sábado, 21 de março de 2020

COLUNA DA HARMONIA III


Em 27/12/2019 o Respeitável Irmão Jorge Antônio Vieira Gonçalves, Loja Estrela de Davi, REAA, GOB-SE, Oriente de Aracaju, Estado de Sergipe, apresenta a questão abaixo:

javgdbg@gmail.com


COLUNA DE HARMONIA.

Bom dia, ilustre irmão. Gosto muitos dos seus artigos e gostaria primeiramente de lhe agradecer pelos brilhantes textos. Se possível, gostaria da sua orientação, veja o texto abaixo:
"Quero afirmar aqui, pela experiência que adquiri durante a minha vida maçônica, que qualquer música pode ser tocada, desde que vibre o ser humano para uma elevação. Agora há de se respeitar as sensibilidades alheias, e ter bom senso, como por exemplo, não colocar uma música sacra com a presença de vários Irmãos de religião que não seja, por exemplo, a católica. Mas para tudo exige sensibilidade e equilíbrio." (a) Juarez de Oliveira Castro, Mestre Maçom Instalado, Loja Alferes Tiradentes, 20, GLMESC.
Estou pesquisando sobre harmonia nas sessões maçônicas para fazer uma apresentação em minha loja. O ilustre irmão, poderia disponibilizar textos para me ajudar? Existe alguma norma que proíba a música cantada nas sessões?

COMENTÁRIOS.

De fato, no ambiente maçônico cabem apenas procedimentos que lhe são compatíveis.
A Música, em Maçonaria como uma das Sete Artes e Ciências Liberais, é uma das disciplinas do Quadrivium (divisão feita por Boécio) e é necessária para que os atos litúrgicos e ritualísticos se deem a contento, não como uma estrutura didática, mas como uma decorrência do ambiente maçônico. Como sexta Ciência ela é objeto de estudo do Companheiro Maçom.
Por definição, Musica, segundo alguns autores, advém do grego "musa" e se define por "inspiração, poesia e harmonia dos sons". Nesse sentido, em Maçonaria ela se coaduna como um elemento que reforça a harmonia dos trabalhos, sobretudo aquele inerente ao sentido da audição (um dos cinco sentidos).
Na mitologia grega, as "musas" eram tidas como nove irmãs. Filhas de Júpiter e Menemosine, deusa da memória, elas presidiam as ciências e as artes e tinham como principal missão fazer cessar a angústia e a tristeza.
Com base nesses conceitos a Moderna Maçonaria lembra ao encarregado pela Coluna da Harmonia[1] que a Ordem sempre se beneficiou do auxílio da música no desempenho dos seus ritos e cerimônias. Destaca ainda que o principal objetivo da Música é tornar o ambiente solene, inspirador e belo, assim como contribuir para a elevação dos sentimentos de amor e bondade.
Inerente à sua questão, no texto mencionado, e sobre músicas sacras, por certo há que se ter discernimento e cautela para que a harmonia da Loja não se torne em "desarmonia", sobretudo se contraditória perante a crença religiosa de outrem. Há que se ter bom senso e apelar para o bom gosto, mas com neutralidade. É bom lembrar que em Maçonaria vive-se ecumenicamente e sem proselitismos religiosos.
Quanto a textos que o Irmão me solicita eu os possuo de modo disperso e teria que digitaliza-los o que não me é propício devido ao acúmulo de trabalho. Nesse caso lhe indico a obra do saudoso Irmão Zaly de Barros de Araújo in Caderno de Estudos Maçônicos, Coluna de Harmonia, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1991. Certamente esse volume lhe dará subsídios para pesquisa, atentando sempre que a Moderna Maçonaria é composta por Ritos e, destes, cada qual possui suas práticas particulares, não devendo, portanto, generalizar um tema como igual para todos.
Em relação às normas que porventura existam sobre a harmonia das sessões, há que se observar o que preconizam os Ritos e seus respectivos rituais. De antemão posso lhe dizer que alguns trabalhos e costumes, a exemplo dos da Maçonaria Britânica, ainda se utilizam, às vezes, de música e canto ao vivo durante os trabalhos maçônicos.
Concluindo, devo me manifestar dizendo que na minha opinião, em respeito ao ambiente maçônico, ao contrário do que diz o texto, não é qualquer música que pode ser tocada, "desde que vibre o ser humano para uma elevação" (sic). Ora, para as exigências da "Arte" os fatos não são tão simples assim.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2020


[1] Coluna da Harmonia – Segundo Zaly Barros de Araújo, é o conjunto de cantores, músicos, instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos, acessórios; é o conjunto de partituras, discos, etc., destinados, no todo ou em parte, sob a direção e coordenação do Mestre de Harmonia, à musicalização das sessões ritualísticas e outras cerimônias realizadas por uma Loja maçônica.

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