Em 03/10/2017 o Respeitável Irmão
Leonardo Pavani, Loja Perseverança e Fidelidade, 2.968, REAA, GOB-SC, Oriente
de Araranguá, Estado de Santa Catarina, formula a seguinte questão:
BALANDRAU
Meu Irmão, vou recorrer novamente ao seu brilhante conhecimento em
relação ao uso do balandrau.
Vejamos, conforme RGF Art. 110, onde diz: "Os Maçons presentes às
sessões mag
§ 1º - Nas demais sessões, se o rito permitir, admite-se o uso do
balandrau preto, com gola fechada, comprimento até o tornozelo e mangas
compridas, sem qualquer símbolo ou insígnia estampado.
Isso gerou um debate em nossa oficina, de fato o balandrau é permitido
durante as sessões? Ou, o maçom deve usa-lo somente em casos esporádicos?
O que o Irmão entende sobre isso?
CONSIDERAÇÕES.
Sem muitas delongas
e nem outros exercícios de interpretação, eu entendo que o balandrau é, no caso
do REAA\ perfeitamente permitido, exceto nas
Sessões Magnas. Obviamente que ela deve ser uma veste talar (vai até os talões)
e deve ser de cor negra sem estampas.
No REAA\ o uso do balandrau negro está
previsto no respectivo ritual.
Segue um dos comentários que já fiz a
respeito do balandrau e que foi publicado no Blog do Pedro Juk:
A questão do uso do balandrau na
Maçonaria tem causado, em não raras vezes, muitas discussões, sobretudo no que
diz respeito à regularidade do seu uso.
O balandrau menciona, dentre outros,
ser uma antiga vestimenta de capuz e mangas largas, abotoado na frente às vezes
usados por membros de confrarias e geralmente por comunidades religiosas.
Na Moderna Maçonaria, provavelmente
por influência das antigas Associações Monásticas medievais (uma das ancestrais
da Ordem), ele tem tido o seu uso permitido em alguns ritos maçônicos, geralmente
nas sessões econômicas (ordinárias), porém como veste talar (até os tornozelos)
e de cor negra.
Segundo Steinbrenner in História da
Maçonaria, amplamente mencionado por José Castellani em algumas de suas obras,
o balandrau teve origem entre construtores à época do Imperador romano Numa
Pompílio (século VI a. C.) [1]
e os Collegia Fabrorum, cujos componentes eram os Collegiati e formavam a
primeira associação de ofício organizada que se tem notícia e que acompanhavam
as legiões de soldados romanos pela Europa com a finalidade de reconstruir o
que fosse destruído nos conflitos deflagrados pelas conquistas de novas
regiões.
No intuito de diferenciar os
construtores dos legionários, os Collegiati usavam uma túnica escura, o que
seria também adotado mais tarde pelas Associações Monásticas, Confrarias Leigas
e por fim pelas Associações de Ofício operativas dos francos-maçons medievais,
as quais tinham como característica particular a liberdade concebida pela
Igreja para viajar de um lugar para o outro. Durante esses deslocamentos, os
construtores tinham o hábito de se vestir com um balandrau negro, geralmente na
época com capuz.
Como a Moderna Maçonaria é herdeira
dessas confrarias medievais, o costume do uso do balandrau é nela perfeitamente
justificado, a despeito de que ele não seja permitido em determinadas ocasiões
da atualidade, a exemplo das sessões denominadas “magnas” onde nelas se exige
geralmente o uso do terno preto ou escuro.
De fato, alguns ritos maçônicos a
exemplo do York e do Schröder têm o hábito conservacionista de não permitir o
uso do balandrau, salvo em casos excepcionais e relativos a visitantes que não
pertençam a esses ritos.
Comentários à parte é discutível a
obrigatoriedade do uso de trajes como o terno preto (paletó, calça e colete), ou
a parelha preta (paletó e calça) acompanhados de camisa branca e gravata preta
na Maçonaria, até porque isso tem mesmo é uma forte dose de influência clerical
– o traje como sinal de respeito - do que um pretenso simbolismo que possa
envolver uma vestimenta.
Há que se levar em conta também, que
o traje masculino vem sofrendo variações através dos tempos e de acordo com os
costumes dos povos, assim é temerário se querer estereotipar um traje único
para a Maçonaria.
As roupas do século XVIII, época em
que floresceu a Moderna Maçonaria, eram bem diferentes das atuais, além do que
muitos povos usam ainda suas roupas típicas; os militares maçons, não raras
vezes nas sessões das Lojas, usam os seus uniformes. Então nos parece um pouco
contraditório que se estabeleça um traje padrão universal para a Maçonaria com
base apenas na cultura ocidental contemporânea como é o caso do terno preto (no
Brasil era o antigo traje de missa).
No que diz respeito ao verdadeiro
traje maçônico e sua universalidade, indiscutivelmente ele é o avental,
já que é regra indispensável seu uso pelos maçons nas sessões maçônicas, a
despeito, obviamente, de que por baixo do avental o maçom esteja trajando roupa
decente e apropriada para a sessão, coisa que, sem qualquer dúvida, o balandrau
supre perfeitamente esse objetivo. Nesse sentido, afirmar que o balandrau não é
trate maçônico parece ser irrelevante já que o verdadeiro traje maçônico é o
avental e que, por debaixo dele, o balandrau, desde que preto e talar, poderia
perfeitamente ser vestido.
Destaque-se que a adoção do uso do
balandrau nas sessões maçônicas, em muitos países, é até mesmo desconhecida, ou
raramente é mencionado, já que cada país geralmente adota o traje que lhe é
tradicional por uso e costume ou mesmo que se adeque ao conforto relativo às
condições de temperatura. Em muitos países que costumeiramente a temperatura é
elevada os maçons se reúnem trajando camisas de mangas curtas. Os árabes, por
exemplo, usam albornozes e na Escócia é comum o uso do kilt (saia escocesa). Já
os ingleses costumeiramente usam ternos pretos, etc. Obviamente que sobre a
vestidura, em Loja o maçom estará sempre vestindo o seu avental.
Apenas a título de ilustração, me
recordo que quando das minhas andanças maçônicas pelo Brasil, me deparei com
inúmeras fotografias antigas relativas aos obreiros e suas respectivas Lojas.
Eu sempre chamei atenção nessas oportunidades para uma particularidade que
envolvia o traje usado pelos Irmãos do passado, além do avental. A grande
quantidade dessas fotos trazia irmãos trajados para as sessões sem estarem
necessariamente usando terno preto e nem balandrau, mais sim paletós,
pulôveres, calças e camisas de diversos matizes, o que mostra que um traje
específico não era regra na Maçonaria brasileira, salvo o uso do avental.
No Brasil, o terno preto é oriundo de
costume clerical e muito conhecido como o traje de missa. Essa tendência
inclusive viria influenciar muitos dos costumes maçônicos brasileiros ao ponto
de atualmente algumas Obediências o adotarem como uso obrigatório. (Pedro Juk –
publicado em junho/2017).
T.F.A.
PEDRO JUK
JAN/2018
[1] Data referencial aos Collegiati. Entretanto
não se afirma a existência de Maçonaria naqueles tempos. Entenda-se que a arte
de construir é ofício milenar, porém nunca a instituição Maçonaria.
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