sexta-feira, 26 de maio de 2017

MAÇONARIA PROGRESSISTA

Em 23/03/2017 o Respeitável Irmão Fabrício Osti de Melo, Loja 15 de Março, 70, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Teodoro Sampaio, Estado de São Paulo, solicita o seguinte esclarecimento:

MAÇONARIA PROGRESSISTA


Respeitosamente venho beber de seu conhecimento para esclarecer uma dúvida conceitual que nasce na contraposição, a meu ver, entre os movimentos sociais contemporâneos e os preceitos da Sublime Ordem.
Nosso Ritual do REAA traz, em diversas oportunidades, o conceito que define a Maçonaria, entre outros adjetivos, como Instituição Progressista.
Pode-se, primeiramente, definir Progressismo como: “refere-se a um conjunto de doutrinas filosóficas, éticas e econômicas baseado na ideia de que o progresso, entendido como avanço científico, tecnológico, econômico e social, é vital para o aperfeiçoamento da condição humana. Essa ideia de progresso integra o ideário iluminista e tem como corolário a crença de que as sociedades podem passar da barbárie à civilização, mediante o fortalecimento das bases do conhecimento empírico. O progressismo está ligado à ideia de "progresso infinito" mediante transformações da sociedade, da economia e da política. A ideia de progresso, por sua vez, é frequentemente relacionada com o evolucionismo e o positivismo”.
Ao mesmo tempo, é perceptível que nosso conceito de “bons costumes”, está intimamente ligado a valores Conservadores de família e religião (não se tratando, aqui, de uma especificidade religiosa), como exemplifica nosso Ritual ao trazer: “Um Maçom tem por dever obedecer à Lei Moral (...) nunca será um ateu nem um libertino irreligioso.” (grifo nosso)
Sabemos que, por anos, fomos paulatinamente doutrinados por uma ideologia que praticamente condenou, humilhou e desacreditou o conservadorismo, em prol de uma agenda obscura de objetivos incertos.
Assim, o conflito nasce, sob meu ponto de vista, quando observamos a exegese do conceito de Progressismo atual que traz: “também pode ser vinculado a posições político-filosóficas ligadas ao reformismo e opostas ao conservadorismo. Contemporaneamente, o progressismo também tem sido associado à luta por direitos civis e individuais, bem como a movimentos sociais, como o feminismo, o ambientalismo, o secularismo, o movimento LGBT (diversidade sexual) e o movimento negro, entre outros.” (grifo nosso)
Desde modo, e em sua sábia opinião, como devemos nós, os Maçons, e consequentemente a Maçonaria em geral, nos portarmos quando confrontados com esse embate entre Progressismo e Conservadorismo? Devemos ser progressistas a tal ponto de, por exemplo, aceitarmos em nossas colunas “homens transexuais” (gênero humano nascido mulher, mas que se considera homem)? Ou até mesmo mulheres, em conformidade com o preceito feminista de direitos iguais? Deixemos de lado, em nossa vida profana, a Moral Judaico-Cristã em prol da agenda Progressista de liberação das substâncias entorpecentes (drogas), aborto, fim das religiões em favor ao Estado, entre outros? Pode o Progressismo subverter a Tradição?
Cordialmente despeço-me, desculpando-me pelo prolongamento da explanação, e por qualquer afirmação que hipoteticamente possa vir a ofender os Irmãos, o que jamais foi minha intenção.

CONSIDERAÇÕES.

Entendo que a Moderna é progressista porque ela acompanha a evolução da ciência e das artes trabalhando incessantemente para o aperfeiçoamento moral da humanidade observado os ditames da Lei de cada Nação.
Quanto às transformações sociais, sobretudo as que envolvem os usos e costumes, é assunto complexo e assim peço vênia para não comentá-los, até porque eu penso que não tenho competência para tal, principalmente pelo vasto campo no elemento contraditório que envolve a questão, ponderando-se que a moral e os “bons costumes”, em muitos dos seus aspectos, só mesmo são definidos de acordo com as latitudes terrenas.
Por outro lado, no caso da Maçonaria, existem ainda nuances particulares inerentes às Constituições e os Regulamentos de cada uma das suas Potências, cujas bases são amparadas pelos lindeiros (limítrofes) da Ordem, comentados e definidos segundo a visão dos verdadeiros Landmarks (os imemoriais, os espontâneos e os universalmente aceitos). Isso em qualquer opinião deve ser amplamente levado em conta.
Nem sempre, em se analisando a evolução e os objetivos das Instituições, sejam elas religiosas ou filosóficas, nos cabe simplesmente compreendê-las pelas definições exaradas nos diversos dicionários vocabulares. Há também que se observar, que certas mudanças sociais e de costumes, se simplesmente adotadas, dependendo do caso, podem inclusive alterar substancialmente a razão da existência e do objetivo de uma Instituição – é o caso da Maçonaria, por exemplo.
Entendo que é ofício das nossas autoridades maçônicas a manutenção dos nossos usos, costumes e das nossas práticas consuetudinárias. É deles a competência de manter ou não os nossos “limites”, ou mesmo alterá-los, sem nunca se esquecer de que mudanças e adaptações dependem de reconhecimento para que lhe seja dada a regularidade.
Para não fazer nenhum juízo de valor antecipado e nem preconceituoso, eu devo salientar que não tenho nenhuma opinião formada sobre a questão de o progressismo poder subverter a tradição, até porque cada pensamento, seja ele de ordem prática ou filosófica, deve nele existir um critério próprio para suportar uma análise mais crítica. Aliás, eu penso que para tudo deve existir limite e equilíbrio - é o que eu entendo por bom senso.
Sob a minha óptica eu aprendi a ser tolerante, mas não indulgente. Num caso que porventura possa envolver reformas por movimentos sociais, tais como os mencionados na sua questão, eu prefiro seguir o ditame da prudência. Se por acaso eu entender que o progresso feriu a tradição ao ponto de transfigurar a existência e a essência da Maçonaria, gentilmente e exercendo o meu direito de liberdade, eu pedirei para me retirar.


T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2017

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