terça-feira, 2 de janeiro de 2018

BALANDRAU (2)

Em 03/10/2017 o Respeitável Irmão Leonardo Pavani, Loja Perseverança e Fidelidade, 2.968, REAA, GOB-SC, Oriente de Araranguá, Estado de Santa Catarina, formula a seguinte questão:

BALANDRAU


Meu Irmão, vou recorrer novamente ao seu brilhante conhecimento em relação ao uso do balandrau.
Vejamos, conforme RGF Art. 110, onde diz: "Os Maçons presentes às sessões mag
nas estarão trajados de acordo com o seu Rito, com gravata na cor por ele estabelecida, terno preto ou azul marinho, camisa branca, sapatos e meias pretas, podendo portar somente suas insígnias e condecorações relativas aos graus simbólicos”.
§ 1º - Nas demais sessões, se o rito permitir, admite-se o uso do balandrau preto, com gola fechada, comprimento até o tornozelo e mangas compridas, sem qualquer símbolo ou insígnia estampado.
Isso gerou um debate em nossa oficina, de fato o balandrau é permitido durante as sessões? Ou, o maçom deve usa-lo somente em casos esporádicos?
O que o Irmão entende sobre isso?

CONSIDERAÇÕES.

Sem muitas delongas e nem outros exercícios de interpretação, eu entendo que o balandrau é, no caso do REAA\ perfeitamente permitido, exceto nas Sessões Magnas. Obviamente que ela deve ser uma veste talar (vai até os talões) e deve ser de cor negra sem estampas.
No REAA\ o uso do balandrau negro está previsto no respectivo ritual.

Segue um dos comentários que já fiz a respeito do balandrau e que foi publicado no Blog do Pedro Juk:
A questão do uso do balandrau na Maçonaria tem causado, em não raras vezes, muitas discussões, sobretudo no que diz respeito à regularidade do seu uso.
O balandrau menciona, dentre outros, ser uma antiga vestimenta de capuz e mangas largas, abotoado na frente às vezes usados por membros de confrarias e geralmente por comunidades religiosas.
Na Moderna Maçonaria, provavelmente por influência das antigas Associações Monásticas medievais (uma das ancestrais da Ordem), ele tem tido o seu uso permitido em alguns ritos maçônicos, geralmente nas sessões econômicas (ordinárias), porém como veste talar (até os tornozelos) e de cor negra.
Segundo Steinbrenner in História da Maçonaria, amplamente mencionado por José Castellani em algumas de suas obras, o balandrau teve origem entre construtores à época do Imperador romano Numa Pompílio (século VI a. C.) [1] e os Collegia Fabrorum, cujos componentes eram os Collegiati e formavam a primeira associação de ofício organizada que se tem notícia e que acompanhavam as legiões de soldados romanos pela Europa com a finalidade de reconstruir o que fosse destruído nos conflitos deflagrados pelas conquistas de novas regiões.
No intuito de diferenciar os construtores dos legionários, os Collegiati usavam uma túnica escura, o que seria também adotado mais tarde pelas Associações Monásticas, Confrarias Leigas e por fim pelas Associações de Ofício operativas dos francos-maçons medievais, as quais tinham como característica particular a liberdade concebida pela Igreja para viajar de um lugar para o outro. Durante esses deslocamentos, os construtores tinham o hábito de se vestir com um balandrau negro, geralmente na época com capuz.
Como a Moderna Maçonaria é herdeira dessas confrarias medievais, o costume do uso do balandrau é nela perfeitamente justificado, a despeito de que ele não seja permitido em determinadas ocasiões da atualidade, a exemplo das sessões denominadas “magnas” onde nelas se exige geralmente o uso do terno preto ou escuro.
De fato, alguns ritos maçônicos a exemplo do York e do Schröder têm o hábito conservacionista de não permitir o uso do balandrau, salvo em casos excepcionais e relativos a visitantes que não pertençam a esses ritos.
Comentários à parte é discutível a obrigatoriedade do uso de trajes como o terno preto (paletó, calça e colete), ou a parelha preta (paletó e calça) acompanhados de camisa branca e gravata preta na Maçonaria, até porque isso tem mesmo é uma forte dose de influência clerical – o traje como sinal de respeito - do que um pretenso simbolismo que possa envolver uma vestimenta.
Há que se levar em conta também, que o traje masculino vem sofrendo variações através dos tempos e de acordo com os costumes dos povos, assim é temerário se querer estereotipar um traje único para a Maçonaria.
As roupas do século XVIII, época em que floresceu a Moderna Maçonaria, eram bem diferentes das atuais, além do que muitos povos usam ainda suas roupas típicas; os militares maçons, não raras vezes nas sessões das Lojas, usam os seus uniformes. Então nos parece um pouco contraditório que se estabeleça um traje padrão universal para a Maçonaria com base apenas na cultura ocidental contemporânea como é o caso do terno preto (no Brasil era o antigo traje de missa).
No que diz respeito ao verdadeiro traje maçônico e sua universalidade, indiscutivelmente ele é o avental, já que é regra indispensável seu uso pelos maçons nas sessões maçônicas, a despeito, obviamente, de que por baixo do avental o maçom esteja trajando roupa decente e apropriada para a sessão, coisa que, sem qualquer dúvida, o balandrau supre perfeitamente esse objetivo. Nesse sentido, afirmar que o balandrau não é trate maçônico parece ser irrelevante já que o verdadeiro traje maçônico é o avental e que, por debaixo dele, o balandrau, desde que preto e talar, poderia perfeitamente ser vestido.
Destaque-se que a adoção do uso do balandrau nas sessões maçônicas, em muitos países, é até mesmo desconhecida, ou raramente é mencionado, já que cada país geralmente adota o traje que lhe é tradicional por uso e costume ou mesmo que se adeque ao conforto relativo às condições de temperatura. Em muitos países que costumeiramente a temperatura é elevada os maçons se reúnem trajando camisas de mangas curtas. Os árabes, por exemplo, usam albornozes e na Escócia é comum o uso do kilt (saia escocesa). Já os ingleses costumeiramente usam ternos pretos, etc. Obviamente que sobre a vestidura, em Loja o maçom estará sempre vestindo o seu avental.
Apenas a título de ilustração, me recordo que quando das minhas andanças maçônicas pelo Brasil, me deparei com inúmeras fotografias antigas relativas aos obreiros e suas respectivas Lojas. Eu sempre chamei atenção nessas oportunidades para uma particularidade que envolvia o traje usado pelos Irmãos do passado, além do avental. A grande quantidade dessas fotos trazia irmãos trajados para as sessões sem estarem necessariamente usando terno preto e nem balandrau, mais sim paletós, pulôveres, calças e camisas de diversos matizes, o que mostra que um traje específico não era regra na Maçonaria brasileira, salvo o uso do avental.
No Brasil, o terno preto é oriundo de costume clerical e muito conhecido como o traje de missa. Essa tendência inclusive viria influenciar muitos dos costumes maçônicos brasileiros ao ponto de atualmente algumas Obediências o adotarem como uso obrigatório. (Pedro Juk – publicado em junho/2017).

T.F.A.


PEDRO JUK


JAN/2018



[1] Data referencial aos Collegiati. Entretanto não se afirma a existência de Maçonaria naqueles tempos. Entenda-se que a arte de construir é ofício milenar, porém nunca a instituição Maçonaria.

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