sexta-feira, 10 de agosto de 2018

INEXISTÊNCIA DE ACLAMAÇÃO NO TERCEIRO GRAU


Em 29/05/2018 o Respeitável Irmão Ronaldo Pinto de Morais (Moura), Editora Maçônica A Trolha, Oriente de Londrina, Estado do Paraná, solicita o seguinte esclarecimento:

ACLAMAÇÃO NO GRAU DE MESTRE


Peço mais uma vez sua ajuda para lhe perguntar: Por que no Grau de Mestre não tem ACLAMAÇÃO?

CONSIDERAÇÕES:

Diferente do que muitos pensam, a aclamação H\ possui o simples significado de saudação à Luz. Nesse sentido ela se refere à volta do Sol que sempre se rompe na aurora para governar o dia. Em Maçonaria a Luz é um sinônimo de sabedoria e ela, dentre outros, é aplicada ao Venerável Mestre que, dotado do saber, é o dirigente dos trabalhos (Coluna Jônica). Isso pode ser constatado no ritual durante o diálogo de abertura entre o Venerável e o Primeiro Vigilante.
H\ é a corruptela de uma antiga saudação que os árabes faziam durante o solstício de inverno (dezembro no Norte) ao Sol. Nessa data o Sol atinge a sua maior declinação em direção ao meridião (Meio-Dia ou Sul). A partir desse solstício invernal, o que se dá em 21 de dezembro no norte, aparentemente o Sol inicia o seu retorno para o hemisfério norte. Esse regresso é misticamente comemorado como uma alegoria básica dos cultos solares da antiguidade - a “volta do sol invicto”.
Sob esse particular, os árabes costumavam saudar aclamando a volta do Sol tendo nas mãos com um ramo de acácia florida, já que as flores amarelas da planta se parecem com pequenos sois. Maomé, mais tarde, por conta do islamismo, viria proibir essa manifestação.
Foi graças a essa alegoria que certos autores fantasiosos confundiram o termo H\ - que era bradado na aclamação árabe como “huzza” - com acácia, o que não é verdade. Outros ainda mencionaram inadvertidamente que H\ é a tradução de acácia na língua hebraica. Sem dúvida essa é outra bobagem. Há ainda os que aproveitam essa aclamação para impor os seus credos pessoais evocando convicções ocultistas. Esse também é outro disparate, pois Maçonaria não é lugar para proselitismos.
O Rito Escocês Antigo e Aceito, rito esse que adota a aclamação H\ nos seus trabalhos, fundamenta esse costume nos dois primeiros graus como um símbolo de saudação à Luz (esclarecimento), não só sob o aspecto solsticial, mas também sob o movimento diário do astro rei. No seu ápice (abertura dos trabalhos) é o Meio-Dia e no seu ocaso (encerramento) é à Meia-Noite – período de alto significado simbólico.
Já sob o ponto de vista místico do terceiro grau, o lendário e principal personagem é simbolicamente a personificação do Sol (sabedoria, esclarecimento). Assim, sob a égide desse teatro simbólico e iniciático, tal qual como nos cultos solares da antiguidade, o arquiteto é assassinado pelos três maus personagens (três meses de inverno) deixando a Terra viúva do Sol. Porém mesmo morto ele acaba mais tarde revivendo para novamente fecundar a Grande Viúva – são as sucessivas mortes e renascimentos da Natureza.
Essa alegoria solar, de concepção deísta (francesa), corresponde à Grande Iniciação que se dá no REAA\ durante a Exaltação do Mestre. Assim, o assassinato, a tristeza e a esperança de renascimento ocorrem simbolicamente numa câmara mortuária. Lamentando a morte e procurando da Luz, os maçons buscam a Palavra Perdida representando liturgicamente esse acontecimento na Lenda do Terceiro Grau onde, em primeira análise, tudo ocorre no inverno até que o Mestre seja novamente revivido pelos C\ PP\ PP\ da Maç\.
Sob essa óptica então, a Câmara do Meio representando um recinto em luto, dor e consternação pela perda do Mestre (fim da vida – meia-noite) não exige na sua liturgia a aclamação ao Sol, pois tal como o personagem assassinado, as trevas do inverno ainda prevalecem sobre a Natureza inerte.
Quanto à existência dessa aclamação nos dois primeiros graus, isso se dá porque neles a referência é ao Meio-Dia, enquanto que no terceiro é à Meia-Noite, destacando-se que tal qual a escuridão da madrugada que prenuncia o nascimento de um novo dia, o Mestre, após a meia-noite, também reviverá no Oriente.
Concluindo, é essa a razão pela qual na Câmara do Meio, onde há dor e consternação, não existe a aclamação H\.


T.F.A.

PEDRO JUK


AGO/2018

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