Em
09/07/2018 o Respeitável Irmão Leonardo Mendes, Secretário Estadual Adjunto do
Grande Oriente do Paraná, COMAB, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, pede
informações sobre o que segue:
PERÍODOS HISTÓRICOS DA MAÇONARIA.
Gostaria que o Irmão comentasse sobre os períodos da história da
Maçonaria enfocando o período Operativo e Especulativo.
CONSIDERAÇÕES
Antes das
considerações propriamente ditas, é preciso que o estudante de Maçonaria, sob o
ponto de vista autêntico, se desvencilhe das fantasias ou falsas interpretações
que ocorrem por conta das alegorias utilizadas pela Maçonaria. Assim, alegorias
não podem ser tomadas como afirmações histórias. Alegorias são sim utilizadas
como artifício instrutivo, nunca como afirmação da ocorrência de um fato.
Dados esses primeiros
comentários, segue um resumo simples e objetivo de aspectos que viriam, mais
tarde, em redundar na Maçonaria que vivemos e conhecemos na atualidade – a
Moderna Maçonaria.
As Organizações de
Ofício como nossas antecessoras.
A arte de construir, não propriamente
a Maçonaria, advém dos tempos em que o homem deixou as características nômades de
viver nas cavernas, para viver numa sociedade estratificada. Embora não
existisse ainda na época o sentido de organização profissional que pudesse
regular o conceito do ofício, a necessidade fez com que viessem aparecer os
primeiros profissionais dedicados à construção. Começava então a ereção de
vivendas e moradias que se tornariam mais tarde em aglomerações urbanas.
Collegia Fabrorum - Em termos de organização
profissional, foi no Império Romano do Ocidente que, em função das atividades
de conquista, veio aparecer no século VI a. C. a primeira associação organizada
de construtores. Conhecida como os Collegia
Fabrorum, os seus membros eram os Collegiati.
Na realidade essas associações acompanhavam as legiões romanas na intenção de reconstruir
aquilo que a atividade bélica havia destruído durante as conquistas.
Eram dotadas de forte caráter
religioso, ao mesmo tempo davam ao trabalho um cunho sagrado prestando culto às
suas divindades. De caráter inicial politeísta, essa associação acabou se
tornando, pela expansão do Cristianismo, monoteísta, entrando em decadência
após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d. C. Embora o declínio, ainda
assim persistiram pequenos grupos dos Collegia
no Império Romano do Oriente, cujo centro era Constantinopla.
Associações Monásticas – É na Idade
Média, por conta do grande poder exercido pela Igreja Católica e no intuito de
preservar a Arte Real entre os construtores do norte da Europa é que viria
aparecer a Maçonaria de Ofício, ou Operativa. Assim, a partir do século VII
surgiam as Associações Monásticas.
Formadas quase que
na sua totalidade por clérigos que dominavam a arte da construção, os segredos
do ofício ficavam restritos aos conventos. Isso se explica porque numa época em
que a Europa estava em ruínas pelas sucessivas invasões bárbaras, onde as
guerras, os saques e os roubos eram frequentes, os artistas e os arquitetos buscavam
refúgio em lugares seguros, geralmente encontrados nos conventos e abadias.
Com a expansão da Igreja-Estado, o
que resultou na falta de mão de obra, os frades construtores se viram obrigados
a preparar leigos para desempenhar o ofício da construção, o que proporcionaria,
já no século X, o aparecimento de organizações que ficariam conhecidas por Confrarias
Leigas. Essas confrarias, mesmo constituídas por leigos, continuavam a receber
forte influência eclesiástica de onde haviam aprendido o ofício, mantendo assim
forte apelo religioso dado ao trabalho.
Convenção de York – É nesse período que se realiza a Convenção de
York na Inglaterra, cuja mesma seria considerada como a primeira reunião de
operários construtores. Ocorrida em 926 d. C. à época do Rei Athelstan,
essa Convenção buscava reparar os inúmeros prejuízos que as associações haviam
tido por conta das sucessivas invasões bárbaras advindas do norte. Nela,
segundo historiadores, fora apreciado e aprovado um estatuto que ficou
conhecido como a Carta de York, o que, em primeira instância, serviu como norma
regulamentar para as confrarias de ofício e transformou a cidade medieval de
York como uma espécie de Meca da Maçonaria Operativa.
As Guildas – Aproximadamente nesse período é
que associações simplesmente religiosas formariam, a partir do século XII,
corpos profissionais que ficaram conhecidos como Guildas. Deve-se a elas o uso da palavra Loja como corporação e
local de trabalho. Na realidade as Guildas,
junto com os Ofícios Francos podem ser consideradas como os verdadeiros ancestrais
da Moderna Maçonaria.
Dentre outras
particularidades, deve-se a elas os brindes e homenagens aos deuses, aos
antepassados e aos heróis. Era comum nelas seus participantes se comprometerem
a defender uns os outros como irmãos se socorrendo mutuamente. Assim, as Guildas se caracterizavam pela prática
de recíproco auxílio, reuniões em banquete e por atuação em reformas políticas
e sociais.
Introduzidas na Inglaterra, elas
acabariam modificadas por influência do cristianismo, embora mesmo assim não
fossem bem vistas pela Igreja, o que se explica pelas suas origens pagãs e
muito possivelmente pelas reformas políticas e sociais, sobretudo naquilo que
diminuía os privilégios do clero. Subsistindo a antipatia da Igreja e evitando
hostilidades, as Guildas acabariam se
desenvolvendo sob a proteção de um monarca e de um santo protetor.
Canteiros – Ainda no século XII, associadas às
Guildas, apareceria uma associação de
operários alemães intitulados Steinmetzen,
ou Canteiros, que alcançariam
notoriedade quando da construção da Catedral de Estrasburgo.
Sob a direção de Erwin de Steinbach,
o mesmo deu um aprimorado sistema organizacional aos seus obreiros. O termo “canteiro”
designa o operário que trabalha em cantaria, esquadrejando a pedra tornando-a
lavrada para que possa ser utilizada como matéria prima nas construções.
Ofícios Francos, ou a Franco-Maçonaria – Também no século
XII floresceria a associação tomada como a mais importante do período do ofício
e que ficou conhecida como os Ofícios Francos (Franco-Maçonaria).
Constituídos por
artesãos privilegiados isentos de obrigações e impostos reais, feudais e
eclesiásticos, bem como possuíam liberdade de locomoção, eles eram construtores
categorizados diferentes daqueles que estavam servos e que ficavam presos às
obrigações impostas pelo seu senhorio. Destaque-se que na Idade Média o termo “franco” designava não só aquele que era
livre em oposição ao servil, mas também todos os indivíduos e bens que escapavam
às servidões e direitos senhoriais.
É sob essa
concepção que aparecem os “pedreiros-livres”,
conhecidos na França como franc-maçons
e na Inglaterra como free-masons.
Há que se
considerar que o maior poder político da época era a Igreja e era ela que
concedia privilégios, sobretudo pela sua ascendência sobre os governantes
medievais.
Cabe mencionar que nessa fase
primitiva e antes da formação apropriada das Lojas, não se pode imaginar uma
Maçonaria tal qual a conhecemos atualmente. Ela não era uma sociedade secreta,
pois o segredo, a principio, nada mais era do que uma forma de reconhecimento
entre os seus membros que guardavam - de modo velado - os planos para a
construção. Nada havia de esotérico e nem existiam recintos decorados com
símbolos.
Estilo Gótico – Ainda no século XII, um importante estilo arquitetônico denominado
gótico, ou germânico apareceria, primeiro no norte da França e por fim
espalhando-se pela Inglaterra, Alemanha e outras regiões da Europa. De
importâ
A Companhia dos Maçons de Londres – Em 1220 (século
XIII) apareceria em Londres, sob o reinado de Henrique III, a corporação de
pedreiros denominada The Holy Craft and
Fellowship of Masons (A Santa Arte e Associação dos Pedreiros). Essa associação
é tida por alguns autores como um marco referencial para a Maçonaria.
Posteriormente, já
no ano de 1275, na intenção de terminar a ampliação das obras da Catedral de
Estrasburgo, iniciada em 1015, Erwin de Steinbach convoca a Convenção de
Estrasburgo para a qual afluíram famosos arquitetos da Alemanha, Itália e
Inglaterra.
Naquela
oportunidade fora especialmente criada uma Loja para discutir os planos e
andamento dos trabalhos, quando então Erwin seria aclamado como o Mestre da
Cátedra.
É bom que se diga
que naquela época Lojas eram criadas com o desiderato de tratar de uma obra
específica – foi o caso daquela criada para a construção da Catedral de
Estrasburgo.
Nessa época,
sobretudo na Inglaterra, os operários das corporações costumava utilizar
recintos localizados nas tabernas e hospedarias para se reunir e discutir
planos das construções.
A Decadência das Corporações de
Ofício.
A partir dos meados
do século XVI, sobretudo pelas perseguições e calúnias sofridas por parte do
clero, as corporações de ofício começavam a entrar em declínio. Em 1539,
Francisco I, rei da França revogava por decreto os privilégios concedidos aos maçons.
Eram assim abolidas as Guildas e demais fraternidades, passando as corporações
de artesãos a serem regulamentadas. Na Inglaterra, por exigência de Londres, os
franco-maçons eram tratados como operários ordinários (sem privilégios). Em
1558 a rainha Izabel mantinha a proibição sobre a realização de qualquer
assembleia, sob a pena de trata-la como rebelião. Somente em 1562, por
influência de Thomas Sackville, adepto da arte de construir, é que a rainha
acabaria revogando essa ordenação.
Embora os esforços auferidos pelos
franco-maçons para manter o prestígio dos construtores e artesãos, a exemplo da
Convenção da Basileia realizada em 1563, o declínio das corporações era latente
no século XVI. A Renascença com o renascimento da arte greco-romana acabaria
relegando os arcos ogivais do estilo gótico. Na Inglaterra, por obra de Ínigo
Jones era introduzido o estilo renascentista sepultando de vez o estilo gótico,
apressando com isso a decadência das corporações inglesas dos franco-maçons. De
certo modo, as corporações perderiam o seu objetivo inicial e acabariam
paulatinamente se transformando numa sociedade de auxílio mútuo, o que traria
para os seus quadros elementos não ligados à arte de construir, ou seja, não
profissionais, os quais eram chamados de maçons
aceitos, ou especulativos.
Transformação da Maçonaria de
Ofício em dos Aceitos
Dado ao declínio
das corporações, as mesmas, por questão de sobrevivência, começaram
paulatinamente a admitir homens estranhos ao ofício. Assim, eram selecionados
homens pelos seus dotes culturais e pela sua condição aristocrática. Obviamente
que isso era um artifício para manter o prestígio da confraria e ganhar
proteção. Na realidade era uma tentativa para superar a decadência.
O primeiro caso de um
maçom aceito (especulativo) que se tem registro é o de John Boswell, lorde de
Aushinleck, ou, segundo J. G. Findel, sir Thomas Rosswell, esquire de Aushinleck que, a 8 de junho de 1600 (século XVII) foi
recebido como maçom aceito na Saint
Mary’s Chapell Lodge em Edimburgo na Escócia. Essa Loja fora criada em 1228
quando da construção da Capela de Santa Maria e tinha o fito de reunir
operários para discutir o andamento das obras.
A partir daí, esse processo que havia
se iniciado na Escócia, acabaria por se espalhar pelas corporações de
construtores. Assim, já no final do século, o número de maçons aceitos
(especulativos) ultrapassava em muito o número de maçons operativos. Dos
aceitos mais famosos, cite-se Willian Wilson, Robert Murray, Henry Mainwairing,
Elias Ashmole, dentre outros.
Grande Incêndio em Londres – Devido ao
sinistro ocorrido no ano de 1666, os franco-maçons
acabaram recuperando parte do seu antigo prestígio. Em 2 de setembro daquele
ano, Londres teve aproximadamente quarenta mil casas e oitenta e seis igrejas
destruídas pelo fogo. Dado a isso e sob a direção do renomado arquiteto do rei,
sir Christopher Wren, os maçons acorreram para participar do esforço de
reconstrução da cidade, sendo que a principal obra de Wren foi a reconstrução
da Igreja de São Paulo, em cujo adro, em 1691, se estabeleceria uma Loja de
fundamental importância para a História da Moderna Maçonaria - a Loja S. Paulo.
A reconstrução de
Londres somente se daria no ano de 1710
Essa Loja teve o seu nome em
homenagem a Igreja São Paulo e ficou também conhecida como a Loja da taberna o
“Ganso e a Grelha”, que se distinguiria como local de reuniões de caráter
informal e administrativo.
A Primeira Grande Loja (Moderna Maçonaria) – Como comentado,
era costume que os maçons da época se reunissem em tabernas ou nos adros das
igrejas. Não existiam ainda Templos Maçônicos – o primeiro somente seria
inaugurado em 1776.
Entenda-se que nesses
tempos as cervejarias e hospedarias, sobretudo na Inglaterra, possuíam um
caráter social muito grande e comumente eram usadas para exposição e troca de
ideias entre intelectuais, artífices, trabalhadores do mesmo ofício, etc.
A Loja “The Goose and Gridiron” (o Ganso e a
Grelha), ou Loja São Paulo, fora constituída inicialmente apenas por maçons de
ofício que participaram da reconstrução de Londres. A partir de 1703 ela resolvia
também admitir homens aceitos de todas as classes sociais e, sem qualquer
restrição, promovia uma reforma estrutural que daria suporte para a Moderna
Maçonaria. Foi nela que em 1709 se deu a admissão do reverendo Jean Théophile
Désaguliers, cujo ingresso iria apressar amplamente o processo de transformação
da Maçonaria, destacando-se que Désaguliers seria um dos seus grandes líderes.
Assim, no início de
1717, Désaguliers acabaria reunindo quatro Lojas metropolitanas no intuito de
traçar planos para a reestruturação maçônica que se avizinhava. Para tal foi
então convocada uma reunião dessas quatro Lojas existentes em Londres, o que se
daria no dia 24 de junho daquele ano.
Essa reunião se deu
nas dependências da taberna “The Apple
Tree” (A Macieira) e ali compareceram, além da Loja “The Goose and Gridiron” (O Ganso e a Grelha), também a da
Cervejaria “The Crown” (A Coroa) e a
da taberna “Rummer and Grappes” (O
Copázio e as Uvas).
No dia 24 de junho
de 1717, data comemorativa a São João, como fora previsto, as quatro Lojas
metropolitanas se reuniam e criavam “The
Premier Grand Lodge” (a Primeira Grande Loja) em Londres, inaugurando o
primeiro sistema obediencial com Lojas subordinadas a um poder central dirigido
por um Grão-Mestre.
Esse é considerado o
marco da Moderna Maçonaria, já que antes disso as Lojas eram livres de qualquer
subordinação externa – “o maçom livre na Loja livre”. Sem dúvida esse fato foi
uma verdadeira revolução, sobretudo pela alteração na estrutura maçônica
tradicional.
A partir desse
acontecimento, a história da Moderna Maçonaria iria adquirir outro capítulo na
concepção especulativa, o que, num breve resumo, iria resultar nas escaramuças
entre a Grande Loja dos Modernos de 1717 e a Grande Loja dos Antigos de 1751
até que, em novembro de 1813 fosse assinado o Ato de União entre as duas
Grandes Lojas rivais quando então surgiu a Grande Loja Unida da Inglaterra.
Esses quase cem anos de história,
contados desde a fundação da Primeira Grande Loja até o Ato de União, merecem capítulo
a parte, porém não fazem parte desses comentários.
Conclusão.
Por tudo aqui comentado,
esse resumo despretensioso nos leva a concluir que nos seus aproximados 800
anos de história, a Maçonaria, sob o ponto de vista autêntico (documental) se
divide em Operativa, ou de Ofício e a dos Aceitos, ou Especulativa.
Assim, até o século XVII as Lojas eram essencialmente dedicadas à construção,
cujo componente humano se distribuía em verdadeiros corpos profissionais. Era a
Maçonaria Operativa.
Já a partir do ano
de 1600, com a aceitação do primeiro elemento estranho ao ofício, iniciava-se o
período especulativo, ou a Maçonaria dos
Aceitos. Esse sistema se desenvolveria paulatinamente até que toda a
composição dos quadros maçônicos se constituísse por maçons aceitos.
Cabe por fim mencionar que a Maçonaria Especulativa, a partir do ano
de 1717, com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres, passa a ser
conhecida como Moderna Maçonaria,
sobretudo por se adequar às reformas estruturais exigidas pelo inaugurado
sistema obediencial de então. Destaque-se que a Moderna Maçonaria continua
sendo composta apenas por maçons especulativos (aceitos).
Outros apontamentos
a respeito podem ser encontrados no livro de minha autoria intitulado Exegese
Simbólica para o Aprendiz Maçom – Tomo I, Editora Maçônica A Trolha, assim como
apontamentos deixados pelo saudoso Irmão José Castellani in “Maçonaria: Uma História sem Mistério”.
T.F.A.
PEDRO JUK
OUT/2018
Parabéns, Ir.'., foi esclarecedor sem ser enfadonho e sucinto sem ser lacônico. T.'.F.'.A.'.
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