Em 23/04/2017 através do Consultório
Maçônico José Castellani, Editora A Trolha, o Respeitável Irmão Francisco
Chagas Silva, Loja Lauro Sodré, 03, REAA, GLEMA (CMSB), Oriente de São Luiz,
Estado do Maranhão, solicita esclarecimento para a seguinte dúvida:
SAUDAÇÃO AO DELTA OU AO VENERÁVEL?
Existe diferença na saudação entre
GOB e Grande Loja? Na edição de abril um Irmão pergunta qual o lugar no Oriente
se saúda o Venerável Mestre. Em nossos rituais ensina que saudamos o Delta
Sagrado e não o Venerável. O Rito não é o mesmo (REAA)?
CONSIDERAÇÕES.
Realmente, aqui no
Brasil, como se isso fosse o correto, depende do ritual e da Obediência.
O atual ritual do
REAA do GOB, por exemplo, determina que ao se entrar e sair do Oriente, essa
saudação seja feita exclusivamente ao Venerável Mestre. Já outras Obediências,
como é o caso da vossa Grande Loja, me parece determinar que ela seja feita ao
Delta.
Sob o ponto de
vista tradicional do escocesismo simbólico, sobre esse fato, cabem alguns
esclarecimentos para melhor entendimento.
Na realidade, o
costume de se saudar ao Delta é oriundo da época dos primeiros rituais
escoceses do simbolismo (a partir de 1804) na França. Nessa época, o piso da
Loja era todo no mesmo nível (elevado era só o Altar ocupado pelo Venerável),
não havendo, portanto, nenhum desnível entre os pisos e nem balaústra dividindo o
Oriente do Ocidente (costume seguido pelos “antigos”). Devido a isso, durante
a circulação horária, quando alguém cruzasse o eixo do Templo, no mesmo nível e
mais próximo do Altar ocupado pelo Venerável, esse deveria saudar o Delta, ou a
letra G que o substituía em alguns casos.
No que diz respeito
à saudação ao Venerável Mestre, ainda naqueles tempos, geralmente ela só acontecia
se alguém ingressasse ou se retirasse formalmente da Loja, oportunidade em que
eram saudados inclusive os Vigilantes, tal como costumeiramente ainda se faz.
Entretanto, essa
regra acabaria sendo mais tarde alterada pelo aparecimento das Lojas
Capitulares a partir do primeiro quartel do século XIX (vide a sua história na
França). Essa alteração se daria porque, dentre outros costumes admitidos de
então, o principal seria o de se alterar a topografia do espaço reservado à sala
da Loja elevando e demarcando o Oriente, tudo para se adaptar à novidade
capitular que, a partir dai, teria incorporado para si também os três graus
simbólicos. Assim, com o espaço oriental demarcado e elevado, é que surgiria o
termo usual de se “entrar e sair do Oriente”, por conseguinte, também o de se saudar
o Venerável quando do ingresso e saída do lugar.
A título de
esclarecimento, para os ritos que não adotam o espaço oriental elevado e
demarcado, como é o caso do Craft inglês e americano, Rito de York, por
exemplo, o Oriente da Loja é simplesmente a parede oriental e aqueles que
ocupam lugar imediatamente à sua frente, ou os que ficam mais próximos a ela
(como era também o REAA nos seus primórdios).
Retomando o
raciocínio, mais tarde, ainda no século XIX, as mencionadas Lojas Capitulares, por
razões administrativas ocorridas entre o Grande Oriente da França e o Segundo
Supremo Conselho do REAA, seriam extintas, mas não sem antes ter deixado a sua
marca no simbolismo do Rito – o espaço oriental elevado e demarcado pela
balaustrada permaneceria consuetudinariamente até o presente.
A despeito de tudo
isso é que passou a existir a prática de se saudar o Venerável quando se entra
e sai do Oriente, e ao Delta quando em deslocamento (circulação no Ocidente) ao
se passar da Coluna do Norte para a do Sul próximo do limite com o Oriente.
Não existe saudação
nem ao Delta e nem ao Venerável ao se transitar de um lado para outro no
Oriente, pois nele não há circulação
porque simbolicamente ali é o lugar da Luz, tanto daquela relativa à “Criação”
(o Delta), quanto daquela concernente à Sabedoria e Esclarecimento (o Venerável).
Assim, muitos
rituais corretamente ainda hoje mantêm o costume de saudar o Delta e o
Venerável conforme a ocasião. Outros, entretanto, sem nenhuma explicação,
equivocadamente restringem essa saudação apenas ao Venerável quando se entra e
sai do Oriente, extirpando qualquer saudação ao Delta.
É oportuno ainda
mencionar que a saudação maçônica é sempre feita pelo Sinal, portanto são
dispensáveis as inventivas inclinações com o corpo e/ou os maneios com a cabeça
em qualquer situação. Se na oportunidade as mãos estiverem ocupadas, far-se-á
apenas uma parada rápida e formal com os pés e esquadria, corpo a prumo e sem
incliná-lo – o Oriente não é tatame de judô.
Concluindo, devo
respondê-lo que sem dúvida alguma praticamos o mesmo Rito, portanto todos os
procedimentos ritualísticos “deveriam”
ser equivalentes, entretanto, como bons latinos que somos, aqui no Brasil, cada
Obediência construiu seus próprios costumes, o que tem feito com que na
maçonaria tupiniquim, sem nenhum juízo de valor, possam literalmente existir entre
os rituais de um mesmo rito, diferenças elementares adquiridas principalmente
pelo desenfreado apetite de se editarem rituais (talvez para alguém nele
colocar o seu nome). Sem nenhum embargo, todas as nossas Obediências, em maior
ou menor escala, acabaram fazendo do REAA uma verdadeira “colcha de retalhos”,
construída principalmente a partir de enxertos e invenções. Obviamente que cada
um “puxa a sardinha para a sua brasa”.
T.F.A.
PEDRO JUK
JUNHO/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário