Em 02/05/2017 o Respeitável Irmão
Paulo Assis Valduga, adormecido da Loja Luz Invisível, REAA, GORGS (COMAB),
Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, solicita as seguintes
informações:
PERSONALIDADES MAÇÔNICAS
Tenho uma
dúvida sobre a real condição de Maçons do primeiro governo após a Proclamação
da República; tirando Marechal Deodoro (Grão-Mestre do GOB) e Rui Barbosa (vida
maçônica {???} já conhecida - nunca passou de A\M\) os demais: Quintino Bocaiúva,
Aristides Lobo, Benjamin Constant, Campos Salles, Eduardo Vandekolk e Demétrio
Ribeiro eram maçons ativos, frequentadores de suas Lojas, ou eram maçons só de
"apelido" tal qual Rui Barbosa?
CONSIDERAÇÕES:
Antes dois aspectos que devem ser abordados.
O primeiro é o que trata das condições de trabalhos
das Lojas Maçônicas em um Brasil no final do século XIX e começo do século XX.
Naquela época a imensa maioria das Lojas se reunia em trabalhos com forte teor
político que circundava as conquistas sociais, portanto mesmo que atentas à
liturgia maçônica, aquelas reuniões, na maioria das vezes, eram de caráter
administrativo para o trato das questões que envolviam o desenvolvimento de um
Brasil que surgia do final de uma monarquia e ingressava na primeira República.
Naquele período da história não era comum, como hoje, reuniões ritualísticas
semanais, porém as mais específicas destinadas aos afins daqueles idos momentos
da história. Igualmente havia a questão do deslocamento entre as distâncias que
ligavam as cidades aos aglomerados populacionais interioranos das províncias de
outrora, o que sem dúvida trazia muita dificuldade para se organizarem reuniões
das Lojas. Sob esse prisma, não era constante a presença de muitos maçons no
cotidiano das Lojas, sobretudo àqueles que exerciam cargos no governo, nos
ministérios e nas forças armadas. Em síntese era uma condição bem diversa da de
hoje, principalmente em se tratando de frequência como penhor de regularidade.
Entretanto,
isso não era demérito algum para os maçons daquela época, sobretudo em se
levando em conta os sacrifícios que eram exigidos para se superar dificuldades comuns
àqueles tempos. Esse retrato histórico, sem dúvida, viria influenciar
substancialmente no formato daquelas sessões maçônicas, sobretudo às ritualísticas,
o que não dá com isso condições para se estabelecer nenhum juízo de valor que
possa medir a atividade de maçons pelas suas frequências na Loja.
O segundo aspecto é o de se deve fazer justiça ao
Maçom Rui Barbosa de Oliveira, muitas vezes mencionado de maneira, a meu ver, injusta
no tocante à sua vida maçônica. O brilhante jurista, nascido em Salvador na
Bahia em 5 de novembro de 1849, veio a concluir o curso na Faculdade de Direito
da capital paulista em 1870. Tornou-se maçom em São Paulo na Loja América,
local onde ele iniciou a sua destacada jornada abolicionista. Como maçom ele,
em abril de 1870, apresentou durante os trabalhos da Loja um projeto relativo à
libertação dos escravos como consta a seguir:
“Obrigatoriedade de declaração para todos os candidatos ao ingresso na
Maçonaria de que, dali em diante, libertariam todas as crianças do sexo
feminino nascidas de escravas suas; obrigatoriedade também de todas as Lojas
maçônicas brasileiras reservarem um quinto das suas receitas para alforria de
crianças escravas; que todos os maçons brasileiros ficariam obrigados a assumir
um compromisso de que declarariam livres as filhas de suas escravas”.
A
despeito de toda a sua comprovada trajetória como homem político e jurista
brilhante que lhe renderia mais tarde o título de Águia de Haia ele, como
maçom, só pela apresentação desse projeto libertário na sua Loja, já o colocava
destacadamente como um importante membro da Maçonaria, até porque, sem entrar no
mérito da sua frequência e do seu grau maçônico - se Aprendiz na época – só
esse projeto já bastaria para vislumbrar a sua excelente qualidade como
praticante da Arte Real. Rui Barbosa, depois de ser bacharelar em 1870,
voltaria para a Bahia de onde daria início a sua respeitabilíssima trajetória
pelo cenário político social brasileiro.
No que diz respeito à vida maçônica dos demais
personagens mencionados na sua questão, devo dizer que é uma severa empreitada
que demanda de meticulosa pesquisa, assim elaborada para que não se caia no
campo da propagação de inverdades ou, como historiador, cometer o equívoco de
assumir preferência por um dos lados dos fatos relatados.
Assim, o
que eu poderia a priori comentar,
seria algo muito superficial para esse momento, tal como os que se seguem:
Quintino de Sousa Ferreira, mais tarde Quintino Bocaiuva –
nascido no Rio de Janeiro em 1836, propagandista da República, como maçom foi
Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil de 1901 a 1904, tendo sido iniciado na
Loja Amizade em São Paulo, Capital. Dentre outros, foi o redator do “Manifesto
Republicano” datado de dezembro de 1870 (de inspiração maçônica e liderado pelo
Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, Joaquim Saldanha
Marinho), publicado no primeiro número do jornal “A República”.
Aristides da Silveira Lobo, natural de Alagoas, nasceu em
1838, político e jornalista foi um dos signatários do “Manifesto Republicano”
de 1870. Maçom, ele fazia parte dos quadros do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos,
Obediência a qual pertencia a grande maioria dos maçons republicanos das Lojas
espalhadas pelas províncias de então. O jornal “A República”, onde fora
publicado o “Manifesto” foi, naquela oportunidade, dirigido por Aristides Lobo.
Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, nascido
em 18 de outubro de 1836 em São Lourenço, Município de Niterói, Rio de Janeiro,
foi oficial do Exército Brasileiro e professor da Escola Militar. Positivista
maçom, sem dúvida foi o maior personagem do movimento republicano e, não à toa,
foi cognominado como o “Pai da República”. Ao lado de Sena Madureira, foi um
dos personagens principais da Questão Religiosa (uma das questões causadoras da
Proclamação da República em 1889). Benjamin Constant, embora bons pesquisadores
brasileiros o afirmem como positivista e maçom, ainda não existem referências
(pelo menos que eu saiba) de quando e onde ele teria sido iniciado na Maçonaria.
Manuel Ferraz de Campos Sales, terceiro presidente do Brasil,
nascido em 1841, em Campinas, Estado de São Paulo, como maçom, segundo José
Castellani, não se tem certeza da Loja através da qual ele teria sido iniciado,
sendo que o mais provável tenha sido na Loja Independência de Campinas. Em
1863, todavia, ele teria sido um dos fundadores da Loja Sete de Setembro em São
Paulo. Conforme afirmam autores confiáveis, apesar de seus encargos políticos,
foi maçom bastante ativo em toda a sua vido, tendo fundado a Loja Regeneração
III de Campinas e recebido o título de Membro Honorário do Supremo Conselho do
Brasil, em 1883.
Eduardo Wandenkolk, nascido no Rio de Janeiro em
1838, almirante e chefe da Pasta da Marinha do Governo Provisório de 1889 a
1891, não se sabe ainda quando e nem onde foi iniciado na Maçonaria, entretanto
não existem dúvidas sobre a sua qualificação maçônica, já que existem
documentos de algumas Lojas e depoimentos de contemporâneos seus que comprovam
suas atividades como maçom.
Demétrio Nunes Ribeiro, nascido a 5 de dezembro de 1835
em Alegrete, Rio Grande do Sul, sei apenas que ele aparece na história como
educador maçom. Como político, foi Ministro da Agricultura de 1889 a 1901 e,
como deputado constituinte, propôs a separação da Igreja do Estado. Eu não
tenho de momento nenhuma referência sobre quando e onde ele teria sido iniciado
na Maçonaria.
Dadas essas restritas e superficiais considerações,
eu entendo que todos eles foram importantes personagens que construíram uma
parte da nossa história. Como maçons e as suas participações diretas nas Lojas,
eu penso que, se avaliados, seja feita cada avaliação de conformidade com o
cenário político e social da época sem que com isso sejam feitas comparações ao
modus vivendi dos maçons da
atualidade.
Destaque-se que na atualidade, com o advento da
Internet, não raras vezes encontramos informações preciosas sobre o que nos
propomos a pesquisar, embora, na mesma escala, também podemos encontrar
verdadeiros lixos literários irresponsavelmente publicados, a exemplo do tal “Rui Barbosa: vergonha de ser maçom”,
que nada mais é do que um supra-sumo
da manipulação de conteúdo e seguido de calúnia e difamação. Não ficam livres
também muitos livros editados, cujos autores são de perfil temerário.
Por fim, devo mencionar que tenho muitos dados a
respeito, embora dispersos precisem ser ainda catalogados para pesquisa. Assim,
segue alguma bibliografia confiável que pode auxiliar na busca de mais fatos para
os assuntos aqui abordados: Maçons e a
Abolição da Escravatura, Os Maçons que Fizeram a História do Brasil, História
do Grande Oriente do Brasil, A Maçonaria na Década da Abolição e da República,
Histórias Pitorescas de Maçons Célebres – todas elas de autoria do saudoso
Irmão José Castellani. Obviamente que não foi a intenção citar obras de apenas
um autor, pois todas as mencionadas possuem um precioso roteiro bibliográfico
que leva à documentação primária e envolve também diversidade de autores
autênticos.
T.F.A.
PEDRO JUK
JUNHO/2017
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