Em 03.07.2018 o Respeitável Irmão William Reis, Grande Oriente de Santa
Catarina, COMAB, Rito Adonhiramita, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa
Catarina, apresenta a seguinte questão:
PAINEL ALEGÓRICO DO APRENDIZ – RITO ADONHIRAMITA
Após conversa que
tivemos, hoje à noite por telefone, solicito que me envie um parágrafo, ou uma
frase, que contenha sua opinião explícita de estudo, sobre a Maçonaria
brasileira, a respeito do “Painel Alegórico” (Tracing Boards) de Vertente
Inglesa. Que começou a ser utilizado na Maçonaria Brasileira os dois Painéis
oficialmente em 1928, com a edição
dos Rituais baseados nos editados por Mário
Behring (GOB), o qual utilizou as duas vertentes (Francesa e Inglesa), em
diversos Ritos.
Sabemos que
aconteceram reformulações, a partir de 1981, em outras potências como GOB e
GGLL, significando que, adotaram os painéis de John Harris (Vertente Inglesa) e
o Painel Simbólico de Vertente Francesa.
Tendo em vista a
situação descrita, o Painel Alegórico continua sendo utilizado, mesmo
não tendo sido encontrado nenhum fundamento de sua origem no Rito Adonhiramita.
Encontra-se respaldado pela antiguidade dos usos e costumes,
sendo o mesmo adotado, desde o momento em que as Lojas passaram a expor um
painel, no decorrer das sessões, além de ser aceito por todas as Lojas
Adonhiramitas.
Portanto, solicito a
opinião do Irmão, pois a meu ver, o Painel Alegórico não deve ser alterado, não
deve ter nada incluído, muito menos deve haver trocas nas três colunas (Dórica,
Jônica e Coríntia). Mesmo que a localização dos Vigilantes do Rito Adonhiramita
seja diferente dos outros Ritos, não se deve mexer nas particularidades do
painel.
As instruções para o
aprendiz devem conter que o Painel Alegórico não é originalmente do Rito
Adonhiramita, pois é de Vertente Inglesa e que os símbolos, poderão ser
explicados, sem modificar o painel original.
Na minha opinião, o
Painel Alegórico, deve permanecer idêntico ao de John Harris. Continuando do
mesmo modo, sem mudanças. Deve ficar exatamente do mesmo jeito.
Segue anexo o Painel
alegórico (Tracing Boards) – 1876.
Agradeço imensamente
a sua atenção.
COMENTÁRIOS.
Antes alguns aspectos que merecem consideração.
Quando Mário Marinho Béhring buscou reconhecimento nos Estados Unidos da
América do Norte para a sua recém-criada Obediência, acabou trazendo costumes
do Craft Norte-americano que reconhecidamente é de raiz inglesa. Assim, Béhring
ao trazer para a Maçonaria brasileira algumas práticas ritualísticas comuns às
Lojas Azuis (Rito de York Americano), ele não o fez para o GOB, porém para as
suas Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (CMSB), cujas quais foram criadas por
uma dissidência ocorrida no próprio GOB em 1927. Obviamente que essas práticas
enxertadas acabariam mais tarde se espalhando por toda a Maçonaria praticada no
solo brasileiro, mas esse não é o mote dessa questão.
Um desses enxertos que por aqui aportou foi o da Tábua de Delinear do
Craft sendo que esse objeto simbólico acabou se incorporando em alguns ritos
praticados no Brasil que não o possuem, fazendo com que inadvertidamente
houvesse duplicidade de painéis, pois esse painel alienígena (a Tábua de
Delinear) adquiriu nesse caso o nome inventivo de “painel alegórico” para se
distinguir do verdadeiro Painel da Loja (Painel do Grau) de ritos de origem
francesa.
Destaque-se também que no GOB, dentre outros, nem o REAA\ e particularmente nem o Rito
Adonhiramita utilizam-se de outro painel que não o da Loja - esse painel é de
origem francesa devida a inquestionável origem desses Ritos.
No caso do Rito Adonhiramita, assunto dessa questão, no seu ritual em
vigência praticado no GOB não há nele nenhuma referência ao tal “painel
alegórico”. Portanto se existe duplicidade de painéis num mesmo rito - um inglês
e outro francês – esse não é o caso do GOB\.
No tocante ao Rito Adonhiramita praticado na COMAB em Santa Catarina, essa
duplicidade de painéis me causa estranheza, pois na Coleção da Maçonaria
Simbólica do Rito Adonhiramita – Ritual de Aprendiz, 1987, selado pelo Grande
Capítulo Adonhiramita de Santa Catarina, criado em setembro de 1991, coleção
essa que recebi do Amado Irmão Lúcio por indicação do Irmão José Castellani, não
aparece nenhum “painel alegórico”, senão apenas um painel de origem francesa –
o Painel da Loja. Agora, se atualmente a COMAB catarinense resolveu adotar mais
um painel e chama-lo de “painel alegórico” no Rito Adonhiramita, com toda
certeza tenho a dizer que é lamentável. Mas; se foi legalmente aprovado...
Fazer o quê?
Quanto ao seu comentário na questão, o “painel alegórico” que o Irmão
apresenta é de fato a Tábua de Delinear (Tracing
Board) do Primeiro Grau utilizado pela Maçonaria inglesa, destacando-se que
originalmente ela não deveria estar presente no Rito Adonhiramita, até porque a
Maçonaria inglesa é teísta por excelência e a sua simbologia não condiz com um
rito de vertente deísta.
A utilização indevida desse “painel alegórico” no Rito Adonhiramita pode
ter uma explicação. Atente-se para tal que o Rito Moderno, ou Francês, nascido
na França do século XVIII originalmente utilizava, com poucas variações, um
Painel do Grau decalcado da Tábua de Delinear inglesa, isso porque naquela
época a França desconhecia completamente outra Maçonaria que não aquela
praticada pelos “modernos” nascidos da Primeira Grande Loja inglesa de 1717. Graças
a isso o Rito Francês ficaria também conhecido como “ou Moderno”. Nesse
sentido, o painel do Rito Francês, ou Moderno se aproximou muito da tábua de
delinear inglesa – contendo as três colunas (Jônica, Dórica e Coríntia), a
escada (de Jacó) em direção ao céu, as três virtudes teologais, etc.
Muitos dos seus rituais ainda mantêm essa tradição, embora muitos outros
já o tenham substituído pelo painel de origem francesa (com as Colunas J e B),
comuns aos ritos nascidos dessa vertente e, em especial o Rito Francês ou
Moderno que busca se afastar de qualquer simbologia que detenha feições teístas
ou deístas no intento de se coadunar com as suas próprias características – a
de liberdade de consciência religiosa do homem.
Sem que esse seja um comentário laudatório, existe a probabilidade de que
alguns ritualistas do Rito Adonhiramita, rito que também é de origem francesa, tenham
equivocadamente adotado em algum momento da sua história também esse painel do Rito
Moderno, cujo qual, como já explicado, fora decalcado da Maçonaria inglesa.
Assim, com a indevida adesão de mais um painel no Rito e, como a boca se
entorta conforme o hábito do cachimbo, o mesmo, à moda Béhring, acabou por ser
conhecido como “painel alegórico”. Destaque-se que essa é apenas uma
possibilidade, não uma afirmativa.
Infelizmente, o que essas inserções indevidas trazem são contradições,
já que elas não se explicam pela sua presença no arcabouço doutrinário do rito,
colaborando fatalmente com invenções e fantasias que só fazem por disseminar
ainda mais a semente da dúvida.
Sem dúvida, é devido a isso que as instruções muitas vezes acabam por
não fazer sentido e se tornam contraditórias. Muitas vezes, inadvertidamente,
alguns, em busca da solução pelo menor esforço, preferem alterar conceitos da
simbologia a enfrentar a causa. É bom que se diga que um símbolo sempre traz uma
mensagem velada, portando deve estar sempre afastado da interpretação
licenciosa.
Se, como é o caso do “painel alegórico”, um símbolo, ou um conjunto de
símbolos se faz presente, em respeito a sua tradição ele, ou eles, não podem
ser alterados ou desordenados na intenção de se acomodarem ideias. Particularmente,
o caso do “painel alegórico”, mesmo de inserção duvidosa, é preferível que ele
permaneça sem alteração. Em respeito a sua originalidade, nele não cabem
acomodações. Em não sendo ele apropriado para o Rito, o ideal é que ele ali não
permaneça, entretanto, se não for possível a sua remoção, então que ele
permaneça como está.
Nesse sentido, esse “painel alegórico” é constituído por um conjunto de
símbolos que formam a senda iniciática do grau de um rito. Se ele não está no
lugar certo, não é invertendo seu conteúdo ou retirando algumas das suas peças
que ele fará sentido. Na realidade ele só faz sentido no rito a ele apropriado.
Não se conserta um erro acrescentando outro maior. O melhor mesmo é se
utilizar do bom senso. A liturgia maçônica tem para cada rito uma disposição
simbólica. Alterá-la para adequações ou “jeitinhos” são atos de péssima
geometria.
No tocante ao que comenta o Irmão na sua questão, eu só tenho a lamentar
que o belo Rito Adonhiramita praticado na COMAB de Santa Catarina, tenha adotado
outro painel, além do seu original, intitulando-o de “painel alegórico”.
Sobre a questão em si, entendo que dos males o menor. Penso que não se
faz a rolha para depois se fazer a garrafa. Se há um equívoco, o ideal é extirpá-lo
por completo antes de aumenta-lo ainda mais. Assim, se o tal painel alegórico
foi adotado no Rito Adonhiramita e, em nome da duvidosa justificativa “usos e costumes” ele não pode ser erradicado,
então que pelo menos ele permaneça inalterado, pois não é de bom alvitre modificar
o conteúdo de um painel para adequá-lo a um sistema para o qual ele não foi
criado.
Objetivamente a questão é a seguinte: se o “painel” mesmo inapropriado
constar no ritual do em vigência do Rito e não puder ser retirado, então que
ele permaneça como está. Descaracterizá-lo para “arrumar jeitinhos” não é a
solução. O ideal seria um debate legal para a retirada desse painel por não ser
ele original no rito em questão.
OBSERVAÇÃO - Ao mencionar no texto que os rituais em vigência no Grande Oriente do Brasil, em relação ao Rito Adonhiramita, não contemplam o Painel Alegórico, de fato eles não aparencem na liturgia e no desenvolvimento da ritualística. Entretando ele aparece apenas como elemento que pode ser usado como decoração no átrio do Templo. Assim, ele continua a não exercer nenhuma influência sobre o Rito pois o mesmo não aparece na decoração do Templo "dentro da Loja" e nem é mencionado como elemento simbólico que atua na dinâmica iniciática. Essa observação tem apenas o desiderato de esclarer o porquê de eu não tê-lo mencionadoo como elemento constitutivo da constelação simbólica do rito, já que ele aparece fora do Templo e nem é mencionado na liturgia.
OBSERVAÇÃO - Ao mencionar no texto que os rituais em vigência no Grande Oriente do Brasil, em relação ao Rito Adonhiramita, não contemplam o Painel Alegórico, de fato eles não aparencem na liturgia e no desenvolvimento da ritualística. Entretando ele aparece apenas como elemento que pode ser usado como decoração no átrio do Templo. Assim, ele continua a não exercer nenhuma influência sobre o Rito pois o mesmo não aparece na decoração do Templo "dentro da Loja" e nem é mencionado como elemento simbólico que atua na dinâmica iniciática. Essa observação tem apenas o desiderato de esclarer o porquê de eu não tê-lo mencionadoo como elemento constitutivo da constelação simbólica do rito, já que ele aparece fora do Templo e nem é mencionado na liturgia.
T.F.A.
PEDRO JUK
OUT/2018
Exatamente Estimado Irmão Pedro Juk, esses chamados painéis alegóricos constam na parte inicial de nossos rituais, todavia não são utilizados em nossa Liturgia, e também sequer existem fisicamente nas diversas Lojas Adonhiramita do Brasil, pelas quais já passei. Isso certamente pelo feto de que são painéis meramente decorativos para serem colocados no Átrio do Templo, e na maioria deles trazem pouca conexão com a ritualística praticada, com uma pequena exceção feito ao painel alegórico do grau de companheiro maçom, que tenta trazer alguma vinculação com o contexto litúrgico do grau.
ResponderExcluirNo mais, são inserções feitas sem qualquer observância aos critérios litúrgicos do Rito, e ademais "painel" que não fica dentro do Templo sequer deveria receber essa denominação, poderia ser tratado como quadro decorativo ou qualquer outra coisa, mas não como Painel.