Em 17/09/2020 o Respeitável Irmão Alexandre Leal, Loja Regente Feijó II, 1.256, REAA, GOB-RJ, Oriente de Três Rios, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a questão seguinte:
BOAZ OU BOOZ
Meu irmão, escrevo em nome do irmão
Dirceu Menezes. Ele realizou um trabalho recentemente sobre a palavra Booz.
Após o trabalho conversamos e alguns irmãos opinaram e ele continuou o trabalho
de pesquisa e bateu outras dúvidas. No Rito REAA, Bíblia e Escritores
Maçônicos, qual é a maneira correta de escrever, pronunciar? Qual é o certo?
CONSIDERAÇÕES.
Vale antes mencionar que Boaz é um personagem bíblico presente no Antigo
Testamento e citado no livro de Ruth e em I Crônicas. Filho de Raabe e Salmom
(não é Salomão), tomou Ruth como sua esposa. Pai de Obed e pertencente à tribo
de Judá, veio a ser o bisavô do rei Davi (pai do Rei Salomão). O termo também
designa o nome de uma das colunas que se localizam no pórtico do primeiro Templo
de Jerusalém, o atribuído ao Rei Salomão - I Reis, 7. No contexto dos pilares
do pórtico do Templo, Boaz, em hebraico menciona: força, ou nele há força.
No que diz respeito à sua escrita, a grafia correta é BOAZ, e não BOOZ, vocábulo
este que é desconhecido no vernáculo hebraico (vogais dobradas).
o erro acabou se perpetuando porque, segundo estudiosos sobre o assunto, a Igreja Católica resolveu respeitar o tradutor.
A palavra Vulgata é o título dado a tradução do grego para o latim da Bíblia,
fato que se deu por determinação do Papa Dâmaso I e foi desenvolvida entre o
final do século IV e início do século V por São Jerônimo. Diga-se de passagem,
que nos primeiros séculos da nossa era, a Igreja Cristã servia-se,
principalmente, do idioma grego. Traduzida a Bíblia para o latim, a versão da
Vulgata começou paulatinamente a ser utilizada até ser definitivamente oficializada
pelo Concílio de Trento (1545-1563).
No que menciona a versão bíblica da Septuaginta, dos Setenta, ou
Alexandrina, ela adota a grafia hebraica correta, ou seja, BOAZ. A Septuaginta,
que significa setenta, é uma versão muito antiga e se deu a partir da Bíblia
hebraica (o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) traduzida para o grego por
volta de 275 a 100 a.C. A denominação “Septuaginta ou dos Setenta” se deve a um
grupo de 72 anciãos judeus helenistas reunidos para fazer essa tradução. Quanto
ao título Alexandrina, o mesmo ocorre porque essa versão foi feita no Egito com
o objetivo de servir aos judeus helenistas (judeus de fala grega) que viviam, principalmente
em Alexandria.
No contextual maçônico e o uso da palavra
BOAZ, assim como o seu modo corrompido BOOZ, vale mencionar que quando houve a
Reforma Protestante promovida por Martinho Lutero em 1517, na Bíblia traduzida do
latim para o alemão aparece a palavra BOAZ.
Ainda, na concepção protestante inglesa
de tradução bíblica, a corruptela BOOZ é completamente desconhecida. Nela a
palavra aparece escrita como BOAZ.
Sob o ponto de vista de originalidade,
vale repetir que em hebraico a palavra é BOAZ. A corruptela BOOZ é
completamente desconhecida na língua hebraica. É simplesmente inexistente.
Sobre o uso dessas palavras na Maçonaria
em geral, tanto a original como a sua corruptela, parece que é até compreensível
também o uso de BOOZ, porém na vertente latina da Ordem, principalmente levando-se
em conta de que nela há utilização da Vulgata como Livro da Lei. Já na vertente anglo-saxônica da Maçonaria, e
por extensão na anglo-americana, onde a versão da Vulgata geralmente não é empregada,
só a palavra BOAZ é utilizada.
Em relação à Maçonaria brasileira, que é filha
espiritual da França, a corruptela BOOZ é também muito utilizada com frequência,
contudo não é unanimidade, pois existem alguns rituais que preconizam o uso da
palavra BOAZ.
Particularmente no REAA, que é um rito de
origem francesa, mas que possui também influências algo-saxônicas graças a elaboração
do seu primeiro ritual para o simbolismo (1804) estruturado sobre os costumes
dos “Antigos”, BOAZ é utilizada, contudo em muitos países latinos ainda é encontrada
a corruptela BOOZ.
Ainda em relação ao REAA e o caráter
sigiloso que envolve a forma costumeira de transmitir essa palavra, consagrou-se
o uso das duas palavras, isto é, conforme o ritual aprovado e a respectiva Obediência
que o adota. Muitos desses rituais indicam apenas e tão somente a palavra abreviada
na sua primeira letra, ficando as demais que a compõem conforme as versões
bíblicas que pode ser BOAZ ou sua corruptela BOOZ.
Entendo que por ser a Maçonaria uma
investigadora da Verdade, nela não deveria caber nenhuma contradição, ainda que
embasada em tradições superadas. Ora, se a palavra correta é BOAZ, então por
que a adoção de uma palavra de escrita equivocada? Por que disseminar uma palavra
que não existe no seu vernáculo original? A resposta é que desafortunadamente
alguns Irmãos ainda preferem alimentar a contradição sob o juízo de rituais
antigos que perpetuam essa anomalia haurida de um equívoco de tradução.
De fato, espera-se que
na medida em que determinados rituais brasileiros do REAA sejam revisados e
novas edições venham aparecer, essa irregularidade deixe de existir de uma vez
por todas no cobridor do grau.
Ilustrando, vou repetir mais uma vez um comentário
feito pelo Respeitável Irmão Sérgio Kander em junho de 2014 e que eu o incluí
numa resposta minha publicada no Blog do Pedro Juk em 2019. Esses comentários
reforçam a grafia e a pronuncia correta da palavra:
“(...) acho que não se precisa nem de
São Jeronimo, nem de Martin Luther (que não gostava de judeus), nem da Versão
dos Setenta (feita para judeus tão helenizados que não sabiam mais ler hebraico).
Peguem qualquer judeu que se preze (ou um que não se preza como eu) e vamos ao
texto hebraico do Livro de Ruth. Está lá: Letra Beit (é o som do Bê, mais o
sinal vocálico do som do Ó (é um pontinho), mais a letra Áiin com o sinal
vocálico de A mais a letra Záin que sempre tem som de Zê. Resultado: BOAZ. (a)
Sérgio Kander”.
Certamente que as colocações do Irmão Sérgio acima
ajudam a pôr um ponto final nesse assunto.
Quanto à forma iniciática-maçônica de transmití-la no
REAA, em qualquer circunstância (original ou corruptela) se trata de um modo velado
da pronúncia de uma palavra privada, sobretudo levando-se em conta que iniciaticamente
essa P∴ S∴ representa o
início da jornada do Apr∴ que s∴ s∴ s∴.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JUN/2021
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