segunda-feira, 27 de novembro de 2023

ABERTURA DO LIVRO DA LEI - LEITURA DO SALMO 133

Em 14.07.2023 o Respeitável Irmão Alan Cardek Júnior Souza Lima, Loja Roosevelt, 001, REAA, GLEGO (CMSB), Oriente de Anápolis, Estado de Goiás, apresenta a questão seguinte:

 

LEITURA DO LIVRO DA LEI

 

Poderia me tirar algumas dúvidas? É sobre a leitura na abertura do Livro da Lei. Quando houve a mudança da leitura para o Salmo 133? Qual o motivo dessa mudança? Quem fez essa mudança?

Se puder me indicar material para maiores estudos também, ficaria grato.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Originalmente a leitura do Livro da Lei para a abertura dos trabalhos no grau de Aprendiz do REAA - que é um rito nascido na França - é em João, I; 1-5.

Na França, antes de aparecer o termo "simbolismo" as Lojas eram conhecidas como as Lojas de São João (há razões históricas para isso - vide o teísmo e as origens operativas da Maçonaria).

                  Conforme alguns tratadistas confiáveis, a leitura do Salmo 133 apareceu pela primeira vez no Yorkshire, Inglaterra, por volta do século XVIII, porém logo foi esquecido. Obviamente isso nada tendo a ver com a história do REAA, a despeito de que com esse nome ele nem mesmo ainda havia nascido.

Nas Blue Lodges norte-americanas, correspondentes ao franco-maçônico básico do rito de York Americano, especialmente no Ducan's Ritual, elemento que deu suporte à ritualística de muitas Lojas Azuis das Grandes Lojas norte-americanas, há uma passagem ritualística na qual o Irmão Marechal (um dos oficiais do Rito de York Americano) lê, durante a perambulação do candidato na iniciação, o Salmo 133.

Nesse contexto, vale mencionar que no Rito de York Americano essa leitura nada tem a ver com a abertura do Livro da Lei. Por extensão, esse salmo também nada tem a ver com REAA, que é um rito originário da França.

No Brasil, o salmo 133 apareceria logo após a cisão de 1927 no GOB, então proporcionada pelo Irmão Mário Marinho Béhring e que resultaria no aparecimento das Grandes Lojas Estatuais brasileiras.

Com isso, após o nascimento dessas Grandes Lojas Estaduais, em 1928 aparecia um ritual do REAA para a nova Obediência. Esse ritual ficaria conhecido como o REAA de Béhring graças a inúmeras práticas inseridas e copiadas da Maçonaria norte-americana - provavelmente devido a busca de reconhecimento – não obstante houvesse também elementos das extintas Lojas Capitulares criadas no século XIX pelo Grande Oriente da França.

Com isso, muitos costumes das Blue Lodges, principalmente, acabariam sendo introduzidos no ritual de 1928 do REAA de Béhring. É o caso do Altar dos Juramentos no centro, do cruzamento de bastões que virou pálio, aventais azuis no lugar dos vermelhos, a leitura do Salmo 133, dentre outros.

Vale salientar mais uma vez que nada disso é parte original do REAA, mas em se tratando do REAA de Béhring, elas até fazem sentido em termos da sua originalidade.

O fato é que na Maçonaria brasileira o Salmo 133 apareceu em 1928 com o ritual criado para as recém-criadas Grandes Lojas Estaduais Brasileiras.

Desse modo, mais tarde, com o ingresso de muitos Irmãos oriundos das Grandes Lojas no GOB, o Salmo 133 acabou indevidamente trazido para a Obediência gobiana e até hoje campeia os nossos rituais.

É sabido que em 1972/1973 houve outra cisão no GOB, o que resultou na criação dos Grandes Orientes Independentes (COMAB), fazendo com isso que alguns rituais do REAA também aderissem ao Salmo 133, enquanto que outros, na sua maioria, utilizassem o original para o REAA que é em João, I, 1-5.

Esse é então um pequeno resumo dessa história. Para pesquisa, sugiro que a organização de uma grade de pesquisas se utilizando desses temas. Entenda-se que nada está pronto na historiografia maçônica. O pesquisador precisa perscrutar, juntar fatos e ligá-los ao ponto central da pesquisa.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

NOV/2023

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