terça-feira, 12 de novembro de 2019

CALENDÁRIOS UTILIZADOS NOS PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA BRASILEIRA


Em 02/08/2019 o Respeitável Irmão Mário Amaral, Loja Alvorada da Serra, 2.505, REAA, GOB-SP, Oriente de Taboão da Serra, Estado de São Paulo, apresenta a questão abaixo:

CALENDÁRIO MAÇÔNICO


Por favor. Estou confuso quanto a correta data de início para adequação, ou contagem inicial do Ano da V\ L\ de 5841.
Transcrevo o Art. 395 da Const. do GOB., de 13 de dezembro de 1841, (23º dia do 10° mês do Ano da Verdadeira Luz de 5841) (sic): “Feito no recinto do socego, e da paz, Lugar occulto e coberto aos 23 do 10° m\ do An\ da V\ L\ 5841 - 13 de Dezembro de 1841, era vulgar”
Anexo PDF da publicação original.

Considerações.

Existem dois aspectos que podem apontar um equívoco nessa data. Para tanto, necessário se faz saber quais eram os dois principais calendários adotados no Grande Oriente do Brasil nos meados do século XIX.
Um deles era um calendário equinocial muito utilizado e difundido pelo Rito Adoniramita na época. Era um calendário muito próximo do místico hebraico.
Nesse calendário (equinocial), em relação ao gregoriano, o ano se inicia em 21 de março, equinócio de primavera no hemisfério norte, e termina no dia 20 de março do ano seguinte. Os meses intitulam-se pelo numeral ordinal, ou seja, primeiro mês, segundo mês, terceiro mês, e assim por diante até o décimo segundo mês. O primeiro mês começa em 21 de março e termina no dia 20 de abril.
Abaixo segue uma planilha com o calendário equinocial:

CALENDÁRIO EQUINOCIAL (ADONIRAMITA)
1º mês
21 de março a 20 de abril;
2º mês
21 de abril a 20 de maio;
3º mês
21 de maio a 20 de junho;
4º mês
21 de junho a 20 de julho;
5º mês
21 de julho a 20 de agosto;
6º mês
21 de agosto a 20 de setembro;
7º mês
21 de setembro a 20 de outubro;
8º mês
21 de outubro a 20 de novembro;
9º mês
21 de novembro a 20 de dezembro;
10º mês
21 de dezembro a 20 de janeiro;
11º mês
21 de janeiro a 20 de fevereiro;
12º mês
21 de fevereiro a 20 de março;

Outro calendário utilizado na época era difundido e utilizado pelo Rito Moderno, ou Francês. De estrutura muito parecida com o equinocial utilizado pelo Rito Adoniramita, a diferença estava apenas no dia em que se iniciavam os meses. Ao contrário de iniciar no dia 21 de março como o equinocial, esse calendário se iniciava em março, porém no dia 1º. Assim, o primeiro mês se iniciava em 1º de março e terminava em 31 de março. Desse modo prosseguia até completar o décimo segundo mês que terminava no último dia do mês de fevereiro do ano seguinte.
Abaixo a planilha com o calendário utilizado pelo Rito Moderno.

CALENDÁRIO RITO MODERNO
1º mês
1º a 31 de março
2º mês
1º a 30 de abril
3º mês
1º a 31 de maio
4º mês
1º a 30 de junho
5º mês
1º a 31 de julho
6º mês
1º a 31 de agosto
7º mês
1º a 30 de setembro
8º mês
1º a 31de outubro
9º mês
1º a 30 de novembro
10º mês
1º a 31 de dezembro
11º mês
1º a 31 de janeiro
12º mês
1ºa 28 ou 29 de fevereiro

Dadas essas considerações duas hipóteses podem ser aventadas sobre à data mencionada na sua questão – 13 de dezembro do ano de 1841 da E V.
A primeira hipótese é que se levando em conta o calendário equinocial, 13 de dezembro (calendário gregoriano) corresponde ao 23º dia do 9º mês, e não do 10º mês como consta na transcrição da época.
Veja que 13 de dezembro, conforme a planilha relativa ao calendário equinocial, cai no 9º mês, cujo qual se inicia em 21 de novembro e termina no dia 20 de dezembro. Fazendo a conta dos dias, somam-se os dez dias que faltam para completar novembro (21 até 30) mais os treze dias do mês de dezembro. A soma das duas parcelas é igual a 23 (10+13=23). Assim, dia 13 de dezembro pelo calendário equinocial seria 23º dia do 9º mês.
A segunda hipótese é a do uso do calendário aplicado no Rito Moderno.
Mais simples, o primeiro mês começando no dia 1º de março, 13 de dezembro corresponde ao 13º dia do 10º mês – vide a planilha que corresponde ao calendário do Rito Moderno, ou Francês.
Quanto ao ano da V L chega-se a ele simplesmente somando-se ao ano do calendário gregoriano, ou da E V, a constante de 4000. No caso da questão é o resultado da soma do ano de 1.841 mais 4.000, o que totaliza o ano de 5.841 da V L.
De tudo, o que se pode concluir é que se o calendário utilizado foi o equinocial, há equívoco no mês. Se o calendário utilizado foi o do Rito Moderno, há equívoco no dia.
Na minha opinião, o calendário utilizado foi o do Rito Moderno, coincidindo o 10º mês, contudo o escrevente deve ter se equivocado grafando 23º dia ao em vez de 13º dia. Vejo essa como a maior probabilidade da contradição, mas não posso afirmar.
Concluindo, essa questão de calendários utilizados pelo GOB nos primórdios da Maçonaria brasileira já causou inúmeras interpretações equivocadas. A mais famosa de todas é a da balela do 20 de agosto, data equivocadamente interpretada como o dia em que Joaquim Gonçalves Ledo proferiu na Loja Comércio e Artes enérgico discurso exigindo das Cortes Portuguesas a independência da nossa Pátria. Na verdade, no dia 20 de agosto nem mesmo houve sessão, pois pelo calendário equinocial (utilizado na época) o 20º dia do 6º mês corresponde a 09 de setembro, data em que de fato Ledo discursou, mas sem saber que em São Paulo a Independência do Brasil já havia sido proclamada pelo Irmão Guatimozim no dia 7 daquele mês. Há que se levar em conta a precariedade de comunicação que existia na época do Brasil Colônia. Por desatenção e em cima de um erro histórico, grotescamente ainda vemos maçons discursando e se vangloriando pelo Dia do Maçom numa data em que historicamente nada aconteceu.

T.F.A.

PEDRO JUK

NOV/2019

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