Em 09/06/2017 o Respeitável Irmão
Henri Marques, Loja Cavaleiros de São João de Ribeirão Preto, 4.171, Rito
Brasileiro, GOSP-GOB, Oriente de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, pede
esclarecimento para o seguinte.
S\ AA\ e M\
Gostaria de saber por que a idade do
Mestre Maçom é "S\ aa\ e m\" e não apenas s\ aa\, sobretudo no Rito
Escocês e Brasileiro?
Nos outros sistemas maçônicos - como o
York e o Emulação - a idade do Mestre é s\ sem esse
"mais".
Aliás, isso me fez lembrar o que disse
o saudoso mano José Castellani, no seu Consultório Maçônico, quando diz que na
Câmara do Meio as baterias e as luminárias devem ser em número de 7 e não de 9.
O que é esse "9"? "7 e mais" ou "9"? Que
confusão!
CONSIDERAÇÕES:
Antes algumas explanações que
interessam à doutrina maçônica sobre a abordagem simbólica do número sete.
Assim como no
simbolismo iniciático o número três
é relativo ao Aprendiz e o cinco ao Companheiro,
o sete
é especulativamente o número do Grau de Mestre Maçom na Moderna Maçonaria.
Desde a Antiguidade,
sem que se pense em colocar a Maçonaria nesse período da História, em muitas
concepções iniciáticas, o número sete
sempre ocupou lugar de destaque como tema para estudo - é o caso, por exemplo, dos
babilônios quando se ocuparam com a construção dos sete recintos cúbicos na
Torre de Babel. Assim também ocorre no Livro da Lei Sagrada adotado pela
Maçonaria quando o número sete
é largamente mencionado em muitas passagens bíblicas - sete eram as vacas e as espigas do sonho do faraó (Genesis, 41 –
26), sete os dias dos pães ázimos, sete os dias da consagração dos sacerdotes
(Êxodo, 29 -35), sete os braços do
candelabro (Menorá), sete os planetas
da Antiguidade e sétimo o dia santificado por Deus (shabat). Ainda no Novo Testamento em Mateus, 18-21 e 22-25; Marcos
em 12-20; Lucas em 17-4 e 20-29 e Atos em 6-3 (os sete homens de boa reputação).
Outro exemplo que
pode ser observado no que diz respeito à liturgia maçônica e o número sete está em Provérbios 9-1: “A Sabedoria edificou a sua casa e lavrou
suas sete colunas” - foi dessa
expressão o caráter pelo qual a Moderna Maçonaria determinou a composição de um
mínimo de “sete Mestres na Loja para torna-la justa e perfeita”.
Ainda outra citação
que merece ser mencionada sob o ponto de vista da liturgia maçônica é a Menorá
(candelabro de sete braços). Da
tradição hebraica, ele simboliza os sete
planetas da Antiguidade e a luz dos astros vinda do Sul. À época os sete
planetas conhecidos eram o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e
Saturno, os quais, como se percebe, não eram todos planetas, pois, nessa
relação há uma estrela, o Sol, e um satélite, a Lua. Essa representação e
influência setenária astronômica é perfeitamente visível na decoração da
abóbada celeste no REAA\, por exemplo.
Em se comentando a
abóbada celeste do Templo, nela também se apresentam as constelações relativas
ao Aprendiz, o Cinturão de Órion[1] (três estrelas); ao
Companheiro, as Híades[2] (cinco estrelas) e ao
Mestre as Plêiades[3]
constituída por sete estrelas.
Dados esses breves apontamentos, há que
se observar então quanto o número sete (setenário)
tem sido importante como tema para estudo no Terceiro Grau, destacando-se as
particularidades que cada rito e trabalho maçônico possam possuir.
Adotado no ideário
maçônico especulativo, o número sete,
tal qual o significado do shabat na
cultura hebraica, é um símbolo numérico relacionado à criação, à conclusão e ao
resultado.
Provavelmente foi por
isso que o sistema especulativo maçônico também o associou à idade simbólica do
Mestre como que a exaltar a experiência adquirida, o que, de modo sumário, se
resume na conclusão do aprendizado necessário para suplantar todas as etapas
apresentadas durante o percurso pela vereda maçônica (observe-se a escada
sinuosa com lances de três, cinco e sete degraus).
Sob o ponto de vista
prático e tradicional, sete anos era o tempo que o artífice da construção
levava para se especializar na “arte” e com isso adquirir o direito de constituir
sua própria Guilda. Em síntese, após sete anos comprovados ele adquiria o
direito de se locomover livremente (franco), contratar obras, instruir e
admitir novos membros para a Guilda.
Se, como exposto, literalmente
à época da Maçonaria Operativa o artífice da pedra calcária levava em média sete
anos para se preparar e aparelhar as suas ferramentas, esse conceito mais tarde
viria sugestivamente também ser agregado ao costume especulativo (dos Aceitos)
aparelhado pelas doutrinas ritualísticas das duas principais vertentes da
Moderna Maçonaria – a inglesa e a francesa.
Foi dentro desse entendimento
doutrinário que os Maçons Aceitos, conforme a sua vertente maçônica, fariam aparecer
à idade simbólica do Mestre - pura e simplesmente como S\ AA\ (tempo determinado),
ou de tempo indeterminado como S\ AA\ e M\, embora alguns
autores, como Alec Mellor, substituíssem a conjunção “e” por “ou”, ficando
então S\ AA\ ou M\.
Idade de S\ AA\. Na autêntica vertente inglesa de
Maçonaria, geralmente o Craft determina a idade simbólica do Mestre por tempo
determinado, ou seja, pura e simplesmente como S\ AA\. Isso se explica porque a doutrina de
aperfeiçoamento do Terceiro Grau no Craft é ilustrada pelo completo domínio das
Sete Ciências e Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas
preleções sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada sinuosa que é
constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das Sete
Ciências[4].
Na verdade essa
alegoria menciona que a Árvore da Vida, situada no topo da escada sinuosa, só
será alcançada por aquele que possuir completo domínio das Sete Ciências e
Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética, Geometria, Música e
Astronomia.
Essa ideia de
concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada um dos
sete anos (vida simbólica), uma das Sete Ciências, de tal modo que cada ano seja
uma qualidade própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática
da moral, como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências
correspondente ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a
construir conforme as exigências Arte. Em síntese é o processo de moral elevado
que se aplica na construção da Obra da Vida.
Ainda na vertente
inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Mestre, aparece também à alegoria
da Estrela de Sete Pontas que é encontrada na Tábua de Delinear do Primeiro
Grau ficando ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei
Sagrada e vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira
equidistante, arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais - Fé,
Esperança e Caridade.
Para relacionar essa
alegoria à idade completa do Mestre, somam-se às Três Virtudes Teologais às virtudes
da Justiça, da Prudência, da Temperança e a da Coragem, cujos símbolos
encontram-se representados pelas as quatro Borlas colocadas nos quatro cantos
da Tábua de Delinear (Tracing Board).
O resultado da soma dessas virtudes é o número sete que corresponde às pontas da estrela que fica no topo da
escada e que, por sua vez, satisfaz à idade do Mestre, ou seja: S\ AA\ completos, ou de
tempo determinado.
Interpreta-se esse
emblema setenário relacionado ao tempo de vida simbólico do Mestre como “a obra construída é a vida do próprio homem,
desde que pautada pelos princípios da crença em um Arquiteto Criador, pela confiança
em atingir o seu objetivo com complacência e benevolência e vivida pelo princípio
da moderação, do comedimento e da resolução, de modo firme e constante”. Eis
aí a razão pela qual alguns rituais adotarem para a idade do Mestre apenas S\ AA\
Vale a pena comentar a influência teísta
que é predominante nas concepções simbólicas dos Trabalhos da vertente inglesa
de Maçonaria, o que se difere em vários aspectos dos ritos deístas da
vertente latina de Maçonaria (francesa) como é o caso do REAA\, muito embora nele, em particular,
também existam influências do teísmo anglo-saxônico.
Idade de S\ AA\ e M\. Na vertente francesa, diferente da
inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito (rito que é filho espiritual da França)
a sua compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador
da Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve
os três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante
de um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção
filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos
que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.
Sob a óptica
filosófica do deísmo a Moderna Maçonaria francesa, especulativa por excelência,
viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento
intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com Natureza.
Nessa concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático
da morte e do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos
naturais que compreendem as estações do ano com as etapas da existência humana.
Apesar do ideário do
“morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do ensinamento maçônico,
ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do escocesismo simbólico,
como se verá a seguir.
Assim, na alegoria
iniciática Homem-Natureza, sugestivamente a primavera representa o nascimento e
a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a maturidade; o
inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.
Isso explica, por
exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no Templo do REAA\, já que o seu simbolismo indica que cada
ciclo é um tempo existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da
vida – o Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre
a maturidade (Meia-Noite). Na verdade tudo se reporta à transformação e o
aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).
Outra consideração importante
no rito em questão é a da existência dos três candelabros de três braços que
acolhem as Luzes litúrgicas, cujos quais se situam, um sobre o Altar ocupado
pelo Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas ocupadas pelos Vigilantes,
simbolismo esse que será abordado na sequência desse arrazoado.
Dessa concepção de
filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se criou
estruturalmente a idade de S\ AA\ e
M\ para o Mestre Maçom do REAA\, mesmo que nele também persistam
feições teístas hauridas de influências anglo-saxônicas (dos Antigos). A
questão é de doutrina.
Desse modo, esse
enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o renascimento
da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por ocasião do
inverno quando a Terra fica viúva do Sol (nove meses).
É esse tempo existencial
que explica a idade do Mestre também possuir algo mais além dos S\ AA\, já que
simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza é de nove meses, a contar
desde o início da primavera até o final outono. Daí a razão dos S\ AA\ e (ou) M\. Na verdade vai além do número sete
(criação) até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o
Esquadro e o Compasso). Se bem observada a Arte e despida de ilações e
fantasias, a explicação está na Lenda Hirâmica.
Assim se explica a disposição do
mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros com as três Luzes
litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os nove meses
de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os três meses de
inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do Sol (dias curtos
e noites longas). É dessa alegoria solar haurida dos cultos solares da
antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a despeito de
que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante o inverno.
Dada à existência simbólica da
Luz além do número sete que é o símbolo
da criação (o shabat), indo até o
número nove, é que a expressão “e M\” foi acrescentada à idade de S\ AA\ no caso
do REAA·.
É oportuno salientar que o número
sete, independente da vertente
maçônica abordada, sempre será o marco da Criação (... e no sétimo dia Ele descansou). Daí o Mestre, como elemento de
criação, ter o número sete como um
principal agregado à sua idade, podendo, dependendo do arcabouço doutrinário do
Rito, possuir ainda algum complemento de identificação, o que é o caso do “e M\”.
É fato, entretanto, que com ou
sem complemento na identificação da sua idade, todos os Mestres se equivalem na
plenitude alcançada, já que a Lenda do Terceiro Grau revive o Mestre tal como o
Sol revive a Natureza após o inverno. Se a sua idade simbólica é de S\ AA\ isso se
dá no Ocidente da Loja, pois depois de revivido ele renasce para o Oriente o
que, de acordo com as suas obras, ele permanecerá, além dos S\ AA\, eterno
na mente dos pósteros.
Por fim, é essa a síntese da
explicação dessas variações aparentes que nos apresentam as tradições
ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da Moderna Maçonaria é sempre o
mesmo, o de arrumar e forjar um novo homem nos seus canteiros simbólicos (Loja),
entretanto mesmo de objetivo único, os métodos muitas vezes se diferenciam.
Assim não há como se generalizar procedimentos na liturgia maçônica. Tradições,
usos e costumes muitas vezes são particularidades de cada um dos sistemas
maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o que significa cada
processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime Instituição. O
confuso às vezes é apenas aparência, pois a Verdade, embora pareça distante,
muitas vezes está mais próxima do que imaginamos. Para cada gesto, para cada
símbolo ou procedimento na liturgia dos ritos maçônicos, desde que sejam
autênticos, sempre existirá uma explicação lógica.
T.F.A.
PEDRO JUK
AGOSTO/2017.
[1] Órion.
Está localizada no equador celeste e,
por este motivo, é visível em praticamente todas as regiões habitadas da Terra.
A constelação de Órion é notável pela presença de muitas estrelas brilhantes. Delas
em seu centro figuram três estrelas de brilho similar e alinhadas que
constituem o Cinturão de Órion. Asterismo conhecido popularmente como Três
Marias.
[2] As Híades são um aglomerado estelar aberto localizado na
constelação de Touro e as suas estrelas mais brilhantes formam um "V"
oblíquo em redor da grande gigante Aldebarã. Desse aglomerado destacam-se cinco
estrelas mais brilhantes.
[3] As Plêiades. É
um grupo de estrelas na constelação de Touro conhecido popularmente como
sete-estrelo. São facilmente visíveis a olho
nu nos dois hemisférios.
[4] Sete Ciências e Artes Liberais da
Antiguidade – pesquisar a divisão dada por Boécio em trivium e quatrivium. Veja também as Preleções que se sustentam nas
Lições Prestonianas (Sir Willian Preston).
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