Em 20.07.2020 o Respeitável Irmão Roberto Loiola de Lima Junior, Loja Barão de Cayru, 1305, REAA, GOB-RJ, Oriente do Rio de Janeiro, Capital.
DÚVIDA SOBRE O OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA.
Meu questionamento, seria sobre a circulação dos Diáconos.
Quando o Venerável Mestre pergunta ao 2° Diácono
porque ocupa aquele lugar, o mesmo responde "para ser o executor e
transmissor de suas ordens, e zelar para que os irmãos, se conservem nas colunas
com respeito, disciplina e ordem"
Assim como o 1° Diácono.
A questão é. Por que apenas o Mestre de Cerimônias
tem a circulação em Loja?
CONSIDERAÇÕES.
No REAA o diálogo ritualístico relativo às obrigações em Loja que ocorre entre
o Venerável Mestre e os Diáconos durante a abertura dos trabalhos é apenas uma alocução simbólica, não devendo, portanto, ser tomado como uma prática literal.
Essa passagem simbólica apenas revive costumes de
velhos catecismos anglo-saxônicos que sabidamente influenciaram na criação dos primeiros
rituais simbólicos do escocesismo.
Não obstante o REAA ser um rito de origem francesa,
é sabido, contudo, que o seu primeiro ritual do simbolismo somente apareceu no
ano de 1804.
Esse primeiro ritual, historicamente preparado para
suprir o simbolismo do rito na Europa, por questões históricas teve boa parte
da sua estrutura construída sobre a exposure (revelação) atribuída aos autodenominados
Antigos de 1751 na Inglaterra e conhecida como The Three Distinct Knocks (As
Três Pancadas Distintas).
Graças a isso é que boa parcela da estrutura dialética
e ritualística dos rituais do simbolismo do REAA, dentre outros, por exemplo, os
diálogos de abertura, acabaram sendo retirados e adequados dos rituais ingleses
relacionados aos Antigos de 1751 - os tais que faziam oposição aos Modernos de
Londres de 1717. Para melhor compreensão dessa matéria sugere-se perquirir a
história dos Modernos e dos Antigos relativos à história Maçonaria Inglesa e as
suas influências na Maçonaria Francesa.
É neste contexto que aparecem os Diáconos como os
precursores dos “antigos oficiais de chão” da Maçonaria Operativa (vide Harry
Carr in The Masons At Work).
Historicamente esses oficiais trabalhavam como
mensageiros nos imensos canteiros operativos, atuando principalmente junto ao
Mestre da Obra - antecessor do Venerável Mestre da Moderna Maçonaria – e os Wardens
(diretores, zeladores), que mais tarde ficariam conhecidos como Vigilantes.
Em linhas gerais, os Diáconos (oficiais de chão),
além de mensageiros, eram também auxiliares das Luzes da Loja Operativa na
organização e disciplina dos canteiros (pedreiros) que trabalhavam na época,
principalmente nas construções de catedrais, igrejas, abadias, obras públicas,
cidadelas, etc.
É sob esse prisma que os Diáconos da Moderna Maçonaria
(especulativa por excelência), sobretudo a inglesa, herdando costumes ancestrais,
atuam nos trabalhos litúrgicos da Loja como acontece nas Iniciações, Passagens
e Elevações da Maçonaria anglo-saxônica, em particular por aqui conhecido como
Rito de York. Nesse rito, tal como ritos latinos, não existe cargo de Experto e
Mestre de Cerimônias.
Foi com base nisso que o REAA, estruturado em parte
da sua ritualística simbólica na Maçonaria dos Antigos de vertente inglesa,
acabou adotando os Diáconos na sua liturgia, porém apenas como mensageiros e
não como oficiais envolvidos na disciplina e organização da Loja tal qual
tradicionalmente acontece nos trabalhos do Craft.
A despeito da adoção do cargo de Diáconos apenas
como mensageiros no REAA, os diálogos ritualísticos à moda anglo-saxônica, ainda
assim, acabariam sendo mantidos, mesmo que de modo simbólico e não
especificamente como uma prática de ofício. É então daí que no REAA os dois mensageiros
(Diáconos) ainda respondem a indagação do Venerável Mestre à moda antiga informando
serem eles transmissores de ordens, bem como mantenedores do respeito e disciplina
nas colunas – a bem da verdade essa dialética traz apenas referências
emblemáticas de falas figuradas que servem mais para lembrar de uma antiga tradição,
nunca efetivamente de ofício.
Assim, embora essa paradoxal dialética entre o Venerável
e os Diáconos que geralmente acontece nos rituais do REAA, o rito mesmo assim adota
esses cargos atribuindo-lhes, contudo, apenas o ofício de mensageiros para a
liturgia de transmissão da Palavra Sagrada que ocorre durante a abertura e o encerramento
dos trabalhos.
Vale a pena mencionar que essa transmissão, longe
de ser um ato de telhamento, simboliza o nivelamento e a aprumada dos cantos da
obra, comuns no passado operativo quando se abria e encerrava cada etapa da
construção. Assim, no REAA o ofício dos Diáconos é apenas e tão somente o de
mensageiro (oficial de chão), destacando-se que eles atuam exclusivamente como
transmissores na alegoria da comunicação da Palavra Sagrada.
Dado a esses comentários, reitera-se que no REAA,
quando do diálogo ritualístico em que o Venerável indaga aos Diáconos do porquê
deles ocuparem seus lugares em Loja, as suas respostas têm apenas o caráter simbólico
e não especificamente de ofício. Desse modo as respostas visam apenas lembrar
costumes ancestrais e não o de literalmente conduzir os Diáconos a transmitir
ordens ou mesmo atuarem como fiscais e mantenedores de ordem nas colunas.
Ainda existem outros aspectos na ritualística maçônica
que merecem comentários, sobretudo aqueles que envolvem particularidades de
ritos. Assim, esses carecem ser analisados sob todo o encadeamento histórico e
não simplesmente como uma ação litúrgica isolada. Existem muitas diferenças de
procedimentos ritualísticos entre as duas principais vertentes maçônicas – a inglesa
e a francesa.
Se faz cogente também compreender que a estrutura
iniciática contém peculiaridades que envolvem às vezes a amplitude das
questões, sejam elas de viés filosófico e de aperfeiçoamento, assim como de
viés histórico. Existem aspectos que não podem ser analisados apenas sob a
óptica da individualidade, porém na amplitude do seu contexto.
Ilustrando esse comentário, há que se perscrutar nesse
argumento as origens dos rituais maçônicos franceses e em particular o aperfeiçoamento
dos rituais do REAA.
Além da influência anglo-saxônica sobre a estrutura
do simbolismo do REAA, há também outras peculiaridades pertinentes apenas à
Maçonaria latina (francesa).
Um exemplo disso são os cargos de Experto e Mestre
de Cerimônias que são próprios da Maçonaria francesa e foram desenvolvidos estruturalmente
pelo Grande Oriente da França.
Nesse sentido, quando houve o desenvolvimento dos
primeiros rituais do REAA, a partir de 1804 na França, além das influências
anglo-saxônicas aqui já comentadas, houve também influência da Loja Geral
Escocesa e do Rito Francês. Mais tarde, também das Lojas Capitulares (hoje já extintas).
Nesse contexto, a estrutura dos cargos no simbolismo
do REAA acabou por adotar, dentre outros, também os cargos de Experto e Mestre
de Cerimônias, o que relegou o ofício dos Diáconos, no escocesismo, a se
restringir apenas a agentes de transmissão da Palavra Sagrada na alegoria de abertura
e encerramento dos trabalhos da Loja – essa tem sido a única obrigação dos
Diáconos no REAA.
Sob essa óptica organizacional litúrgica e
ritualística, no REAA o Mestre de Cerimônias veio para atuar como uma espécie
de imediato do Venerável Mestre, enquanto que os Expertos atuam no ofício
disciplinar e organizacional dos trabalhos. Note-se que na Maçonaria latina são
os Expertos que geralmente trabalham com o Mestre de Cerimônias nas passagens
ritualísticas da Iniciação, Elevação e Exaltação.
Uma dessas características, inclusive, é a do
Experto exercer o ofício do Irmão Terrível (próprio da Maçonaria francesa), não
obstante também atuar nas substituições precárias e outras ações que demandem o
trabalho de um Irmão comprovadamente experiente – expert, daí a função
do cargo do Experto.
Obviamente que todo esse comentário possui o
desiderato de explicar que na Maçonaria francesa esses cargos atuam em muitas
funções que tradicionalmente são dos Diáconos na Maçonaria Inglesa. Assim,
usando um trocadilho: cada macaco no seu galho.
Dando por concluído, então afirma-se que no REAA,
os Diáconos, embora permaneça ainda no ritual a dialética ritualística
tradicional, atuam apenas como mensageiros transmissores da Palavra Sagrada durante
a abertura e encerramento dos trabalhos. Outras funções ritualísticas comuns
aos antigos “oficiais de chão” (Diáconos), cabem, na Maçonaria latina,
exclusivamente aos Expertos, enquanto que ao Mestre de Cerimônias cabe o ofício
de auxiliar imediato do Venerável Mestre no desenvolvimento dos trabalhos, sejam
eles magnos ou ordinários. É equivocada a prática do Venerável se servir do
Diácono para destinar recados, bilhetes e outros afins durante os trabalhos.
Esse ofício é de competência exclusiva do Mestre de Cerimônias.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
FEV/2021
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