Em 20/12/2019 o
Respeitável Irmão André Ricardo Ferraz Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, REAA,
GOIPE (COMAB), Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, solicita o seguinte
esclarecimento.
SOLETRADA OU SILABADA
Em minha Loja e em outras que visito
durante a abertura e fechamento dos trabalhos quando o Venerável transmite a
palavra sagrada ao Irmão 1º Diácono ele transmite a palavra soletrada e logo
após ele dá a primeira sílaba e o Diácono a segunda e todos os Irmãos
envolvidos neste momento fazem da mesma forma. Sempre achei esta prática
errada, uma vez que o Aprendiz não sabe nem ler e nem escrever, só soletrar.
Pergunto ao Irmão, eu estou certo em meu questionamento ou este procedimento
está correto?
CONSIDERAÇÕES.
Seu raciocínio
está corretíssimo, pois quem só sabe soletrar (letra por letra), no máximo só
consegue dar a palavra pronunciando-a letra por letra, isto é, soletrando-a, sem
ainda formar qualquer sílaba. Transmitir a palavra por sílabas é atitude de
outro grau que não o de Aprendiz no REAA.
De
tudo, entretanto, para essa questão cabem ainda outros comentários.
Assim,
quando da transmissão da palavra para a liturgia da abertura e encerramento dos
trabalhos, essa prática se dá tão somente entre Mestres Maçons (Venerável,
Vigilantes e Diáconos), portanto essa atitude não é de "telhamento". Cabe
lembrar que originalmente cargos em Loja são privativos de Mestres Maçons – os rituais
precisam atentar para isso.
Já
no "telhamento" as letras são consecutivamente trocadas entre os
interlocutores – no caso, entre o examinador e o examinado.
Na prática
da transmissão para a liturgia de abertura e encerramento, que repito, não é
telhamento, a palavra no 1º Grau é dada soletrada (letra por letra) diretamente
pelo transmissor, isto é, não há troca de letras entre os protagonistas.
Exemplo: o Venerável transmite na forma de costume toda a palavra ao 1º Diácono
e ponto final. Desse modo, a intenção dessa transmissão é a de verificar se tudo
naquele exato momento está j∴ e p∴, o que por óbvio só se dá se a palavra
estiver correta e dita conforme o costume – no caso transmitida letra por letra
e sem formar nenhuma sílaba. Reitero, essa transmissão nada tem a ver com
telhamento.
Na
realidade o significado dessa transmissão visa relembrar, de maneira emblemática,
os nossos Irmãos do passado operativo quando aprumavam e nivelavam os cantos da
obra para de iniciar os trabalhos e, do mesmo modo os conferiam no encerramento
visando pagar de maneira justa os salários e por fim despedir os obreiros
contentes e satisfeitos, recomendando o retorno para a próxima jornada de
trabalho É desse costume que se originou a expressão "j∴ e p∴" – melhores detalhes a respeito poderão
ser encontrados no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br
Pelo
exposto, vale a pena repetir que o ato litúrgico da transmissão da palavra para
a abertura e encerramento dos trabalhos no REAA - que não deve ser confundida
com "telhamento" - se dá se fazendo a transmissão de modo iniciático
(soletrada ou silabada conforme o grau), porém por inteiro e pelo transmissor
da palavra. Diferente disso, no telhamento as letras, ou sílabas são trocadas
pelos protagonistas - quem pede sempre dá a primeira letra, ou a primeira sílaba,
conforme o caso. Assim, é essa a diferença entre a transmissão da palavra no início
e encerramentos dos trabalhos e o telhamento propriamente dito (o ato de examinar
a qualidade maçônica de alguém).
Há
ainda outro aspecto contraditório que necessita ser comentado. É o caso da equivocada
repetição por sílabas da palavra entre os protagonistas ao final da transmissão
no 1º Grau. Ora, se a palavra do Aprendiz é somente transmitida letra por letra
para representar que iniciaticamente ele somente sabe soletrar, então não faz
sentido algum que ao final da transmissão haja qualquer repetição por sílabas.
Infelizmente esse erro crasso de há muito vem se repetindo. Sem dúvida alguma
essa é uma erva daninha que inadequadamente se alojou na liturgia do REAA,
provavelmente por alguns "ditos ritualistas" que simplesmente copiaram
procedimentos de outro rito, a exemplo daqueles sistemas que têm por costume transmitir
a palavra de trás para a frente ou mesmo dá-la partida ao meio. Ora, embora isso
exista e possua fundamento originalmente nos ritos que o praticam, ele não faz parte da liturgia do REAA.
Dando
por concluído, cabe repetir que na doutrina do REAA essa alegoria alude à
evolução dos graus (escalada iniciática), onde simbolicamente o Aprendiz, como
integrante do primeiro estágio da doutrina maçônica, somente sabe soletrar.
Assim, em qualquer situação, seja de transmissão ou de telhamento, no 1º grau do
REAA não existe essa repetição por sílabas, nele erradamente pronunciada logo após
ter sido dada a palavra.
T.F.A.
PEDRO JUK
MARÇO/2020
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