Em 28.09.2020 o Respeitável Irmão Wellington
Sampaio, Loja Paz e Progreso III, nº 1,
Oriente de Maceió, Estado de Alagoas, solicita esclarecimentos para o que segue:
RITOS MAÇÔNICOS E A GRANDE LOJA
Se possível gostaria da ajuda do
Irmão no sentido de esclarecer uma dúvida, qual seja: recentemente surgiu uma
discussão no âmbito da Grande Loja do Estado de Alagoas (GLOMEAL) sobre a possibilidade
de serem admitidos outros ritos, além do REAA, entre as lojas jurisdicionadas
e, diante disso, veio o questionamento se isso contraria alguma norma, tácita
ou não, pois há o entendimento, por parte de alguns irmãos (dos quais me
incluo), que Grande Loja admite apenas lojas de um mesmo rito; e que lojas de
ritos diferentes configuraria um Grande Oriente. Procede esse posicionamento?
Se sim, há algum dispositivo legal que corrobore esse pensamento?
Busquei dirimir tal dúvida em várias
fontes, no entanto, sem sucesso. Teria como o Irmão ajudar a pacificar essa
celeuma?
CONSIDERAÇÕES.
Em que pese alguns autores como Jules Boucher afirmarem que o sistema
Grande Loja se caracteriza por só admitir um rito, isso atualmente não faz
nenhum sentido.
O título distintivo de Grande Loja dado a uma obediência maçônica surgiu
com o marco inicial da Moderna Maçonaria em 1717, ano em que seria fundada a primeira
Grande Loja em Londres e Westminster a 24 de junho.
Mestre como seu dirigente maior. Para tal, a Grande Loja londrina de 1717 elegeu o gentleman Mister Anthony Sayer para ser o seu primeiro Grão-Mestre.
Quanto ao título distintivo de Grande Oriente para uma obediência
maçônica, o mesmo foi aplicado pela primeira vez na França.
Em que pese alguns historiadores afirmarem que desde 1728 na França
também existisse um sistema obediencial à moda inglesa, inclusive bastante
influenciado pela primeira Grande Loja bretã, é somente em 1738 que iria ser legitimamente
formada uma primeira Grande Loja em território francês - a Grande Loja da
França (essa não é a atual G∴L∴F∴).
Assim, em 1771, tendo à frente o Grão-Mestre Louis Philippe Joseph d’Orléans, o Duque de Chartres, era realizada a grande reforma administrativa na combalida e
desorganizada maçonaria francesa daquele período. Dentre outros, a reforma
focava principalmente em combater a hegemonia das Lojas de Paris e seus
veneralatos vitalícios (vide essa história) e estabelecia a eleição para veneráveis.
Era então substituído o nome de Grande Loja da França por Grande Oriente da
França.
Contextualmente pode-se dizer então que o nome Grande Loja como um
sistema obediencial nasceu na Inglaterra em 1717 e que com essa mesma
finalidade o nome de Grande Oriente foi aplicado na França em 1771.
Como federações ou confederações formadas pelo mínimo de três Lojas maçônicas,
uma Grande Loja ou um Grande Oriente constitui-se numa Obediência ou Potência maçônica.
Diferenças que porventura possam existir entre elas são de caráter
administrativo.
Ser uma Grande Loja por adotar apenas um rito e um Grande Oriente por aceitar
mais do que um rito, não me parece ser uma qualificadora titular apropriada.
Sobre essas colocações, um aspecto para ser considerado é o de que a profusão
de ritos maçônicos ganhou força nos séculos XVIII e XIX. Na Inglaterra, por
exemplo, após o final das escaramuças entre os Antigos e os Modernos era definida
a forma de trabalho após o ato de união de novembro de 1813. No sistema da
Grande Loja, agora Unida da Inglaterra, o craft (ofício) não adota ritos, contudo,
workings, ou seja, formas de trabalhos rituais que seguem uma estrutura
periodicamente demonstrada pela Grande Loja. É bom que se diga que uma das
características da maçonaria inglesa é respeitar o regionalismo cultural das diversas
regiões inglesas.
A Grande Loja inglesa, por si só já quebra a colocação de Jules Boucher quando
ele menciona a prática exclusiva de um rito para caracterizar uma Grande Loja.
Por exemplo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, como “Grande Loja”, adota vários
trabalhos (workings) como o de Emulação que é uma Loja de
aperfeiçoamento e demonstração; o dos trabalhos de Bristol, do Claret, do West-End,
do Taylor’s, do Humber, do Sussex, etc. Isso quer dizer que por mais próximos
que esses trabalhos estejam uns dos outros dentro do Craft, é inquestionável
que existem entre eles diferenças, em alguns aspectos, na forma de trabalho
ritualístico. Na verdade, é a razão dos diferentes nomes dados aos trabalhos maçônicos
regionais em solo inglês.
Vale a pena mencionar que a Grande Loja Unida da Inglaterra não nomina suas
formas de trabalho como “rito”, o máximo que ela pode aceitar é o termo “ritual”,
embora na Inglaterra eles oficialmente não sejam editados. No Craft, cada costume
regional de liturgia maçônica é conhecido por “trabalho”. Os ingleses conservam
uma única espinha dorsal para ele, contudo, conforme a região de origem eles
possuem características próprias.
No Brasil, as Grandes Lojas Estaduais (CMSB) surgidas da cisão no GOB em
1927, em princípio praticavam apenas o REAA, entretanto, atualmente essa não
tem mais sido regra. Assim também existem outras Grandes Lojas espalhadas pelo
mundo, sendo que cada uma delas têm as suas particularidades e podem adotar mais
de um rito se lhes for conveniente.
Nesse sentido, não dá para se afirmar peremptoriamente que uma Grande
Loja se caracteriza por apenas praticar um único rito. Pelo menos não dá para
generalizar esse conceito.
No tocante ao título “Grande Oriente”, sistema administrativo obediencial
criado na França e difundido principalmente nos países latinos, se caracteriza
naturalmente pela adoção plural de ritos.
Quando o Grande Oriente nasceu na França, ele logo se deparou com vários
ritos oriundos dos dois troncos maçônicos praticados em solo francês. No caso,
os ritos Moderno ou Frances, REAA, Rito Adonhiramita, etc. Todos eles na época acabariam
trabalhando sob a égide do Grande Oriente da França. É certo, portanto, que no
Grande Oriente, pelas circunstâncias da sua história, existe pluralidade de
ritos.
Espalhados por outros países do mundo, tanto os Grandes Orientes, assim
como as Grandes Lojas, acabariam se caracterizando como sistemas obedienciais que
governam tantos quantos forem os ritos adotados, podendo, eventualmente, uma
Grande Loja possuir apenas um rito, contudo isso não é regra para torna-la uma
Grande Loja.
Há ainda um aspecto para ser considerado. Em muitos países, principalmente
os latinos como a França, Brasil, Portugal, Espanha, Itália, etc., existem
Grandes Lojas e Grandes Orientes, contudo, vale observar que essa não é uma
característica comum nos países anglo-saxônicos. Nestes é corriqueira a
presença apenas da Grande Loja.
Para concluir, é de se compreender que o número de ritos adotados não é
condição para ser chamar “Grande Loja” ou “Grande Oriente”. Mais comum é admitir
que a denominação “Grande Loja” é filha da Inglaterra e Grande Oriente filho da
França. Diferença entre ambas é mesmo de caráter administrativo, nunca de
adoção de ritos.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JUN/2021
Obrigado pelos esclarecimentos. A titulo de ilustração, a Grande Loja de Minas Gerais reconhece "como regulares e legítimos os Ritos de York e o de Schroeder", além, logicamente, do R..'.E.'.A.'.A.'.
ResponderExcluirGrato pela visita e comentários que reforçam a minha resposta. Fraterno Abraço.
ExcluirO Ir Pedro Juk sempre muito previso e claro em seus ensinamentos.
ResponderExcluirJOSÉ LUIS GONÇALVES
Obrigado meu Irmão.
Excluir