Em 14/03/2017 o Respeitável Irmão
Cláudio Rodrigues, REAA, Grande Loja Maçônica do Estado de Minas Gerais,
Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, solicita explicações para o
que segue:
TELHAMENTO OU TROLHAMENTO E SENHA DE RECONHECIMENTO NO GRAU DE COMPANHEIRO.
Mano Pedro Juk. O Professor. Direto
ao ponto: Telhamento ou Trolhamento? E sobre o Telhamento do Companheiro Maçom,
a saber: quando da resposta, "E\ V\ a E\ F\ a resposta certa é "vi" ou
"vejo". Pergunto-lhe porque me doeram os ouvidos sobre a resposta:
"vejo". Ora, há tempos aprendi ser: "vi" e não "vejo".
CONSIDERAÇÕES
Telhamento ou
trolhamento? Eu
poderia começar com outra pergunta: afinal cobre-se o edifício com telhas ou
com trolhas?
Vou reprisar um texto a respeito que
escrevi há dois anos.
Conforme o Novo
Dicionário Aurélio – atualizado e versão eletrônica:
Trolha - Substantivo
feminino - 1. Espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa que vai
usando. 2. Brasil - Desempoladeira. Substantivo
masculino. 3. Pedreiro ruim. 4. Servente de pedreiro.
Telhar - Verbo
transitivo direto - 1. Cobrir com telhas; atelhar.
Telhador (De telhar + -dor) - Substantivo masculino - 1. Aquele que
telha.
Telhadura (De telhar + -dura) - Substantivo feminino - 1. Ato ou efeito
de telhar. 2. Lugar onde se fabricam telhas.
Neologia – Substantivo
feminino - 1. Emprego de palavras novas, ou de novas acepções.
Neologismo - Substantivo masculino - 1. Palavra ou
expressão nova numa língua. 2. Por extensão - Significado novo que uma palavra
ou expressão de uma língua pode assumir.
Ponderações sobre os termos “telhamento e
trolhamento” em Maçonaria:
A origem dos
“trabalhos cobertos” vem dos canteiros medievais onde os planos da obra, contratos
de trabalho e o ensinamento da “arte” eram sigilosos. Essa prática estendeu-se
para a Maçonaria Especulativa e por extensão a Moderna Maçonaria.
Nesse caso a
referência feita à “cobertura” significa exatamente o sigilo no trato dos
acontecimentos e assuntos maçônicos dentro da Loja. Assim o rótulo assumiu o
neologismo maçônico de “telhamento”
pela cobertura dos trabalhos – ninguém pode ver nem ouvir o que se passa no
canteiro (Loja).
Desse costume
apareceria o cargo do Cobridor como aquele que figuradamente cobre os trabalhos
na Loja. Dependendo da vertente maçônica existe o Guarda Externo (francesa) e o
Tyler (inglesa), assim como os
conhecidos Cobridores , ou Guardas Internos.
Como o termo se
refere ao sigilo, os Sinais, Toques e Palavras guardados como verdadeiros
segredos da Ordem assumiram também as características de “cobridores do grau”,
posto que além de afastar bisbilhoteiros, preserva os segredos de cada grau,
dando o caráter de qualidade para o maçom participar ou não de uma sessão de
acordo com o seu nível de aprendizado.
Assim o termo
“cobertura” identifica-se com “telha” que, por extensão dá o caráter de
“telhamento” (neologismo – termo encontrado no idioma vernáculo é telhadura).
Também dessa
associação apareceria o uso da palavra “goteira” para um não iniciado (costume
adquirido pela má cobertura do recinto).
Acrescente-se aqui
uma explanação em Maçonaria sobre o termo “goteira” e a sua relação com a
“cobertura” do recinto (Loja). Alguns antigos fragmentos mencionam que havia o
hábito na Grã-Bretanha medieval quando nos canteiros de obra um elemento espião
ou intruso era pego espiando e vasculhando os planos da obra de uma oficina
operativa - o fato também se aplicava para um “cowan” (do dialeto escocês para aquele que assentava pedras sem
argamassa – o picareta ou aquele que não possuía qualificação) – o intruso,
antes de ser expulso, era então amarrado e colocado sob as calhas que
despejavam as águas pluviais geladas dos telhados, o que se resumia num
belíssimo castigo, principalmente em se levando em conta à temperatura nada
agradável que frequentemente ocorria, e ainda ocorre, sobre aquela região da
banda boreal do nosso Planeta. Desse costume apareceria então à expressão “tem
goteira”, que prevaleceu até na Moderna Maçonaria, quando porventura haja a
possibilidade de existir a presença de um não iniciado nos ambientes maçônicos.
Desse particular existe desde então a relação figurada da “goteira” com a
cobertura com telhas de um ambiente e o respeito ao sigilo do que ali se passa
– usa-se no mesmo sentido também a expressão “está chovendo”.
Infelizmente,
embora já exaustivamente explicado, alguns tratadistas ainda produzem o
equívoco de confundir “telhamento”
com “trolhamento”. Essa interpretação
enganosa foi inserida nos rituais brasileiros de há muito tempo atrás por erro
de tradução e vem se reproduzindo como uma erva daninha, embora alguns autores
ainda “tentem” achar uma justificativa para a mesma.
O substantivo
“trolha” rotula um instrumento usado pelo pedreiro no seu ofício. Ela pode ser
a “colher de pedreiro”, ou a “desempoladeira, ou desempenadeira” donde o
artífice se serve da argamassa e alisa a superfície para aparar arestas. Desse
procedimento operativo, surgiria o termo figurado de “trolhamento” (outro
neologismo maçônico) sugerindo a ação de aparar rusgas por eventuais
desentendimentos entre os Irmãos.
Existe ainda o
equívoco por parte de alguns tratadistas quando confundem a “trolha” com o ato
de verificação, porque alguns Ritos, por exemplo, revivem na Maçonaria através
da joia distintiva do seu Cobridor, ou Guarda do Templo, também a figura de uma
“trolha” (veja, por exemplo, a joia distintiva do Cobridor do Rito Schröeder).
Esse costume simplesmente bastou para que alguns desavisados confundissem a
“trolha” e “o trolhamento” como o ato de verificação do “telhamento”. A figura
da trolha nesse caso - quando componente distintivo do Cobridor - significa
simplesmente que ele tem o ofício de “vedar a passagem de alguém”, ou “ergue
uma parede no caminho” no intuído de literalmente “não deixar passar” –
obviamente àquele que não possua qualificação maçônica suficiente. Infelizmente
nesse caso a falsa interpretação e uma atenção mais acurada do símbolo por
parte de alguns, somente contribuiu com o mistifório que equivocadamente associou
a “trolha” com o ato do “telhamento”.
Em verdade o ato do
trolhamento significa sim apaziguar,
enquanto que o de telhamento implica
em cobrir. Afinal cobre-se um recinto com telhas ou com trolhas?
O que não faz
sentido é fazer analogia do trolhamento
com o sigilo e o segredo maçônico, já que como Landmark específico o sigilo e o
segredo fazem parte da “cobertura dos trabalhos maçônicos”, e nunca da
digamos... “trolhadura dos
trabalhos”.
Definições
maçônicas para os termos:
Telha (do latim tegula) – substantivo feminino: designa uma peça, em geral de barro
cozido, usada na cobertura de edifícios.
Telhador – substantivo masculino: designa
aquele que telha.
Telhadura –
substantivo feminino: designa o ato ou efeito de telhar.
Telhamento – neologismo maçônico: designa o
mesmo que telhadura.
Trolha (do latim
trullia, variação do latim trulla) – substantivo feminino: designa
uma espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa da cal que vai se
servindo. Designa no Brasil, também a desempoladeira; a desempenadeira.
Trolhamento – neologismo
maçônico: designa o ato ou efeito de trolhar (neologismo).
A telha – Na
Maçonaria moderna como uma “construtora social”, os instrumentos de trabalho e
materiais são simbolicamente os dos construtores de edifícios. Assim a cobertura
do Templo também está em não permitir a presença de intrusos e bisbilhoteiros.
Simbolicamente é feita a cobertura com telhas através do Telhador, por extensão
o Cobridor, ou aquele que cobre.
É a origem como aqui já
mencionada do termo “goteira” que em Maçonaria significa o lugar descoberto, ou
o bisbilhoteiro que espiona os trabalhos – para que isso não venha acontecer o
Cobridor “cobre o Templo”.
O telhador – Como
oficio daquele que cobre de telhas. Em Maçonaria recebe também o título de
Cobridor, ou o Guarda do Templo, a quem compete o ato de “telhar”, ou fazer o
“telhamento” naqueles que se apresentam à porta do Templo para verificar a sua
qualidade maçônica de iniciado, bem como o seu Grau conforme o trabalho da
Loja.
Telhar (o ato de) – verbo transitivo direto
significa o ofício de cobrir com telhas. Em Maçonaria compete ao Cobridor, ou
Telhador, o ofício de telhar, ou examinar nos toques, sinais e palavras, os
visitantes que se apresentam à porta do Templo no intuito de verificar se os
mesmos são realmente Maçons e posteriormente se certificar da qualidade
maçônica conforme o Grau para ingressar nos trabalhos que estão sendo
realizados. Infelizmente o termo tem ainda sido confundido com o ato de
“trolhar”, que verdadeiramente significa o ato de “passar a trolha”. Assim,
trolhar nesse caso é termo altamente incorreto para se designar o referido
exame, já que telhar está ligado ao ato de cobertura e cobertura é feito com
telhas, não com trolhas. Do mesmo modo o Cobridor, ou Telhador não possui o título
de “trolhador” em qualquer Rito ou
Trabalho maçônico.
A trolha – a
Moderna Maçonaria como construtora social, viria absorver inúmeros instrumentos
da arte de construir. Sob esse prisma a trolha não deixaria de nela ter um
importante significado simbólico. Alguns autores, provavelmente pela etimologia
da palavra, defendem a tese de que a trolha seria a colher de pedreiro. Contudo
seja ela a colher de pedreiro, seja ela a desempoladeira, ou desempenadeira,
conforme a definição apontada por bons dicionaristas do idioma vernáculo, a
verdade é que ela, dentro das suas funções, serve para alisar a argamassa
aparando e preenchendo as rugosidades.
Ratificando - a trolha e o ato de
trolhar (neologismo maçônico)
significam o meio que é usado para apaziguar os Obreiros que porventura estejam
em litigio - aparar arestas. Esse apaziguamento, ou esse entendimento é
rotulado pelo neologismo maçônico como “trolhamento”, já que trolhar designa o ato de passar a
trolha.
Como dito, lamentavelmente o
termo “trolhamento” ainda tem sido
equivocadamente usado em lugar do “telhamento”
como se ambos tivessem o mesmo sentido e, o que é pior, é a capenga
justificativa daqueles que buscando a lei do menor esforço traduzem
enganosamente as expressões “por iguais
conforme o rito!”. Quem usa dessa afirmativa dá prova de completo
desconhecimento da origem dessas práticas. Enfim, “telhamento” é um dos ofícios do Cobridor (Tyler) para verificar a qualidade
maçônica de alguém. Já “trolhamento”
significa o ato de apaziguar eventuais rusgas ou desentendimentos entre os
Irmãos.
E\ V\ A E\ F\ - É a
senha de reconhecimento e faz parte do Cobridor do Grau de Companheiro Maçom.
Assim, a segunda letra referente à frase tripontuada corresponde ao verbo
transitivo direto “ver” (conhecer ou
perceber pela visão; olhar para; contemplar) conjugado na primeira pessoa
do pretérito perfeito, portanto é “vi” e não “vejo” (sic) como questionado acima.
O tempo verbal no pretérito é usado devido a sua relação com uma passagem tradicional
na cerimônia de Elevação do REAA (espero
que ela conste no seu ritual) onde o Venerável solicita àquele que está
sendo elevado que contemple a E\ F\. Foi por conta desse momento na
cerimônia que o protagonista sugestivamente aprendeu (no pretérito), com
as palavras proferidas pelo Venerável, qual o significado da E\.
Em síntese a E\ é o
ícone representativo que concentra todo o conhecimento do Grau. É graças a essa
alegoria que o Companheiro, quando interpelado na forma de costume, responde
que ele viu, isto é, compreendeu o significado desse importante Ornamento
da Loja, de tal sorte que essa compreensão lhe proporcionará um dia
qualificação para, pela sinuosidade da Escada em Caracol, alcançar a Câmara do
Meio.
Assim, no caso da senha de
reconhecimento, a visão da E\ F\ se reporta ao passado, ou quando
da cerimônia de Elevação do candidato, e não ao presente, pois a regra menciona
que somente aquele que “viu” antes a E\ pode se tornar Companheiro.
Infelizmente Mano, ainda não
deixamos de iniciar inventores. Provavelmente esses, por tratarem a simbologia
maçônica com a maléfica licenciosidade, acabam inserindo práticas e definições
completamente equivocadas e alheias à racionalidade dos fatos. Essa “estória”
de proferir o verbo “ver” na primeira pessoa do presente por ocasião da senha
de reconhecimento é um belo exemplar dessas incursões temerárias. Esse é mais
ou menos como aquele costume de se achar um eterno Aprendiz. Ora, isso é mera
desculpa esfarrapada de quem não estuda e quer justificar o seu comodismo pela
ignorância das coisas.
Dando por concluído, essas são as
minhas ponderações a respeito das suas questões.
T.F.A.
PEDRO JUK
ABRIL/2017
Além de considerar as filigranas linguísticas que envolvem a questão (telhamento ou trolhamento) considero o Ritual, especificamente ao de Aprendiz como orientação.
ResponderExcluirApós a constatação que o Templo está coberto e devidamente composta procede-se a abertura dos TRABALHOS.
É possível encontrar várias outras passagens (em todos os graus simbólicos) que todos que alí estão trabalhando e não por mera recreação ou visitando.
Para o trabalho cada um dos presentes estará munido (simbolicamente) de uma ferramenta.