Em 13.06.2022 o Respeitável Irmão Acácio Siqueira, Loja Rio Pardo, 242, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Santa Rosa de Viterbo, Estado de São Paulo, faz a seguinte pergunta:
ACLAMAÇÃO H. H. H.
Dentre as tantas diferenças, enxertos e idiossincrasias que acometem o
REAA o Brasil, para algumas encontra-se justificativa, para outras não... E
ainda bem que temos valorosos Irmãos que se preocupam em apontar e corrigir,
ou, pelo menos, entender estes “erros”.
Desde de pouco tempo após minha Iniciação, me causou curiosidade o
procedimento ritualístico adotado no REAA, na potência a que sou filiado, de estender
o braço direito durante a aclamação do Rito. Como este procedimento não é
visto nos rituais de outras vertentes maçônicas brasileiras, procurei
entende-lo.
Confesso que nada encontrei que acalmasse minha curiosidade, apenas
textos medíocres, recheados de achismos e crendices. Assim recorro ao Irmão,
mais uma vez, para me ajudar (dei uma vasculhada nos textos em seu blog e não
encontrei nada neste sentido; se minha busca foi falha, me indique o texto a
ser lido).
CONSIDERAÇÕES.
Acredito que se as potestades maçônicas, autoras dessas barbaridades falaciosas,
tal como a mencionada na sua questão, procurassem estudar e se despir de
crendices e achismos, certamente a agressão à ritualística original do REAA
seria bem menor, digamos, até aceitável.
Essa de se estender o braço direito à frente durante a aclamação no REAA,
além de ser improcedente é, como diria Eça de Queirós, mesmo d’escrachar!
Ocorre que quando o rito retornou à Europa, mais precisamente para a
França no ano de 1804, foi necessária então a criação de rituais para o
simbolismo do REAA, já que o objetivo era o de expandir o rito pela Europa.
O 1º Ritual (1804) - As três fontes principais para elaboração desse primeiro
ritual foram a exposure (revelação) relativa aos “Antigos” irlandeses de
1751 denominada The Three Distinct Knocks (As Três Pancadas Distintas),
o Régulateur du Maçon (Regulador do Maçom) do Grande Oriente da França
datado de 1801, e as contribuições oriundas da Loja Geral Escocesa de Paris
datadas de 1804.
No tocante às contribuições da Loja Geral Escocesa podemos citar as Colunas
Vestibulares B e J dispostas de acordo com os Antigos (B à esquerda e J à
direita de quem entra); a abóbada decorada, nela se destacando na sua base os
símbolos das 12 constelações do Zodíaco (daria origem mais tarde às Colunas
Zodiacais); a cor encarnada (vermelha) em alusão ao stuartismo (catolicismo)
e, por fim, a aclamação ternária H∴, H∴, H∴, sendo essa última contribuição o mote desse pequeno arrazoado.
Dados os comentários iniciais, vamos então ao objeto principal desses
comentários – o significado da aclamação H∴ na liturgia do REAA.
Conforme mencionam bons tratadistas, a exemplo de Theobaldo Varolli
Filho, José Castellani, Francisco de Assis Carvalho (Xico Trolha), Alec Mellor,
dentre outros, o vocábulo H∴ é uma corruptela da palavra Uêzza que era utilizada pelos árabes,
mais particularmente pelos drusos, quando, no solstício de inverno do
Hemisfério Norte, saudavam a volta do Sol.
Assim, na noite de 21 de dezembro, quando o solstício hibernal produz a
noite mais longa do ano no setentrião, eram naquela oportunidade acesas
fogueiras, enquanto que munidos de ramos floridos de acácia os drusos saudavam
o retorno do astro rei novamente para a meia-esfera Norte do Planeta.
Uma particularidade esse misticismo é a de que a acácia, por possuir pequenas
flores amarelas feito pequenos sóis, era então utilizada nessa saudação – os drusos
saudavam o Sol ao amanhecer do solstício chacoalhando os ramos floridos.
Graças a isso, autores desatentos acabariam inventando que a palavra H∴ significa acácia, contudo, essa é uma
afirmativa temerária, até porque H∴, como corruptela de Uêzza, é uma aclamação árabe feita ao Sol e não
a simples tradução da palavra acácia.
Nesse mesmo raciocínio, podemos citar como outro exemplo dessa
corruptela a aclamação “hip hurra!”, bastante utilizada pelos ingleses e
muito provavelmente derivada da expressão árabe uêzza. Vale lembrar que
os ingleses por muito tempo se estabeleceram nas regiões da Arábia.
Só para ilustrar, mais tarde, com o advento do Islamismo, Maomé proibiu
essa saudação solar.
Dito isso, em Maçonaria a aclamação H∴, H∴, H∴ ocorre por três vezes porque o número 3 corresponde a unidade ternária
(o primeiro plano), conceito que tem alto significado simbólico para o Iniciado.
Exegese da aclamação H∴ no REAA - Por ser um rito solar essa aclamação solsticial também menciona
uma saudação diária ao Sol (sabedoria, conhecimento).
No contexto ritualístico do Aprendiz e do Companheiro essa aclamação trinária
ocorre por primeiro ao meio-dia, isto é, quando o Sol está pino, ou na
plenitude diária da sua Luz. Esse misticismo indica que o momento é propício
para o início dos trabalhos porque exalta-se a igualdade onde ninguém faz
sombra a ninguém. A segunda vez a aclamação se dá no encerramento dos trabalhos,
simbolicamente à meia-noite. Por mais paradoxal que possa aparentar, nesse
momento a aclamação trinária evoca a volta da Luz, pois quanto mais escura é a
madrugada, mais perto está o raiar de um novo dia. Enquanto que ao meio-dia consagra-se
a Igualdade, à meia-noite consagra-se a Esperança.
É esse pois o sentido da aclamação H∴ na liturgia do REAA, destacando que o meio-dia simboliza também a juventude
e o vigor, enquanto que a meia-noite representa a senilidade e a experiência.
Nessa conjuntura, essa alegoria alerta para que o maçom trabalhe da sua juventude
até a sua maturidade. Graças a isso é que a aclamação H∴ ocorre na abertura, ao meio-dia e no
encerramento, à meia-noite nos graus de Aprendiz e Companheiro, não ocorrendo no
grau de Mestre porque o Mestre Maçom quando passou pelo cerimonial de
Exaltação, simbolicamente ingressou no lugar da Luz, portanto ele é agora um
luzeiro, um farol, um ser que emite luz. Nesse caso, a conotação iniciática do
3º Grau se reporta ao último dos ciclos da Natureza e tem uma afinidade solsticial,
e não mais diária do Sol. Esse entendimento está na passagem do plano inferior do
Ocidente para o plano superior do Oriente (além da balaustrada). Por essa razão
é que não existe a aclamação H∴ no 3º Grau, restringindo-se a mesma aos dois primeiros graus. É tudo
uma questão iniciática.
Eis aí um resumo da exegese da aclamação trinaria H∴ no REAA.
Desafortunadamente, ainda encontramos carcaças de dinossauro (algo difícil
de engolir e consumir) em meio aos nossos ensinamentos. Bem mais salutar é antes
investigar a verdade, ao tempo de se ficar arquitetando invencionices e
sofismas que agridem a razão dos fatos.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
DEZ/2022
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