quarta-feira, 31 de maio de 2017

PRÁTICAS RITUALÍSTICAS E REGIMENTAIS

Em 13/04/2017 o Respeitável Irmão Ícaro Bandeira, Loja Academia de Suassuna Carpinense, REAA, GOIPE (COMAB), sem mencionar o nome do Oriente (Cidade), Estado de Pernambuco, através do meu blog de perguntas e respostas http://pedro-juk.webnode.com/ formula as seguintes questão:

PRÁTICAS RITUALÍSTICAS E REGIMENTAIS


Meu estimado, irmão, mais uma vez venho solicitar vossa ajuda no sentido de dissipar algumas dúvidas no que tange a práticas ritualísticas e regimentais, considerando o grande cabedal de conhecimento que o irmão detém. Passarei a expor minhas dúvidas:
1 - Em minha Oficina, o dirigente ordena que, na abertura o Livro da Lei, antes mesmo do término da leitura e da disposição do E\ e do C\ sobre o mesmo, de acordo com o grau a ser trabalhado, os irmãos já se mantenham à Ordem. De outra banda, numa oficina do GOB que visitei recentemente, o sinal só feito após o término da leitura e da disposição das ferramentas. Qual maneira de se proceder estaria de acordo com a boa ritualística?
2 - Recentemente, quando dos treinos a respeito do telhamento em minha Oficina, um irmão ensinou que quando o obreiro atrasado pede autorização ao Venerável Mestre para tomar lugar em Loja (antes das perguntas), deverá ficar com o braço estendido à frente, numa espécie de juramento. Entendo que tal postura seria inconveniente, uma vez que estando de pé, e em Loja aberta, o obreiro deverá ficar sempre à Ordem. Gostaria de vossas considerações a tal respeito.
3 - Por fim, gostaria do seguinte esclarecimento: minha Oficina tem um reduzido número de obreiros, por ser uma loja relativamente nova; temos três Mestres Instalados, alguns Mestres mais antigos (quatro ou cinco) e alguns mais novos, dentre eles, este que vos subscreve (um ano de exaltado), além de dois Companheiros e dois Aprendizes. Com a proximidade do pleito - junho próximo-, os irmãos foram uníssonos no sentido de sugerir que este que vos fala suceda a direção da oficina, pois os Mestres Instalados da Suassuna Carpinense já estão com idade avançada. Todavia, a constituição do GOIPE aduz que só Mestres com três anos de exaltação podem ser candidatos, conforme repliquei na ocasião. Em contrapartida, os irmãos argumentaram que isso não seria óbice, pois o Grão-Mestre supostamente poderia mitigar esse prazo a pedido. Gostaria das suas considerações.


CONSIDERAÇÕES.

1 - No caso do REAA, a regra original e universal é a de que somente se faz Sinal após a Loja estar devidamente aberta (na forma ritualística). A exceção é apenas aquela que demanda antes da sua composição para a competente verificação nas Colunas pelo Vigilante, ou Vigilantes conforme o caso, certificando-se simbolicamente que os verificados estão habilitados para participar dos trabalhos. Na realidade é desse procedimento que depende a continuidade ritualística para abertura da Loja.
Assim, no que diz respeito a sua questão, o Livro da Lei é aberto, lido no trecho específico e por fim sobre ele são dispostos, na forma de costume, o Esquadro e o Compasso. Somente a partir desse momento o Venerável ordena que todos (nas Colunas e no Oriente) fiquem à Ordem; nunca antes.
Em qualquer circunstância, mesmo sendo ela contraditória, segue-se o ritual em vigência.
2 - Essa do braço estendido à frente não existe nessa oportunidade e é um gesto que deve ser abortado. Só espero que isso não esteja inserido no ritual.
É certo o que observa o Irmão na sua questão: “é inconveniente”, pois ingressando formalmente, depois de saudar as Luzes o retardatário se posiciona à Ordem para responder ao telhamento tradicional (questionário).
3 - Nada contra os novos e os antigos. Em qualquer caso, segue-se a Constituição da Obediência. Entretanto, se for possível legalmente abrandar o previsto no artigo constitucional por Decreto ou Ato do Grão-Mestrado, então a decisão de solicitar essa providência à Obediência é exclusiva da Loja.
Ratifico que essa prática se dará somente se houver legalidade para tal.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2017

terça-feira, 30 de maio de 2017

FILHOS DA VIÚVA E ARTE REAL - SIGNIFICADO

Em 13/04/2017 o Respeitável Irmão Lauro Goerll Filho, Loja Filhos do Pelicano, REAA, GOB-PR, Oriente de Cianorte, Estado do Paraná, solicita os seguintes esclarecimentos através do meu blog http://pedro-juk.webnode.com/

FILHOS DA VIÚVA E ARTE REAL


Tenho, no momento duas dúvidas: O porquê de os maçons serem chamados de "Filhos da Viúva". E da referencia à Maçonaria como Arte Real.

CONSIDERAÇÕES:

Filhos da Viúva. A principal explicação para o uso dessa expressão com a qual também se denominam os maçons é a de que ela se relaciona inteiramente com a Lenda do Terceiro Grau (Lenda de Hiran Abif, ou Hiran, meu pai).
Essa Lenda, além da sua relação com a fábula Noaquita (Noé e os seus três filhos), é também largamente baseada na lenda de Osíris que, por sua vez é haurida dos cultos solares da antiguidade (ver essa Lenda no Antigo Egito).
Na concepção maçônica da Lenda Hirâmica, Hiran é tido como o arquiteto e hábil decorador do Templo, sendo ele filho de uma viúva da Tribo Neftali.
Na realidade essa relação emblemática da Lenda é “solar” e é tida como a representação da morte e da ressurreição da Natureza. Em síntese ela procura representar de modo velado por símbolos e alegorias que a mãe Terra fica viúva do Sol uma vez por ano, ou seja, durante o ciclo do inverno quando a escuridão prevalece sobre a luz – dias curtos e noites longas conforme o hemisfério.
Assim a Terra é a “viúva” e o maçom simbolicamente o seu “filho”. Explica-se: na lenda maçônica, Hiran é a alegoria do Sol que morre para renascer na primavera revivendo a Natureza purificada (o fogo renova a Natureza inteira – concepção mitráica).
É adequado o entendimento de que o ciclo da vida humana na Terra se dá de modo análogo à divisão dos ciclos naturais – infância (primavera), juventude (verão), maturidade (outono) e morte (inverno). Essa concepção tida como deísta fica bem latente na vertente latina da Maçonaria como é o caso do REAA. Note que nesse Rito, os ciclos naturais, que servem como exemplos relativos à existência humana, são representados, sobretudo, pelas doze Colunas Zodiacais, cujas suas localizações na Loja, ladeando o canteiro de trabalho no topo da Coluna do Norte e do Sul, se iniciam na constelação de Áries (começo da primavera no Norte – ressurreição) e segue seu ciclo até Peixes (ainda o inverno no Norte – morte da Natureza), destacando-se que a referência Norte é para o hemisfério Norte do nosso Planeta por ter sido nele onde nasceu a Maçonaria, objeto desse estudo.
Sinteticamente essa é a senda iniciática que o maçom percorre como Aprendiz, Companheiro e Mestre e relacionado diretamente a essa alegoria, estão as Luzes dos candelabros de três braços adotadas em alguns ritos que, na sua plenitude, estarão com todas as nove luzes acesas, no entanto ainda ficam faltando três Luzes para perfazer o ciclo natural completo que é doze (doze são os meses do ano). Na realidade essa falta das três Luzes é proposital, pois as suas ausências se referem justamente ao inverno quando a Terra fica “viúva” da Luz.
Assim, o maçom ao ser exaltado (ou elevado conforme prevê a vertente inglesa de Maçonaria) ao Terceiro Grau, e por ter sido ele o personagem principal desse teatro simbólico, acabou sendo então identificado como “Filho da Viúva” – Filho da Terra.
Como identidade o termo “Filho da Viúva” é generalizado e não depende dessa ou daquela vertente maçônica (francesa ou inglesa), pois nos sistemas cujos ritos e trabalhos não possuem simbologia e alegoria análoga à mencionada do REEA, a identificação mesmo assim se dá por ter sido Hiran, segundo a Lenda, também o “Filho de uma Viúva da Tribo Neftali”.
A Arte Real. Essa é uma expressão que pode ser perscrutada sob dois aspectos. Uma como aquela ligada às Corporações de Ofício medievais e a outra sob o ponto de vista do misticismo alquímico que ingressou na Ordem especulativa a partir do século XVIII.
Sob o ponto de vista histórico, as Corporações de Ofício (operativo) quando das Associações Monásticas, Confrarias Leigas e a Francomaçonaria, além delas serem subordinadas à Igreja, adquiriram muitos hábitos dos antigos construtores anteriores à Maçonaria, a exemplo dos Collegiati que pertenceram à primeira associação de ofício organizada denominada Collegia Fabrorum à época do imperador romano Numa Pompílio no século VI a. C., cuja organização iria perdurar até a Idade Média. Na realidade esses construtores tinham a missão de reconstruir o que a atividade bélica ia destruindo nas conquistas romanas pela Europa.
Historicamente, graças a essa especial organização e subordinação que se seguiriam até os reinados da época medieval é que a Maçonaria de Ofício, composta por artífices medievais (canteiros), acabaria sendo também conhecida pelo título de Arte Real, título esse que seria estendido à Maçonaria Especulativa e por fim até a nossa Moderna Maçonaria. O termo Real, como adjetivo, se refere ao que pertence ou é relativo ao rei ou à realeza; régio, já que a Maçonaria, além do amparo da Igreja, viria viver um bom período também sob a proteção de reis e reinados.
Como segunda definição desse título dado à Maçonaria, a Arte Real sob o ponto de vista da alquimia, ficou conhecida como a Grande Obra, ou a Obra do Sol também denominada sob essa óptica como Arte Real. Na realidade essa “arte” se propunha a transformar o vil metal em ouro pela purificação dos elementos. A alquimia, mãe da química, teve uma grande propagação na época e tratava, no seu sentido experimental, de utilizar as forças da Natureza procurando com isso dar aos seus iniciados a ideia de um mistério profundo na busca de um solvente universal (menstruum universale), cujo corolário desse conhecimento ficaria conhecido como a verdadeira pedra filosofal. Para o grande alquimista do século XVI, Aurelius Filipus Teophrastus Bombastus Von Honenheim, conhecido como Paracelso, a alquimia era uma ciência a transmutar os metais uns em outros, o que se resumia em procurar transformar as imperfeições dos metais em ouro. Nesse mesmo sentido a prática alquímica também buscava pelo elixir da longa vida como uma espécie de panaceia universal que se propunha curar todos os males naturais dos homens.
Entretanto, pensadores adeptos do misticismo e do ocultismo, através da alquimia mística, desprezavam o ouro material preocupando-se apenas com o “ouro espiritual”, por isso, transcendental. Assim, todos os esforços da alquimia mística e oculta, contrários à alquimia prática, eram dirigidos à transmutação do quaternário inferior humano (quadrado) ao ternário divino (triângulo), de tal modo a alcançar a totalidade cósmica (círculo). Os quatro elementos materiais de então, Terra, Ar, Água e Fogo, eram comparados na alquimia mística aos planos, espiritual, mental, psíquico e físico da natureza humana.
Nesse sentido, a Moderna Maçonaria influenciada por pensadores adeptos dessa alquimia, em alguns dos seus ritos, acabou recebendo muitas práticas simbólicas que nela ingressaram a partir do século XVIII, tanto no sentido da alquimia prática como no da mística. É o caso, por exemplo, do REAA com a representação dos “quatro elementos da antiguidade” (terra, ar, água e fogo), presentes inclusive nas suas viagens iniciáticas e na Câmara de Reflexão onde se apresentam símbolos como o do enxofre, do mercúrio, do sal, etc.
Na realidade a Maçonaria não trata de ocultismo e nem propõe a prática da alquimia, porém desenvolveu através dos seus símbolos uma alegoria destinada a sugerir a transformação e aprimoramento do Homem, cujas características lhe deram o nome de Grande Obra, ou Obra do Sol ou ainda de Arte Real, identificando, evidentemente, o Sol à Luz da Verdade e do Conhecimento.
A ideia especulativa na Maçonaria de transformar o Homem num elemento capaz de construir um Templo à Virtude Universal se coaduna com a sua prática iniciática, a despeito de que é por ela que se tem buscado incessantemente o aperfeiçoamento do maçom.
Dadas essas considerações, são esses os significados que dão ao maçom o título de Filho da Viúva e para a Maçonaria o de Arte Real.
É oportuno por fim comentar que a Moderna Maçonaria é uma Instituição que ordena os seus objetivos através de um sistema particular velado por símbolos e alegorias. Assim, no que diz respeito ao significado da expressão “Filho da Viúva” abordada na primeira parte desse arrazoado e nela a menção de Lendas que se remetiam ao antigo Egito como a de Osíris, assim como outras mencionadas, em nenhuma hipótese elas se deram para afirmar existência de Maçonaria naqueles tempos remotos. Elas foram comentadas apenas para sugerir o arquétipo de uma lenda que a Moderna Maçonaria criou para montar o arcabouço doutrinário do Terceiro Grau. Do mesmo modo quando, a título de esclarecimento, foi feita referência ao termo “Arte Real” relacionado ao Imperador e aos Collegia Fabrorum nascidos no século VI a. C. – isso também não afirma existência de Maçonaria naquela época.
Na verdade essas referências foram feitas apenas com o objetivo singular de demonstrar alguns pormenores que envolveram a criação e a evolução do arcabouço doutrinário da Maçonaria. É sabido, reitero, que autenticamente a Sublime Instituição possui documentalmente apenas aproximados 800 anos de história.
Do mesmo modo ocorreu nesse escrito quando fora feita menção à arte da alquimia, porquanto a mesma teve apenas o caráter elucidativo de o porquê da existência de algumas alegorias maçônicas a ela relacionadas. Com isso, afirma-se que a Maçonaria não é alquimista e nem mesmo a exercita, muito menos sugere qualquer aprendizado ocultista.
É mister compreender que os símbolos e as alegorias maçônicas compõem a espinha dorsal de uma Ordem que tem como um dos seus objetivos principais prestar ensinamentos éticos, morais e sociológicos aos “Filhos da Viúva” que praticam a “Arte Real”.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2017

domingo, 28 de maio de 2017

XXXIV ERAC DO GOB-PR

Dia 27/05/2017 tive o prazer de comentar os trabalhos apresentados pelos Irmãos de Curitiba e Região Metropolitana.
Destaque-se as vinte Lojas que apresentaram suas Peças de Arquitetura mostrando qualidade e ofício de pesquisa.
Em prol da cultura e da manutenção dos objetivos da Ordem Maçônica, o GOB-PR na pessoa do seu Grão-Mestre e Secretáriado, este presente participando e prestando apoio ao evento.
A coordenação dos trabalhos esteve a cargo do Irmão Clemente Escobar, Coordenador Estadual em conjunto como o Irmão Deógenes Sereninski, Venerável Mestre da Loja Luz de Antonina, a quem coube a organização.
Nessa oportunidade a Loja Estrela de Morretes, 3159, Benfeitora da Ordem, minha Loja mãe, esteve presente tendo o Irmão Aprendiz Brindarolli Jr. apresentado uma peça de arquitetura versando sobre os Deveres do Maçom












sexta-feira, 26 de maio de 2017

MAÇONARIA PROGRESSISTA

Em 23/03/2017 o Respeitável Irmão Fabrício Osti de Melo, Loja 15 de Março, 70, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Teodoro Sampaio, Estado de São Paulo, solicita o seguinte esclarecimento:

MAÇONARIA PROGRESSISTA


Respeitosamente venho beber de seu conhecimento para esclarecer uma dúvida conceitual que nasce na contraposição, a meu ver, entre os movimentos sociais contemporâneos e os preceitos da Sublime Ordem.
Nosso Ritual do REAA traz, em diversas oportunidades, o conceito que define a Maçonaria, entre outros adjetivos, como Instituição Progressista.
Pode-se, primeiramente, definir Progressismo como: “refere-se a um conjunto de doutrinas filosóficas, éticas e econômicas baseado na ideia de que o progresso, entendido como avanço científico, tecnológico, econômico e social, é vital para o aperfeiçoamento da condição humana. Essa ideia de progresso integra o ideário iluminista e tem como corolário a crença de que as sociedades podem passar da barbárie à civilização, mediante o fortalecimento das bases do conhecimento empírico. O progressismo está ligado à ideia de "progresso infinito" mediante transformações da sociedade, da economia e da política. A ideia de progresso, por sua vez, é frequentemente relacionada com o evolucionismo e o positivismo”.
Ao mesmo tempo, é perceptível que nosso conceito de “bons costumes”, está intimamente ligado a valores Conservadores de família e religião (não se tratando, aqui, de uma especificidade religiosa), como exemplifica nosso Ritual ao trazer: “Um Maçom tem por dever obedecer à Lei Moral (...) nunca será um ateu nem um libertino irreligioso.” (grifo nosso)
Sabemos que, por anos, fomos paulatinamente doutrinados por uma ideologia que praticamente condenou, humilhou e desacreditou o conservadorismo, em prol de uma agenda obscura de objetivos incertos.
Assim, o conflito nasce, sob meu ponto de vista, quando observamos a exegese do conceito de Progressismo atual que traz: “também pode ser vinculado a posições político-filosóficas ligadas ao reformismo e opostas ao conservadorismo. Contemporaneamente, o progressismo também tem sido associado à luta por direitos civis e individuais, bem como a movimentos sociais, como o feminismo, o ambientalismo, o secularismo, o movimento LGBT (diversidade sexual) e o movimento negro, entre outros.” (grifo nosso)
Desde modo, e em sua sábia opinião, como devemos nós, os Maçons, e consequentemente a Maçonaria em geral, nos portarmos quando confrontados com esse embate entre Progressismo e Conservadorismo? Devemos ser progressistas a tal ponto de, por exemplo, aceitarmos em nossas colunas “homens transexuais” (gênero humano nascido mulher, mas que se considera homem)? Ou até mesmo mulheres, em conformidade com o preceito feminista de direitos iguais? Deixemos de lado, em nossa vida profana, a Moral Judaico-Cristã em prol da agenda Progressista de liberação das substâncias entorpecentes (drogas), aborto, fim das religiões em favor ao Estado, entre outros? Pode o Progressismo subverter a Tradição?
Cordialmente despeço-me, desculpando-me pelo prolongamento da explanação, e por qualquer afirmação que hipoteticamente possa vir a ofender os Irmãos, o que jamais foi minha intenção.

CONSIDERAÇÕES.

Entendo que a Moderna é progressista porque ela acompanha a evolução da ciência e das artes trabalhando incessantemente para o aperfeiçoamento moral da humanidade observado os ditames da Lei de cada Nação.
Quanto às transformações sociais, sobretudo as que envolvem os usos e costumes, é assunto complexo e assim peço vênia para não comentá-los, até porque eu penso que não tenho competência para tal, principalmente pelo vasto campo no elemento contraditório que envolve a questão, ponderando-se que a moral e os “bons costumes”, em muitos dos seus aspectos, só mesmo são definidos de acordo com as latitudes terrenas.
Por outro lado, no caso da Maçonaria, existem ainda nuances particulares inerentes às Constituições e os Regulamentos de cada uma das suas Potências, cujas bases são amparadas pelos lindeiros (limítrofes) da Ordem, comentados e definidos segundo a visão dos verdadeiros Landmarks (os imemoriais, os espontâneos e os universalmente aceitos). Isso em qualquer opinião deve ser amplamente levado em conta.
Nem sempre, em se analisando a evolução e os objetivos das Instituições, sejam elas religiosas ou filosóficas, nos cabe simplesmente compreendê-las pelas definições exaradas nos diversos dicionários vocabulares. Há também que se observar, que certas mudanças sociais e de costumes, se simplesmente adotadas, dependendo do caso, podem inclusive alterar substancialmente a razão da existência e do objetivo de uma Instituição – é o caso da Maçonaria, por exemplo.
Entendo que é ofício das nossas autoridades maçônicas a manutenção dos nossos usos, costumes e das nossas práticas consuetudinárias. É deles a competência de manter ou não os nossos “limites”, ou mesmo alterá-los, sem nunca se esquecer de que mudanças e adaptações dependem de reconhecimento para que lhe seja dada a regularidade.
Para não fazer nenhum juízo de valor antecipado e nem preconceituoso, eu devo salientar que não tenho nenhuma opinião formada sobre a questão de o progressismo poder subverter a tradição, até porque cada pensamento, seja ele de ordem prática ou filosófica, deve nele existir um critério próprio para suportar uma análise mais crítica. Aliás, eu penso que para tudo deve existir limite e equilíbrio - é o que eu entendo por bom senso.
Sob a minha óptica eu aprendi a ser tolerante, mas não indulgente. Num caso que porventura possa envolver reformas por movimentos sociais, tais como os mencionados na sua questão, eu prefiro seguir o ditame da prudência. Se por acaso eu entender que o progresso feriu a tradição ao ponto de transfigurar a existência e a essência da Maçonaria, gentilmente e exercendo o meu direito de liberdade, eu pedirei para me retirar.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2017

quinta-feira, 25 de maio de 2017

S. E. P. - SIGNIFICADO

Em 04/804/2017 o Respeitável Irmão Marcius Valerius Gomes Dalalibera, Loja Fraternidade Jandaiense, 1.750, REAA, GOB-PR, Oriente de Jandaia do Sul, Estado do Paraná, solicita o seguinte esclarecimento:

TRÍADE S\ E\ P\


Segue anexo foto em que há uma abreviatura que os irmãos da Loja Fraternidade Jandaiense gostariam de saber o significado, caso seja possível.
Trata-se da abreviatura de S\E\P\.

CONSIDERAÇÕES.

Tríades constituídas por abreviaturas de palavras são bastante comuns na Maçonaria, sobretudo na latina. Geralmente aludem a temas que são objeto de estudo e de práticas maçônicas.
No caso daquela que se refere às abreviaturas das letras S\ E\ P\ mencionadas na sua questão, às mesmas foram adotadas pelo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito e muito usadas no passado quando eram gravadas nas correspondências diplomas e certificados. Segundo o Respeitável Irmão Colombo Borges, Delegado Litúrgico do Supremo Conselho no Rio Grande do Sul, o significado das abreviaturas corresponde à Sabedoria, Estabilidade, Poder.

E. T. - No que diz respeito ao cargo do Irmão Colombo Borges, leia-se "membro permanente do Supremo Conselho" em lugar de delegado litúrgico.

T.F.A.


PEDRO JUK


MAIO/2017

quarta-feira, 24 de maio de 2017

REAA - FERRAMENTAS DO APRENDIZ

Em 03/04/2017 o Respeitável Irmão José Luiz Horner Silveira, Loja Renovação, 3.387, REAA, GOB-SC, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita o seguinte esclarecimento.

REAA - FERRAMENTAS DO APRENDIZ


Mais uma vez recorro à sapiência do nobre Irmão.
Eis minha dúvida:
É correto dizer que as ferramentas do Grau de Aprendiz maçom no GOB são a régua de 24 pol, o maço e o cinzel?
Ou apenas o maço e o cinzel, já que a régua não está representada em nosso painel.

CONSIDERAÇÕES.

Esse tem sido um equívoco adquirido pela não observação das particularidades dos Ritos e Trabalhos das duas principais vertentes maçônicas.
Não é uma questão de “Aprendiz maçom do GOB”, mas deveria ser genuinamente a do Aprendiz Maçom do REAA. Infelizmente no Brasil muitos rituais enxertados com costumes de outros ritos foram editados e aprovados o que acabou por nos trazer dúvidas como a aqui tratada.
Verdadeiramente no escocesismo simbólico o Primeiro Grau detém como ferramentas de trabalho apenas o Maço e o Cinzel, enquanto que a Régua de 24 Polegadas é um dos instrumentos do Companheiro Maçom. Isso pode ser facilmente observado nas alegorias originais francesas do Aprendiz e do Companheiro usadas no REAA, onde sinteticamente se vê o Aprendiz desbastando a Pedra Bruta e nela aplicando no ofício o Maço e o Cinzel, enquanto que na alegoria do Segundo Grau é perfeitamente visível a Régua como uma das ferramentas trazidas pelo Companheiro para aplicar na Pedra Cúbica. Isso não acontece por acaso, pois as alegorias representam as etapas (idades) de aperfeiçoamento e os métodos aplicados (pelas ferramentas) para se chegar ao resultado apropriado de acordo com a doutrina do Rito.
Do mesmo modo, há que se observar o conteúdo dos respectivos Painéis do Grau do Rito, a despeito de que eles não estejam ainda deturpados. Visualizando cada Painel, no do Aprendiz não aparece a Régua, já no de Companheiro, ela se faz presente. Isso acontece porque o conjunto dos símbolos contidos nos Painéis significa a Loja aberta de acordo com o Grau, portanto o conjunto alegórico é disposto de tal modo que lembrem as práticas ritualísticas executadas nos trabalhos litúrgicos, principalmente naqueles que acontecem durante as cerimônias de Iniciação e de Elevação.
Dadas essas explicações e para melhor esclarecimento da dúvida apresentada na questão que envolve o uso da Régua no Primeiro Grau em alguns rituais escoceses, primeiro cabe lembrar que o Rito Escocês Antigo e Aceito, apesar do vocábulo titular “escocês”, é um rito originário da França.
Dito isso, o uso da Régua Graduada é comum no Grau de Aprendiz, mas na vertente inglesa de Maçonaria, ou seja, no Craft inglês e não no escocesismo simbólico que é de vertente francesa. Além do que, não há como esquecer que os costumes litúrgicos maçônicos, embora com o mesmo objetivo, muitas vezes se diferem entre os seus ritos e rituais, sobretudo quando observadas às suas origens e as suas estruturas doutrinárias.
Desafortunadamente, sobretudo na Maçonaria brasileira, essa mania desenfreada das Obediências em editar exponencialmente rituais, muitas práticas e costumes próprios de alguns ritos acabaram sendo enxertados em outros, sobretudo por obra da desatenção e pelo próprio desconhecimento de causa dos seus artífices.
Provavelmente no Brasil, o equívoco específico relativo à Régua no Primeiro Grau do REAA ocorreu - bem como outras não menos importantes - no início do segundo quartel do século passado por razões históricas que envolveram uma Obediência e o seu reconhecimento, mas esse é fato que não merece aqui ser comentado. Naquela oportunidade muitas práticas do Craft norte-americano, que por sua vez é originário do inglês, acabariam por aqui aportando incorretamente no escocesismo.
Concluindo, independente de ritual dessa ou daquela Obediência, em se tratando do escocesismo original, a Régua de 24 Polegadas não é instrumento do Aprendiz, senão do Companheiro. Ritual do escocesismo que porventura exarar ao contrário estará nocivamente o misturando com práticas de outros ritos, o que pode tornar contraditório ou dúbio o sentido da sua interpretação.


T.F.A.



PEDRO JUK


MAIO/2017


terça-feira, 23 de maio de 2017

INGRESSO DE IRMÃO ATRASADO - REAA

Em 01/04/2017 o Respeitável Irmão Homero Luiggi Pedrollo, Loja Acácia Joinvilense, 1.937, REAA, GOB-SC, Oriente de Joinville, Estado de Santa Catarina, solicita o seguinte esclarecimento:

INGRESSO DE IRMÃO ATRASADO - REAA


Tomo a liberdade de pedir ajuda ao Irmão. Quando um Irmão, por algum motivo extraordinário, chega atrasado à sessão qual o procedimento correto a seguir? Quais sãos os envolvidos? Guarda do templo, Mestre de Cerimônias, Experto? Tenho a vontade de fazer essa simulação para treino e instrução, inclusive aplicando o telhamento (ou trolhamento - há controvérsias).

CONSIDERAÇÕES.

Um Irmão retardatário pedindo ingresso na Loja, não havendo Guarda Externo presente, ele dá na porta, em qualquer circunstância, a bateria universal que é a mesma bateria do Aprendiz, não importando o Grau em que a Loja esteja trabalhando. Em seguida aguarda providências.
Nesse caso podem ocorrer duas situações: a primeira é a de que o momento seja propício para o seu ingresso, e a segunda é se o andamento dos trabalhos não o permitir de imediato, pelo que o retardatário deverá então aguardar.
No primeiro caso assim se deve proceder: logo que ele efetue a bateria universal, o Cobridor Interno informa imediatamente, na forma de costume, a ocorrência ao Primeiro Vigilante que, por sua vez, também comunica ao Venerável. Prosseguindo, o Venerável Mestre solicita diretamente ao Cobridor que verifique quem bate e, se for Irmão do Quadro que lhe seja franqueado formalmente o ingresso (pela Marcha e pelo questionário tradicional). Não sendo do Quadro e desconhecido o retardatário deverá passar pelo telhamento completo (sinais, toques e palavras) no átrio, o que será executado pelo Segundo Experto, inclusive remetendo seu documento de identificação maçônica ao Orador para a competente verificação. Feitas as devidas averiguações e desde que o que pede ingresso possui grau suficiente para assistir o trabalho, ser-lhe-á então franqueado o ingresso na Loja pela Marcha do Grau e pelo questionário de telhamento tradicional. Nessa oportunidade, por ordem do Venerável, o Mestre de Cerimônias, portando o bastão, conduz o retardatário. Enquanto o protagonista executa a Marcha e se submete ao questionário, o Mestre de Cerimônias aguarda ordem na Coluna do Norte para conduzir o Irmão ao lugar devido.
No segundo caso, se o momento não for oportuno para o ingresso imediato (durante a abertura dos trabalhos, leitura da ata, circulação da bolsa, etc.), o Cobridor interno ao ouvir as pancadas, sem nada anunciar, levanta-se imediatamente, vai à porta e nela responde também com a bateria universal. Essa prática significa que o retardatário deve aguardar o momento oportuno para ser atendido (nunca se deve replicar a bateria ou mesmo aumenta-la para outro Grau). Chegando o momento propício, o Cobridor faz a comunicação ao Primeiro Vigilante e seguem-se os procedimentos da praxe até o ingresso do retardatário.
A título de esclarecimento, cabem aqui algumas observações pertinentes a essas situações:
a)    Não existe troca e aumento de baterias na porta;
b)    Não existe a tal bateria de alarme por uma ou duas pancadas. Isso é invenção;
c)     O ideal é nunca chegar atrasado;
d)    Havendo Guarda Externo ele se ocupa de informar o retardatário e de dar a bateria na porta com o punho da espada pedindo ingresso;
e)    A bateria universal, em qualquer situação é a do Aprendiz;
f)      A bateria na parte interna da porta é dada com o punho da espada pelo Cobridor Interno;
g)    Em se chegando atrasado e existirem visitantes aguardando o ingresso conforme prevê o ritual, o retardatário espera a possibilidade de junto com eles ingressar;
h)    Se o retardatário não possuir grau suficiente para ingressar, ele receberá a comunicação pessoalmente e nunca através da bateria do Grau. A porta do Templo não é lugar de batucadas;
i)       Após o início dos trabalhos, todo o ingresso na Loja é formal.
j)       Todas essas situações somente se darão se o retardatário por algum meio conseguir entrar no edifício que abriga o Templo e chegar ao átrio da Loja após o início dos trabalhos.
Genericamente esses são os principais procedimentos que devem ser adotados nessas situações.
Sobre a controvérsia “telhamento ou trolhamento” mencionada na sua questão, penso que ela não existe, pois o termo correto de uso já foi exaustivamente elucidado e comprovado por inúmeros autores autênticos. Assim, quando se tratar de verificação da qualidade maçônica de um obreiro, menciona-se “telhamento” (neologismo maçônico), pois trata da cobertura dos trabalhos (vide Cobridor do Grau, Cobridor da Loja) em cumprimento a um importante Landmark da Ordem que é o sigilo. Já o termo “trolhamento” significa figuradamente na Maçonaria o ato de alisar, ou aparar arestas surgidas de eventuais rusgas entre Irmãos. Assim, sob essa óptica, um Templo é coberto com telhas e não com trolhas, pois a telha é comprovadamente um objeto usado para cobrir, ou fazer a telhadura de um edifício, enquanto que a trolha é a colher do pedreiro, ou a desempoladeira da qual o artífice se serve da argamassa para assentar pedras e tijolos, e com ela aparando e alisando as arestas que se formam durante o assentamento. Infelizmente alguns autores no passado confundiram os termos espalhando esse equívoco pelas suas literaturas que fatalmente influenciaram até mesmo rituais, o que tem feito que ainda hoje alguns ainda mencionem esse equívoco – dizem que matar o dinossauro não é tão difícil; o difícil mesmo é consumir sua carcaça.

NOTA – Veja no Blog do Pedro Juk – http://pedro-juk.blogspot.com.br – em Peças de Arquitetura, março de 2017, o título Telhar ou Trolhar de minha autoria.



T.F.A.


PEDRO JUK



MAIO/2017.