-se que inicialmente eram apenas dois graus, o de Aprendiz e Companheiro, já que o grau especulativo de Mestre Maçom somente apareceu em 1725 e seria oficializado
por ocasião da edição da segunda constituição inglesa em 1738.

No que diz respeito à questão apresentada e o número de nós, a referência é sobre o cordel com nós que aparece normalmente nos painéis franceses da Loja. Assim, o cordel (uma corda fina) com um determinado número de nós é um símbolo distinto, e não deve ser confundido com a corda de 81 nós. Digo isso porque eu mesmo já me confundi a esse respeito e acabei escrevendo, em oportunidades passadas, laudas equivocadas e contraditórias sobre. Nesse contexto, vale o que estou aqui escrevendo nessa oportunidade.

No tocante ao cordel com vários nós equidistantes que se apresenta no painel, originalmente ele possuía 12 nós, no entanto, acredita-se que devido à grande quantidade de painéis que foram elaborados, muitas distorções também acabariam aparecendo, fazendo com que, ao gosto de cada um, o cordel aparecesse com uma quantidade de nós diferenciadas dos 12 nós originais.

Nesse caso, é possível encontrar nos diversos rituais que foram elaborados ao longo dos tempos, assim como nos inúmeros painéis das Lojas, desenhos de cordéis com números diferenciados de nós – é possível se encontrar três, cinco, sete e nove nós, senão ainda outros com outras quantidades.

              No que diz respeito ao simbolismo do cordel, vale destacar que ele era uma corda fina ou um barbante resistente, com aproximadamente dois metros, utilizado pelos profissionais para elaborar um gabarito correspondente a um triângulo retângulo que servia
(e ainda serve) para demarcar os “cantos” nivelados e aprumados das construções.

Para tal, esse cordel possuía 12 nós equidistantes e igualmente distribuídos na razão de três segmentos para o cateto menor, quatro outros para o cateto maior e outros cinco para à hipotenusa. Os nós se distribuíam em distâncias iguais pelo artefato a partir de uma das extremidades do cordel. O último nó, o 12º, ficava distante da outra extremidade do cordel em uma distância igual a uma das existentes entre os nós.

Dessa forma, com o cordel os nossos antepassados aplicavam as propriedades do triângulo retângulo utilizando-se do Teorema de Pitágoras, ou a 47ª Proposição de Euclides (a² + b² = c²). Por essa verdade universal eram determinados cada um dos cantos (90º) que seriam elevados.

Por conta disso é que alguns ritos trazem entre os símbolos que compõem o seu Painel da Loja, o cordel. É bem verdade que pela proliferação de painéis diferenciados, muitos deles não respeitaram o número original dos 12 nós.

Nesse particular também vale mencionar que nem todos os ritos adotam o cordel nos seus painéis. No rito de York, por exemplo, ele aparece dessa forma, todavia, se apresenta na tábua de delinear enrolado em um carretel.

Por outro lado, o cordel também não deve ser confundido com a corda com 81 nós, ou seja, aquela corda que em alguns ritos literalmente aparece contornando ao alto as paredes internas do templo, mais precisamente logo abaixo da cimalha ou meia-cana.

Assim, a corda com 81 nós é um símbolo distinto do cordel com nós. Apenas com o fito de comparação com o cordel, seguem algumas ilustrações sobre a corda com 81 nós.

Embora a corda com 81 nós como símbolo não esteja de fato presente entre o relicário simbólico dos painéis, a mesma simboliza, nos ritos que a adotam, a cerca que contornava o espaço de trabalho operativo. Especulativamente, em alguns ritos ela é um dos Ornamentos da Loja de Aprendiz.

À vista disso, conta-se que nos velhos canteiros de obra da Maçonaria Operativa havia geralmente uma corda contornando o espaço ocupado pelas oficinas de trabalho. Geralmente ela era fixada em paliçadas que iam fincadas no chão.

Esse canteiro retangular cercado pela corda era orientado de Leste para Oeste e possuía, na sua banda ocidental, entre dois postes maiores fixados de maneira simétrica, uma abertura que servia como entrada e saída do recinto. Em cada um dos dois postes maiores ficavam fixadas as respectivas extremidades da corda.

Historicamente esse “cercado” não era necessariamente fixado por 81 nós em 81 paliçadas, pois eles poderiam variar em número conforme o tamanho do canteiro de obras (loja, alojamento, oficina). O número 81 nesse caso nada tem a ver com a Maçonaria de Ofício, mas com a Especulativa onde fora inserido para atender aspectos iniciáticos.

Dessa forma, esse símbolo ornamental apareceria em alguns ritos maçônicos “cercando” simbolicamente os seus templos em alusão aos canteiros de obras dos nossos ancestrais.

À vista disso é que na simbologia da Moderna Maçonaria o cordel com 12 nós e a corda com 81 nós são elementos simbólicos distintos. De certa forma, pode-se dizer que um deles, o cordel, está presente para lembrar a arte da Geometria que já era utilizada pelos nossos antepassados. Já corda, a despeito dos seus significados esotéricos, lembra também as oficinas operativas dos maçons antigos. Nesse particular, destaque-se que as Lojas na Moderna Maçonaria, representam, de maneira estilizada, os velhos redutos e alojamentos onde trabalhavam os nossos ancestrais.

Finalizando, destaco que em relação aos diferentes números de nós encontrados nos cordéis e nos respectivos painéis, de certa forma todos eles representam o antigo cordel que era utilizado pelos pedreiros nas construções medievais. Atualmente ele é um dos instrumentos de trabalho utilizado pelo Mestre Maçom.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK – SGOR/GOB

jukirm@hotmail.com.br

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

AGO/2023

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