sábado, 30 de março de 2019

USO DO TERNO PRETO NA MAÇONARIA


Em 16/11/2018 o Respeitável Irmão Paulo Guebert, Loja Obreiros da Paz, 2.909, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:

TERNO PRETO NA MAÇONARIA.


Estou fazendo um trabalho sobre o Terno Preto na Maçonaria, gostaria de saber mais informações sobre o tema.

CONSIDERAÇÕES.

Em que pese as mais estapafúrdias interpretações e afirmativas temerárias que já se deu sobre o terno preto (inclusive o de credos pessoais) na Maçonaria, aborda-lo como “traje maçônico” é o mesmo que o “chover no molhado”.
Não obstante se saber que a indumentária maçônica vem sofrendo variantes ao longo dos tempos, no meu entender não há como se estereotipar o modo do se vestir maçônico, pois a maneira de se trajar também varia entre as populações resultando numa transformação de povo para povo.
No passado, a exemplo de homens do século XVIII, esses usavam vestimentas bordadas, de cinturas marcadas e adornadas com laços vistosos. Utilizavam inclusive perucas e assim se apresentavam - se maçons - para os trabalhos maçônicos, entretanto nunca despidos dos seus aventais.
É imperativo mencionar que em muitas partes do mundo os maçons usam roupas típicas em sessões de Loja. Irmãos tripulantes de embarcações, por exemplo, se apresentam para sessões nos trabalhos maçônicos muitas vezes com seus uniformes de trabalho; do mesmo modo é comum se ver militares usando nos Templos o seu fardamento; Irmãos árabes, por exemplo, em Loja usando albornozes, enquanto que em países de clima quente veem-se maçons trabalhando nas Lojas em “manga de camisa” (vestindo camisa de mangas curtas); também é comum Irmãos na Escócia se apresentarem aos trabalhos trajando seus kilts.
Embora se tenha que seguir inquestionavelmente o que determinam os rituais em vigência, no que diz respeito ao traje, cabe, mesmo assim, mencionar que o verdadeiro traje maçônico é o avental. Nunca é demais expor que em Maçonaria, se um Irmão, ao se apresentar para uma sessão em Loja estiver sem o avental, ele será considerado “despido”, portanto estará impedido de ingressar nos trabalhos.
No rigor da tradição maçônica, a roupa que o Maçom está vestindo, desde que decentemente trajado, é o que menos importa, porém o avental é imprescindível.
A bem da verdade, aqui no Brasil, principalmente o terno preto, ou o parelho preto, com camisa branca, meias pretas e sapatos pretos é o traje de missa herdado da Igreja Católica nos períodos mais remotos da sua história colonial.
Sob um pretenso simbolismo para o terno preto, destaco o que citou o saudoso Irmão José Castellani in O Prumo, nº 101:
“Não há também, qualquer interpretação ou implicação de ordem esotérica referente à cor preta do traje dos Irmãos, mas, sim em relação ao avental nos três graus do simbolismo, não havendo, portanto, nenhuma implicação hermética ou metafísica. Qualquer que seja o traje, o maçom estará nu se estiver sem avental”.
Em síntese, a uniformidade indiscriminada para o traje do maçom nada mais é do que uma intransigência anacrônica que traz ainda grande dose de influência clerical. Em Maçonaria simbólica a cor preta pode ter o seu simbolismo apropriado na Câmara do Meio, mas isso não deveria se estender até o ponto de se uniformizar indiscriminadamente o vestuário do maçom como indicam muitos rituais e regulamentos.
A seguir o trecho de um texto resposta que eu dei a respeito do terno preto em março de 2014 e que fora publicado posteriormente no hoje extinto diário maçônico JB News do saudoso Irmão Jerônimo Borges. Acredito que esse conteúdo também pode servir para essas considerações:
“O uso do terno na maçonaria brasileira está enraizado nos costumes e sincretismo religioso, geralmente oriundo da Igreja Católica que dentre outros influenciou diretamente a Maçonaria com o traje de missa. Aliás, nesse particular tem-se dado mais valor ao molho do que à carne. O verdadeiro traje maçônico é o Avental. Além do que se chama equivocadamente de terno (três - calça, colete e paletó) o que se identifica mais como parelho (par – calça e paletó)”.
O trecho acima também menciona o uso do terno na Maçonaria brasileira e a sua relação com os costumes eclesiásticos.
Não obstante os comentários até aqui considerados, segue parte de um trabalho elaborado pelo Respeitável Irmão Marcos Sant’Anna, Ex Grande Mestre Bibliotecário da Grande Loja Maçônica do Estado de Alagoas:
“TRAJE MAÇÔNICO” (TERNO x BALANDRAU). Observamos primeiramente que “Traje” significa “Vestuário habitual; vestuário próprio de uma profissão ou atividade; vestes.” Como o traje em questão é o “maçônico”, dependendo da Potência, encontramos uma regularização para esta vestimenta no Regulamento Geral e/ou nos Rituais. Em geral, é estabelecido que o “Traje Maçônico” compreende “terno escuro (preto ou azul marinho), camisa branca, gravata preta, meias e sapatos pretos” ou Balandrau, em Sessões Econômicas. Tendo em mente que a Maçonaria Moderna (Sistema Obediencial) foi criada no séc. XVIII (1717) e pesquisando a origem de ambos os Trajes, verificamos que: O TERNO: Em uma rápida pesquisa na Internet, encontramos alguns dados interessantes, de um Trabalho bem mais longo e abrangente feito por Acadêmicos do Curso de Tecnologia do Vestuário da UNISEP (União de Ensino do Sudoeste do Paraná – www.unisep.edu.br). Segue alguns trechos: “Do final do século XIX ao início do século XX, para os homens, o traje aceito
para todas as ocasiões formais ainda era a sobrecasaca e a cartola. Porém, o TERNO, usado com um chapéu homburg, era cada vez mais visto em LONDRES” (LAVER, 221)”. “... só a partir do final da 1º Guerra Mundial (1914 – 1918) que as roupas masculinas caminham em direção à informalidade. O terno passou a ser usado habitualmente e depois de 1922 ficou mais curto e não possuía abertura atrás e as calças passaram a ser extremamente largas onde se via apenas o bico dos sapatos.” “Todas essas mudanças instituíram para o homem o terno como traje formal e, a partir da década de 70, este passa a ter duas peças e não mais três. (VICENT-RICARD, 1989).” Observamos que, por definição, TERNO é um vestuário de três peças (calça, colete e paletó). Ao passar para duas peças (calça e paletó), ele muda sua característica e chama-se de DUQUE ou PARELHO. Como o processo foi gradativo, as Lojas de roupas e a população continuaram com o termo “Terno”, embora erradamente. Se procurarmos no dicionário Aurélio as palavras “DUQUE” encontraremos “vestuário masculino constituído por paletó e calça de igual fazenda e cor (usa-se geralmente o termo “terno”, embora de modo impróprio)” e “PARELHO” veremos “roupa de homem (calça e paletó)”. Como podemos ver na história deste vestuário, regulamentado como “traje maçônico”, não há nenhum respaldo histórico maçônico e nem tampouco é estabelecido seu uso pela Maçonaria Universal (...).
Concluindo o seu trabalho, após várias laudas, o Irmão Marcos Sant’Anna escreve:
Se colocarmos a palavra “Maçom” em um site de pesquisa, no link de “imagens”, encontraremos dezenas de milhares de fotos e gravuras. Encontraremos homens vestidos de fraque, terno, balandrau, camisas de manga cumprida e curta, sem chapéu, com chapéu, com cartola etc. A variedade é imensa, pelo mundo todo.
Só existe uma coisa em comum a todos estes homens que os faz ser identificados como Maçom; o AVENTAL MAÇÔNICO.
Esta é, verdadeiramente, a vestimenta universal que identifica um Maçom. Sem o AVENTAL, nós não o identificaríamos como tal.
É necessário que reflitamos profundamente sobre isto, em prol de uma maior harmonia entre os Irmãos, com maior integração fraterna e uma melhor operacionalização profana de nossos Aprendizes e Companheiros em sua senda ao mestrado.
O texto acima é precioso e ajuda a ratificar que simbolicamente o terno não é autêntico na liturgia maçônica e muito menos a sua cor generalizada ou formato de vestimenta. Muito menos o terno é um vetor que pode influenciar os trabalhos de aperfeiçoamento do homem – proposta primordial da Moderna Maçonaria.
Concluindo, acredito que essas considerações poderão ser úteis àqueles que se interessarem pelo tema, contudo não é a minha intenção tornar o assunto laudatório, pois embora não concorde com os apaixonados pelo terno como traje maçônico, antes me cabe respeitar as opiniões alheias. Nesse sentido, o leitor poderá pesar, utilizando a balança do bom senso, sobre o que verdadeiramente é mais qualificado, importante e adequado para uma Instituição como a Maçonaria que tem seus ensinamentos voltados para a razão, assim como para a autenticidade dos fatos.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2019


sexta-feira, 29 de março de 2019

SAUDAÇÕES, ELOGIOS E CUMPRIMENTOS


Em 14/11/2018 o Respeitável Irmão Nilton Benedito Baltazar, Loja Conciliação e Justiça, 2058, REAA, sem mencionar o nome da Obediência, Oriente de Presidente Prudente, Estado de São Paulo, solicita esclarecimentos para o seguinte:

SAUDAÇÕES, ELOGIOS E CUMPRIMENTOS.


Sempre soube que o elogio ou comentário sobre um trabalho apresentado por um Irmão em Loja caberia ao Irmão Orador em suas conclusões finais. Virou mania de vários Irmãos do quadro se congratularem ou elogiarem a apresentação de trabalho de Irmão. A quem cabe?
Também não concordo que nas iniciações Irmãos visitantes além de parabenizar os iniciados queiram lhe dar instruções (comportamento, assiduidade) etc.
Caso queira agradeça o convite e parabenize o Venerável pelos trabalhos, o que também acho desnecessário. Enfim. Qual seria o correto?

CONSIDERAÇÕES.

Um dos ofícios do Orador é saudar os Irmãos visitantes em nome da Loja na oportunidade em que ele faz as conclusões finais.
Nas devidas proporções, não se pode cercear o direito de um Irmão fazer algum comentário, nesse caso sobre uma peça de arquitetura apresentada.
O que deve existir sim, por parte dos usuários da palavra, é o bom senso para não ficar repetindo pronunciamentos já feitos ou usar da palavra para proferir os famosos discursos prolixos e providos de rançoso lirismo.
Para que essas atitudes não aconteçam, é preciso que a Loja, na medida do possível prepare e ministre instruções sobre o uso da palavra pelo maçom, sobretudo ensinado que ele deve ser objetivo na sua fala e evite verborragias desnecessárias.
É oportuno salientar que o comportamento maçônico se aplica a todos, inclusive ao Venerável que é quem menos deve falar, porém dirigir como serenidade e competência os trabalhos. Nesse particular, é bom que se diga que também o Orador deve seguir essa regra, pois como Guarda da Lei ele deve dar exemplo objetividade no cumprimento do seu dever. Cabe entende que o Orador de uma Loja maçônica não é aquele que profere discursos, mas aquele que zela para que os trabalhos se deem na forma da lei.
Sob o aspecto dos visitantes nas Iniciações, esse é outro assunto sério que encontramos nas nossas lides. Sem dúvida, esses também precisam de instrução ao invés de querer dar instruções em momentos inapropriados. Falar sobre assiduidade ao recém-iniciado então, é o mesmo que querer dar atestado ao novo Aprendiz de que as coisas não andam bem na Loja quando o assunto diz respeito à frequência. Isso é mesmo atitude de mau gosto e refinada inconveniência.
Ora, a palavra é posta nas Colunas e Oriente para que os eventuais usuários se pronunciem a respeito do ato, o que se resume geralmente em dar boas vindas ao Iniciado. Instruções terão o seu tempo próprio nas sessões vindouras da Loja e não por visitantes na cerimônia de Iniciação. Isso, além de ser impróprio é improdutivo e serve só para esgotar a paciência dos outros.
No fim de tudo, ao que me parece é que antes do iniciado, quem carece de instrução nesse caso são alguns daqueles que já possuem bem mais tempo de estada na Ordem e que deveriam dar exemplo àquele que acaba de ultrapassar os umbrais dos nossos Templos.
A propósito, uma das virtudes do maçom é a de dispensar elogios.
Concluindo, lembro que a dialética, a retórica e a lógica são três das Sete Ciências e Artes Liberais. No seu primeiro trivium, objeto de estudo do Companheiro, o maçom aprende que a arte do diálogo e da oratória somente é plausível se para ela existir razão (o porquê da sua existência).

T.F.A.


PEDRO JUK


MAR/2019

terça-feira, 26 de março de 2019

O USO DO CHAPÉU COMO INDUMENTÁRIA MAÇÔNICA.


Em 16/11/2018 o Amado Irmão Márcio Andrade, Loja Ouroboros, 4.093, Rito Adonhiramita, GOB-SC, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita atenção para o que segue:

USO DO CHAPÉU NA MAÇONARIA


Primeiro, uma honra fazer este contato com você, pelos inúmeros trabalhos oferecidos

a todos os obreiros e por sua trajetória em nossa Ordem. Sou obreiro da Loja Ouroboros 4093, para melhor me aperfeiçoar peço sua ajuda no sentido de instruir com relação "O Chapéu na Maçonaria" ou "O chapéu na Maçonaria Adonhiramita". Caso tenha artigos ou algo, fico extremamente agradecido. Agradeço também pela sua atenção, pois sabemos de seus inúmeros compromissos. Quando vier a Florianópolis, gostaria que viesse nos visitar.


CONSIDERAÇÕES:

Chapéu – (do francês arcaico: chapel, contemporâneo chapeau). É a cobertura para cabeça confeccionada de materiais diversos, com copa e, geralmente com abas.
Pela influência hebraica na Maçonaria e sob o ponto de vista místico, alguns ritos maçônicos, assim como no judaísmo, a cobertura da cabeça tem o desiderato de divulgar a crença de que acima da cabeça do Homem existe a Divindade transcendental, onisciente, onividente e onipresente, o que em linhas gerais alude à presença de “Deus”.
Nesse sentido, o chapéu representa a pequenez humana do homem perante o “Criador”. Simboliza a incapacidade humana de entender a Divindade. Essa concepção resume, em última análise, a prova de submissão do Homem a “Deus”. Para os ortodoxos do judaísmo, por exemplo, a cobertura da cabeça deve estar presente desde o “brit-milá” (circuncisão), o que ocorre no oitavo dia de vida e simboliza a aliança abraâmica com “Deus”.
Destaque-se que na prática judaica essa cobertura é geralmente feita como o “kipá”, que é o solidéu (do latim soli Deo – só a Deus), sendo obrigatória a sua presença nas cerimônias litúrgicas.
Do ponto de vista histórico, em Maçonaria o costume do uso do da cobertura na cabeça, geralmente com um chapéu negro desabado, deveria ser obrigatório para todos os Mestres Maçons em sessão de Grau 03, embora até existam ritos, como o Adonhiramita, por exemplo, que tornam seu uso indispensável em todos os Graus e em qualquer sessão. No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, em se levando em conta a sua pureza ritualística e litúrgica, além da obrigatoriedade do uso do chapéu por todos em Câmara do Meio, nas demais sessões ele é obrigatório apenas para o Venerável Mestre (infelizmente não é bem isso que acontece).
Fora do aspecto transcendental, em linhas gerais esse costume remonta às cortes europeias do Século XVIII, quando o rei em cerimônia na presença de inferiores hierárquicos, cobria a cabeça como sinal da sua superioridade (é o caso do Venerável em sessões do primeiro e segundo Graus). Já em reunião com seus pares (de igual hierarquia) todos tinham a cabeça coberta (como em Câmara do Meio).
Em resumo, e de modo prático, o costume indica que em Lojas do primeiro e segundo Graus, apenas o Venerável se apresenta com a cabeça coberta como sinal de superioridade e de autoridade. Já em Câmara do Meio, como sinal de igualdade entre os Mestres, todos deveriam permanecem com a cabeça coberta.
Desafortunadamente, na atualidade, o uso do chapéu em Loja tem sido um vestígio de caráter um tanto quanto anacrônico, já que muitos rituais nem mesmo preconizam o seu uso, alguns inclusive, deixando a prática a critério do Venerável, o que é lamentável, pois diferente do terno, tão defendido ferrenhamente por muitos e que é apenas uma vestimenta, o chapéu é um símbolo passível de interpretação embasada, tanto pelo seu caráter esotérico quanto pelo seu caráter figurado.
O costume do uso do chapéu na Maçonaria pode se distinguir entre as tradições, ritos e trabalhos. Por exemplo, nas Lojas Azuis norte-americanas o Venerável permanece em Loja usando um chapéu alto e de abas curtas (cartola). Nas Lojas alemãs é frequente o uso da cartola como cobertura, enquanto que nos trabalhos da Maçonaria inglesa (embora por tradição) o chapéu é praticamente ignorado. No Rito Escocês Antigo e Aceito (que é de origem francesa), como já mencionado, tem sido usado e às vezes, apenas no terceiro Grau. No rito Adonhiramita, que praticamente só é exercitado no Brasil e em poucos outros países, todos usam a cobertura, independente do grau simbólico.
Há ainda a questão de o chapéu ser desabado, o que pode ser relativo à moda e de tendência regional haurida principalmente da Maçonaria praticada na França, ou ainda como artifício para camuflar (esconder) a face visando preservar a identidade do usuário numa época em que a Maçonaria, em alguns lugares era ferrenhamente perseguida.
O adjetivo “desabado”, nesse caso, é o chapéu de abas largas (sem excesso) direitas ou caídas. É oportuno mencionar que atualmente esse chapéu tem sid
o usado, em não raras vezes, com certo exagero em relação às suas abas (às vezes mais parecido com o chapéu da vovó Donalda). Abstraindo-se os exageros, o chapéu negro pode ter aba de tamanho normal e caída – do tipo Ramenzoni, por exemplo.
De tudo, e pela importância do seu simbolismo, o chapéu na Maçonaria deve ser o convencional (geralmente de feltro) e de cor negra, nunca de outros tipos que não condigam com a sua tradição na Sublime Instituição. À exceção é o Rito Escocês Retificado que utiliza um chapéu tricórnio negro como símbolo de igualdade perante o “GADU”.
Por oportuno, também é bom comentar que o uso e costume que envolve o chapéu e o seu simbolismo na Maçonaria apenas é parte da Moderna Maçonaria e nunca da conhecida Maçonaria de Ofício, ancestral dos maçons especulativos.
Dando por concluído, eram essas as minhas considerações, destacando que elas possuem apenas caráter elucidativo, sobretudo sob o ponto de vista histórico e nunca com o objetivo de interferir em rituais em vigência. Acredito que elas lhe darão subsídios pra uma pesquisa mais ampla.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAR/2019

domingo, 24 de março de 2019

O LUGAR DO APRENDIZ RECÉM-INICIADO - REAA


Em 13/11/2018 o Respeitável Irmão Ronei Antonio Ferrari, Loja Integridade, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Capivari, Estado de São Paulo, apresenta a questão seguinte:

LUGAR DO RECÉM-INICIADO.


Nos meus 24 anos de Ordem já assisti seguramente, mais de uma centena de sessões de iniciações (das três Obediências). No final da sessão, o Venerável Mestre solicita ao Mestre de Cerimônias, que conduza o recém-iniciado para que tome assento NO TOPO da Coluna do Norte. Aprendi com os Mestres mais antigos, que o topo da Coluna do Norte é ao lado do Irmão Tesoureiro. Recentemente em duas sessões de iniciações e, em Lojas diferentes, o recém-iniciado foi colocado ao lado do 1º. Vigilante. Peço-lhe luzes, qual o lugar que você entende por topo da Coluna do Norte.

CONSIDERAÇÕES;

Lamento contrariá-lo, mas infelizmente essa “estória” de se colocar o recém-iniciado no topo da Coluna do Norte próximo à grade do Oriente (atrás do lugar do Tesoureiro) é um equívoco no REAA\ que de há muitos anos vem sendo perpetrado em alguns rituais.
Nesse sentido, alguns aspectos precisam ser analisados.
a)    Próximo à grade do Oriente (à retaguarda do Tesoureiro) não significa em hipótese alguma ser o topo da Coluna. Na verdade essa é uma aleivosia perpetrada no REAA\ e adquirida de práticas de outros Ritos. Existem sistemas de trabalho, a exemplo do Craft inglês, em que os recém-iniciados são colocados no canto nordeste da Loja (na primeira fileira) em alusão à pedra angular da obra, costume muito utilizado pelos nossos antepassados operativos para marcar o início de uma construção. Sem compreender que essa é prática de outro Rito, compiladores equivocados acabaram trazendo esse costume enxertando-o no escocesismo associando a posição nordeste com a proximidade da grade do Oriente, porém ao fundo e encostado na parede atrás do assento do Tesoureiro. Ratifica-se, isso não é prática correta como assento de recém-iniciados no REAA\;
b)    Topo da Coluna do Norte é toda a parede ocidental entre a grade do Oriente e a parede ocidental (extremo do ocidente). De quem ingressa no Templo é a parede a sua esquerda;
c)     Observa-se o topo da Coluna do Norte em se posicionando ao centro sobre o eixo do Templo (equador) e de frente para o Norte. Nesse sentido a maior distância observada entre o Equador e o setentrião é o “topo” da Coluna. Em se tratando do topo da Coluna do Sul, a situação é exatamente igual, porém inversa, ou seja, à direita de quem entra estando o observador sobre o Equador, entretanto de frente para o meridião.
d)    Dá-se o nome de Coluna do Norte a todo o espaço no Ocidente que fica à esquerda de quem entra e cujo perímetro se constitui pelo limite do Ocidente com o Oriente, pela parede Norte, pelo limite extremo do Ocidente (parede ocidental) e pelo eixo longitudinal do Templo.
e)    Dá-se o nome de Coluna do Sul a todo o espaço no Ocidente que fica à direita de quem entra e cujo perímetro se constitui pelo limite do Ocidente com o Oriente, pela parede Sul, pelo limite extremo do Ocidente (parede ocidental) e pelo eixo longitudinal do Templo.
f)      No topo das Colunas do Norte e do Sul, no REAA se encontram fixadas as Colunas Zodiacais, sendo seis ao Norte e seis ao Sul. Faz-se cogente compreender que essas Colunas, ao contrário do que muitos acham, não estão ali para “sustentar a abóbada”, contudo para marcar o caminho iniciático dos Aprendizes e dos Companheiros respectivamente. Assim, simbolicamente o Aprendiz inicia sua jornada no topo da Coluna do Norte (logo que sai da Câmara de Reflexão) junto às três primeiras Colunas – Áries, Touro e Gêmeos – que correspondem à Primavera (renascimento) no hemisfério Norte, e assim sucessivamente até as três Colunas correspondentes ao verão. É essa a passagem do iniciado, enquanto Aprendiz pelo topo da Coluna do Norte. Concluídos esses ciclos, o iniciado passa para a perpendicular ao nível iniciando uma nova jornada, agora como Companheiro no topo do Sul e a partir da constelação de Libra (outono).
Dadas essas explicações, compreenda-se que o inicio da jornada do recém-iniciado no REAA\ fica no topo da Coluna do Norte, contudo próximo ao Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente. Isso em linhas gerais demonstra a procura da Luz pelo Iniciado, do Ocidente em direção ao Oriente, e não ao contrário conforme equivocadamente apregoam alguns colocando o Neófito próximo à grade do Oriente, isto é, no final do verão sem que ele antes simbolicamente tenha passado por primeiro pela Primavera após ter saído das profundezas da Câmara (Terra no Inverno) na Iniciação.
Obviamente que para se compreender essa importante alegoria do Rito Escocês Antigo e Aceito (rito de origem francesa), primeiro é preciso conhecer essa proposta deísta de aperfeiçoamento do Homem Iniciado sugerida pela constante renovação da Natureza através dos seus ciclos – em Maçonaria as estações são condizentes com o hemisfério setentrional da Terra por ser a região do globo terrestre onde nasceu a Sublime Instituição.
É devido a esse processo iniciático de aperfeiçoamento humano que a decoração do Templo no simbolismo do REAA\ foi elaborada e aperfeiçoada.
Melhores informações sobre o topo das Colunas do Norte e do Sul, eu sugiro a leitura do título “E o Topo da Coluna do Norte... Conclusões?”, escrito de minha autoria editado no volume IV do Encontro Nacional do Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estudos Maçônicos Fernando Salles Pascoal, dele às paginas 77 e seguintes, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, novembro de 2007.
Concluindo, era essa a explicação do por que do Irmão ter visto Aprendizes recém-iniciados sendo corretamente colocados próximo ao Primeiro Vigilante no topo do Norte (parede) e não equivocadamente próximos à grade do Oriente logo atrás do lugar do Tesoureiro – em Maçonaria, para tudo existe uma explicação lógica.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2019

REAA - QUANDO O MESTRE DE CERIMÔNIAS USA O BASTÃO


Em 12/11/2018 o Respeitável Irmão Renato Coelho, Venerável Mestre da Loja Trajano, Theodomiro da Silva, REAA, GOB-MG, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, solicita o seguinte esclarecimento:

QUANDO O MESTRE DE CERIMÔNIAS DEVE USAR O BASTÃO.


Peço explicar se o Mestre de Cerimônias, ao conduzir um Aprendiz entre Colunas para Instruções e principalmente se o mesmo tiver de instruir o Aprendiz, por exemplo, com a macha e bateria do Grau, se estará de posse do Bastão?
Peço discriminar todos os momentos obrigatórios, que o Mestre de Cerimônias deverá estar com o Bastão.

CONSIDERAÇÕES:

Exprime o Ritual na sua página 44:
“O M\ de CCer\ estará munido de bastão, não devendo usá-lo quando circular em Loja, excetuando-se na abertura e no encerramento dos Trabalhos, ou quando conduzir um Ir\ em Loja, ou ainda quando o Ritual o determinar”.
Especificamente, no caso da primeira instrução ao Aprendiz na página 164 do Ritual o Venerável ordena ao Mestre de Cerimônias que ele convide o Irmão Aprendiz para receber os ensinamentos. Na mesma página vai um explicativo determinando que o Aprendiz seja colocado entre colunas para receber a instrução.
Nesse sentido, o Mestre de Cerimônias deve conduzir o Ir\, porquanto deveria estar munido do bastão, entretanto é preciso se levar em conta que ele para ensinar o Aprendiz, por motivos óbvios, carece de estar com as suas mãos livres, tornando-se impróprio e incômodo o uso do bastão nessa oportunidade. Nesse sentido o bom senso aponta para que ele não utilize o bastão ao auxiliar na instrução.
Como se sabe, toda a regra tem a sua exceção e esse é um caso, o que nos dá a certeza que pela necessidade do momento não se estará ferindo o ritual. Aliás, é bom que se diga que entre proceder de modo incorreto só porque ele “está escrito”, ou o de se fazer a coisa comprovadamente correta, o melhor mesmo é se optar pelo comprovadamente correto.
O bom senso tem sido uma virtude na vida, sobretudo quando se aplica corretamente a razão para julgar ou raciocinar casos particulares da existência. Ao invés de se utilizar de uma prática equivocada só porque às vezes ela está escrita, melhor mesmo é buscar bom senso para julgar e resolver o problema de acordo com o senso comum. Seria oportuno que os defensores da máxima “onde é que está escrito” se inteirassem às vezes, pelo menos um pouco dessa assertiva. Excesso de preciosismo é um vício que desvirtua o progresso.
Quanto à discriminação de “todos os momentos obrigatórios” que o Mestre de Cerimônias deverá estar com o bastão, penso que além daqueles previstos, outras situações poderão se apresentar durante a liturgia, portanto não tenho como prever essas situações, senão recomentar que, diante delas o Irmão utilize o “bom senso”.
Concluindo, circunstâncias como essa farão parte das explicações e orientações ritualísticas para os três rituais do REAA\ que serão paulatinamente publicadas numa plataforma de nome GOB-RITUALÍSTICA ainda esse mês.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2019

sábado, 23 de março de 2019

SETE DEGRAUS NUM TEMPLO DO REAA


Em 12/11/2018 o Respeitável Irmão Douglas Luciano Alves Generoso, Loja Resplendor Unido, REAA, GOB-MG, Oriente de Resplendor, Estado de Minas Gerais, apresenta o seguinte questionamento:

SETE DEGRAUS


Gostaria de apresentar um trabalho em minha loja a respeito do significado dos degraus existentes no templo, degraus da mesa dos Vigilantes, entre o ocidente e o oriente e no acesso ao trono do Venerável Mestre. Por isso, venho respeitosamente solicitar, caso haja algum documento ritualístico que versa sobre o assunto, que me seja enviado para auxiliar-me nos estudos e na apresentação dele em Loja.

CONSIDERAÇÕES.

Em se tratando do REAA\ as elevações pertinentes ao Oriente, sólio, e mesas dos Vigilantes viriam aparecer somente após a reformulação da topografia do templo que envolveu na época as hoje já extintas Lojas Capitulares. Esse aspecto é mencionado porque nos primórdios dos rituais do escocesismo simbólico, a partir de 1804 na França, não existia divisão e nem elevação do Oriente, restringindo-se à elevação apenas ao sólio por três degraus. Com o advento das Lojas Capitulares, o Oriente, para atender à decoração do Capítulo, seria então elevado e demarcado. Com isso, o acesso ao Oriente se fazia por quatro degraus e para o sólio por mais três. Com o desaparecimento do sistema capitular que envolvia inclusive o simbolismo (vide essa história no primeiro e segundo quartel do século XIX no Grande Oriente da França), à moda latina, dentre outros, Oriente permaneceu elevado, entretanto divididos os sete degraus em um degrau para o Oriente, três para o sólio, dois para a mesa do Primeiro Vigilante e um para a do Segundo Vigilante – com isso permaneceria o número de sete degraus no templo, embora com a divisão comentada.
Quanto ao simbolismo do número sete ele se refere, principalmente por influência hebraica no escocesismo, ao shabat e o número alusivo à “Criação”. Essa criação em Maçonaria se reporta à arte da construção de um templo que o homem se propõe a fazer no seu interior, Templo esse comparado àquele dedicado à IAVÉ que ficaria conhecido na Bíblia como o Templo de Jerusalém e adotado mais tarde pela Maçonaria como a principal das suas alegorias – o Templo de Salomão.
Já sobre a representação simbólica de cada um desses desníveis (degraus) no Templo do escocesismo, os mesmos se adequam à interpretação das Sete Artes e Ciências Liberais da Antiguidade e que fora dividida em dois grupos por Boécio – os três primeiros como trivium e os quatro outros como quatrivium. Os três primeiros degraus, relativos ao Ocidente (trivium), referem-se à Gramática, Retórica e Lógica, enquanto os quatro outros (quatrivium), relacionados ao Oriente, referem-se à Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.
Essa expressão alegórica instituída no REAA\ durante a evolução dos seus rituais se deu principalmente por conta da influência anglo-saxônica, já que as Sete Ciências e Artes Liberais tem sido de há muito tratada nas preleções do Craft e desenvolvidas por Willian Preston.
Assim, é essa a introdução para o aprendizado sobre a distribuição dos sete degraus em um Templo do REAA\, matéria essa que infelizmente não tem sido bem observada por muitos rituais da atualidade, pois ainda, à moda capitular (extinta) e de outros ritos, alguns rituais escoceses apresentam quatro degraus para o Oriente, o que, em se tratando do escocesismo simbólico é um equívoco.
Quanto a um documento ritualístico específico sobre o caso ele se encontra bastante disperso e carece de um ordenamento de pesquisa. Acredito que com essa base que lhe passei o Irmão poderá perscrutar aspectos que envolvem essa alegoria. Existe muita coisa escrita, porém devo alertá-lo que nem tudo o que reluz é ouro.
Eram esses os comentários a respeito.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2019.