terça-feira, 10 de abril de 2018

MESTRES INSTALADOS & DIGNIDADES DA LOJA


Em 06/02/2018 o Irmão Marcelo Souza, Aprendiz Maçom da Loja Montsalvat, REAA, GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, solicita a seguinte informação:

MESTRE INSTALADO/DIGNIDADES DA LOJA


Já li outras referências e escritos, inclusive seus, e tenho consciência de que Mestre Instalado (Venerável Mestre ou ex Venerável) não é grau, mas título distintivo. Não é grau porque o grau acima de Mestre Maçom é Mestre Secreto.
Igualmente, sei que, embora não seja tradição do nosso rito nem da maçonaria francesa, está arraigada entre nós a "sabedoria" ou o "pensamento" de que o Mestre Maçom Instalado após o término do seu mandato de Venerável Mestre tem ascendência (
ou preferência) sobre os demais do 3º grau; fato este, inclusive, encampado pelo minha Obediência, até com formação de "conselhos".
Também trago à baila a questão dos cargos de assessoramento, as dignidades da Loja. Mais uma vez, já li também referências e escritos sobre a indevida prática da elevação do nível do Oriente e, ainda, que somente ali têm acesso ou assento os que têm a distinção de Mestre Instalado.
Isto posto, e considerando que para assumir qualquer outro cargo em Loja, inclusive o de Venerável Mestre (observadas as demais formalidades), é necessário apenas ser portador do grau de Mestre Maçom; como ficaria a situação de um Mestre Maçom (sem instalação) indicado para Secretário, se o altar dele fica situado no Oriente?

CONSIDERAÇÕES.

Quanto à questão que envolve o título honorífico de “Instalado” dado a um Mestre Maçom que foi eleito para as funções de Venerável Mestre e cujo título permanece mesmo após ter sido cumprido o seu tempo como dirigente da Loja, a mesma já foi por mim amplamente abordada.
Nesse sentido tenho afirmado que Mestre Instalado não é grau iniciático, senão uma distinção honorífica que é dada definitivamente ao Mestre eleito que foi empossado para deter o primeiro malhete da Loja. Trocando em miúdos, ele é o Venerável Mestre enquanto dirigente da Loja e um ex-Venerável após ter deixado o cargo. Para tanto ele é um Mestre Maçom Instalado - ou como Venerável Mestre, ou como um ex-Venerável.
O título “Past-Master”, muito utilizado para um ex-Venerável, é mais apropriado na vertente inglesa de Maçonaria, já na francesa, ele é mesmo um ex-Venerável.
É oportuno mencionar, conforme abordado na sua questão, que não se justifica afirmar a inexistência do “grau” de Mestre Instalado por existir no seu lugar o grau de Mestre Secreto que é o 1º grau da escola de Perfeição do REAA e 4º no cômputo geral do escocesismo. Não se combate um erro implantando outro no seu lugar.
Com a sua devida “vênia”, o Mestre Secreto do sistema de Altos Graus do escocesismo nada tem nada a ver com o propósito dessa discussão. O grau de Mestre Secreto é sim uma particularidade do REAA, entretanto ele não faz parte do simbolismo (a autêntica Maçonaria dos três graus).
Além do mais, se entenda que qualquer grau acima do Terceiro é particularidade de alguns ritos maçônicos (nem todos os possuem). A despeito disso nenhum maçom, deles portador, é considerado melhor ou superior a um Mestre Maçom praticante de um rito que não adota esses ditos “graus superiores”. Mestres maçons são iguais em quaisquer circunstâncias, assim como nenhum rito é melhor do que o outro por possuir maior número de graus. A Moderna Maçonaria é universalmente composta por apenas e tão somente três graus. Inclusive ela é assim classificada nos principais Landmarks da Ordem. Já os graus ditos superiores, ou os laterais, são particularidades de ritos e de sistemas de aperfeiçoamento, não podendo inclusive interferir, sob qualquer hipótese, nos três graus da Maçonaria Simbólica. Ao contrário disso, ninguém ingressa nesses sistemas de aperfeiçoamento sem que seja antes um maçom regular do simbolismo, ou do craft.
A despeito disso, o título honorífico de “Mestre Instalado” que aqui foi abordado é distinção ou dignidade apropriada ao Venerável Mestre ou ao ex-Venerável no simbolismo (franco-maçônico básico – Aprendiz, Companheiro e Mestre).
Quanto às Obediências que toleram e incentivam conselhos de Mestres Instalados dando a eles uma conotação de superioridade, desafortunadamente essa não é uma atitude de boa geometria, pois sob o ponto de vista da autenticidade, nada disso poderia existir, salvo se forem os Conselhos temporários que são legalmente constituídos pela Obediência apenas para instalar no trono, ou dar reassunção a um Venerável Mestre eleito. Cumprido esse objetivo o Conselho é automaticamente dissolvido.
Ratifico: não existem, ou pelo menos não deveriam existir, esses tais Conselhos de Mestres Instalados aleatoriamente constituídos por Lojas, cuja finalidade é mais de atrapalhar e de interferir na diretoria da Loja do que contribuir. Individualmente, os ex-Veneráveis devem sim, pela sua experiência, contribuir com os trabalhos, mas consultivamente, nunca interferir.
Já os que ainda “acham” que Mestre Instalado é grau deveriam antes procurar melhores informações na original “instalação” inglesa. Deveriam também se certificar que na Maçonaria francesa, de onde é oriundo o REAA, salvo em raríssimas exceções, “instalação” significa simplesmente “posse” e que lá, quem deixa o cargo de Venerável, é simplesmente designado como um ex-Venerável.
Considerações à parte, não vai aqui nenhuma crítica aos Mestres Maçons Instalados, mas sim a um sistema que quer lhes dar um ofício inexistente na Ordem.
Por óbvio não há como se negar a existência desde o século XIX na Inglaterra de uma cerimônia para se instalar o Venerável no trono. Isso atualmente já é elemento consuetudinário, mas que seja apenas entendido como uma maneira de dar a merecida dignidade que o cargo de Venerável Mestre merece. Do mesmo modo para manter o título honorífico de “Instalado” ou do “Past-Master” (conforme a vertente maçônica) àquele que um dia fora eleito para dirigir uma Loja. Longe disso, essa deferência pode ser entendida com um grau maçônico.
Por não fazerem parte do mote dessas considerações, as formas das cerimônias de Instalação (esotérica ou não) não serão aqui abordadas.
Quanto a parte da sua questão que menciona à ocupação do Oriente da Loja pelos Mestres Maçons Instalados, por deferência distintiva (não grau) eles de fato têm o direito de ocupar esse espaço conforme demonstra a planta de localização dos lugares em Loja no Ritual pertinente. Assim, ex-Veneráveis têm o direito de tomar assento no Oriente, abaixo do sólio e, em algumas situações, o Instalado mais recente até de ocupar uma das duas cadeiras de honra colocadas ao lado do sólio.
Agora, o que não se pode imaginar é que no Oriente só possam adentrar Mestres Maçons Instalados. Na verdade, o Oriente é lugar restrito aos Mestres Maçons e, por extensão também, aos Instalados (que por óbvio são Mestres).
Ainda em relação ao Oriente, as duas Dignidades, a do Orador e a do Secretário, não carecem ser Instalados, mas apenas Mestres. O mesmo se pode dizer dos que também exercem ofício no quadrante oriental, como o Porta-Bandeira, o Porta-Estandarte, o Primeiro Diácono e o Porta-Espada. Todos esses cargos são impreterivelmente preenchidos por Mestres Maçons, aliás, como todos os cargos em Loja. Também circulam pelo Oriente por dever de ofício o Mestre de Cerimônias e o Hospitaleiro, assim como outros, dependendo da cerimônia. Em qualquer dessas oportunidades os protagonistas podem ser apenas Mestres Maçons. A propósito, há que se notar que autoridades maçônicas também ocupam o Oriente, entretanto a nenhuma delas é exigida o título de Maçom Instalado. Em qualquer das circunstâncias, no Oriente ingressam apenas Mestres Maçons, independente do título honorífico que porventura eles possam possuir.
Dando por concluído, em relação à sua abordagem quando menciona o “oriente elevado”, no REAA esse é um costume oriundo das hoje extintas Lojas Capitulares, todavia essa é outra história e que nada tem a ver com os Mestres Maçons que portam o título honorífico de “Instalado”.

T.F.A.

PEDRO JUK

ABRIL/2018


9 comentários:

  1. Caríssimo Ir.'., mais uma vez agradeço sua valorosa e equânime ajuda e esclarecimentos, que foram muito além de simples considerações. T.'.F.'.A.'..

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    1. Boa noite. Se é da GL de Minas Gerais, possivelmente a constituição é semelhante a da GLESP onde consta sim, querendo ou não um Conselho de mestres instalados... e para que serve também. Cuidado para não ser o "chato" da tua loja levando essas questões que constam na constituição. Digo isso para evitar ficar estigmatizado em tua loja, inclusive porque é aprendiz, começando a caminhada e fácil de se aborrecer. Espero ter também de alguma forma ter ajudado. Fraternal abraço

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  2. Bom dia, Ir.'. Denis, também agradeço muitíssimo suas considerações. Não tenho a mínima intenção de ser o "chato", muito menos levar estas questões para discussão. O objetivo único é aprender. Mas ajudou muito sim, muito obrigado. T.'.F.'.A.'..

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  3. Só vou dar o meu pitaco. Ninguém discute a legalidade se o fato estiver previsto nas legislações vigentes. Agora, que isso é adaptação de um procedimento que não é original, também não se discute. Se existe na legislação, existe, mas não convence a autenticidade de que esse seja um procedimento que tenha fundamento histórico. Que cada um cumpra a sua legislação como manda a lei, entretanto isso jamais fará calar opiniões que avaliam a originalidade do procedimento. Fraterno abraço aos Irmãos Denis e Marcelo.

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  4. Aproveitando a discussão: é necessário que uma dignidade esteja tramada como tal para receber o tratamento previsto? Por exemplo, um Mestre instalado que portal o avental apenas de Mestre não poderá sentar-se no local destinado aos MIs?

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    1. *trajado como tal
      *porta o avental

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    2. Penso que esse não seja o caso do hábito fazer o monge. Um Mestre Maçom Instalado será sempre Instalado, com ou sem o seu avental.

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  5. Boa tarde meus IIr.’., em especial ao Ir Juk.
    Mesmo que tardiamente ( apenas agora, Ago/21) , lendo a pergunta do Ir Marcelo Souza e o irretocável comentário do Ir Pedro Juk. Coaduno do posicionamento do Ir Juk.
    Objetivando somar ao assunto à baila , há época , entendo que os IIr.’. MI’s , através das experiências adquiridas ao longo de suas vidas maçônicas , que se iniciam , de fato, quando AAp.’. se tornam ( foram), TEM preponderantemente o papel de aconselhar , ajudar e conduzir ( buscar) o equilíbrio e harmonia de uma Loja Maçônica. Ou seja , um posicionamento mais político , sábio e experiente ( pois em algum tempo se assentaram no Trono de Salomão ). Tenho a satisfação de manifestar aqui, neste canal , o comportamento dos verdadeiros conselheiros da minha Loja. Sempre apoiando as decisões do VM.’., bem como buscando a harmonia e Concórdia , além de promover a renovação do nosso quadro administrativo.
    TFA
    Adriano Silveira.’.
    2º Vig.’.
    Lj Joaquim Rodrigues D’ABREU
    REAA
    Oriente de Niterói- RJ
    ADM: 21/23

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