Em 03.01.2021 o Respeitável Irmão Ivany Régis, Loja Glória de Anamã, 50, REAA, GLOMAM, sem mencionar o nome do Oriente, Estado do Amazonas, apresenta a questão seguinte:
MUDANÇA DE GRAU POR COMUNICAÇÃO
Prezado irmão Pedro Juk, por favor me
disserte sobre a Iniciação, Elevação e Exaltação POR COMUNICAÇÃO. Quando surgiu
esta prática? Todo e qualquer Rito pode fazer uso deste "recurso" de
quebra de interstício? Em que situações legais e legítimas se pode fazer uso
desta prática? Ainda se utiliza?
Lhe perguntei,
devido a certos textos de assentamentos maçônicos que relatam que
"fulano" iniciou na loja Arkbal através do irmão "sicrano" Cavaleiro
Rosa Cruz (Rito Moderno) e que este lhe COMUNICOU até o grau de mestre maçom
para instalação da Loja supracitada
Isso ocorreu no Amazonas em 21 de abril de 1898 e consta em documento
oficial da grande loja maçônica do Amazonas.
CONSIDERAÇÕES.
A bem da verdade, atualmente nas Obediências Regulares da Maçonaria
Simbólica, não existe, sob nenhuma hipótese, aumento de salário sem que o
protagonista passe pela cerimônia ritualística prevista do ritual em vigência.
Isso se explica porque a Instituição Maçônica é uma Ordem Iniciática, cujas
respectivas cerimônias possuem alto significado simbólico. Para tal, há nelas uma
tomada d
e obrigação e uma consagração do candidato.
As etapas iniciáticas do simbolismo universal condizem com as
respectivas estruturas ritualísticas dos ritos e não podem ser dispensadas, sob
pena de se tornarem práticas irregulares.
Sob esse viés, não há no franco-maçônico básico universal (Aprendiz,
Companheiro e Mestre) aumento de salário (passagem de grau) por comunicação. As
regras estão claras nos respectivos regulamentos das Obediências.
Graus por comunicação são admitidos em algumas passagens, mas nos ditos
Altos Graus, Altos Corpos, Supremos Conselhos, etc., contudo isso nada tem a
ver com simbolismo.
É verdade também que no passado, sobretudo quando a Maçonaria, ainda vivendo
num período de transição e aperfeiçoamento, essas comunicações de mudanças de
grau eram, em certos casos, até admitidas.
Nesse sentido é preciso que se compreenda que numa época em que a Maçonaria
atuava firmemente nas conquistas libertárias, muitas vezes as circunstâncias exigiam
essas “comunicações”. Até mesmo as dispensas de interstícios eram admitidas
nesses casos.
Contudo, atualmente, a Moderna Maçonaria Simbólica, organizada para
aperfeiçoar o homem, perscrutar a verdade e construir um templo à Virtude
Universal, não admite mais mudanças de grau por comunicação no simbolismo.
Ainda em relação a essas comunicações do passado, é preciso também conhecer
a história da Maçonaria Francesa e o do Grande Oriente da França, sobretudo a
partir do século XVIII, período em que o GOdF administrava os sete graus do
Rito Moderno – do 1º grau até o 7º grau (Rosa-Cruz). Do mesmo modo assim o GOdF
procedia com o REAA, do 1º até o 18º Grau (Rosa-Cruz), oportunidade em que eram
criadas no escocesismo as Lojas Capitulares.
As Lojas Capitulares perdurariam até o século XIX quando então seriam então
extintas, permanecendo o simbolismo sob os cuidados do GOdF e os demais graus –
do 4º até o 18º - como o Segundo Supremo Conselho do REAA na França.
Isso também serve para explicar essa interferência capitular, altamente
irregular, na Maçonaria Brasileira do século XIX.
Por ser filha espiritual da França, a Maçonaria Brasileira, seguindo a
prática do Rito dos 7 Graus (Moderno) adotava também as Lojas Capitulares no
REAA onde o Athersata era também o Venerável Mestre da Loja.
Graças as Lojas Capitulares é que aparece o Oriente elevado e separado
para acomodar os portadores do grau capitular Rosa-Cruz. No Brasil as Lojas
Capitulares perdurariam até 1927 quando houve a cisão no GOB e apareceram as
Grandes Lojas Estaduais brasileiras.
Foi debaixo dessa prática capitular, comum no Rito Moderno e, por
extensão também no REAA, que provavelmente se deram comunicações de graus como
a mencionada na sua questão, já que o dirigente da Loja Capitular era também o
Venerável Mestre da Loja Simbólica.
Felizmente, esse tempo já passou e atualmente não vivemos mais essa irregularidade.
Com as coisas nos seus devidos lugares, as Obediências Simbólicas governam o
simbolismo enquanto que os Supremos Conselhos, Altos Corpos, Excelsos Conselhos,
etc., administram os seus altos Graus. Não pode existir interferência de um
sobre o outro.
Dando por concluído, reitero que no franco-maçônico básico universal (Aprendiz,
Companheiro e Mestre) as mudanças de grau ocorrem obrigatoriamente em Loja
aberta seguindo a liturgia e a ritualística prevista pelo rito.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
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