Em 13/07/2017 o Respeitável Irmão Raul Amaury Liciani, Loja Nova
Esperança XVII, REAA, GORJ (COMAB), Oriente de Itaperuna, Estado do Rio de
Janeiro, solicita informações para o que segue:
ÁGAPE E LOJA DE MESA.
Amado Irmão, estou buscando, com finalidade de estudo, aprendizado e
crescimento, informações seguras e fidedignas, as quais possam ser comprovadas
por escritos, sobre as origens, e seu real sentido, do Ágape em nossa Ordem.
Em Novembro de 2016, o GOB-GO, publicou um artigo intitulado "O
ágape na maçonaria não é confraternização, é parte do ritual.", esse
texto, pareceu-me, como uma absoluta realidade, não só pelo contexto de que o
Ágape é muito mais do que um simples jantar entre amigos, mas, e
principalmente, pelas origens, do mesmo, ali relatadas.
Acredito, realmente, que esse texto relata uma Verdade, e defendo tal
conceito, porém, busco registros históricos, ou, escritos de autores
acreditados nacional e internacionalmente, que possam dar base à minhas
argumentações, de forma indubitável, pois, limitado por meus poucos
conhecimentos, não tenho encontrado tais documentos.
CONSIDERAÇÕES.
Como qualquer
pesquisa séria em Maçonaria, montar um mosaico direcionado a um tema não é
empreitada das mais fáceis. De fato as coisas não são tão simples como o de
adquirir um ou dois exemplares de escritos a respeito e fundamentar simplesmente
um estudo.
Na questão das
Lojas de Mesa muitos a confundem com simples reuniões de comensais e inclusive
a intitulam como banquete ritualístico, o que é um equívoco. Outros ainda se
baseiam em rituais anacrônicos impressos pelas Obediências, cujos quais nada
mais são do que uma mistura de procedimentos ritualísticos enganosos e
contraditórios. Pasme, existem rituais em vigor por aí ensinando o obreiro a
ficar à Ordem sentado e, quando não, compor Sinal com talheres de mesa. Um
verdadeiro absurdo de procedimento em se tratando de ritualística maçônica.
Assim, para que o
Irmão possa montar uma grade de pesquisas sobre esse assunto eu sugiro os apontamentos
e literatura autêntica sobre as antigas guildas de construtores a partir do
século XI até o XV até a profusão de rituais no século XVIII, bem como as
tabernas onde comumente as Lojas se reuniam (séculos XVII e XVIII).
Em um breve
comentário, as Guildas eram associações e corporações mercantis de construtores
artesanais, cujas mesmas foram precursoras da Francomaçonaria e, por
consequência, da Moderna Maçonaria.
Englobadas na
Maçonaria de ofício, as guildas floresceram no século XI como verdadeiros
corpos profissionais que se dedicavam, além do ofício, também à proteção mútua,
à fraternidade e a assistência.
Tal qual às
Associações Monásticas e as Confrarias Leigas, as guildas mantinham um acentuado
misticismo religioso. Inclusive a elas deve-se o uso primeiro da palavra Loja
para designar o local de trabalho dos maçons, o que se destaca historicamente
no documento de uma guilda datada no século XI.
Embora de destacada
atuação entre os séculos XI e XV, as guildas já existiam desde o século VII
como corporações religiosas e sociais que tinham por costume discussões de
assuntos relevantes à mesa de refeições. Era costume nessas corporações
existirem reuniões anuais, geralmente nos períodos solsticiais, onde eram
homenageados por de brindes os antepassados, os heróis e os lideres, além de render
agradecimentos pelas benesses conquistadas.
Em princípio de
origem pagã essas reuniões comensais não eram vistas com bons olhos pela
igreja, o que paulatinamente, sob a sua influência, essas reuniões adquiriam
perfil de religiosidade, geralmente dedicada a um santo protetor.
Foi com esse perfil
que a Francomaçonaria, protegida à época pela igreja-estado, mais tarde adotaria
o costume de se reunir em torno de uma mesa em refeição solene, sobretudo nos
períodos que iniciavam as estações do inverno e do verão, já que esses períodos
eram importantes, sob o ponto de vista prático, para os construtores operativos
que labutavam no hemisfério norte do terrestre.
No que diz respeito
à Moderna Maçonaria e as reuniões comensais, costume esse haurido dos nossos ancestrais
operativos e também das tabernas dos maçons construtores (vide as Lojas nas
tabernas antes de se reunirem em templos), muitas foram às ocasiões em que os
maçons se reuniam em torno de uma mesa para um banquete fraternal, mas sem
qualquer formalidade ritualística à moda das hoje conhecidas Lojas de Mesa.
Atualmente essas
reuniões informais e à mesa de refeição se dão geralmente no Salão de Ágapes
após as reuniões da Loja, entretanto essas não são as Lojas de Mesa, mas sim
celebrações denominadas “copos d’água”, ou o refreshement, dependendo da vertente maçônica. Para essas reuniões
comensais informais se adequa melhor a palavra “ágape”.
Ágape, (do grego agápe, significa afeto, amor; refeição
de confraternização). No idioma vernáculo, como substantivo feminino e
masculino, designa a refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum. Por
extensão o termo menciona o banquete, almoço ou refeição de confraternização.
Em Maçonaria o vocábulo se associa ao amor, no sentido fraternal, agregado a
uma refeição habitual que segue uma celebração. Simboliza a recreação em comum
após os trabalhos da Loja.
Já as reuniões
comensais formais realizadas em ocasiões especiais e amparadas por ritualística
própria são as Lojas de Mesa, equivocadamente chamadas de banquete ritualístico
em certos rituais.
Uma Loja de Mesa é
sempre realizada num local reservado e coberto dos olhos profanos, já que se
trata de uma sessão ritualística privativa de maçons. Comumente, se a “cobertura”
permitir, uma Loja de Mesa pode ser realizada no salão de ágapes.
A realização de uma Loja de Mesa
é um antigo costume e se concretiza na Moderna Maçonaria nos solstícios
relativos ao hemisfério norte terrestre quando o
Sol atinge sua posição boreal mais afastada do equador. Por herança recebida
dos membros das organizações de ofício medievais que, tradicionalmente
costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Modena Maçonaria,
embora já temperada pela influência eclesiástica sobre as guildas operativas.
Como as datas dos
solstícios são em 21 de junho e 21 de dezembro, bem próximas das datas
comemorativas a João, o Batista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de
dezembro, as duas datas acabaram por se confundir entre os maçons de ofício,
cujo costume acabaria chegando até os dias de hoje.
Obviamente que
essas datas, de modo prático, também marcam no setentrião as estações do verão
e do inverno, lembrando que esses períodos naturais sempre foram primordiais para
o desenvolvimento dos trabalhos nos canteiros, tanto no incremento literal das
construções, bem como nos períodos de descanso, no pagament
É desse feitio
simbólico e alegórico que as “Lojas de São João” costumam se reunir nesses
períodos para celebrar os períodos propícios para o trabalho e os favoráveis ao
descanso do reinício do labor na próxima estação. Diante dessa alegoria é que a
maioria dos ritos da Moderna Maçonaria desenvolve a cerimônia comensal das
Lojas de Mesa por rituais que possuem características litúrgicas e
ritualísticas próprias.
Alguns ritos,
inclusive, costumam também se reunir em Loja de Mesa nos períodos equinociais.
Assim, no que diz
respeito às reuniões maçônicas em torno de uma mesa para um banquete, existem
as informais que são as que não possuem ritualística obrigatória que geralmente
acontecem após o encerramento dos trabalhos e as formais envoltas pela
solenidade ritualística que é um trabalho maçônico aberto e encerrado
ritualisticamente em Loja de Mesa, cujas celebrações se dão nos solstícios e,
em algumas ocasiões, dependendo dos ritos, também nos equinócios.
Em todos os casos,
em se tratando de Maçonaria, o ambiente que envolve essas reuniões,
independente de ser ela formal (Loja de Mesa) ou não (copo d’água, recreação),
será sempre respeitoso e revestido de amor e fraternidade.
T.F.A.
PEDRO JUK
OUT/2017
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