sexta-feira, 31 de maio de 2019

REAA - ORNAMENTOS DA LOJA


Em 18/05/2019 no 1º Seminário de Padronização Ritualística do REAA – GOB, realizado em Santos, São Paulo, o Respeitável Irmão Rodolfo A. Germano, Loja Deus, Justiça e Amor, 2086, GOB-SP, Oriente de Sumaré, Estado de São Paulo, apresentou a seguinte pergunta:

ORNAMENTOS DA LOJA


Ornamentos da Loja: Pavimento Mosaico, Orla Denteada e Corda de 81 Nós.
O Pavimento continuará cobrindo todo o Ocidente? E a Orla Denteada, que é citada, mas quase nenhuma Loja tem, nem no próprio mapa do Templo no Ritual? E o Altar com as Três Grandes Luzes, continuará no Oriente? O Pavimento, cuja origem é representar o Sanctum Sanctorum perdeu a sua função com esse deslocamento?

CONSIDERAÇÕES.

  1. Pavimento Mosaico no Ocidente - No REAA, rito que adota o Pavimento Mosaico com um dos seus símbolos, sem dúvida nele o Pavimento cobre todo o Ocidente da Loja. Nesse sentido, não se trata do Pavimento “continuar” conforme menciona o Ritual, mas o de permanecer fazendo jus a uma tradição do Rito onde o piso de todo o Ocidente é coberto pelo Pavimento Mosaico.
  2. Orla Denteada – De certo modo, a Orla não precisa estar literalmente aparecendo em torno de um retângulo quadriculado que em tempos atrás equivocadamente aparecia ao centro do Templo feito um tabuleiro de xadrez em certos rituais do REAA. Essa forma de representar o Pavimento e a Orla nunca existiu no REAA, pois nele o Pavimento ocupa todo o Ocidente e não só um pequeno espaço representado por um retângulo quadriculado situado entre Colunas no centro da Loja. Esse modo reduzido de representar o Pavimento, e por conseguinte a Orla Denteada o contornando, fora copiado de outros ritos e enxertados no simbolismo do REAA.
No que diz respeito à Orla Denteada propriamente dita (não dá para falar dela dissociada do Pavimento), a mesma pode ser perfeitamente representada pelo nome que a define, pois Orla significa borda, bordo ou rebordo que fica, nesse caso, nos extremos do Pavimento, isto é, junto às paredes norte, sul, oeste e limite com o oriente (contorna, faz a borda, de todo o pavimento pelas suas extremidades).
Como o Pavimento é constituído por quadrados brancos e pretos aplicados contiguamente no sentido transversal (orientam os passos), por si só esse contorno, bordo ou rebordo, que dá a volta no recinto, já representa a Orla Denteada.
A Orla, de modo bem visível, também pode ser vista contornando os símbolos agrupados no Painel da Loja. É bom lembrar que o Painel (página 84 do Ritual de Aprendiz) representa a alegoria da Loja no seu respectivo grau.
Assim, a questão não é a da Orla ser citada e não existir. Sem dúvida a Orla existe e está representada, ou no Painel da Loja ao centro do Ocidente, ou mesmo contornando o Pavimento Mosaico que ocupa todo o recinto na sua parte ocidental. Em síntese, a Orla é o contorno do Pavimento Mosaico, pavimento esse que vai disposto por quadrados brancos e negros colocados a 45º do eixo longitudinal do Templo. O acabamento do piso nos seus extremos, pela disposição oblíqua, dá conotação à Orla Denteada (Dentada ou Marchetada).
  1. Altar dos Juramentos no Oriente – Não se trata dele continuar, pois tradicionalmente o Altar dos Juramentos no REAA\ fica no Oriente.
Esse Altar que suporta as Três Grandes Luzes Emblemáticas é uma extensão do Altar ocupado pelo Venerável Mestre, portanto seria inconcebível imaginá-lo posicionado no centro do Ocidente como equivocadamente havia alguns anos atrás. Altar dos Juramentos no centro do Ocidente é prática do Rito de York (americano) e não do REAA. Esse equívoco fora trazido para o REAA no Brasil por Mário Marinho Béhring na oportunidade em que buscava reconhecimento para as suas Grandes Lojas Estaduais brasileiras nas Grandes Lojas Estaduais dos Estados Unidos da América do Norte. Infelizmente esse equivocado costume acabou mais tarde contaminando o próprio Grande Oriente do Brasil, mas felizmente, desde 1996, com a edição de novos rituais, o GOB extirpou, dentre outros, esse anacronismo que contaminava o REAA.
Assim, reitero que no REAA o lugar do Altar dos Juramentos é no Oriente e não no centro da Loja ao Ocidente, portanto ele continuará no lugar de onde ele nunca deveria ter saído.
  1. O Pavimento Mosaico – Também não se trata de a sua origem ser a de representar o Sanctum Sanctorum do Tabernáculo e posteriormente do Templo de Jerusalém. Criou-se esse estigma porque o termo mosaico advém de Moisés que por sua vez o relaciona com o pavimento colorido que lendariamente cobria o piso do Santo dos Santos.
A palavra Mosaico, como substantivo masculino, do italiano: mosaico) designa um piso preenchido por pedrinhas ou pequenos vidros coloridos com que geralmente se formam gravuras (desenhos). Em Maçonaria, uma das possíveis origens do Pavimento Mosaico, ou quadriculado, que adorna os Templos Maçônicos seria a lenda de que o personagem bíblico Moisés teria forrado o piso do Santo dos Santos do Tabernáculo hebraico com pedrinhas coloridas (isso nada tem a ver com o Altar dos Juramentos e o Pavimento Mosaico da Maçonaria).
O termo Mosaico como adjetivo, do latim: mosaicus, exprime o é que relativo a Moisés - no caso atinente à lei mosaica. Em Maçonaria, embora não generalizado, o termo tem sido usado para designar o pavimento quadriculado adotado por alguns Ritos. Nesse sentido, é, como adjetivo, pertinente a Moisés. Na realidade, embora o nome
mosaico se relacione à cultura hebraica, o pavimento é mesmo de origem sumeriana; estes o tinham como um terreno religioso e proibido. Nem todos os demais povos que o adotaram, a exemplo dos cretenses e dos antigos gregos, o adotaram nesse sentido, porém como mero elemento decorativo. Em se tratando de Maçonaria, o Pavimento Mosaico também não traz consigo nenhum significado de elemento sagrado, tal como ele possuía entre os sumerianos.
Vale a pena mencionar que como alegoria maçônica ele traduz mais uma concepção hermética com princípios da dualidade do que propriamente a figura de um caminho sagrado.
O Pavimento Mosaico, nos ritos que o adotam, através da disposição contígua dos seus quadrados brancos e negros, estabelece o simbolismo existencial dos contrários, destacando-se nele a presença dos opostos (Hermetismo). Alegoricamente ele menciona o piso do Templo de cores variegadas representando o solo terrestre e as suas diversidades de cores, raças, credos e religiões, mas que, apesar delas, entre os homens deve sempre existir a mais perfeita harmonia.
Ainda sob o aspecto hermético, como já comentado, os opostos indicam o existencial, pois a existência de uns, determina a essência de outros; o negro e o branco, o bem e o mal, o amor e o ódio, a noite e o dia, causa e efeito, etc.
Cabe então mencionar que concepções que envolvem o sagrado e o religioso, tal como a relação Sanctus Santorum e Pavimento Mosaico não cabem como elementos doutrinários no simbolismo do REAA. Há que se compreender que lendas na Maçonaria foram adotadas para exprimir lições de moral e ética e não formalizar afirmativas históricas e muito menos religiosas.
É bom que se diga que o ideário de que o Pavimento Mosaico e o Altar dos Juramentos tenha algo a ver com o Santo dos Santos no simbolismo do REAA não condiz com a realidade, sobretudo se eles estiverem ainda ligados àquele Pavimento feito um tabuleiro de xadrez que ficava junto ao Altar dos Juramentos ocupando ambos, anacronicamente, o centro do Templo.
Gostaria de lembrar que eu até expliquei no Seminário que não devemos imaginar Templo Maçônico da Maçonaria Simbólica como sendo um arquétipo do Templo de Jerusalém. Ora, o Templo é uma alegoria adotada pela Maçonaria e não literalmente um ambiente estereotipado para práticas religiosas. Eu comentei também que as Lojas são oficinas estilizadas por símbolos e alegorias utilizadas no passado pelos nossos ancestrais (canteiros da Idade Média). O propósito é o de construir um novo homem e não o de se ocupar com crenças religiosas. A elas, sem dúvida devemos respeito, mas que cada qual silenciosamente busque nelas o seu conforto espiritual. A Loja não é lugar para se expor credos, senão utiliza-los para o bem comum da coletividade, pois apesar das diversidades que encontramos na Natureza, nela há de sempre reinar a mais perfeita harmonia – essa é a lição que o Pavimento Mosaico nos ensina como o piso que ocupa todo o solo ocidental da Loja. É o piso pavimentado pelo qual se deslocam os obreiros trabalhando em busca do seu próprio aperfeiçoamento. Em Maçonaria o espaço é “consagrado” ao trabalho e não “sagrado” para práticas religiosas.
Por tudo meu Irmão, se bem compreendida a Arte e corretamente aplicada a Geometria, o Pavimento, sob nenhuma hipótese, perderá a sua função. Quando o Altar dos Juramentos voltou para o seu lugar de origem e o Pavimento ocupou o espaço de acordo com a tradição do Rito, as coisas simplesmente voltaram para os seus devidos lugares. Com isso, os equívocos é que perderam as suas funções.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2019

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