terça-feira, 10 de janeiro de 2017

PALAVRA SAGRADA

Em 14/11/2016 o Respeitável Irmão Anselmo Westphal Neto, Loja Fraternidade Castrense, REAA, GOB-PR, Oriente de Castro, Estado do Paraná, solicita esclarecimentos para o seguinte:  
PALAVRA SAGRADA.
Com a sua participação no ERAC deste ano realizado aqui em Castro me surgiu a ideia de lhe escrever este e-mail para esclarecer uma dúvida que há muito tempo persiste em nossa Loja. Alguns irmãos da nossa Loja entendem que a palavra sagrada do Grau de Aprendiz, que nos nossos rituais é somente tratada pela inicial "B", se soletra com a letra "O" dobrada, tendo sua principal justificativa que esta é a forma como lhes foram passada. Outros irmãos, incluindo eu, convencidos por diversos trabalhos publicados por irmãos, e em particular em contato com um teólogo calvinista que é pastor da Igreja Evangélica Reformada, onde me explicou a origem da palavra e sua tradução fiel, entendem que a grafia correta é BOAZ. Visto o esforço do GOB esclarecendo o nosso ritual para uma forma mais padronizada da sua execução, gostaria de saber seu ponto de vista e suas justificativas para a forma correta que considera.
CONSIDERAÇÕES:
Muito já se escreveu sobre a de grafia da palavra B\. Alguns escritos dignos de apreciação, entretanto outros nem tanto, já que muitos mais apregoam opiniões pessoais do que tendem a trazer qualquer contribuição para o tema.
Sob a óptica dos escritos confiáveis, muitos autores têm mencionado que a diferença da grafia está nos conformes com as duas principais versões da Bíblia - a Septuaginta, ou "Dos Setenta" e a Vulgata.
A Septuaginta - versão dos "Setenta" ou "Alexandrina" é provavelmente a principal variante grega, de acordo com a sua antiguidade e autoridade. Sua redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a. C., sendo usada pelos judeus de língua grega ao invés do texto hebreu. Quanto ao título "Dos Setenta", esse se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a 70 sábios judeus helenistas, enquanto que o título "Alexandrina" é por ter sido redigida em Alexandrina. Nessa versão a palavra tem a sua escrita como BOAZ.
A versão da Vulgata - no sentido em curso, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia escrita entre fins do século IV início do século V por São Jerônimo por determinação do Papa Dâmaso I, cuja versão bíblica seria usada pela Igreja Cristã. Essa mesma Igreja, que nos seus primeiros séculos de existência comumente se servira da língua grega, após a tradução latina (Vulgata), destacando-se mais tarde a edição de 1.532, teria essa versão consolidada e, no que diz respeito à grafia da palavra, objeto dessas considerações, ela seria escrita como BOOZ.
Outro fato não menos importante é aquele ocorrido por ocasião da Reforma Protestante que quebraria o monopólio latino da língua - a tradução da Bíblia por Martinho Lutero para o idioma alemão. Nessa tradução germânica destaque-se a grafia da palavra como BOAZ.
Além da concepção protestante germânica, na inglesa de tradução bíblica, o termo BOOZ é desconhecido, nela o conhecido é BOAZ.
Também a grafia BOOZ é desconhecida no vernáculo hebraico, senão aquela que menciona BOAZ.
Sob esse prisma a grafia correta da palavra é BOAZ, já que BOOZ é uma corruptela da palavra apropriada adquirida por equivoco de São Jerônimo na ocasião em que fez a tradução para o latim. Em linhas gerais a conservação dessa corruptela deu-se pela Igreja Católica alegando respeito ao tradutor bíblico (São Jerônimo) e resolveu manter a tradição da Vulgata. Como se pode notar não é só na Maçonaria que os "entendidos" preferem manter erros crassos.
Reforçando qual é o termo correto, transcrevo a opinião de um conhecedor do idioma hebraico. Disse o Irmão:
"(...) acho que não se precisa nem de São Jeronimo, nem de Martin Luther (que não gostava de judeus) nem da Versão dos Setenta (feita para judeus tão helenizados que não sabiam mais ler hebraico). Peguem qualquer judeu que se preze (ou um que não se preza como eu) e vamos ao texto hebraico do Livro de Ruth. Está lá: Letra Beit (é o som do ), mais o sinal vocálico do som do Ó (é um pontinho), mais a letra Áiin com o sinal vocálico de A mais a letra Záin que sempre tem som de . Resultado: BOAZ".
No que diz respeito à Maçonaria é facilmente compreensível o uso das duas palavras dependendo da sua vertente maçônica. No Craft inglês e, por extensão no Americano, dentre outros costumes anglo-saxônicos, a palavra é BOAZ, enquanto que na vertente latina (francesa), da qual pertence o REAA\, não na sua totalidade, porém na sua grande maioria, a palavra, influenciada pela Vulgata (latina por excelência), é BOOZ.
Assim, Maçonaria brasileira - filha espiritual da França - acabaria nos ritos de origem francesa por adotar o uso da corruptela (BOOZ), tornando-se um elemento consuetudinário, sobretudo no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dadas essas considerações, devido ao caráter de segredo do Grau imposto à palavra no Rito Escocês na sua forma de transmitir, não existe oficialmente uma orientação para o uso da palavra BOAZ ou da corruptela BOOZ no Grande Oriente do Brasil, senão o costume de se escrever e pronunciar BOOZ, mesmo que já exaustivamente provado não existir originalmente a palavra escrita com as consoantes "oo" dobradas.
Penso que a Maçonaria como investigadora da Verdade e dela fazendo parte o Grande Oriente do Brasil, precisa urgentemente rever esses conceitos amparados por tradições anacrônicas. Se a palavra correta é BOAZ, que sentido teria então o uso de uma corruptela? O grande problema de muitos maçons brasileiros que "acham" que são grandes conhecedores dos fatos está na enxurrada de rituais publicados na Maçonaria Brasileira ao longo da sua história. Infelizmente esses Irmãos têm essa coleção de equívocos, palpites, invenções e enxertos como fosse ela uma documentação primária. Desse modo, somos obrigados apenas a apontar os absurdos para que alguns possam avaliar melhor a situação - me disse um dia um grande Mestre: não perca tempo discutindo com crânios blindados.
Enquanto esse e outros equívocos se fazem presentes, sugiro que Irmãos esclarecidos e de posse de fontes verdadeiras, na medida do possível, pelo menos ministrem instrução esclarecendo os fatos sobre o assunto.
Por fim, sugiro ao o Irmão que consulte uma excelente Peça de Arquitetura intitulada "Discussões Bíblicas - BOOZ ou BOAZ" do respeitável Irmão Willian Almeida de Carvalho (encontrada na Internet) que, em minha opinião, fecha o assunto e dá subsídios para pesquisa sobre o tema.
E.T. - cuidado com essas discussões oriundas de grupos de orientação formados na Internet. Lá, a grande maioria diz o que pensa, sem que haja um debate acadêmico e uma analise ponderada dos fatos. Aliás, pelo que eu pude perceber desses grupos, cada um diz aquilo que lhe convém.
T.F.A.
PEDRO JUK     jukirm@hotmail.com

PORTADOR DE DEFICIÊNCIA

RESPOSTA- JAN/2017
Em 21/12/2016 o Respeitável Irmão Rogério Freire Kochmanscky, Loja União e Luz, 3.379, REAA, GOB-PR, Oriente de Londrina, Estado do Paraná, pede esclarecimento para o seguinte caso:   
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA.
Tive a enorme honra de conviver com o Irmão, quando de minha passagem pela gerencia administrativa do GOB-PR nos anos em que nosso Grão-Mestre Dalmo estava a frente de nossa Ordem.
Levantei a questão no whatsApp da OAM Paraná e trago aqui para elucidação: Caso um Irmão sofra um acidente e perca o seu braço direito, como poderá o Irmão executar os sinais de Ordem? Ocorreu que nosso Venerável Mestre, Irmão Fabio quebrou a clavícula direita e necessitou imobilizar o braço, ai surgiu à questão. Como resolver isso?
CONSIDERAÇÕES.
Como eu havia dito no contato anterior a respeito, os fatos não são tão simples ao ponto de que apareçam soluções do tipo "é só usar a mão esquerda". Assim vamos às minhas ponderações, embora eu alerte para que não as tome como laudatórias, senão como a minha simples opinião sobre esse assunto.
É regra universal que no simbolismo maçônico, os Sinais são feitos com a mão direita e, em alguns casos podem até serem complementados recebendo o auxílio da mão esquerda, todavia a raiz do Sinal, que é a aplicação da pena simbólica mencionada por ocasião da obrigação (juramento), é originalmente feita sempre com a mão direita.
Ainda nesse sentido, os Sinais são feitos com o Obreiro estando à Ordem, daí deve estar em pé, com o corpo ereto, formando com os pés unidos pelos calcanhares uma esquadria. Isso implica que os Sinais carecem dessa postura para que possa o protagonista compô-los e realiza-los.
É relevante também mencionar que os Sinais, Toques e Palavras são basicamente os verdadeiros segredos da Ordem, ao ponto de que um profano (não iniciado) pode, no caso de posse desse conhecimento, ter a grande possibilidade de ingressar ilegalmente nos trabalhos cobertos de uma Loja.
Comentados esses primeiros aspectos, vamos ver o que mencionam os nossos Diplomas Legais (GOB) no que diz respeito à capacidade física dos seus membros para a execução da mencionada prática ritualística.
A Constituição do Grande Oriente do Brasil, Capítulo I, Dos Princípios da Maçonaria e dos Postulados Universais (o grifo é meu) da Instituição, no seu Art. 1º e § único, menciona no seu Inciso X - "adota sinais (o grifo é meu) e emblemas de elevada significação simbólica".
Em considerando a objetividade do texto, nota-se a importância que têm os Sinais na ordem dos fatos - elevada significação simbólica.
Ainda na Constituição do Grande Oriente do Brasil, Dos Requisitos para Admissão na Ordem, Art; 27, § 1º, I - "ser do sexo masculino e maior de dezoito anos, ser hígido e ter aptidão para a prática dos atos de ritualística maçônica" (os grifos são meus).
De modo claro e desembaraçado, o texto exara a condição de higidez do candidato, destacando que o adjetivo "hígido" denota o que é relativo à saúde, sadio, são. Obviamente que a higidez mencionada trata objetivamente da necessidade do indivíduo para que ele possa compor e executar Sinais e os Toques, bem como pronunciar e ouvir a Palavra, pois esses são elementos básicos e irrestritos para o reconhecimento nos Graus Simbólicos.
Vejamos também o Regulamento Geral da Federação no seu Título I, Dos Maçons, Capítulo I, da Admissão, Seção I, Do Processo de Admissão, Art. 1º - "A admissão depende de comprovação dos seguintes requisitos: VII - não apresentar limitações ou moléstia que o impeça de cumprir os deveres maçônicos".
Nesse sentido, dentre os deveres maçônico, estão os de compor, executar e enxergar os Sinais, pronunciar e ouvir as Palavras, dar e sentir o Toque e por fim executar a Marcha do Grau.
Na verdade esses são alguns dos requisitos básicos para se ingressar na Maçonaria, a lembrar de que ela é uma instituição iniciática. Objetivamente, é desse modo (pelos Sinais, Toques e Palavras) que a Maçonaria condiciona o reconhecimento entre os seus membros - tanto pelo modo prático como também pelo lado esotérico.
Ainda há que se considerar que além da condição de ingresso na Ordem, a condição de higidez se estende também aos seus componentes (os já iniciados), até porque a senda iniciática só se encerra quando o obreiro atinge a plenitude maçônica decorrente daqueles que alcançam o Grau de Mestre, daí a atenção ao Art. 1º do RGF que menciona a ausência de limitações que possam impedir o Obreiro de cumprir os deveres maçônicos.
O que poderia ocorrer então se um Irmão, por uma fatalidade qualquer, viesse perder a sua higidez física?
Essa é uma questão mais complexa e de difícil resposta, sobretudo se a higidez for de caráter perpétuo. Em sendo o Obreiro Mestre Maçom, ele já conhece todos os Sinais, Toque e Palavras, porém poderá ter limitações devido à deficiência física adquirida. Já um Obreiro que não atingiu a plenitude, por questões iniciáticas ele terá que permanecer no grau em que esteja colado sem condições de prosseguir na senda iniciática. A grosso modo e ao rigor da Lei, Tradições, Usos e Costumes essa seria a condição, todavia é um fato que envolve um Maçom (aquele que foi iniciado) e num caso desses os legisladores é que podem encontrar uma solução para o caso, já que um Maçom é um Maçom e não pode ser simplesmente excluído dos quadros da Ordem por uma fatalidade que o fez perder a aptidão física. Penso que essa é uma condição que deve ser tratada individualmente levando-se em conta por primeiro a virtude da solidariedade maçônica, já que não cabe na Sublime Instituição à atitude de dar às costas àquele que por ventura tenha sofrido um revés na vida, sobretudo a um Irmão. Mas repito isso é caso que deve ser tratado por autoridades competentes no direito maçônico da Obediência, e não por uma simples decisão aprovada pela Loja.
A perda de higidez física de um membro da Maçonaria como comentado no parágrafo imediatamente anterior é diferente da condição de higidez para se ingressar na Maçonaria, pois para esse último caso a legislação atual é clara - até então não existe possibilidade.
Quanto à perda temporária da higidez, como é o caso mencionado na questão relativa ao Venerável da Loja, já é um fato aparentemente mais simples, pois o mesmo pode ser trocado transitoriamente pelo seu substituto legal enquanto ele permanecer em recuperação da enfermidade. Num caso desses, eu penso que o Obreiro não precisa se afastar do Quadro, apenas do cargo, já que a Loja pode autorizar a sua presença nos trabalhos sem delongas jurídicas enquanto ele se recupera da enfermidade, afinal, essa não é uma situação definitiva e o obreiro numa condição dessas só não deve assumir nenhum cargo. O bom sendo prevê numa oportunidade dessas (obreiro sem cargo) a dispensa do Sinal, desde que a mesma não comprometa a execução da ritualística, mas nada de fazer Sinal Penal com a mão esquerda, pois isso é erro crasso em Maçonaria.
Essas são as condições que envolvem a higidez física para os candidatos a ingressar na Sublime Instituição e para aqueles que já a ela pertencem e que, por uma fatalidade qualquer, venham adquirir uma deficiência.
Na verdade esse costume é haurido dos nossos ancestrais operativos que eram literalmente construtores com a pedra esquadrejada, o que os condicionava a ter aptidão física para o desenvolvimento do ofício. A Moderna Maçonaria, no entanto, preservando a tradição manteve reminiscências das Old Charges (Antigas Obrigações) em algumas classificações de Landmarks como a condição sine qua non do elemento ser fisicamente hígido, lembrando que esse período de transição - do Operativo para o Especulativo - que se iniciou historicamente no século XVII, o pensamento humano, devido às condições sociais da época, eram ainda muito diferentes daqueles quem ocorrem no século XXI.
Não quero bulir em ninho de marimbondo, mas penso que já está mais do que na hora das Obediências Maçônicas reverem determinados conceitos, transformando-os em alguns casos, apenas como condição de conhecimento moral relacionado a um sinal, gesto ou palavra, buscando assim uma solução palpável para esses casos que acontecem na Sublime Instituição. Como se pode antever, as próprias próteses como produtos da evolução da medicina fisioterapêutica hoje podem, dependendo do caso, suprirem perfeitamente essas necessidades prementes.
Dando por concluindo, essas são as minhas considerações que abrangem a minha opinião e não uma orientação oficial de procedimento com autoridade do GOB-PR, já que como maçom, sou fiel cumpridor das Leis emanadas da minha Obediência. Afinal torço para que o legislador maçônico, num futuro não muito distante, deixe clara a maneira com que as Lojas devam lidar com as situações que envolvem os casos de ser ou estar "fisicamente hígido".
T.F.A.
PEDRO JUK    jukirm@hotmail.com

DÚVIDAS SOBRE O NÚMERO DOIS

Em 09/11/2016 o Respeitável Irmão Carlos Eduardo Flores dos Santos, Loja Ovídio de Morais Leal, 2.420, sem mencionar o nome do Rito, GOB-RS, Oriente de Rio Pardo, Estado do Rio Grande do Sul, solicita considerações para o seguinte:  
DÚVIDAS SOBRE O NÚMERO DOIS.
Primeiramente gostaria de parabeniza-lo pelo belíssimo trabalho desenvolvido no Informativo (JB News) nos brindando com o seu conhecimento maçônico minimizando as dúvidas (que são muitas) de Irmão de todo o Brasil.
Já li em vários livros que o número dois, é um número que traz má sorte, azar, etc., e através do artigo do Irmão Aquilino Leal apresentado no JB News nº 2222 http://www.jbnews33.com.br/informativos/JB_News-Informativo_nr_2222.pdf, contrapõe essa teoria, gostaria de apresentar uma Peça de Arquitetura defendendo que o número dois não é um número de má sorte, gostaria de saber se o Irmão tem alguma referência bibliográfica e/ou qual sua posição sobre esse tema.
CONSIDERAÇÕES.
Essas ideias aportaram na Maçonaria Especulativa e a seguir na Moderna Maçonaria a partir do século XVIII, cujas concepções rechearam o pensamento maçônico, às vezes duvidoso, em nome da liberdade de expressão e de pensamento (foi assim que sugiram vigaristas como Cagliostro e ritos como o tal do Memphis - Misraim).
Obviamente que a imensa maioria desses conceitos que envolvem misticismo e ocultismo numérico (numerologia) nunca fez parte da Maçonaria de Ofício, senão as expressões matemáticas que se associavam a construção como método e verdade universal - é o caso do 47ª Proposição de Euclides (Teorema de Pitágoras).
Agora esse entendimento de qualificação numérica ligada a teorias particulares de credo, inseridas na Moderna Maçonaria a exemplo da influência hebraica e a sua Kabalah, ou mais conhecida como Cabala (Tradição) e os sephirot (números), cujas interpretações assumem um caráter de particularidade, dependem muito da vertente do Rito que a adota - é o caso, por exemplo, dessa influência no misticismo do REAA\.
Particularmente, como adepto da Maçonaria Autêntica, eu não me coaduno com muitas dessas opiniões, salvo se elas servirem como exemplo ou símbolo que desperte para uma Verdade intrínseca numa doutrina destinada ao aperfeiçoamento e ao crescimento ético e moral do ser humano, mas nunca como ideário de uma crença.
Assim, eu prefiro mencionar a qualidade numérica na Maçonaria, sem desprezar a Aritmética, quando ela estiver associada à Quinta Ciência, ou Geometria, já que ela, como Arte e Ciência está ligada diretamente às construções do passado operativo e especulativamente à construção do Homem na Moderna Maçonaria.
Assim, o triângulo retângulo, por exemplo, e a 47ª Proposição de Euclides serviram (e ainda servem) para esquadrejar os cantos da obra, tanto de modo objetivo e prático, assim como no exemplo aplicado à retidão de caráter, à vereda dos justos, à atitude perfeita, etc., tudo como matéria de doutrina e filosofia aproveitada pela Maçonaria dos Aceitos.
Dadas essas questões preliminares, vamos à questão pertinente ao número 2.
Como conjunto de conhecimentos relativos à filosofia, nesse campo o número 2 é a tendência da escolha diante da dúvida.
Questiona-se: ou é um ou é outro? Nesse particular é a arte de escolher e meditar ao se deparar com as bifurcações nos caminhos da vida (à esquerda ou à direita). Qual rumo eu devo tomar? O da direita ou o da esquerda?
De fato nada mais é do que uma questão de reflexão sobre o que se construiu no passado e o que se construirá no futuro. É o símbolo das duas cabeças - uma olhando para frente (futuro) e a outra para trás (passado).
O número dois sintetiza a comparação das coisas existentes. Exemplo: por ele podemos definir que o branco existe pela comparação com o preto; só se define o bem pela existência do mal; o que hoje está em cima pode também amanhã estar em baixo; algo só é belo porque existe a comparação com o que é feio; etc.
Essa concepção dualizada influenciada pelo hermetismo e adotada pela doutrina maçônica menciona dois sentidos, dois significados, duas razões, mais bem conhecidos na Ordem como Princípio Dual (um pelo outro).
O número 2 pode assim equivaler ao ambíguo - 2 compõe a ideia, porém a questão é a escolha de um. É daí, nesse particular, que advém a ideia da dúvida, do nefasto que em certos aspectos na vida são simbolizados pelo número 2.
Não raras vezes vemos na Maçonaria discussão sob o ponto de vista da lógica matemática se o número 4 é o resultado da soma de 2 + 2 ou é o produto de 2 x 2, entretanto a questão, em termos de filosofia maçônica, não trata da matéria no campo das ciências exatas, mas sim como um meio para chamar atenção à incerteza sobre a realidade de um fato ou verdade de uma asserção - a indecisão natural daqueles que vivem o segundo ciclo da vida (a juventude).
Nesse conceito poder-se-ia perguntar: então o número 4 é o quê? É o resultado da soma ou da multiplicação que envolve o número 2? Instaurou-se a dúvida, porém essa é apenas uma questão filosófica de alegoria numérica (não matemática) que tem a intenção de induzir o homem à meditação. É na realidade um símbolo da dúvida que representa uma proposta. A discussão não está no resultado dessas frases aritméticas, mas sim nos fatos que o constituíram.
É nesse sentido que deve se encaminhar a discussão e, nesse pormenor o número 2 adquire alto valor simbólico para a geometria maçônica dado que em se partindo de um mesmo ponto, dois rumos distintos se dirigem ao infinito (ao desconhecido). Assim a dúvida ainda persiste - então até aonde irão esses deslocamentos no espaço? Qual é o destino de cada um? Até o infinito? Onde está o infinito? Qual é o seu princípio e o seu fim? Sem resposta às questões, a ambiguidade concernente ao número 2 permanece.
Entretanto o caos cessa a partir do momento em que um terceiro elemento é introduzido nesse teatro para fazer a ligação e por fim aos deslocamentos em direção ao infinito. O resultado dessa inclusão cessa a dúvida e faz com que se forme a figura do primeiro plano geométrico, o "Triângulo".
Tão importante é essa alegoria geométrica que dela surge à concepção da Unidade Ternária. É indiscutivelmente um dos elementos primordiais que fazem parte do estudo do maçom como base na investigação das Leis da Natureza. Afinal na doutrina maçônica tudo começa a partir do número "três" - a idade do Aprendiz é de Três Anos, a sua bateria é constituída por três pancadas, a Marcha do Aprendiz é composta por três passos, três governam a Loja, três são as Grandes Luzes Emblemáticas, etc. Filosoficamente o ternário é a base, é a unidade equilibrada de tudo que se constrói, pois o seu estudo perseverante, em pensamento e meditação, conduz o estudante à essência das coisas.
Em síntese, esse é um breve apanhado sobre a compreensão filosófica da estrutura das coisas perfeitas e duráveis sob a óptica maçônica. "Um" é o ponto, "Dois" é a linha em movimento e "Três" é a "unidade ternária". Vide a razão da existência do Delta Radiante no Retábulo do Oriente da Loja.
Como lição de tudo, esse conjunto de conhecimento declara o equilíbrio como importante destaque na virtuosidade para a elevação da Obra. Esse equilíbrio somente é conseguido quando adicionado ao número "dois" vai uma terceira unidade. Daí o número 2, elemento principal dessa sua questão e mote dessas considerações, ser um elemento estrutural para a construção do ternário - o dois é parte do três.
Em Maçonaria, é da dúvida inspirada pelo número 2 que se construiu o número 3 (o primeiro plano definido como figura geométrica). É pelo princípio da dualidade que muitas das coisas se definem como existentes - o bem e o mal, o preto e o branco (pavimento), a luz e a escuridão (sabedoria e ignorância), o dia e a noite (meio-dia e meia-noite), etc. Em tese, um é, foi e será pela existência do outro.
Concluindo, essa é uma pequena síntese (complicada sem dúvida) dos estudos pelos quais propõe a Moderna Maçonaria no alvitre da construção de um Templo a Virtude Universal, cuja matéria prima especulativa dessa construção é o próprio Homem. É ele que se aprimora quando busca o conhecimento na senda iniciática (da escuridão para a luz).
Obviamente essas são concepções filosóficas que buscam explicar os elementos da Sabedoria, mas sem deixar de se compreender que o que está aqui se tratando é parte da simbologia das coisas e dos fatos, portanto nem sempre as explicações convergem para a mesma cadeira de formação da vida. Destaque-se que o estudo dos números em Maçonaria nada tem a ver com crenças, credos, adivinhações ou outas ocorrências do gênero. Essa analogia na Maçonaria, como filha dos ancestrais operativos, trata dos números somente como corpos da Geometria quando coligados às manifestações filosóficas do pensamento humano, desde que aventadas como exemplos e métodos alegóricos de aperfeiçoamento.
Quanto a autores e bibliografia solicitada, essa é uma matéria de estudos do Grau de Companheiro, daí sugiro em primeira instância o Curso de Maçonaria Simbólica Tomo II - Theobaldo Varolli Filho, assim como a Cartilha do Companheiro - José Castellani e Raimundo Rodrigues, inclusive recomendo todas as obras de filosofia aplicadas em Maçonaria de autoria desse último autor.
Sugiro também que se dispensem autores de viés doutrinário de crenças próprias e de outros abeirados pelo ocultismo, já que esses tipos escritos, embora muito oferecidos nas bancas literárias, estão muito longe da realidade maçônica.
T.F.A.
PEDRO JUK    jukirm@hotmail.com