terça-feira, 13 de março de 2018

QUEM INSTRUI OS APRENDIZES NA LOJA - REAA


Em 01/12/2017 o Respeitável Irmão Nelson Luiz Ribas Pessa, Loja Amor e Liberdade, 2427, REAA, GOB-PR, Oriente de Ivaiporã, Estado do Paraná, formula a questão abaixo.

QUEM INSTRUI OS APRENDIZES NA LOJA.


Irmão Pedro, estamos com uma duvida em nossa Loja, e ela tem sido matéria de debates na Loja.
Quem é o Responsável direto pelo aprendizado dos Irmãos Aprendizes?
Em minha opinião deve tal função estar a cargo do Irmão 1º Vigilante, pois eles estão
na sua Coluna, e é a Coluna da Força.
Entretanto no ritual de Aprendiz, à pagina 174 esta escrito que é função do 2º Vig as instruções.
Favor me esclarecer tal questão meu irmão.
Lembro me ter lido literatura a respeito disso, entretanto me foge a lembrança.

CONSIDERAÇÕES

No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito esse é um equívoco que quase todos cometem quando associam ou acham que é o Vigilante da Coluna o responsável pela instrução. Por esse pormenor seguem algumas ponderações a respeito.
Respeitando acima de tudo a tradição, em se tratando da Moderna Maçonaria, quem instrui os Aprendizes é mesmo o Segundo Vigilante, enquanto que os Companheiros é o Primeiro.
Essa prática se dá por razão à hierarquia dos cargos da Loja e não pelo fato de que se deva coincidir com o Vigilante de uma respectiva Coluna.
Cabe então mencionar aspectos litúrgicos relacionados para explicar os fatos.
Nos ritos maçônicos que nasceram no hemisfério Norte, sempre os Aprendizes ocuparão o Norte e os Companheiros o Sul. Isso se dá inclusive nos ritos que por razões culturais tradicionalmente invertem os seus Vigilantes (o Primeiro no Sul e o Segundo no Norte) como é o caso do Rito Moderno, ou Frances e o Rito Adonhiramita. Mesmo nesses ritos, os Aprendizes permanecem ocupando o Norte e os Companheiros o Sul, excetuando-se algum rito que porventura tenha nascido no hemisfério Sul, a exemplo do Rito Brasileiro onde nele os Aprendizes ocupam o meridião e os Companheiros o setentrião.
Para que se possa compreender esse costume é preciso antes se despir da fantasia de que um templo maçônico foi concebido como cópia fiel do imaginário Templo de Jerusalém – digo imaginário porque não existe ainda comprovação científica da sua existência. O Templo de Jerusalém é uma alegoria maçônica e não um arquétipo ou estereótipo dos templos maçônicos.
Na realidade o templo maçônico, na concepção cósmica deísta (francesa), representa um segmento da superfície terrestre situado sobre o equador, cujos limites são os pontos cardeais, seu piso é o solo terrestre e a sua cobertura o firmamento. Esse espaço também representa alegoricamente um canteiro de obras onde os maçons especulativos trabalham no seu próprio aperfeiçoamento e na construção de um Templo à Virtude Universal. É nesse espaço que por razões iniciáticas, Aprendizes e Companheiros ocupam os quadrantes Norte e Sul da Loja na Moderna Maçonaria.
Dados esses comentários indispensáveis, segue então a razão histórica do ministério de instrutor dado a cada Vigilante na Loja maçônica – a propósito, veja também no Blog do Pedro Juk, http://pedro-juk.blogspot.com.br in Peças de Arquitetura, o trabalho: Varas, Bastões, Hastes; Objetos de Ofício na Liturgia Maçônica, datado de janeiro/2018. Esse escrito/tradução traz comentários e informações a respeito dos Vigilantes.
Na Maçonaria de Ofício, antecessora da Maçonaria dos Aceitos e na época dos canteiros medievais, quando não existiam ainda nem ritos e nem templos maçônicos, os maçons se reuniam literalmente nos canteiros de obras.
Naqueles tempos, quando da admissão de um novo membro na Guilda de Construtores, o que se dava geralmente no solstício de verão europeu (dia de São João, o Batista), costumeiramente era o Segundo Vigilante (warden = zelador, diretor) que recebia o candidato à admissão e lhe ministrava as primeiras instruções.
Instruído e informado, o candidato a Aprendiz era então conduzido até o Primeiro Vigilante que fazia uma prece em seu favor (influência religiosa da Igreja Católica). Ato contínuo o candidato era recebido na forma de costume pelo Mestre da Obra que lhe tomava a “obrigação” diante do Evangelho de São João, entregando-lhe em seguida, um par de luvas e o avental operativo. O candidato então era constituído Aprendiz Admitido no Ofício e o Segundo Vigilante (warden) o conduzia até às ferramentas de trabalho para lhe ensinar os segredos da profissão.
Observação: o Mestre da Loja não era grau de Mestre Maçom. Era sim um Companheiro experimentado.
Constituído Aprendiz, o artífice para receber promoção profissional, geralmente após três ou cinco anos de aprendizado, era então proposto e instruído para se tornar um Companheiro do Ofício. Nessa oportunidade, quem o recebia era o Primeiro Vigilante, ocasião em que examinava a habilidade do postulante no exercício da profissão. Certificando-se da qualidade, o Primeiro Vigilante então ministrava ao aspirante às instruções finais e por fim o recomendava ao Mestre da Obra para que ele fosse constituído Companheiro de Ofício (Fellow Craft) na associação.
Assim, essa é uma síntese de como era o processo ancestral de Iniciação e da promoção profissional nos tempos da Francomaçonaria. Destaque-se que a menção é feita à Maçonaria Operativa, fato que nada se comparava na época ao simbolismo especulativo que hoje conhecemos através da Moderna Maçonaria. Tratava-se literalmente do ofício rude perpetrado dentro de um canteiro de obras medieval.
É oportuno também relembrar que naquela época a Maçonaria de Ofício, ou Operativa era constituída apenas por duas classes profissionais - a dos Aprendizes da Arte e a dos Companheiros do Ofício. Não existiam graus especulativos tais como hoje os conhecemos. O encarregado do canteiro de obras, como já mencionado, era um Companheiro escolhido entre os mais experientes da Guilda e era tratado como o Mestre daquela obra.
Ratifica-se também que à época da Maçonaria Operativa não existiam templos maçônicos e nem mesmo graus especulativos. Tudo se resumia no ofício. Atualmente a sala da Loja, ou o templo maçônico representa simbolicamente esse canteiro de obras.
No passado era então o Segundo Vigilante quem recebia e instruía os Aprendizes, enquanto o Primeiro recebia e instruía os Companheiros. Esse costume, por fim, acabou sendo preservado na liturgia por alguns ritos da Moderna Maçonaria, a exemplo do REAA\ que, emblematicamente, atribui ao seu Segundo Vigilante a missão de instruir os Aprendizes e ao seu Primeiro, os Companheiros.
Destaque-se que isso nada tem a ver com a Coluna que o Vigilante ocupa. Assim, Aprendizes ocupam o Norte e são instruídos pelo Segundo Vigilante que está no Sul. Do mesmo modo os Companheiros ocupam o Sul e o Primeiro Vigilante do Norte os instrui.
Sob essa óptica é que bons rituais por razões históricas preservam essa tradição como um elemento figurado de interpretação, embora também seja sabido que na Maçonaria Especulativa é dever de qualquer Mestre Maçom exercer o ofício de instruir.
É verdade também que existem muitos rituais escoceses equivocados em vigência e adotados pelas Obediências, cujos quais não seguem a autenticidade dessa regra, inclusive contradizendo as origens e costumes da Ordem - infelizmente eles existem por obra de ritualistas que anacronicamente “acham” que o Vigilante é dono da Coluna que ele ocupa - o que não é verdade.
Outra consideração relevante é a de que na Moderna Maçonaria existem também práticas litúrgicas distintas umas das outras devido aos ritos e rituais adotados, pois nem todos eles necessariamente seguem a mesma ritualística por condição do seu arcabouço doutrinário e da vertente a que pertencem (deísta ou teísta). Entenda-se que muitos ritos maçônicos nasceram e adotaram paulatinamente a sua própria liturgia. É de se saber que o objetivo maçônico é único, entretanto os ritos e os rituais determinam a forma de trabalho no canteiro da Loja. Não há como se imaginar que tudo seja igual na Sublime Instituição em se tratando de ritualística maçônica.
Concluindo, são esses os apontamentos relativos às instruções e quem as ministra aos Aprendizes e Companheiros, particularmente no Rito Escocês Antigo e Aceito. A questão não é a de opinião, mas a de raízes históricas. No escocesismo, atendendo à tradição, os Aprendizes no Norte recebem instrução do Segundo Vigilante que ocupa o Sul, enquanto que os Companheiros no Sul são instruídos pelo Primeiro Vigilante que ocupa o Norte. Assim, o Ritual do GOB, nesse sentido, está corretíssimo ao observar essa hierarquia.

E.T. – Corroborando com a ideia de que nem tudo é igual na Maçonaria, vide o Craft Inglês que aqui no Brasil é conhecido também como Rito de York. Nele a Pedra Bruta fica junto ao Segundo Vigilante no Sul e os Aprendizes sentam-se no lado oposto ao nordeste da sala da Loja, enquanto que a Pedra Cúbica fica junto ao Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente e os Companheiros ficam lado Sul da Loja. Esse é um fato que demonstra perfeitamente não haver obrigatoriedade de que o instrutor e o instruído precisem ocupar o mesmo lado da Loja, já que nem mesmo as Joias Fixas obedecem a essa situação.


T.F.A.

PEDRO JUK


MARÇO/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário