quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA

 

Em 20.07.2020 o Respeitável Irmão Roberto Loiola de Lima Junior, Loja Barão de Cayru, 1305, REAA, GOB-RJ, Oriente do Rio de Janeiro, Capital.

 

DÚVIDA SOBRE O OFÍCIO DOS DIÁCONOS NO REAA.

 

Meu questionamento, seria sobre a circulação dos Diáconos.

Quando o Venerável Mestre pergunta ao 2° Diácono porque ocupa aquele lugar, o mesmo responde "para ser o executor e transmissor de suas ordens, e zelar para que os irmãos, se conservem nas colunas com respeito, disciplina e ordem"

Assim como o 1° Diácono.

A questão é. Por que apenas o Mestre de Cerimônias tem a circulação em Loja?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

No REAA o diálogo ritualístico relativo às obrigações em Loja que ocorre entre


o Venerável Mestre e os Diáconos durante a abertura dos trabalhos é apenas uma alocução simbólica, não devendo, portanto, ser tomado como uma prática literal.

Essa passagem simbólica apenas revive costumes de velhos catecismos anglo-saxônicos que sabidamente influenciaram na criação dos primeiros rituais simbólicos do escocesismo.

Não obstante o REAA ser um rito de origem francesa, é sabido, contudo, que o seu primeiro ritual do simbolismo somente apareceu no ano de 1804.

Esse primeiro ritual, historicamente preparado para suprir o simbolismo do rito na Europa, por questões históricas teve boa parte da sua estrutura construída sobre a exposure (revelação) atribuída aos autodenominados Antigos de 1751 na Inglaterra e conhecida como The Three Distinct Knocks (As Três Pancadas Distintas).

Graças a isso é que boa parcela da estrutura dialética e ritualística dos rituais do simbolismo do REAA, dentre outros, por exemplo, os diálogos de abertura, acabaram sendo retirados e adequados dos rituais ingleses relacionados aos Antigos de 1751 - os tais que faziam oposição aos Modernos de Londres de 1717. Para melhor compreensão dessa matéria sugere-se perquirir a história dos Modernos e dos Antigos relativos à história Maçonaria Inglesa e as suas influências na Maçonaria Francesa.

É neste contexto que aparecem os Diáconos como os precursores dos “antigos oficiais de chão” da Maçonaria Operativa (vide Harry Carr in The Masons At Work).

Historicamente esses oficiais trabalhavam como mensageiros nos imensos canteiros operativos, atuando principalmente junto ao Mestre da Obra - antecessor do Venerável Mestre da Moderna Maçonaria – e os Wardens (diretores, zeladores), que mais tarde ficariam conhecidos como Vigilantes.

Em linhas gerais, os Diáconos (oficiais de chão), além de mensageiros, eram também auxiliares das Luzes da Loja Operativa na organização e disciplina dos canteiros (pedreiros) que trabalhavam na época, principalmente nas construções de catedrais, igrejas, abadias, obras públicas, cidadelas, etc.

É sob esse prisma que os Diáconos da Moderna Maçonaria (especulativa por excelência), sobretudo a inglesa, herdando costumes ancestrais, atuam nos trabalhos litúrgicos da Loja como acontece nas Iniciações, Passagens e Elevações da Maçonaria anglo-saxônica, em particular por aqui conhecido como Rito de York. Nesse rito, tal como ritos latinos, não existe cargo de Experto e Mestre de Cerimônias.

Foi com base nisso que o REAA, estruturado em parte da sua ritualística simbólica na Maçonaria dos Antigos de vertente inglesa, acabou adotando os Diáconos na sua liturgia, porém apenas como mensageiros e não como oficiais envolvidos na disciplina e organização da Loja tal qual tradicionalmente acontece nos trabalhos do Craft.

A despeito da adoção do cargo de Diáconos apenas como mensageiros no REAA, os diálogos ritualísticos à moda anglo-saxônica, ainda assim, acabariam sendo mantidos, mesmo que de modo simbólico e não especificamente como uma prática de ofício. É então daí que no REAA os dois mensageiros (Diáconos) ainda respondem a indagação do Venerável Mestre à moda antiga informando serem eles transmissores de ordens, bem como mantenedores do respeito e disciplina nas colunas – a bem da verdade essa dialética traz apenas referências emblemáticas de falas figuradas que servem mais para lembrar de uma antiga tradição, nunca efetivamente de ofício.

Assim, embora essa paradoxal dialética entre o Venerável e os Diáconos que geralmente acontece nos rituais do REAA, o rito mesmo assim adota esses cargos atribuindo-lhes, contudo, apenas o ofício de mensageiros para a liturgia de transmissão da Palavra Sagrada que ocorre durante a abertura e o encerramento dos trabalhos.

Vale a pena mencionar que essa transmissão, longe de ser um ato de telhamento, simboliza o nivelamento e a aprumada dos cantos da obra, comuns no passado operativo quando se abria e encerrava cada etapa da construção. Assim, no REAA o ofício dos Diáconos é apenas e tão somente o de mensageiro (oficial de chão), destacando-se que eles atuam exclusivamente como transmissores na alegoria da comunicação da Palavra Sagrada.

Dado a esses comentários, reitera-se que no REAA, quando do diálogo ritualístico em que o Venerável indaga aos Diáconos do porquê deles ocuparem seus lugares em Loja, as suas respostas têm apenas o caráter simbólico e não especificamente de ofício. Desse modo as respostas visam apenas lembrar costumes ancestrais e não o de literalmente conduzir os Diáconos a transmitir ordens ou mesmo atuarem como fiscais e mantenedores de ordem nas colunas.

Ainda existem outros aspectos na ritualística maçônica que merecem comentários, sobretudo aqueles que envolvem particularidades de ritos. Assim, esses carecem ser analisados sob todo o encadeamento histórico e não simplesmente como uma ação litúrgica isolada. Existem muitas diferenças de procedimentos ritualísticos entre as duas principais vertentes maçônicas – a inglesa e a francesa.

Se faz cogente também compreender que a estrutura iniciática contém peculiaridades que envolvem às vezes a amplitude das questões, sejam elas de viés filosófico e de aperfeiçoamento, assim como de viés histórico. Existem aspectos que não podem ser analisados apenas sob a óptica da individualidade, porém na amplitude do seu contexto.

Ilustrando esse comentário, há que se perscrutar nesse argumento as origens dos rituais maçônicos franceses e em particular o aperfeiçoamento dos rituais do REAA.

Além da influência anglo-saxônica sobre a estrutura do simbolismo do REAA, há também outras peculiaridades pertinentes apenas à Maçonaria latina (francesa).

Um exemplo disso são os cargos de Experto e Mestre de Cerimônias que são próprios da Maçonaria francesa e foram desenvolvidos estruturalmente pelo Grande Oriente da França.

Nesse sentido, quando houve o desenvolvimento dos primeiros rituais do REAA, a partir de 1804 na França, além das influências anglo-saxônicas aqui já comentadas, houve também influência da Loja Geral Escocesa e do Rito Francês. Mais tarde, também das Lojas Capitulares (hoje já extintas).

Nesse contexto, a estrutura dos cargos no simbolismo do REAA acabou por adotar, dentre outros, também os cargos de Experto e Mestre de Cerimônias, o que relegou o ofício dos Diáconos, no escocesismo, a se restringir apenas a agentes de transmissão da Palavra Sagrada na alegoria de abertura e encerramento dos trabalhos da Loja – essa tem sido a única obrigação dos Diáconos no REAA.

Sob essa óptica organizacional litúrgica e ritualística, no REAA o Mestre de Cerimônias veio para atuar como uma espécie de imediato do Venerável Mestre, enquanto que os Expertos atuam no ofício disciplinar e organizacional dos trabalhos. Note-se que na Maçonaria latina são os Expertos que geralmente trabalham com o Mestre de Cerimônias nas passagens ritualísticas da Iniciação, Elevação e Exaltação.

Uma dessas características, inclusive, é a do Experto exercer o ofício do Irmão Terrível (próprio da Maçonaria francesa), não obstante também atuar nas substituições precárias e outras ações que demandem o trabalho de um Irmão comprovadamente experiente – expert, daí a função do cargo do Experto.

Obviamente que todo esse comentário possui o desiderato de explicar que na Maçonaria francesa esses cargos atuam em muitas funções que tradicionalmente são dos Diáconos na Maçonaria Inglesa. Assim, usando um trocadilho: cada macaco no seu galho.

Dando por concluído, então afirma-se que no REAA, os Diáconos, embora permaneça ainda no ritual a dialética ritualística tradicional, atuam apenas como mensageiros transmissores da Palavra Sagrada durante a abertura e encerramento dos trabalhos. Outras funções ritualísticas comuns aos antigos “oficiais de chão” (Diáconos), cabem, na Maçonaria latina, exclusivamente aos Expertos, enquanto que ao Mestre de Cerimônias cabe o ofício de auxiliar imediato do Venerável Mestre no desenvolvimento dos trabalhos, sejam eles magnos ou ordinários. É equivocada a prática do Venerável se servir do Diácono para destinar recados, bilhetes e outros afins durante os trabalhos. Esse ofício é de competência exclusiva do Mestre de Cerimônias.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

 

FEV/2021

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