terça-feira, 30 de maio de 2017

FILHOS DA VIÚVA E ARTE REAL - SIGNIFICADO

Em 13/04/2017 o Respeitável Irmão Lauro Goerll Filho, Loja Filhos do Pelicano, REAA, GOB-PR, Oriente de Cianorte, Estado do Paraná, solicita os seguintes esclarecimentos através do meu blog http://pedro-juk.webnode.com/

FILHOS DA VIÚVA E ARTE REAL


Tenho, no momento duas dúvidas: O porquê de os maçons serem chamados de "Filhos da Viúva". E da referencia à Maçonaria como Arte Real.

CONSIDERAÇÕES:

Filhos da Viúva. A principal explicação para o uso dessa expressão com a qual também se denominam os maçons é a de que ela se relaciona inteiramente com a Lenda do Terceiro Grau (Lenda de Hiran Abif, ou Hiran, meu pai).
Essa Lenda, além da sua relação com a fábula Noaquita (Noé e os seus três filhos), é também largamente baseada na lenda de Osíris que, por sua vez é haurida dos cultos solares da antiguidade (ver essa Lenda no Antigo Egito).
Na concepção maçônica da Lenda Hirâmica, Hiran é tido como o arquiteto e hábil decorador do Templo, sendo ele filho de uma viúva da Tribo Neftali.
Na realidade essa relação emblemática da Lenda é “solar” e é tida como a representação da morte e da ressurreição da Natureza. Em síntese ela procura representar de modo velado por símbolos e alegorias que a mãe Terra fica viúva do Sol uma vez por ano, ou seja, durante o ciclo do inverno quando a escuridão prevalece sobre a luz – dias curtos e noites longas conforme o hemisfério.
Assim a Terra é a “viúva” e o maçom simbolicamente o seu “filho”. Explica-se: na lenda maçônica, Hiran é a alegoria do Sol que morre para renascer na primavera revivendo a Natureza purificada (o fogo renova a Natureza inteira – concepção mitráica).
É adequado o entendimento de que o ciclo da vida humana na Terra se dá de modo análogo à divisão dos ciclos naturais – infância (primavera), juventude (verão), maturidade (outono) e morte (inverno). Essa concepção tida como deísta fica bem latente na vertente latina da Maçonaria como é o caso do REAA. Note que nesse Rito, os ciclos naturais, que servem como exemplos relativos à existência humana, são representados, sobretudo, pelas doze Colunas Zodiacais, cujas suas localizações na Loja, ladeando o canteiro de trabalho no topo da Coluna do Norte e do Sul, se iniciam na constelação de Áries (começo da primavera no Norte – ressurreição) e segue seu ciclo até Peixes (ainda o inverno no Norte – morte da Natureza), destacando-se que a referência Norte é para o hemisfério Norte do nosso Planeta por ter sido nele onde nasceu a Maçonaria, objeto desse estudo.
Sinteticamente essa é a senda iniciática que o maçom percorre como Aprendiz, Companheiro e Mestre e relacionado diretamente a essa alegoria, estão as Luzes dos candelabros de três braços adotadas em alguns ritos que, na sua plenitude, estarão com todas as nove luzes acesas, no entanto ainda ficam faltando três Luzes para perfazer o ciclo natural completo que é doze (doze são os meses do ano). Na realidade essa falta das três Luzes é proposital, pois as suas ausências se referem justamente ao inverno quando a Terra fica “viúva” da Luz.
Assim, o maçom ao ser exaltado (ou elevado conforme prevê a vertente inglesa de Maçonaria) ao Terceiro Grau, e por ter sido ele o personagem principal desse teatro simbólico, acabou sendo então identificado como “Filho da Viúva” – Filho da Terra.
Como identidade o termo “Filho da Viúva” é generalizado e não depende dessa ou daquela vertente maçônica (francesa ou inglesa), pois nos sistemas cujos ritos e trabalhos não possuem simbologia e alegoria análoga à mencionada do REEA, a identificação mesmo assim se dá por ter sido Hiran, segundo a Lenda, também o “Filho de uma Viúva da Tribo Neftali”.
A Arte Real. Essa é uma expressão que pode ser perscrutada sob dois aspectos. Uma como aquela ligada às Corporações de Ofício medievais e a outra sob o ponto de vista do misticismo alquímico que ingressou na Ordem especulativa a partir do século XVIII.
Sob o ponto de vista histórico, as Corporações de Ofício (operativo) quando das Associações Monásticas, Confrarias Leigas e a Francomaçonaria, além delas serem subordinadas à Igreja, adquiriram muitos hábitos dos antigos construtores anteriores à Maçonaria, a exemplo dos Collegiati que pertenceram à primeira associação de ofício organizada denominada Collegia Fabrorum à época do imperador romano Numa Pompílio no século VI a. C., cuja organização iria perdurar até a Idade Média. Na realidade esses construtores tinham a missão de reconstruir o que a atividade bélica ia destruindo nas conquistas romanas pela Europa.
Historicamente, graças a essa especial organização e subordinação que se seguiriam até os reinados da época medieval é que a Maçonaria de Ofício, composta por artífices medievais (canteiros), acabaria sendo também conhecida pelo título de Arte Real, título esse que seria estendido à Maçonaria Especulativa e por fim até a nossa Moderna Maçonaria. O termo Real, como adjetivo, se refere ao que pertence ou é relativo ao rei ou à realeza; régio, já que a Maçonaria, além do amparo da Igreja, viria viver um bom período também sob a proteção de reis e reinados.
Como segunda definição desse título dado à Maçonaria, a Arte Real sob o ponto de vista da alquimia, ficou conhecida como a Grande Obra, ou a Obra do Sol também denominada sob essa óptica como Arte Real. Na realidade essa “arte” se propunha a transformar o vil metal em ouro pela purificação dos elementos. A alquimia, mãe da química, teve uma grande propagação na época e tratava, no seu sentido experimental, de utilizar as forças da Natureza procurando com isso dar aos seus iniciados a ideia de um mistério profundo na busca de um solvente universal (menstruum universale), cujo corolário desse conhecimento ficaria conhecido como a verdadeira pedra filosofal. Para o grande alquimista do século XVI, Aurelius Filipus Teophrastus Bombastus Von Honenheim, conhecido como Paracelso, a alquimia era uma ciência a transmutar os metais uns em outros, o que se resumia em procurar transformar as imperfeições dos metais em ouro. Nesse mesmo sentido a prática alquímica também buscava pelo elixir da longa vida como uma espécie de panaceia universal que se propunha curar todos os males naturais dos homens.
Entretanto, pensadores adeptos do misticismo e do ocultismo, através da alquimia mística, desprezavam o ouro material preocupando-se apenas com o “ouro espiritual”, por isso, transcendental. Assim, todos os esforços da alquimia mística e oculta, contrários à alquimia prática, eram dirigidos à transmutação do quaternário inferior humano (quadrado) ao ternário divino (triângulo), de tal modo a alcançar a totalidade cósmica (círculo). Os quatro elementos materiais de então, Terra, Ar, Água e Fogo, eram comparados na alquimia mística aos planos, espiritual, mental, psíquico e físico da natureza humana.
Nesse sentido, a Moderna Maçonaria influenciada por pensadores adeptos dessa alquimia, em alguns dos seus ritos, acabou recebendo muitas práticas simbólicas que nela ingressaram a partir do século XVIII, tanto no sentido da alquimia prática como no da mística. É o caso, por exemplo, do REAA com a representação dos “quatro elementos da antiguidade” (terra, ar, água e fogo), presentes inclusive nas suas viagens iniciáticas e na Câmara de Reflexão onde se apresentam símbolos como o do enxofre, do mercúrio, do sal, etc.
Na realidade a Maçonaria não trata de ocultismo e nem propõe a prática da alquimia, porém desenvolveu através dos seus símbolos uma alegoria destinada a sugerir a transformação e aprimoramento do Homem, cujas características lhe deram o nome de Grande Obra, ou Obra do Sol ou ainda de Arte Real, identificando, evidentemente, o Sol à Luz da Verdade e do Conhecimento.
A ideia especulativa na Maçonaria de transformar o Homem num elemento capaz de construir um Templo à Virtude Universal se coaduna com a sua prática iniciática, a despeito de que é por ela que se tem buscado incessantemente o aperfeiçoamento do maçom.
Dadas essas considerações, são esses os significados que dão ao maçom o título de Filho da Viúva e para a Maçonaria o de Arte Real.
É oportuno por fim comentar que a Moderna Maçonaria é uma Instituição que ordena os seus objetivos através de um sistema particular velado por símbolos e alegorias. Assim, no que diz respeito ao significado da expressão “Filho da Viúva” abordada na primeira parte desse arrazoado e nela a menção de Lendas que se remetiam ao antigo Egito como a de Osíris, assim como outras mencionadas, em nenhuma hipótese elas se deram para afirmar existência de Maçonaria naqueles tempos remotos. Elas foram comentadas apenas para sugerir o arquétipo de uma lenda que a Moderna Maçonaria criou para montar o arcabouço doutrinário do Terceiro Grau. Do mesmo modo quando, a título de esclarecimento, foi feita referência ao termo “Arte Real” relacionado ao Imperador e aos Collegia Fabrorum nascidos no século VI a. C. – isso também não afirma existência de Maçonaria naquela época.
Na verdade essas referências foram feitas apenas com o objetivo singular de demonstrar alguns pormenores que envolveram a criação e a evolução do arcabouço doutrinário da Maçonaria. É sabido, reitero, que autenticamente a Sublime Instituição possui documentalmente apenas aproximados 800 anos de história.
Do mesmo modo ocorreu nesse escrito quando fora feita menção à arte da alquimia, porquanto a mesma teve apenas o caráter elucidativo de o porquê da existência de algumas alegorias maçônicas a ela relacionadas. Com isso, afirma-se que a Maçonaria não é alquimista e nem mesmo a exercita, muito menos sugere qualquer aprendizado ocultista.
É mister compreender que os símbolos e as alegorias maçônicas compõem a espinha dorsal de uma Ordem que tem como um dos seus objetivos principais prestar ensinamentos éticos, morais e sociológicos aos “Filhos da Viúva” que praticam a “Arte Real”.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2017

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