Em 12/05/2017 o Respeitável Irmão
Ronaldo Neris Batistas, Loja Fé Equilíbrio e Amor, 317, REAA, GLESP, Oriente de
São Paulo, Capital, formula a seguinte questão:
TELHAMENTO OU TROLHAMENTO
Inicialmente quero lhe parabenizar
pelo trabalho no blog e dizer que tem sido de muita valia para aprimoramento de
meus estudos.
Li com muita calma a seus
esclarecimentos sobre o correto uso do termo “telhamento ou trolhamento” e
apesar de ter feito todo sentido para mim, me encontro em um grande dilema.
Comentei a respeito do assunto no
copo d´água da última loja e fomos a pesquisa no ritual:
Especificamente no ritual REAA
(Aprendiz e Companheiro) na parte de visitação a abreviação aparece como Trolhamento.
“...outras potências reconhecidas, sujeitando-se, porém, às prescrições do
Trolhamento e às disposições...”
Isso, a meu ver, a não ser que o
ritual esteja com algum erro, coloca em mais um ponto de interrogação na minha
cabeça.
Não sei no ritual de Mestre porque
serei exaltado na terça feira da semana que vem.
Agradeço antecipadamente aos
esclarecimentos e novamente lhe parabenizo pelo valoroso trabalho realizado.
CONSIDERAÇÕES.
Como eu tenho dito meu Irmão, um
Templo se cobre com telhas e não com trolhas.
Infelizmente alguns
autores ajudaram a disseminar esse equívoco (inclusive bons autores) ficando
ele adotado em alguns rituais, e como, para não fugir do costume, a ordem é
copiar e não questionar, o processo segue seu curso com força e vigor. Se
existem rituais que adotam esse termo e o associam à trolha, nada podemos
fazer, senão apontar que esse uso é incorreto quando usado como expressão de
verificação e cobertura nos jargões maçônicos.
O substantivo telha e o neologismo maçônico telhamento só faz sentido se for relacionado
ao Cobridor ou ao Tiler (Guarda
Externo na Maçonaria inglesa). Note
que nem existe o cargo de “trolhador” na Maçonaria. Ora, então por que usar o a
expressão trolhamento? Só mesmo se for por pura teimosia.
Em relação à trolha
e o termo trolhamento ele é plausível quando relacionado àquilo que alisa, ou o
ato de alisar aparando arestas. Nesse sentido e de modo figurado, trolhar
significa em maçonaria sanar rusgas ou trazer novamente harmonia entre irmãos
que tenham porventura entrado em desentendimento. O objeto trolha, tanto como a colher de pedreiro ou como a desempoladeira, é
o que se adapta nessa serventia, mas nunca como um ato de examinar a qualidade
de alguém.
Desafortunadamente
no perfil latino de Maçonaria, o seu modus
operandi tem colaborado para esses desacertos, sobretudo porque nele se diz
“cumprir o que está escrito”, não importando se o que está escrito faz sentido
ou não dentro do contexto, nesse caso o do simbolismo e o da liturgia maçônica.
Existe, entretanto,
outra possibilidade pela qual possa ter surgido esse desacerto e falsa
interpretação generalizada adquirida pela mistura de procedimentos de uns em
outros ritos. Ela é a seguinte: o Rito Schröder, por exemplo, usa tradicionalmente
uma pequena trolha (geralmente sobre um triângulo equilátero) como joia do
Guarda do Templo (Wachhabende
ou Türhüter). Nesse caso a trolha
representa que esse oficial, em nome do sigilo, pode lacrar o recinto das vistas
e ouvidos dos bisbilhoteiros, isto é, simbolicamente seria como se ele elevasse
uma parede no local da porta assentando pedras ou tijolos com argamassa impedindo
acesso aos cowans.
Obviamente que isso tem apenas um sentido figurado para representar a
obstrução de passagem para alguém que não esteja qualificado para ingressar nos
trabalhos. Devido ao uso da trolha como joia do cargo nesse rito é que pseudos
ritualistas, ao tempo de procurar a interpretação correta pela presença da
trolha como símbolo do Guarda do Templo, simplesmente associaram a joia com o
ato de trolhar (sic), criando inclusive esse verbo que é inexistente no
nosso idioma vernáculo.
Quero deixar bem claro que não vai aqui nenhuma crítica ao uso da
trolha como joia do Guarda do Templo no rito Schröder, pois nele ela é
tradicional. Equivocados mesmo estão os desatentos que associaram um objeto sem
o conhecimento do seu verdadeiro significado na Maçonaria, enxertando-o nos
ritos que tem como oficial o Cobridor, cuja joia do cargo é composta por duas
espadas cruzadas. Independente da joia, do título do oficial, ou do rito,
verificar a qualidade maçônica de alguém significa “telhamento”. Assim, o
Cobridor ou o Guarda do Templo são aqueles que têm por ofício “cobrir o
templo”. Afinal, cobrir evita o aparecimento de “goteiras”.
A gíria profissional maçônica “goteira” teve origem na Grã-Bretanha à
época dos Canteiros Medievais. Quando um bisbilhoteiro era surpreendido
espionando os planos de trabalho da guilda construtora, o intruso como castigo
era então amarrado sob as calhas que recebiam as aguas pluviais, especialmente
dos telhados, recebendo assim um belo banho de água gelada, destacando-se que
as temperaturas naquelas latitudes terrenas geralmente eram (e são ainda)
baixas durante o ano.
Assim meu Irmão, eu tentei mostrar a origem e os fatos que corrompem
expressões tradicionais no meio maçônico. Se para alguns é difícil entender
isso, sinceramente eu não sei o que mais há de se fazer.
No meu blog, o Blog do Pedro Juk, em Peças de Arquitetura – Pedro Juk,
o Irmão encontrará um escrito de minha lavra sob o título de Telhar ou Trolhar.
Ele poderá lhe dar mais alguns subsídios para entender esse mote.
T.F.A.
PEDRO JUK
JUNHO/2017
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