Em 12/12/2020 o Respeitável Irmão Sérgio Roberto Melo Souto, atual Venerável Mestre da Loja Perfeita Amizade Alagoana, 181, REAA, GOB-AL, Oriente de Maceió, Estado de Alagoas, faz a seguinte pergunta:
LOJAS CAPITULARES
Prezado irmão. Me esclareça por gentileza: até que
ano ou data existiram as Lojas Capitulares?
Temos ainda em nossa Loja Perfeita Amizade Alagoana
181 ao Oriente de Maceió, AL, um estandarte deste período (Sem uso há muitos
anos).
CONSIDERAÇÕES.
As Lojas Capitulares REAA foram criadas no primeiro
quartel do século XIX na França por pressão do Grande Oriente da França sobre o
Segundo Supremo Conselho do Rito.
Na verdade, o GOdF buscou seguir o que já era prática comum no seu seio em relação aos graus capitulares, pois o Rito Moderno, na época conhecido como o Rito do Sete Graus, era acolhido pelo Grande Oriente desde os seus três graus do franco-maçônico
básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre), mais os quatro demais graus superiores que se encerravam com o grau Rosa-Cruz (7º Grau).Com o advento da criação do primeiro ritual para o
simbolismo do REAA em 1804 na França (vide essa história), o REAA ficava também
sob a tutela do GOdF que, por sua vez, tal qual como ocorria com o Rito Moderno,
ou Francês, se sentiu no direito de ter sob sua égide os graus simbólicos até o
grau capitular.
Desse modo por volta de 1816, era então extinta a
Loja Geral Escocesa de Paris, enquanto o REAA, até o seu 18º (Rosa-Cruz), passava
a ficar sob a égide do GOdF. O Segundo Supremo Conselho ficava com os graus acima
do 19º.
Assim, esse formato irregular onde o Athersata era
também o Venerável Mestre ficaria conhecido como sistema das Lojas Capitulares.
Esse aparelho irregular de graus, contudo, não perduraria, sendo mais tarde
extinto, ficando o simbolismo naturalmente sob a tutela do GOdF enquanto os
demais graus a partir no 4º, com o Supremo Conselho da França.
Vale mencionar que foi graças a esse sistema de
Lojas Capitulares que o REAA teve o seu Oriente elevado e divido, isso para
atender o santuário Rosa-Cruz onde nele adentravam apenas aqueles que já tivessem
alcançado 18º Grau.
Quando as Lojas Capitulares foram extintas, contudo,
o Oriente infelizmente permaneceu elevado e divido, isto é, desrespeitando o
ritual original que fora criado em 1804 e publicado no Guia dos Maçons Escoceses,
em cujo qual não havia separação e elevação.
Destaque-se que no escocesismo original de 1804 o
piso da Loja era inteiro no mesmo nível, sem separação e elevação do quadrante
oriental.
Isto assim se dava porque o primeiro ritual para o
simbolismo do REAA não seguia os costumes dos Modernos Ingleses da primeira
Grande Loja de 1717 como fazia o Rito Moderno ou Francês, mas por razões
históricas, o ritual do escocesismo foi baseado na Grande Loja dos Antigos da
Inglaterra de 1751. Por essa conotação, o ritual de 1804 seguia, em linhas
gerais, o mesmo modelo adotado pelo Craft que hoje conhecemos como Rito de York
– sem Oriente elevado e separado e com o 2º Vigilante sobre o meridiano do
Meio-Dia.
No Brasil do século XIX o GOB, após a sua
reinstalação em 1831, ao assinar tratado de intenções com o Grande Oriente da
França, adotava esse modelo capitular que ainda estava em franco desenvolvimento
na França.
Com isso, em linhas gerais o GOB passava a
trabalhar no REAA, chegado por aqui oficialmente em 1832, com o mesmo sistema
capitular. Tudo isso seria ainda reforçado a partir de 1854 quando o Soberano
Grande Comendador do Supremo Conselho passava também ser o Grão-Mestre da
Maçonaria Brasileira.
A título de ilustração, o tratamento de Soberano
que é dado ainda hoje ao Grão-Mestre Geral do GOB se originou desses acontecimentos.
Assim, esse sistema misto – de simbolismo e altos graus juntos – perduraria até
1951 quando seria então definitivamente separado o Supremo Conselho do REAA do
simbolismo, passando o GOB a ser corretamente apenas uma Obediência simbólica.
No tocante a esses acontecimentos e as Lojas
Capitulares aqui no Brasil, elas durariam oficialmente até 1927 quando se deu a
cisão no GOB e, por conseguinte eram criadas por Mário Marinho Béhring as
Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Béhring, após ter de fato obtido
reconhecimento para o seu Supremo Conselho (Jacarepaguá), que ele trouxera na
ruptura com o GOB, denunciava a irregularidade da prática capitular.
Basicamente a partir daí a Maçonaria Brasileira
passava a contar com duas Obediências, oportunidade em que o GOB precisou rever
os seus rituais simbólicos do REAA. Em 1928 as Grandes Lojas também preparavam
um ritual exclusivamente para o simbolismo do REAA – começava a saga desmedida
de edições de rituais na Maçonaria Brasileira.
É a partir dessa data que as Lojas Capitulares, então
já extintas na França, eram também excluídas da Maçonaria Brasileira. É bom que
se diga que algumas Lojas ainda assim iriam persistir com esse costume, contudo
essa persistência, completamente irregular, logo iria desaparecer por completo –
simbolismo com a Obediência simbólica e Altos Graus (do 4º em diante) com o
Supremo Conselho.
A bem da verdade a Maçonaria Brasileira também não
iria fugir à regra de manter o santuário Rosa-Cruz nos templos do simbolismo,
isto é, o Oriente, elevado e dividido, permanecia para abrigar autoridades e
Mestres Instalados, tudo indevidamente herdado do Capitulo.
Essa forma de Oriente elevado e dividido acabou se
firmando de maneira consuetudinária a tal ponto de se tornar uma característica
topográfica das Lojas Simbólicas do REAA.
Vale ainda mencionar que o REAA originalmente não possui
instalação na forma como aqui conhecemos. Na França, de onde o rito é filho
espiritual, Instalação significa simplesmente posse.
Instalação por aqui foi em princípio enxertada no
REAA a partir da criação das Grande Lojas Estaduais em 1927, cujas quais
adotariam essa prática. Mais tarde, por volta de 1968 o GOB, por influências
externas e de Irmãos oriundos das Grandes Lojas Estaduais, também adoraria a
Instalação esotérica do Venerável Mestre.
Desse modo, o título distintivo de Mestre Instalado
acabaria indevidamente se tornando também consuetudinário na Maçonaria
tupiniquim, inclusive não raras vezes equivocadamente comparado a um grau. Isto
é, o costume se enraizou por aqui que hoje faz parte dos nossos costumes.
É oportuno lembrar que Instalação é prática
original da Maçonaria Inglesa, mas que não deixou de agradar os costumes
latinos, sempre ávidos por novidades. É bom que se diga que nos meados do
século passado a Grande Loja Nacional da França (uma das três Obediências
francesas), provavelmente para receber reconhecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra,
também adequou procedimentos para instalação à moda anglo-saxônica.
Em síntese esses são alguns fatos que se relacionam
entre si com a história da Maçonaria Francesa e a sua filha espiritual, a
Maçonaria Brasileira.
Episódios como o das Lojas Capitulares, a cisão de
1927, a adoção de Instalação, dentre outros, constroem o mosaico por onde
caminha a história do REAA. Infelizmente pela sua característica de nascimento,
que pelas circunstâncias já teve o seu primeiro ritual alterado, acaba sendo
praticado não raras vezes com diferenças consideráveis.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
AGO/2021
Muito grato pelo trabalho de pesquisa e divulgação do Ir∴
ResponderExcluirT∴F∴A∴
Ir∴ Rodrigo Nogueira,
A∴R∴L∴S∴ Arca da Alianca N° 2489, Or∴ de Porto Alegre/RS, GOBRS
Agradeço a sua visita meu Irmão. Conhecimento é para ser dividido com os Irmãos. Essa é uma importante página na história do REAA, mas que infelizmente é completamente ignorada por muitos Irmãos. Enquanto isso, muitos se preocupam com futilidades e ficam discutindo fatos e na maioria da vezes são meros produtos de enxerto. T.F.A.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pela divulgação de tuas pesquisas, já tinha lido em outras fontes, mas a tua é a mais didática e completa que já li até o momento.
ResponderExcluirFraterno abraço.
Varcedi Anflor Pacheco
V.'. M.'. da Cinq.'.Ben.'.Aug.'. e Resp.'. Loja Simb.'. Obreiros de São João n.º 42, jurisdicionada ao GMERGS
Grato pela visita e pelas suas palavras. T.F.A.
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