segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MESTRE - DÚVIDA NO RITUAL DE EXALTAÇÃO REAA - T.'. E PAL.'. SAGR.'.

Em 10/08/2017 o Respeitável Irmão Emiliano Vicente, atual Venerável Mestre da Loja Joaquim Nabuco 18, nº 3.152, REAA, GOB-PE, Oriente de Recife, Estado de Pernambuco, apresenta a seguinte questão:

DÚVIDA NO RITUAL DE EXALTAÇÃO


Estimado Irmão Pedro Juk,
Encontramos dificuldade na interpretação e consequentemente na prática de uma parte de nossa EXALTAÇÃO (Ritual de Mestre Maçom, 2009, pág. 132), onde aparentemente se trata de um diálogo entre Venerável Mestre, Mestre de Cerimônias e recém Exaltados.
Você poderia elucidar a questão, e como de forma prática devemos executá-la?

CONSIDERAÇÕES.

Eu já escrevi bastante sobre essa passagem ritualística. Os textos andam espalhados por aí.
Trata-se ela de uma remota reminiscência do telhamento que antecede a transmissão da Pal\ Sagr\ do Mestre durante o telhamento do REAA\.
Essa prática é na verdade um gesto de precaução para que um Mestre se certifique da qualidade do seu oponente (se ele é realmente um Mestre Maçom).
Nesse interim então o Mestre que é examinado precisa saber que o T\ no 3º Grau somente é dado pela composição dos C\ PP\ PP\ da Maç\ (antigamente do Companheirismo) e, para tal, antes de se executar o conjunto completo do T\, há necessidade de cautela para que ele não seja dado aleatoriamente sem as devidas precauções.
Nesse sentido existe então um interrogatório que só começa depois da pergunta feita pelo examinador: “Quereis ir mais longe”.
O examinado então, querendo prosseguir, sem nada pronunciar, adota imediatamente a postura que lhe foi ensinada no 6º parágrafo da página 132 do Ritual em vigência – esse gesto de imediato corresponde à resposta afirmativa.
Ocorre, entretanto, que infelizmente existe um pequeno trecho impresso nessa explicação ritualística que, além de equivocado, é ainda incompreensível, ou melhor, inexequível.
Trata-se da seguinte parte da descrição assim impressa no ritual: (...) e com a m\ e\ sobre a c\ formai uma e\. Na realidade o trecho deveria ser assim descrito de modo correto: (...) e com a m\ e\ sobre a c\, formai com os pp\ uu\ pelos cc\ uma e\ (o grifado é a parte que falta para dar sentido à explicação). Na verdade, a e\ é feita com os pp\. É isso que falta descrever.
Sendo o gesto agora compreensível e exequível, entenda-se que somente depois de assumida essa postura pelo examinado é que oo examinador formará com ele a G\.
Com a G\ formada entre os protagonistas, o examinador dá continuidade ao telhamento pronunciando as questões seguintes descritas no ritual, sendo as quais respondidas uma a uma pelo examinado conforme o previsto.
Respondidas as perguntas pelo examinado, ambos ficam à Ordem no 3º Grau, se saúdam pelo Sin\ Pen\, fazem o Sin\ de H\ e a devida exclamação formando em seguida os C\ PP\ PP\ da Maç\.
Somente depois de formados os C\ PP\ é que a Pal\ Sagr\ do Mestre é transmitida.
É oportuno mencionar que os C\ PP\ PP\ na ordem como determina o ritual têm o seguinte significado simbólico: primeiro ponto, a estabilidade; segundo, o equilíbrio; terceiro, o amparo; quarto, o apoio e por fim o quinto, a fraternidade. Esses C\ PP\ PP\ têm origem na cena teatral em que H\ é revivido no teatro da Exaltação.
Dados os erros e acertos ocorridos na impressão do ritual, é essa a prática que inspira cautela durante a transmissão da Pal\ Sagr\ durante um telhamento completo no Terceiro Grau do REAA\.
Concluindo, ficam as seguintes observações: primeira é a de que fugindo dessas características tradicionais, já inventaram uma transmissão abreviada que desafortunadamente foi também incluída no ritual (vide página 40 no Cobridor do Grau do Mestre e a opção do T\ e transmissão formando-se apenas a G\ e gir\ os pp\ à dir\ e à esq\). Provavelmente por pura preguiça que retira toda a beleza e interpretação dos C\PP\PP\ da Maç\. A segunda e última observação é a de que eu radicalizei nas abreviações maçônicas para me proteger dos ataques dos puristas de plantão.


T.F.A.

PEDRO JUK


OUT/2017

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

LUGAR DO ASSESSOR DE ASSUNTOS EXTRATÉGICOS

Em 10/08/2017 o Respeitável Irmão Antônio Vaz dos Santos Filho, Loja Força e União Vale do Jiquiriça, 108, REAA, Grande Loja do Estado da Bahia, Oriente de Mutuípe, Estado da Bahia, formula a seguinte questão:

LUGAR DO ASSESSOR DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS


Solicito a seguinte informação: O Mestre que não é Instalado e é nomeado para Assessor de Assuntos Estratégicos da Grande Loja tem direito o assento no trono ao lado direito do Venerável Mestre.

CONSIDERAÇÕES.

Embora instalação de Mestre seja uma cerimônia enxertada no REAA\ e na Maçonaria brasileira e tenha paulatinamente se tornado prática consuetudinária por aqui, o Mestre Maçom Instalado é inquestionavelmente apenas aquele que, sendo eleito para dirigir uma Loja, tenha passado pelo cerimonial específico de Instalação.
Assim, um Mestre Maçom eleito é instalado na cadeira do dirigente da Loja (Trono), cuja cadeira é única no Oriente do Templo.
Não raras vezes, entretanto, as Obediências têm colocado por via legal cadeiras de honra ao lado do Trono ocupado pelo Venerável e que são preenchidas em algumas ocasiões, geralmente pelo Grão-Mestre e outras autoridades, inclusive até pelo ex-Venerável mais recente. Tudo conforme a legislação e do ritual vigente.
Diga-se de passagem, que salvo a presença do Grão-Mestre, o mais é mera filigrana criada para sustentar “vaidades” e atrapalhar o Venerável Mestre na condução dos trabalhos.
Exceto o Grão-Mestre, que é o dirigente maior de todas as Lojas da sua jurisdição e tem lugar no Altar de fato e de direito ao lado do Venerável Mestre, no rigor da tradição ninguém mais deveria sentar ao lado do Venerável (no mesmo nível do terceiro degrau que se assenta o sólio).
Mas como nem sempre o correto é levado em consideração, infelizmente e eu diria, até de modo desproporcional, inventaram lugares para outras autoridades, além do Grão-Mestre (ou Grão-Mestres como é o caso do GOB) no sólio.
O adjetivo “desproporcional” usado no parágrafo imediatamente acima é porque muitas Lojas, além do Grão-Mestre e do Venerável ainda agrupam um imenso número de cadeiras ao lado do trono para satisfazer certos “egus vivendi”.
Assim, somando-se ao enxerto do título distintivo do Mestre Maçom Instalado em um rito que originalmente não o possui, já que na França (país de origem do REAA) instalação significa simplesmente “posse” e, com ele ainda a visão distorcida de que Mestre Instalado é uma espécie de grau, é que se construiu esse mito equivocado de que para se ocupar as cadeiras, ou a “cadeirada”, além do Venerável e do(s) Grão-Mestre(s), precise ser um Mestre Instalado.
Na realidade, nem uma coisa e nem outra.
Já que inventaram mais cadeiras além das que de fato ali deveriam estar, a do Venerável e do(s) Grão-Mestre(s), os demais ocupantes (autoridades) não necessitam ser instalados, até porque nenhuma legislação maçônica prevê que para ser uma autoridade maçônica o maçom precise ser um Mestre Maçom Instalado.
Sob esse prisma, e é o que eu entendo, a “cadeirada vazia” pode ser ocupada por qualquer Mestre Maçom que na legislação da Obediência possua um título que o considere como autoridade maçônica e que lhe dê o direito de ocupar cadeiras ao lado do Venerável – tudo depende do que prevê o Regulamento da Obediência.
Salvo se inventaram outra novidade, o que se sabe é que instalado é apenas aquele já que tenha sido regularmente eleito para dirigir os trabalhos de uma Loja, englobando-se aí o Grão-Mestre que é o dirigente de todas as Lojas.
Então, se inventaram mais lugares (além dos que são necessários) e se a “autoridade” tiver direito previsto, ela ocupa o lugar ao lado do Venerável mesmo não sendo ela um Mestre Maçom Instalado.
Também se a cadeira de honra do Grão-Mestre estiver vazia e a autoridade tiver o direito legal de ocupar aquele lugar, ele necessariamente não precisa ser um Mestre Maçom Instalado.
Entretanto, é bom que se diga que tudo isso não faz parte da verdadeira e tradicional Maçonaria. Deveria ser inaceitável que em uma escola que ensina a aplicar a virtude da humildade, assuntos dessa natureza ainda façam parte de discussões nas nossas lides e preencham páginas dos nossos regulamentos e rituais.
Dando por concluído eu diria àqueles que gostam de fazer do sólio um “poleiro de ostentações”: Vaidades de vaidades, disse o pegador; tudo é vaidade.


T.F.A.

PEDRO JUK



OUT/2017

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

PARAMENTOS E A SUBSTITUIÇÃO DE CARGOS

Em 09/08/2017 o Respeitável Irmão Carlos Resende da Silva, Loja Cavaleiros do Sol, 3.195, REAA, GOB-MS, Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, formula a seguinte questão:

SUBSTITUIÇÃO DO VENERÁVEL PELO PRIMEIRO VIGILANTE - PARAMENTOS



A situação que se apresenta é a seguinte:
Como determina nossa Lei, quem substitui o Venerável Mestre em sua ausência é o irmão Primeiro Vigilante; e quem substitui o Irmão Primeiro Vigilante é o Irmão Segundo Vigilante.
Em nossa Loja, por uso e costume, quem substitui o Segundo Vigilante é o Irmão Primeiro Experto (ou outro Mestre Maçom na ausência do Experto de ofício).
A dúvida é quanto aos paramentos e joias que os substitutos devem usar.
Não necessariamente o Primeiro Vigilante é um Mestre Instalado. E na minha modesta opinião, ele apenas substitui o Venerável Mestre em sua ausência, e, portanto, deveria subir ao Oriente com as suas Joias e paramentos do Primeiro Vigilante (Penso que somente um Mestre Instalado poderia usar os paramentos do Venerável Mestre);
Da mesma forma, o Segundo Vigilante foi eleito e empossado com as Joias e paramentos do Segundo Vigilante, e, nesse caso, ele deveria substituir o Primeiro Vigilante com as suas Joias e paramentos do Segundo Vigilante;
E, por último, o Primeiro Experto foi nomeado para a função de Experto, portanto, ele deveria substituir o Segundo Vigilante com a sua joia do cargo de Experto.
Grato por sua prestimosa e insubstituível ajuda.

CONSIDERAÇÕES.

Costumeiramente o substituto imediato do Segundo Vigilante no REAA\deveria ser o Segundo Experto, até porque ele já tem assento na Coluna do Sul.
Na questão das substituições precárias, os substitutos legais usam a joia do cargo que eles ocuparão em eventual substituição. Apenas isso.
Quanto ao avental o substituto usa o seu.
Assim, no caso do Primeiro Vigilante substituir precariamente o Venerável Mestre ele, sem trocar de avental, apenas veste o colar com a joia do cargo de Venerável (Esquadro). Do mesmo modo ocorre com o Segundo Vigilante ao substituir o Primeiro. Nesse caso, sem trocar de avental, ele apenas usa o colar com a joia do cargo de Primeiro Vigilante (Nível). Por extensão ocorre o mesmo com o Segundo Experto ao substituir o Segundo Vigilante. Nesse caso, sem trocar de avental, ele apenas usa o colar com a joia do Segundo Vigilante (Prumo).
Além dos aventais que não são trocados, no caso de substituição precária do Venerável, o seu substituto legal também não usa os punhos do titular.
Quanto aos punhos dos Vigilantes, no caso das Obediências que os inventaram, pois eles tradicionalmente não existem, os substitutos podem usar o dos titulares, mas são perfeitamente dispensáveis pela eventualidade da situação.
De todo esse embrolho, compreenda-se que essas substituições são precárias e não definitivas. No caso de impedimento definitivo dos titulares dos cargos de Venerável e de Vigilantes existem outros procedimentos emanados dos diplomas legais.
Concluindo, todo esse teatro de substituição de cargos nada acrescenta na geometria da construção ritualística. Meras firulas latinas amparadas por paramentos diferenciados para os Vigilantes que só servem para atrapalhar a objetividade da Sessão. Ora, na ordem do bom senso, o substituto precário simplesmente deveria vestir a joia de quem ele substituirá e pronto. Mas, uma vez latinos; sempre latinos. Enquanto isso... Pelo adiantado da hora fica suspenso o período de instrução.

T.F.A.

PEDRO JUK


OUT/2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017

DÚVIDAS RITUALÍSTICAS RELATIVAS AO MESTRE DE CERIMÔNIAS

Em 09/08/2017 o Respeitável Irmão Carlos Lunkes, Loja Tiradentes, 2.432, REAA, GOB-PR, Oriente de Marechal Cândido Rondon, Estado do Paraná, pede esclarecimentos para o seguinte:

DÚVIDAS RITUALÍSTICAS – MESTRE DE CERIMÔNIAS


Na nova gestão de nossa Oficina ocupo o cargo de Mestre de Cerimônias e gostaria de poder contar com a ajuda do Irmão para corrigir alguns costumes da nossa Loja no que diz respeito ao ritual.
Abaixo algumas dúvidas que tenho nesse momento:
1- É na Sala dos Passos Perdidos ou no Átrio que devemos nos paramentar? Pois no livro de procedimentos ritualísticos 2009, diz que é no Átrio (Página 127, item 06) e no livro de procedimentos ritualísticos 2016 (Página 136, item 06) que diz que é na Sala dos Passos Perdidos.
Obs: Na página 13 do livro de procedimentos ritualísticos 2016, novamente afirma que é no Átrio que os maçons revestem-se de suas insígnias e paramentos.
Qual está correto?
2- Quando organizo o cortejo, posso nominar todos os cargos como oficiais ou devo nominar cada cargo?
3- Quais os objetos que devem ficar sobre o Altar do Venerável Mestre?
Obs. Hoje além do malhete, RGF, RI, a Espada Flamejante e o Ritual para os trabalhos, temos um chapéu preto e uma caveira.
4- Em votações como devo pronunciar corretamente quando:
Todos do Quadro da Loja aprovam?
A minoria aprova?
A maioria aprova?
Alguns Irmãos aprovam e outros se abstêm?

CONSIDERAÇÕES:

  1. Antes da sessão é no átrio que o Mestre de Cerimônias reveste os Irmãos com as suas joias e organiza o préstito para o ingresso no Templo. Já na Sala dos Passos perdidos os Irmãos se paramentam (vestem os seus aventais), vestem o balandrau se for o caso, assinam o Livro de Presenças e outros afins relativos aos trabalhos maçônicos antes do ingresso no Templo.
Na próxima revisão dos Procedimentos Ritualísticos deixaremos isso mais claro.
  1. Fica ao seu critério, todavia, sugere-se o seguinte: estando organizado o préstito o Mestre de Cerimônias nomina sequencialmente para o ingresso, Aprendizes, Companheiros, Mestres sem cargo, Oficiais, Dignidades, Mestres Instalados, Autoridades (no caso de entrada em família) e por último o Venerável Mestre que é conduzido pelo Mestre de Cerimônias (que vai à frente). Sugere-se que o Mestre de Cerimônias, no caso de ingresso em família, antecipadamente comunique àqueles que ocupam lugar no Oriente que para lá se dirijam diretamente. Isso evita procedimentos desnecessários, perda de tempo e massagem no ego de alguns.
Não há necessidade de nominar Irmãos um a um ou cargo por cargo.
  1. Sobre o Altar ocupado pelo Venerável, dos itens mencionados na sua questão, dispensa-se a “caveira”. Sobre o Altar não há lugar para ela, já que a mesma é elemento simbólico da câmara de reflexão. Tíbias cruzadas e caveira são elementos decorativos (adereços) das cortinas que decoram a Câmara do Meio (Loja de Mestre). Quanto ao chapéu, negro e desabado, ele é elemento utilizado e pode permanecer para ser usado, pois é inclusive mencionado no Ritual do Mestre. No rigor da tradição, o Venerável Mestre no REAA\ em Loja de Aprendiz e Companheiro deveria usá-lo, enquanto que na Loja de Mestre, deveriam usá-lo todos os Mestres.
  2. A função de aprovar é ofício do Venerável Mestre, previsto inclusive no RGF em seu Artº. 116, inciso VIII, entretanto, se o Mestre de Cerimônias contar os votos ele apenas se limita a comunicar conforme o caso: tantos votos a favor, tantos contra, tantas abstenções. No caso de unanimidade ele declara: todos os votos a favor, ou todos os votos contrários. Quem declara aprovado ou não é o Venerável. No caso de empate é dele o voto de minerva.


T.F.A.

PEDRO JUK


OUT/2017.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

DIFERENÇAS ENTRE OS RITUAIS DO REAA - GRANDE ORIENTE E GRANDE LOJA

Em 08/08/2017 o Respeitável Irmão Cláudio Lúcio Fernandes Amaral, Loja Cavaleiros da Arte Real, 4.309, Rito de York (Emulação), GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:

DIFERENÇAS NO REAA


Estou estudando comparações entre ritos e, se possível, gostaria que o valoroso irmão me esclarecesse sobre diferenças entre REAA da Grande Loja e do Grande Oriente. Des
de já agradeço.

CONSIDERAÇÕES.

As ponderações seguintes não possuem o desiderato de tratar desse assunto como um libelo acusatório contra essa ou aquela Obediência pelas inúmeras contradições e procedimentos equivocados que povoam os rituais do escocesismo simbólico praticado pela Maçonaria brasileira.
Na realidade isso não deveria acontecer quando se trata de um mesmo Rito, todavia muitas questões fizeram com que essas diferenças acontecessem.
Dentre elas, no que diz respeito aos rituais do REAA\ praticado nas Grandes Lojas brasileiras, tomando por base o grau de Aprendiz, existem algumas dessas características que foram adquiridas principalmente por conta da busca de reconhecimento por Mário Béhring no segundo quartel do século passado junto às Grandes Lojas norte-americanas para a sua Obediência recém-nascida da cisão de 1927 que acontecera no seio do Grande Oriente do Brasil.
No que diz respeito aos rituais das Grandes Lojas brasileiras e o mencionado reconhecimento norte-americano, ele trouxe algumas alterações para REAA\ baseadas naquilo que se praticava ritualisticamente, aliás, e que ainda se pratica, nos Estados Unidos da América do Norte, cuja liturgia vem das Lojas Azuis do Craft, comumente também conhecido por aqui como Rito de York Americano.
Explica-se, entretanto que a Maçonaria norte-americana é oriunda da Maçonaria inglesa, mais precisamente da Grande Loja dos Antigos de 1751 que fazia oposição à Grande Loja dos Modernos de 1717. Já o REAA\ que verdadeiramente não nasceu na Escócia, embora também possua influências anglo-saxônicas, é originário da França. Embora o Primeiro Supremo Conselho do REAA\ tenha nascido nos Estados Unidos da América do Norte, as suas raízes, a partir do Rito de Heredon, são francesas – a História, implacável e acadêmica e não tendenciosa sacramenta essa afirmativa.
Retomando o curso do comentário e da influência norte-americana nos rituais do escocesismo praticado no Brasil, é premente se compreender que por razões culturais e históricas a liturgia e a ritualística praticada nas Lojas Azuis (origem inglesa) não são iguais àquela praticada pelo verdadeiro simbolismo do REAA\, que é de origem francesa.
Isto posto, coloco então alguns tópicos que são originais da liturgia das Lojas Azuis (Rito de York Americano), mas que acabaram pelas circunstâncias do reconhecimento procurado por Béhring influenciando à posteriori alguns rituais escoceses praticados, principalmente pelas Obediências brasileiras e que se encontram presentes até a atualidade.
Assim, seguem enumeradas as principais práticas das Lojas Azuis acima mencionadas e que provavelmente influenciaram os rituais do REAA\praticados no Brasil;
1.     Avental do Mestre Maçom orlado de matiz azul;
2.     Diáconos e Mordomos[1] do Craft americano geralmente usam bastões (varas). Em algumas ocasiões ritualísticas os Diáconos cruzam os seus instrumentos no alto como que a formar um pórtico para passagem (isso ocorre inclusive no Craft inglês com as varas);
3.     O Altar dos Juramentos é colocado no centro do Ocidente;
4.     Contornando o Altar dos Juramentos, iluminando o Livro da Lei existem três candelabros, cada qual com uma luz (vela) – originários dos antigos tocheiros;
5.     Durante a Iniciação o Marechal (cargo do Rito de York Americano) lê durante a perambulação do Aprendiz Admitido o Salmo 133;
6.     Em algumas Grandes Lojas o Rito de York Americano usa-se o mesmo painel inglês (Tábua de Delinear).
Dados esses tópicos e circunstâncias mencionadas, é que provavelmente essas práticas litúrgicas das Lojas Azuis, no intuito de agradar os reconhecedores norte-americanos, acabaram sendo implantadas nos rituais escoceses das Grandes Lojas Estaduais brasileiras como, por exemplo, as que seguem abaixo enumeradas:
1.     Aventais orlados em azul para os Mestres no REAA\, quando verdadeiramente deveriam ser encarnados;
2.     Os Diáconos portando bastão, quando no REAA\ eles originalmente não os utilizam;
3.     Do cruzamento dos bastões, comuns algumas vezes nas Lojas Azuis, mas não no REAA\. Equivocadamente ainda com relação aos bastões cruzados, juntados a eles o bastão do Mestre de Cerimônias, o pálio sobre o Livro da Lei durante a abertura e encerramento dos trabalhos[2];
4.     Altar dos Juramentos colocado no centro do Ocidente, o que no REAA\ originalmente fica no Oriente;
5.     Leitura do Salmo 133 inserido na abertura do Livro da Lei, quando no original do REAA\ é feito em João, 1, 1-5.
6.     Colocação de um Painel inglês no Oriente dando-lhe o nome de Painel Alegórico, mobiliário esse inexistente no verdadeiro REAA\. Essa inserção equivocada acabou dando para os rituais das Grandes Lojas o aparecimento de dois Painéis se somado com o outro que é o verdadeiro e original (francês) que fica corretamente posicionado no Ocidente. Além desse tal Painel Alegórico não existir no REAA\ ele ainda traz um conteúdo simbólico que não condiz com o arcabouço doutrinário deísta francês.
7.     Embora nada tenha a ver com a liturgia das Lojas Azuis, ainda aparecem nos rituais escoceses das Grandes Lojas equivocadamente as colunetas nas mesas dos Vigilantes que se posicionam (em pé ou deitada) conforme o período de trabalho. Essas colunetas são originárias do Craft inglês a exemplo dos Trabalhos de Emulação. Essas miniaturas de colunas também nada têm a ver com o REAA\.
É bem verdade que outros enxertos acabaram aparecendo nos rituais escoceses, não só nos da Grande Loja, mas também nos do GOB e, por extensão, nos da COMAB.
É verdade que o GOB, por influência de Irmãos oriundos das Grandes Lojas também acabou adotando deles alguns costumes trazidos - é o caso dos aventais azuis adotados para os Mestres do escocesismo, embora de tonalidade mais clara (à moda inglesa). Do mesmo modo, também a leitura do Salmo 133 durante a abertura do Livro da Lei.
Conquanto possam existir ainda outras tantas controvérsias, o que foi aqui mencionado já dá uma ideia da ancestralidade dessas diferenças.
De tudo o que foi dito, o que se pode lamentar é que, independente das Obediências brasileiras, o Rito Escocês Antigo e Aceito acabou se tornando um elemento desfigurado. Uma colcha de retalhos. Obviamente por ter recebido influências não só do Craft norte-americano, mas também de outros ritos e costumes.
Além do mais aqui nem mesmo se mencionou os adeptos do invencionismo e os colecionadores de rituais anacrônicos que tanto mal fizeram e ainda fazem à Maçonaria Tupiniquim.
Concluindo meu Irmão, são esses os paradoxos que alimentam concepções anacrônicas e diferenciais que existem entre os rituais de um mesmo Rito, principalmente aqui no Brasil. Expus apenas alguns aspectos para estimulá-lo a refletir, porém nunca com a intenção de criticar pontualmente esse ou aquele rito ou ritual, ou ainda essa ou aquela Obediência. Entendo que em se tratando de originalidade, todos contribuíram para a construção da colcha de retalhos “made in Brasil” que se tornou o REAA\. É para se lamentar.



T.F.A.

PEDRO JUK


OUT/2017



[1] Mordomos (Stewards) – cargos existentes no Rito de York Americano, não no REAA.
[2] Embora o pálio seja um enxerto trazido do Rito Adonhiramita que o executa com espadas. Pálio não é prática nem no Rito de York.