domingo, 8 de outubro de 2017

ÁGAPE E LOJA DE MESA

Em 13/07/2017 o Respeitável Irmão Raul Amaury Liciani, Loja Nova Esperança XVII, REAA, GORJ (COMAB), Oriente de Itaperuna, Estado do Rio de Janeiro, solicita informações para o que segue:

ÁGAPE E LOJA DE MESA.


Amado Irmão, estou buscando, com finalidade de estudo, aprendizado e crescimento, informações seguras e fidedignas, as quais possam ser comprovadas por escritos, sobre as origens, e seu real sentido, do Ágape em nossa Ordem.
Em Novembro de 2016, o GOB-GO, publicou um artigo intitulado "O ágape na maçonaria não é confraternização, é parte do ritual.", esse texto, pareceu-me, como uma absoluta realidade, não só pelo contexto de que o Ágape é muito mais do que um simples jantar entre amigos, mas, e principalmente, pelas origens, do mesmo, ali relatadas.
Acredito, realmente, que esse texto relata uma Verdade, e defendo tal conceito, porém, busco registros históricos, ou, escritos de autores acreditados nacional e internacionalmente, que possam dar base à minhas argumentações, de forma indubitável, pois, limitado por meus poucos conhecimentos, não tenho encontrado tais documentos.

CONSIDERAÇÕES.

Como qualquer pesquisa séria em Maçonaria, montar um mosaico direcionado a um tema não é empreitada das mais fáceis. De fato as coisas não são tão simples como o de adquirir um ou dois exemplares de escritos a respeito e fundamentar simplesmente um estudo.
Na questão das Lojas de Mesa muitos a confundem com simples reuniões de comensais e inclusive a intitulam como banquete ritualístico, o que é um equívoco. Outros ainda se baseiam em rituais anacrônicos impressos pelas Obediências, cujos quais nada mais são do que uma mistura de procedimentos ritualísticos enganosos e contraditórios. Pasme, existem rituais em vigor por aí ensinando o obreiro a ficar à Ordem sentado e, quando não, compor Sinal com talheres de mesa. Um verdadeiro absurdo de procedimento em se tratando de ritualística maçônica.
Assim, para que o Irmão possa montar uma grade de pesquisas sobre esse assunto eu sugiro os apontamentos e literatura autêntica sobre as antigas guildas de construtores a partir do século XI até o XV até a profusão de rituais no século XVIII, bem como as tabernas onde comumente as Lojas se reuniam (séculos XVII e XVIII).
Em um breve comentário, as Guildas eram associações e corporações mercantis de construtores artesanais, cujas mesmas foram precursoras da Francomaçonaria e, por consequência, da Moderna Maçonaria.
Englobadas na Maçonaria de ofício, as guildas floresceram no século XI como verdadeiros corpos profissionais que se dedicavam, além do ofício, também à proteção mútua, à fraternidade e a assistência.
Tal qual às Associações Monásticas e as Confrarias Leigas, as guildas mantinham um acentuado misticismo religioso. Inclusive a elas deve-se o uso primeiro da palavra Loja para designar o local de trabalho dos maçons, o que se destaca historicamente no documento de uma guilda datada no século XI.
Embora de destacada atuação entre os séculos XI e XV, as guildas já existiam desde o século VII como corporações religiosas e sociais que tinham por costume discussões de assuntos relevantes à mesa de refeições. Era costume nessas corporações existirem reuniões anuais, geralmente nos períodos solsticiais, onde eram homenageados por de brindes os antepassados, os heróis e os lideres, além de render agradecimentos pelas benesses conquistadas.
Em princípio de origem pagã essas reuniões comensais não eram vistas com bons olhos pela igreja, o que paulatinamente, sob a sua influência, essas reuniões adquiriam perfil de religiosidade, geralmente dedicada a um santo protetor.
Foi com esse perfil que a Francomaçonaria, protegida à época pela igreja-estado, mais tarde adotaria o costume de se reunir em torno de uma mesa em refeição solene, sobretudo nos períodos que iniciavam as estações do inverno e do verão, já que esses períodos eram importantes, sob o ponto de vista prático, para os construtores operativos que labutavam no hemisfério norte do terrestre.
No que diz respeito à Moderna Maçonaria e as reuniões comensais, costume esse haurido dos nossos ancestrais operativos e também das tabernas dos maçons construtores (vide as Lojas nas tabernas antes de se reunirem em templos), muitas foram às ocasiões em que os maçons se reuniam em torno de uma mesa para um banquete fraternal, mas sem qualquer formalidade ritualística à moda das hoje conhecidas Lojas de Mesa.
Atualmente essas reuniões informais e à mesa de refeição se dão geralmente no Salão de Ágapes após as reuniões da Loja, entretanto essas não são as Lojas de Mesa, mas sim celebrações denominadas “copos d’água”, ou o refreshement, dependendo da vertente maçônica. Para essas reuniões comensais informais se adequa melhor a palavra “ágape”.
Ágape, (do grego agápe, significa afeto, amor; refeição de confraternização). No idioma vernáculo, como substantivo feminino e masculino, designa a refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum. Por extensão o termo menciona o banquete, almoço ou refeição de confraternização. Em Maçonaria o vocábulo se associa ao amor, no sentido fraternal, agregado a uma refeição habitual que segue uma celebração. Simboliza a recreação em comum após os trabalhos da Loja.
Já as reuniões comensais formais realizadas em ocasiões especiais e amparadas por ritualística própria são as Lojas de Mesa, equivocadamente chamadas de banquete ritualístico em certos rituais.
Uma Loja de Mesa é sempre realizada num local reservado e coberto dos olhos profanos, já que se trata de uma sessão ritualística privativa de maçons. Comumente, se a “cobertura” permitir, uma Loja de Mesa pode ser realizada no salão de ágapes.
A realização de uma Loja de Mesa é um antigo costume e se concretiza na Moderna Maçonaria nos solstícios relativos ao hemisfério norte terrestre quando o Sol atinge sua posição boreal mais afastada do equador. Por herança recebida dos membros das organizações de ofício medievais que, tradicionalmente costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Modena Maçonaria, embora já temperada pela influência eclesiástica sobre as guildas operativas.
Como as datas dos solstícios são em 21 de junho e 21 de dezembro, bem próximas das datas comemorativas a João, o Batista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as duas datas acabaram por se confundir entre os maçons de ofício, cujo costume acabaria chegando até os dias de hoje.
Obviamente que essas datas, de modo prático, também marcam no setentrião as estações do verão e do inverno, lembrando que esses períodos naturais sempre foram primordiais para o desenvolvimento dos trabalhos nos canteiros, tanto no incremento literal das construções, bem como nos períodos de descanso, no pagament
o dos salários e na revisão dos planos da obra. No inverno as intempéries não permitiam o franco desenvolvimento dos trabalhos no assentamento das pedras calcárias.
É desse feitio simbólico e alegórico que as “Lojas de São João” costumam se reunir nesses períodos para celebrar os períodos propícios para o trabalho e os favoráveis ao descanso do reinício do labor na próxima estação. Diante dessa alegoria é que a maioria dos ritos da Moderna Maçonaria desenvolve a cerimônia comensal das Lojas de Mesa por rituais que possuem características litúrgicas e ritualísticas próprias.
Alguns ritos, inclusive, costumam também se reunir em Loja de Mesa nos períodos equinociais.
Assim, no que diz respeito às reuniões maçônicas em torno de uma mesa para um banquete, existem as informais que são as que não possuem ritualística obrigatória que geralmente acontecem após o encerramento dos trabalhos e as formais envoltas pela solenidade ritualística que é um trabalho maçônico aberto e encerrado ritualisticamente em Loja de Mesa, cujas celebrações se dão nos solstícios e, em algumas ocasiões, dependendo dos ritos, também nos equinócios.
Em todos os casos, em se tratando de Maçonaria, o ambiente que envolve essas reuniões, independente de ser ela formal (Loja de Mesa) ou não (copo d’água, recreação), será sempre respeitoso e revestido de amor e fraternidade.



T.F.A.

PEDRO JUK



OUT/2017

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